FILMES QUE MARCARAM ÉPOCA
NA CAICÓ DOS ANOS 50
Clique na imagem
para verouvir
Esther Williams
em
Escola de sereias
(George Sidney, 1944)
BALAIO PORRETA 1986
n° 2670
Rio, 23 de maio de 2009
Exibido no Pax por volta de 1950-51, Escola de sereias representou o meu primeiro contato com a atriz Esther Williams, a campeã das piscinas. Confesso: aos sete/oito anos, foi paixão à primeira vista (que depois, aos doze/treze anos, seria substituída pela paixão por Ava Gardner). O enredo do filme? Pouco importa. O que importa, aqui, é mostrar a sequência do balé aquático que tanto nos encantou, já que a cidade amava os filmes musicais da época. O mais curioso é que a sequência - embora o filme seja dirigido pelo correto e eventualmente sensível George Sidney - foi realizada por John Murray Anderson. Enfim, uma sequência inesquecível. E a sirene do Pax, que anunciava a sessão única das 19:30h, naquela noite parecia mais especial do que nunca.
NA CAICÓ DOS ANOS 50
Clique na imagem
para verouvir
Esther Williams
em
Escola de sereias
(George Sidney, 1944)
BALAIO PORRETA 1986
n° 2670
Rio, 23 de maio de 2009
Exibido no Pax por volta de 1950-51, Escola de sereias representou o meu primeiro contato com a atriz Esther Williams, a campeã das piscinas. Confesso: aos sete/oito anos, foi paixão à primeira vista (que depois, aos doze/treze anos, seria substituída pela paixão por Ava Gardner). O enredo do filme? Pouco importa. O que importa, aqui, é mostrar a sequência do balé aquático que tanto nos encantou, já que a cidade amava os filmes musicais da época. O mais curioso é que a sequência - embora o filme seja dirigido pelo correto e eventualmente sensível George Sidney - foi realizada por John Murray Anderson. Enfim, uma sequência inesquecível. E a sirene do Pax, que anunciava a sessão única das 19:30h, naquela noite parecia mais especial do que nunca.
AH, EU QUERIA
Yasmina Curi
Eu queria ser homem,
eu queria ser homem.
Aos doze anos, me masturbaria na classe
olhando as pernas da professora
linda de morrer.
Aos treze, pegaria um fumo no beco
escuro cheio de medos.
Aos quinze anos, me apaixonaria
por uma menina feia, dentuça,
deslumbrante aos meus olhos.
Quando ela ameaçasse me abandonar,
eu tomaria formicida
com guaraná.
O AVESSO DAS COISAS
Theo G. Alves
[ in Museu de Tudo ]
o corpo íntimo das coisas
compõe seus
avessos:
como o ventre mineral
de uma pedra
como a musculatura em farrapos
de uma porta.
o avesso das coisas
é a natureza
de suas verdades -
como as raízes frágeis
de uma nuvem
como os ossos rijos
de uma parede.
o útero
os músculos
intestinos
e ossos
das coisas expostos
constroem seus avessos:
como as nuvens
do ventre de um cão
como o concreto
do ventre de uma casa.
'TRATOS, TRATADOS & TRATAMENTOS'
Betina Moraes
[ in Sensytiva ]
O corpo é deserto que o silêncio habita de ausências,
A pele tem nome.
Evaporam as suscetíveis tentativas de agradar o outro,
A pele tem mágoa.
Desfazem-se cantos e rimas sem vontade de ser de novo,
A pele tem pena.
Não adere vergonha aos pudores já há muito esquecidos,
A pele tem pressa.
Ao avesso desamando se debate, cansado animal de carga,
A pele tem pêlo.
Veste quanto mais pesado casaco mais segura muralha,
A pele tem couro.
Arrepia por sorriso, quase nada, através do nada, contra todos,
A pele tem seda.
Reconstrói o castelo na nuca e carrega o sonho consigo,
A pele tem força.
Desmente o fatídico ontem uma flor nascida na testa,
A pele tem pele.
Grava palmos e unhas e cercas emancipando territórios,
A pele tem dono.
O TRANSITÓRIO DEFINITIVO
Aníbal Machado
[ in Cadernos de João. Rio de Janeiro: José Olympio, 1957 ]
Yasmina Curi
Eu queria ser homem,
eu queria ser homem.
Aos doze anos, me masturbaria na classe
olhando as pernas da professora
linda de morrer.
Aos treze, pegaria um fumo no beco
escuro cheio de medos.
Aos quinze anos, me apaixonaria
por uma menina feia, dentuça,
deslumbrante aos meus olhos.
Quando ela ameaçasse me abandonar,
eu tomaria formicida
com guaraná.
O AVESSO DAS COISAS
Theo G. Alves
[ in Museu de Tudo ]
o corpo íntimo das coisas
compõe seus
avessos:
como o ventre mineral
de uma pedra
como a musculatura em farrapos
de uma porta.
o avesso das coisas
é a natureza
de suas verdades -
como as raízes frágeis
de uma nuvem
como os ossos rijos
de uma parede.
o útero
os músculos
intestinos
e ossos
das coisas expostos
constroem seus avessos:
como as nuvens
do ventre de um cão
como o concreto
do ventre de uma casa.
'TRATOS, TRATADOS & TRATAMENTOS'
Betina Moraes
[ in Sensytiva ]
O corpo é deserto que o silêncio habita de ausências,
A pele tem nome.
Evaporam as suscetíveis tentativas de agradar o outro,
A pele tem mágoa.
Desfazem-se cantos e rimas sem vontade de ser de novo,
A pele tem pena.
Não adere vergonha aos pudores já há muito esquecidos,
A pele tem pressa.
Ao avesso desamando se debate, cansado animal de carga,
A pele tem pêlo.
Veste quanto mais pesado casaco mais segura muralha,
A pele tem couro.
Arrepia por sorriso, quase nada, através do nada, contra todos,
A pele tem seda.
Reconstrói o castelo na nuca e carrega o sonho consigo,
A pele tem força.
Desmente o fatídico ontem uma flor nascida na testa,
A pele tem pele.
Grava palmos e unhas e cercas emancipando territórios,
A pele tem dono.
O TRANSITÓRIO DEFINITIVO
Aníbal Machado
[ in Cadernos de João. Rio de Janeiro: José Olympio, 1957 ]
O meu fim é Santa Maria, castelo de passarinhos...
Me casaram várias vezes. Aos homens que feri em brigas pelo caminho, eu dizia: - Não há de ser nada; estou de passagem para Santa Maria.
E às mulheres que abracei: - Fiquem com os filhos. Eu levo a lembrança. Estou indo para Santa Maria, castelo de passarinhos.
Entre as muitas aldeias de pouso, numa acordei com banda de música e gente debaixo da sacada: - Senhor, sabemos que estais de passagem. Aqui ninguém presta. Aceitai ser o nosso chefe.
- Eu também não presto, respondi. E estou de passagem. Deixai-me dormir...
E bati-lhe a veneziana.
Fiquei. Armei pontes, retifiquei o rio. Construí piscinas e um auditório onde preguei a centenas de ouvintes.
Falaram-me de algumas precisões: um chafariz, uma igreja, uma escola, talvez uma nova seita. Que eu poderia etc...
Abri jardim para os namorados, horrorizei-me de meu próprio busto erguido entre as flores do canteiro principal.
E quando a moça mais linda que eu estreitara nos braços gemia: "Ó tu que para sempre será meu!", logo eu atalhava: "Não pode ser, minha filha, não pode ser... Estou seguindo para Santa Maria, castelo de passarinhos...".
Mais adiante, me condenaram. Respondi aos juízes:
- Para quê, se estou de passagem para Santa Maria? Mais vale, em vez da pena, um banho delicioso no rio.
E segui caminho.
Há mais de cinqüenta anos que estou indo para Santa Maria. O que não é sacrifício para quem sabe que há de chegar.
E enquanto não chego, vou-me distraindo à minha maneira, ora rindo, ora gemendo.
Os pequenos acontecimentos avultam aos meus olhos, os grandes se amesquinham.
Tomo parte na vida das cidades, nos negócios dos homens. E se acaso tropeço, não é contra as pedras, é contra a minha sombra.
Prendo-me aos seres e objetos com o fervor de quem vai perdê-los para sempre. Porque afinal este mundo, tal como está, se eu gosto dele um bocadinho, é no momento mesmo em que penso largá-lo. Mas isso eu nunca digo.
E vou andando...
Se alguém pergunta quem sou, respondem todos: - Não se sabe. Vive dizendo que está indo para um castelo de passarinhos...
Sempre assim.
Quando a vida me aborrece, largo tudo de repente, apanho a trouxa, e vou tocando devagarinho para Santa Maria, castelo de passarinhos...
Me casaram várias vezes. Aos homens que feri em brigas pelo caminho, eu dizia: - Não há de ser nada; estou de passagem para Santa Maria.
E às mulheres que abracei: - Fiquem com os filhos. Eu levo a lembrança. Estou indo para Santa Maria, castelo de passarinhos.
Entre as muitas aldeias de pouso, numa acordei com banda de música e gente debaixo da sacada: - Senhor, sabemos que estais de passagem. Aqui ninguém presta. Aceitai ser o nosso chefe.
- Eu também não presto, respondi. E estou de passagem. Deixai-me dormir...
E bati-lhe a veneziana.
Fiquei. Armei pontes, retifiquei o rio. Construí piscinas e um auditório onde preguei a centenas de ouvintes.
Falaram-me de algumas precisões: um chafariz, uma igreja, uma escola, talvez uma nova seita. Que eu poderia etc...
Abri jardim para os namorados, horrorizei-me de meu próprio busto erguido entre as flores do canteiro principal.
E quando a moça mais linda que eu estreitara nos braços gemia: "Ó tu que para sempre será meu!", logo eu atalhava: "Não pode ser, minha filha, não pode ser... Estou seguindo para Santa Maria, castelo de passarinhos...".
Mais adiante, me condenaram. Respondi aos juízes:
- Para quê, se estou de passagem para Santa Maria? Mais vale, em vez da pena, um banho delicioso no rio.
E segui caminho.
Há mais de cinqüenta anos que estou indo para Santa Maria. O que não é sacrifício para quem sabe que há de chegar.
E enquanto não chego, vou-me distraindo à minha maneira, ora rindo, ora gemendo.
Os pequenos acontecimentos avultam aos meus olhos, os grandes se amesquinham.
Tomo parte na vida das cidades, nos negócios dos homens. E se acaso tropeço, não é contra as pedras, é contra a minha sombra.
Prendo-me aos seres e objetos com o fervor de quem vai perdê-los para sempre. Porque afinal este mundo, tal como está, se eu gosto dele um bocadinho, é no momento mesmo em que penso largá-lo. Mas isso eu nunca digo.
E vou andando...
Se alguém pergunta quem sou, respondem todos: - Não se sabe. Vive dizendo que está indo para um castelo de passarinhos...
Sempre assim.
Quando a vida me aborrece, largo tudo de repente, apanho a trouxa, e vou tocando devagarinho para Santa Maria, castelo de passarinhos...
14 comentários:
ah, eu não queria ser homem não. adoro ser mulher. beijos, pedrita
moacy :)um meio-dia.
acho que queria ser homem e reinventar alguma coisa. tipo estradas e joelhos. mas é claro que isso não é verdade.
já sei! seguirei pra santa-maria-castelo-de-passarinhos. lá tem sereias bonitas pra gente sonhar...
beijo.
Caro Moacy,
Essa seqûencia é de antologia. O balé aquático é uma dessas coisas que, de tão belas, quase nos faz chegar às lágrimas. E há a música para embalá-la. Ignorava que essa sequência tivesse sido dirigida por outra pessoa. Ao contrário de você, não acho Sidney apenas correto. Claro que ele não tinha o talento (inclusive para o uso da cor) de Minelli, mas vejo nele um bom diretor. Um abraço. EM TEMPO. Cada vez que você coloca um trecho de Cadernos do João, aumenta-me a frustração de não conhecer o livro de Aníbal Machado, autor de alguns contos antológicos.
^^
Mestre,
Existe sim, uma intervenção minha, na letra de Lennon, mas não sei como "mencionar" isto no texto (em desenho, sou boa, mas em textos, sou uma aprendiz). Vi um video muito bonito, com esta música e a letra me dizia mais coisas, e tentei transmitir isso, mas ficou estranho, né?
Embolei geral...rs
Beijos
Bons textos e reafirmo minha admiração pelo belo escritor que é Theo Alves.
Abraço, Moacy!
Tudo muito bom de ser lido.
SEM COMPARAÇÕES, MAS A YASMINA E A BETINA MASSACRAM.
E, pelo alto teor erótico dos filmes que você lista e comenta no seu blogue, Moacy, cuidado com a segurança nacional...
pus o ouvido na memória e foi tão nítida a voz: "Fiquem com os filhos. Eu levo a lembrança". bela poesia, aníbal.
moacy, grata pela visita ao máquina lírica e por teres sido caminho para eu chegar ao balaio. pude me descobrir aqui.
abraço
moacy,
muito obrigada por abrigar minhas palavras entre outras tão belas.
um beijo!
santa maria! meu fim é aqui mesmo, tapera de passarinhos... eu que sempre quis ser mulher, tenho quatro filhas e uma neta...
besos
a pele me impele...
Sempre um prazer imemorável passar por aqui.
Tudo muito bom de se ler.
Grande abraço!!!!!!
moacy,
agradeço a honra de figurar no Balaio.
um grande abraço!!
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