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Nossa Senhora da Esperança de Triana
(Sevilha, Espanha)
Padroeira dos ciganos e dos homossexuais
Foto:
Javier Tortosa
Nossa Senhora da Esperança de Triana
(Sevilha, Espanha)
Padroeira dos ciganos e dos homossexuais
Foto:
Javier Tortosa
BALAIO PORRETA 1986
n° 2707
Rio, 29 de junho de 2009
Não sabemos quem escreveu os evangelhos. Quando apareceram, eles circularam anonimamente, e só mais tarde foram atribuídos a figuras importantes da Igreja primitiva. Os autores eram cristãos judeus, que ... redatores competentes, editaram materiais
anteriores.
(Karen ARMSTRONG. A Bíblia - uma biografia, 2007)
O LIVRO DOS LIVROS
SEGUNDO TESTAMENTO
1.
O livro de Maria Maria
E o Coral do Seridó,
constituído por Lucas, Mateus, João e Marcos,
em ritmo de xote marroquino,
cantou para os povos da madrugada:
Em São José, no sítio Caatinga Grande,
há um casal humilde e trabalhador -
Joaquim Branco, o marido; Santana de Santana, a mulher.
Os dois teem uma filha mui formosa;
Maria Maria é o seu nome.
E se Joaquim é vaqueiro e Santana doceira é,
Maria Maria, aos 16 anos, já é bordadeira das boas,
com seus jasmins, girassois e querubins,
com seus cajás, bogaris e maracujás.
E Maria Maria, morenice moreneza,
foi prometida em casamento a Zé da Carpintaria,
cara honesto, esforçado e caladão,
um verdadeiro galado(¹) do sertão.
Mas a jovem, donzela e recatada,
depois de suas tarefas domésticas,
gostava de caminhar. E caminhava.
E numa dessas caminhadas pelo sítio,
na direção da Passagem das Traíras,
sozinha, com seus sonhos e sua morenitude,
um rapaz esbelto e boa pinta encontrou.
Ligeiramente agalegado, com roupas brancas e douradas,
logo se apresentou:
"Ave, cheia de graça! Eu sou Gabriel Trovador".
Sua cara de anjo tanta confiança inspirava
que a jovem Maria Maria segui-lo resolveu.
E por duas horas os dois juntos ficaram.
E os dois riam e os dois se olhavam.
E os dois se doçuravam.
E Gabriel Trovador, por fim, lhe disse:
"És uma jovem tão maravilhosa e tão envolvente
que dentro de nove meses serás mãe de um ser especial".
"Como assim?", espantou-se Maria Maria,
"Ainda não me casei".
"Não importa", falou Gabriel Trovador,
"o pai da criança é um espírito também especial".
"Preciso voltar para casa, posso vê-lo de novo?",
suspirou a filha de São José, com tristeza no olhar.
"Não, sou um viajante das estrelas
e para outros mundos preciso partir".
E Gabriel Trovador partiu.
E Maria Maria, em clima de raro alumbramento,
voltou para casa. A noite já se anoitecia.
E Maria Maria de repente sentiu-se tocada pela poesia.
E cantou para si mesma,
num misto de apreensão e felicidade:
"Eu me celebro como os ramos de jurema
que se deitam sobre as águas.
Ai, meu doce anjo trovador,
de boas novas anunciador,
só a mulher é trigo,
só seu ventre multiplica,
e por isso é eterna,
e por isso é terra"(²).
Naquela noite Maria Maria começou a tecer
o mais belo bordado de sua vida.
Próximo capítulo:
O nascimento de Aijesus da Cruz
n° 2707
Rio, 29 de junho de 2009
Não sabemos quem escreveu os evangelhos. Quando apareceram, eles circularam anonimamente, e só mais tarde foram atribuídos a figuras importantes da Igreja primitiva. Os autores eram cristãos judeus, que ... redatores competentes, editaram materiais
anteriores.
(Karen ARMSTRONG. A Bíblia - uma biografia, 2007)
O LIVRO DOS LIVROS
SEGUNDO TESTAMENTO
1.
O livro de Maria Maria
E o Coral do Seridó,
constituído por Lucas, Mateus, João e Marcos,
em ritmo de xote marroquino,
cantou para os povos da madrugada:
Em São José, no sítio Caatinga Grande,
há um casal humilde e trabalhador -
Joaquim Branco, o marido; Santana de Santana, a mulher.
Os dois teem uma filha mui formosa;
Maria Maria é o seu nome.
E se Joaquim é vaqueiro e Santana doceira é,
Maria Maria, aos 16 anos, já é bordadeira das boas,
com seus jasmins, girassois e querubins,
com seus cajás, bogaris e maracujás.
E Maria Maria, morenice moreneza,
foi prometida em casamento a Zé da Carpintaria,
cara honesto, esforçado e caladão,
um verdadeiro galado(¹) do sertão.
Mas a jovem, donzela e recatada,
depois de suas tarefas domésticas,
gostava de caminhar. E caminhava.
E numa dessas caminhadas pelo sítio,
na direção da Passagem das Traíras,
sozinha, com seus sonhos e sua morenitude,
um rapaz esbelto e boa pinta encontrou.
Ligeiramente agalegado, com roupas brancas e douradas,
logo se apresentou:
"Ave, cheia de graça! Eu sou Gabriel Trovador".
Sua cara de anjo tanta confiança inspirava
que a jovem Maria Maria segui-lo resolveu.
E por duas horas os dois juntos ficaram.
E os dois riam e os dois se olhavam.
E os dois se doçuravam.
E Gabriel Trovador, por fim, lhe disse:
"És uma jovem tão maravilhosa e tão envolvente
que dentro de nove meses serás mãe de um ser especial".
"Como assim?", espantou-se Maria Maria,
"Ainda não me casei".
"Não importa", falou Gabriel Trovador,
"o pai da criança é um espírito também especial".
"Preciso voltar para casa, posso vê-lo de novo?",
suspirou a filha de São José, com tristeza no olhar.
"Não, sou um viajante das estrelas
e para outros mundos preciso partir".
E Gabriel Trovador partiu.
E Maria Maria, em clima de raro alumbramento,
voltou para casa. A noite já se anoitecia.
E Maria Maria de repente sentiu-se tocada pela poesia.
E cantou para si mesma,
num misto de apreensão e felicidade:
"Eu me celebro como os ramos de jurema
que se deitam sobre as águas.
Ai, meu doce anjo trovador,
de boas novas anunciador,
só a mulher é trigo,
só seu ventre multiplica,
e por isso é eterna,
e por isso é terra"(²).
Naquela noite Maria Maria começou a tecer
o mais belo bordado de sua vida.
Próximo capítulo:
O nascimento de Aijesus da Cruz
Notas:
(¹) Galado : Sortudo (no presente caso). Dependendo do contexto, há outros significados para galado, em geral depreciativos.
(²) Os dois primeiros e mais o quinto, o sexto e o sétimo versos, milagrosamente, seriam redimensionados por uma poeta seridoense do séc. XXI da Era Comum, a curraisnovense Maria José Gomes, através de dois poemas.
(¹) Galado : Sortudo (no presente caso). Dependendo do contexto, há outros significados para galado, em geral depreciativos.
(²) Os dois primeiros e mais o quinto, o sexto e o sétimo versos, milagrosamente, seriam redimensionados por uma poeta seridoense do séc. XXI da Era Comum, a curraisnovense Maria José Gomes, através de dois poemas.
12 comentários:
que bonito, Moa... que lírico esse novo testamento seridoense e seus versos finais... a imagem também.
beijo
Bela a imagem!
Quanto ao Novo Testamento, acredito que foi escrito muito tempo depois, sim.
As verdades ou não que existem, não fazem parte do meu percentual de intelectualidade.
Mas, como se trata de um livro do século XXI, onde tudo se duvida e nada se prova. está muito bom.
O tom jocoso, bem dosado.
Enfim um bom escritor sabe das coisas.
Beijos
Mirse
cheio de graça! obrigada!
besos
Oi Moacy.
Permita que eu use um adjetivo entusiasmado para qualificar o trabalho que vens fazendo com o Livro dos Livros: trata-se de um portento.
O Segundo Testamento começou destilando poesia. Clap! Clap! Clap!
Aguardo os próximos capítulos.
Um abraço.
ômi, seu minino, esse novo testamento tem tudo pra ser muito porreta!
Obrigada por ajudar lá na votação de Fernanda, Moacy, ela é uma linda garota com um belo futuro. Beijo carinhoso.
Criatura!
Estou deslumbrada com esse texto!
Grata, gratíssima.
Acho que Maria Maria fez umas coisas danadas de boas com o anjo.
KKK
Muito bom!
Obrigada pela riquíssima homenagem, falarei sobre esse texto no meu programa Chá das Seis.
Beijos,
Maria Maria
Criatura!
Estou deslumbrada com esse texto!
Grata, gratíssima.
Acho que Maria Maria fez umas coisas danadas de boas com o anjo.
KKK
Muito bom!
Obrigada pela riquíssima homenagem, falarei sobre esse texto no meu programa Chá das Seis.
Beijos,
Maria Maria
VIVA DEUS!!!
Ai...Moacy!!! Que tom você colocou nesse texto aí guri!!! Que coisa mais gostosa de se ler!!!
Um abraço!
Marisete zanon
Valeu a pena esperar a segunda-feira!
Bjs querido
Olá, Moacy.
Gostei de receber sua visita e também me agrada o que estou vendo aqui.
Será um grande prazer ter meus poemas publicados no seu "Balaio".
Um abraço.
Obrigado por incluir minha "indigência poética", como dizia Francisco de Carvalho, no meio de tantos bons poemas. Um grande abraço, Moacy, guerreiro. Sempre visito o Balaio (aliás, desde que era ofcicial - digo, numa folha de ofício).
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