NA CAICÓ DOS ANOS 50
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o trêiler de
A nave da revolta
(Edward Dmytryk, 1954)
BALAIO PORRETA 1986
n° 2726
Rio, 18 de julho de 2009
A nave da revolta foi exibido no cinema de seu Clóvis em 1959, para felicidade daqueles que vibravam com Humphrey Bogart. Aliás, 1959 foi um ótimo ano para os cinéfilos caicoenses. Já destacamos, aqui mesmo, alguns dos filmes exibidos no Pax naquele ano:
Velhas lendas tchecas (Trnka, 1953)
French cancan (Renoir, 1954)
Winchester 73 (Mann, 1950)
Absolutamente certo! (Anselmo Duarte, 1967).
Também foram lançados, na ocasião:
Osso, amor e papagaios (C. Memolo, 1957)
Desejo humano (Lang, 1954)
Maldição (Lang, 1949)
Nós, as mulheres (Visconti & outros, 1953)
A ponte da esperança (Kautner, 1953)
O homem do terno branco (Mackendrick, 1951)
Após a tempestade (Farrow, 1954)
A batalha do Rio da Prata (Powell & Pressburger, 1956)
Sangue de mestiço (Pevney, 1955)
Ligas encarnadas (Marshall, 1954)
Heidi (Comencini, 1953)
Os vencidos (Antonioni, 1952),
entre outros.
Aliás, 1959 é também o ano da turma que concluiu
o Ginásio Diocesano Seridoense (GDS, hoje CDS)
- no caso, a minha turma -
e, de igual modo, o ano que marca a inauguração do
BAR DE FERREIRINHA.
E por falar no famoso bar,
soube que a jovem da foto abaixo
(clicada por Iosif Badalov)
gostaria de participar dos festejos de seus 50 anos
no próximo dia 26, em plena Festa de Sant'Ana,
tocando o seu violino como Deus a criou.
Com uma condição:
que luzes & sombras iluminem o ambiente.
E já que o Balaio de hoje é dedicado a Caicó,
eis dois poemas de caicoenses da gema:
Ana de Santana
[ in Em nome da pele, 2008 ]
Não conto o tempo quando demoro
os dedos sobre teus cardeais
Tudo que preciso amanhece no teu corpo
Criado pela infância das almas
Tudo é minguado
Se não sou vizinha do teu rosto
Se não sou eu mesma a manhã
Que te desperta o afã
de morar em mim
Hercília Fernandes
[ in HF Diante do Espelho ]
Reuni os meus apetrechos,
espalhei flores sobre a cama.
Penteei meus longos cabelos
joguei os pés, doídos, à santa.
Caí na calada da noite
cantei, dancei música cigana.
Colei retratos na janela
bebi álcool com laranja.
Depois subi pelas paredes:
(quase lhe pedindo...)
socorro, pano, lâmpada!
Mas você nada me disse
nem nada me fingiu dizer.
Nem mesmo me arriscou um palpite
sobre o meu jeito lânguida de ser.
É por isso que eu fico assim meio triste
(nesse disse me disse)
Esperando...
minhas coisas:
[cama (de flores)
[santa (de redenção)
[cigana (de amores)
[laranja (de odores)
[lâmpada (de contemplação)
[lânguida (de solidão)
Você [me] recolher!...
[][][]
ESTAREI EM CAICÓ no próximo final de semana para as duas comemorações: 1. A festa dos 50 anos da minha turma (conclusão do ginasial), no velho e querido GDS; 2. a festa dos 50 anos do Bar de Ferreirinha, quando receberei, das mãos do próprio dono do buteco, com muita alegria, a medalha de Amigo do Bar de Ferreirinha.
Memória 2002
UMA VEZ CAICÓ, SEMPRE CAICÓ
Em Caicó, vivi os anos 50, ainda sem conhecer o rock e a poesia concreta (a não ser, superficialmente, através das páginas d'O Cruzeiro), mas vibrando com os seriados no Cine Pax (como esquecer O império submarino, para ficar em um só exemplo?). Vibrando igualmente com os filmes de Tarzan, Durango Kid, Hopalong Cassidy e Esther Williams, a minha primeira grande paixão cinematográfica, ao lado de Ava Gardner (quantas e quantas vezes a tive nos meus braços; talvez mais do que o próprio Frank Sinatra).
O cinema de Seu Clóvis, em particular, ocupa um lugar todo especial em meus relembramentos caicoenses (assim como ocupa um lugar especial a lembrança dos gibis vendidos semanalmente por Seu Benedito). De certa maneira, a história dos filmes exibidos pelo Pax nos anos 50 se confunde com a própria história da cidade naquele período, período que viu o surgimento de A Folha, em 1954, que viu - sempre maravilhada - as festas de Sant'Anna e do Rosário, que viu a passagem do Circo Copacabana, do Circo Teatro Show, que viu e ouviu Luiz Gonzaga na Praça da Liberdade (em 1954), que viu uma das partidas da final entre Caicó e Nova Cruz pelo Campeonato do Interior de 58 (Caicó 4x3, depois de fazer 3x0; infelizmente, na finalíssima, em Natal, deu Nova Cruz: 2x1), que viu a grande seca de 58. E que viu filmes como Sansão e Dalila (com Victor Mature e Hedy Lamarr), Tarzan e a mulher-leopardo (com Johnny Weismuller), O ébrio (com Vicente Celestino); Luzes da cidade (com Carlitos), Dois palermas em Oxford (com o Gordo & o Magro), Paraíso proibido (com Joseph Cotten), O barco das ilusões (com Ava Gardner), Joana d'Arc (com Ingrid Bergman), Cristóvão Colombo (com Fredric March), Gilda (com Rita Hayworth e Glenn Ford). E mais: Rashomon (com Toshiro Mifune), Rio Vermelho (com John Wayne e Montgmery Clift), Pandora (com James Mason e Ava Gardner), Laura (de Preminger), O segredo das jóias (de Huston), O drama do deserto (documentário com a marca Disney), A um passo da eternidade (com Burt Lancaster e Deborah Kerr), A nave da revolta (com Humphrey Bogart), Os vencidos (de Antonioni), O rastro da Bruxa Vermelha (com John Wayne), A estrada e Agulha no palheiro (nacionais; o segundo, de Alex Viany), Velhas lendas tchecas (extraordinário filme de animação).
Sansão e Dalila, por exemplo, terminou sendo um acontecimento na cidade. Para começo de conversa, foi lançado em pleno sábado, fato no mínimo incomum (o sábado era reservado para o seriado, com um bangue-bangue ou um policial classe B, mera repetição do programa da quinta-feira); depois, no domingo, inaugurou as sessões matinais. Ao todo, foram seis sessões, em cinco dias. Um recorde absoluto! Até então, um filme de apelo comercial era exibido, no máximo, duas ou três vezes. E Gilda? Para frustração da garotada, o primeiro filme a ser proibido para menores no Pax... Bem, na verdade, ele só permaneceu proibido na "sessão nobre" do domingo; na segunda - aleluia!, aleluia! - já estava liberado para todos nós. A partir daí, passou a ser uma prática mais ou menos rotineira; aos domingos, o filme - qualquer filme, mesmo o mais inocente - era proibido até 18 anos, já às segundas... O seu Clóvis tinha uma "ótima" justificativa para essa estranha censura: "Aos domingos, privilegiamos a família caicoense; nos outros dias, a gandaia". E haja gandaia no velho e querido Pax, o poeira mais amado do país! Pobre daquele que adormecesse em suas sessões... Sofria o diabo, com as piúbas e/ou os palitos de fósforo queimando entre seus dedos. E a vaia, do primeiro ao último minuto, dada ao belo Velhas lendas tchecas, em 1959? Confesso: fiquei indignado.
Depois, a partir de 1960, Caicó passou a ser simples memória, embora memória viva - uma grata memória retrabalhada pelo devaneio e pela emoção. Um novo porto me abrigava: Natal. Veio a consciência diante dos ideais socialistas, veio o aprofundamento em cinema e literatura, vieram novas paixões, novas amizades, novas sensações. Novos alumbramentos. Novos estudos. E veio o Rio de Janeiro, em 1967, depois de conhecê-lo em 1966. E no Rio, o Fluminense em pleno Maraca. E no Rio, a participação no lançamento do poema/processo, a participação na luta política. E no Rio, o primeiro livro publicado. E no Rio, o ingresso - como professor - no Departamento de Comunicação da UFF. E no Rio, duas filhas maravilhosas: Ana Morena e Isadora.
E no Rio, a lembrança de Caicó. O cheiro de Caicó. Os serrotes de Caicó. As águas de Caicó. O calor de Caicó. As mulheres de Caicó. E, como tricolor, em homenagem a alguns caros amigos rubro-negros, direi: Eu sentiria um desgosto profundo se não existisse Caicó no mundo. [Moacy Cirne, em 2002]
10 comentários:
Moacy, diga pra gata do violino que pode fazer o que lhe der na cabeça, ela manda, é bela.As duas Caicoenses Ana e Hercilia como destaque no Balaio é o máximo.Elas com certeza estarão no dia 26 no Bar mais charmoso do Brazil.
Eta Caicó arrretada!!!
Parabéns, parabéns, parabéns...
A Caicó de Moacy é uma cidade encantada! Viva Moacy e Caicó!
Moacy,
dividir os sentimentos sobre a "sua" Caicó é de uma generosidade infinda!
Obrigada, um abraço, Lisbeth
às vezes tenho a impressão que as salas de cinema eram em maior número do q hj. canso de ler cidades q as poucas salas foram fechadas e eles não tem mais cinema. beijos, pedrita
A Nave da Revolta é muito bom, com Humphrey Bogart num tipo bem diferente do que o público da época estava acostumado a vê-lo.
Belíssimo seu texto sobre Caicó e o cinema do seu Clóvis.
Um abraço!
Belíssimo, o texto sobre Caicó, Moacy. E maravilhosa a poesia de ana de santana... sou uma grande fã.
bjos
cá
icó
é
o
icó
de
cá
de
zé
baixim
meu
tio
o
caicó
que
não
conheço
tenho-a
apenas
no
sangue
caicó
in
barra da espingarda
Feliz homenagem a sua
Parabens
Abração
Oreny Júnior
Muito lindo o amor por sua terra Moacy.
Bjs.
Moacy,
lindas as suas palavras à nossa querida Caicó e às coisas que lhes são próprias. Sua sensibilidade é tamanha, imensidão sem fim.
Obrigada por integrar este belo número do Balaio, sobretudo por configurar ao lado de Ana Santana que é um encanto de ser humano e uma grande poetisa.
Um forte abraço, poetíssimo!
Beijos em todos e todas que visitam o Balaio,
H.F.
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