quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Clique na imagem
para verouvir
o trêiler espanhol
ou
clique aqui
para o trêiler inglês de
A cidade de Sylvia
(Guerín, 2007)


BALAIO PORRETA 1986
n° 2764
Rio, 26 de agosto de 2009

A mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer.
(Mario QUINTANA, in Sapato florido, 1947)


Em resposta ao IMDB
OS MELHORES FILMES DOS ANOS 2000
(até o momento),
segundo a nossa leitura crítico-afetivo-libertinária

1. Uma visita ao Louvre (Straub & Huillet, 2003)
2. A cidade de Sylvia (Guerín, 2007)
3. A inglesa e o duque (Rohmer, 2001)
4. Juventude em marcha (Costa, 2006)
5. Arca russa (Sokúrov, 2002)
6. Amantes constantes (Garrel, 2004)
7. A viagem do balão vermelho (Hou, 2007)
8. O homem de Londres (Tarr, 2007)
9. Bamako (Sissako, 2006)
10. Tropical malady (Weerasethakul, 2004)
11. Dogville (Von Trier, 2003)
12. LavourArcaica (Carvalho, 2001)


DE POSSÍVEIS LAMPARINAS
Mario Cezar
[ in Coivara ]

1.
- dona minina, o que é uma vagina?
- é o poço da alma.
2.
o que é um gozo?
(pergunta antiga)
morreu cega e cacunda.

CONFESSO
Nathália de Sousa/Nei Leandro de Castro
[ in Poemas devassos, 2006)

A primerira vez
que molhei a calcinha
foi num filme romântico
no escurinho
do Cinema São Luiz.
Quase menina, boba,
não entendi muito.
Mas fiquei feliz.


A MÁSCARA
(a Paulo Autran)
Lívio Oliveira
[ in O Teorema da Feira ]

A máscara que vesti
não era a máscara que
alguns homens
e mulheres,
incautos,
desavisados,
insistiram
e teimam em ostentar.

A máscara que vesti
e o nariz de palhaço
me trouxeram dignidade
e honra.

E o sonho
me chegou
perto,
bem perto!

Com aquela máscara,
aquela fantasia.
eu, um mero clown,
um operário sonhador,
dei, de volta,
o sorriso surrupiado
do povo.

Dei, de volta,
àqueles que me viram
em cena,
àqueles que me tomaram
no ato,
toda força do meu corpo
e de minha alma,
e, ainda, do meu sonho,
algo que nunca
teve máscara!


CRIMES EXEMPLARES - O LIBIDINOSO
Inês Motta
[ in Objeto Obscuro ]

Havia chegado do sepultamento de pai, triste e abalada.
Tudo que necessitava naquele momento era apoio e conforto.
Ele, de fato a confortou, abraçando-a no leito enquanto repousavam.
E isso era louvável.

Mas ao fazê-lo, ficou excitado e ela pode sentir o ousado
e atrevido volume que lhe tocava as coxas.

Era necessário um pouco mais de respeito num momento
de tão grande dor e sofrimento.

Foi sem pensar.
E quando se deu conta, já arremessara contra ele
o primeiro objeto ao alcance da mão.

Não teve culpa se o ferro de passar era tão pesado.


O DIABO NUMA ENTREVISTA DE EMPREGO
Marconi Leal

- E então? O que é que o senhor sabe fazer?
- Ah, eu solto fogo pela venta, retalho carne humana, coloco um ou outro sujeito num caldeirão de óleo fervente, enfim, essas coisas básicas... Também produzo CDs de pagode e música sertaneja. E, claro, dou assessoria em Brasília. Mas isso daí tô abandonando, o pessoal lá é muito sacana...

- Uhmm, sei... Só isso?
- Não, não. Eu também voo, olha aí... Vou de zero a cem em cinco batidas de asa. Se não tiver tráfego aéreo, claro.

- Entendi. E qual é o cargo que o senhor está pretendendo mesmo?
- Bom, eu queria uma coisa assim onde eu pudesse humilhar e explorar, tornar a vida dos funcionários uma desgraça, deixar as pessoas tensas e nervosas, sabe?

- Me desculpe, mas os cargos de chefia já estão todos ocupados.
- Então, quem sabe algo como ficar o dia todo de perna pro ar, sem fazer nada, vendo os outros trabalhar feito burro e, de vez em quando, passar a mão na bunda de uma funcionária?

- Nesse caso, o senhor vai ter que comprar ações da empresa. Me diga uma coisa, qual a sua idade mesmo?
- No calendário judaico ou cristão?

- Cris... Uhm! Mas que cheiro é esse?
- Enxofre, modéstia à parte.

- Urgh!... Olha, normalmente eu não faço isso, mas vou ser bem sincera com o senhor. Esse seu currículo está um tanto ou quanto antiquado, entende? O que é que eu vejo aqui? Correntes, fogo, caldeirões, ácido, tridentes... Esses são métodos ultrapassados. As empresas modernas utilizam outro tipo de tortura, como a hora extra não remunerada ou o amigo secreto no final do ano.
- Mas, moça, eu consigo me transformar no que eu quiser. Olha aqui... Tcha-ran! Virei um pastor evangélico!

- Não vi diferença.
- Agora, veja... bééé... me transformei num bode!

- Já tentou o Se Vira nos Trinta?
- Calma... Eu também faço caretas horrorosas, horripilantes. Vê? Fiquei a cara daquele cantor, o Lenine!

- Ha! O senhor precisa ver é a cara do meu chefe de manhã!... Não vai dar.
- Não diga isso, moça. Eu sei que eu tô meio velhão, mas, e a experiência? Eu tava aqui quando o primeiro raio de luz cruzou o firmamento! Vi os oceanos se formarem! Presenciei o nascimento da Hebe Camargo!

- Me desculpe.
- Moça, minha vida tem sido um inferno, eu tenho centenas de faunos pra sustentar... A senhora não entende! Me dê uma chance, por favor!

- Bom... Deixa ver... O senhor disse que sabe voar?
- Sim, sei. Olha aí...

- Tudo bem, tudo bem, já vi. E é rápido mesmo?
- Mais que um deputado desviando verba do orçamento.

- Então tá. Acho que tenho o cargo ideal para o senhor. Aperte aqui, o senhor está contratado.
- Puxa! Mesmo? Como diretor?

- Não, como boy. Começa na segunda-feira, parabéns! Agora, por favor, vê se toma um banho, sim?

12 comentários:

nina rizzi disse...

estava a procurar filmes e havia desistido, uma passadinha aqui e parece que não dormitamos, hm? rsrs..

isso aqui tá bom demais. e tem nada ver com cinema não. é arte toda.

beijo.

Cosmunicando disse...

a coisa tá feia até pro diabo :)
mas pros poetas daqui tá tudo dez, uma inspiração direto do poço da alma...
beijos madrugais, moa!

Lívio Oliveira disse...

Moacy, muito obrigado pela publicação de meu poema. Peço, apenas, para mudar: "incautos" e não "incauvos".
Abração!

BAR DO BARDO disse...

Inês e Lívio são da parte do Cão!

mario cezar disse...

eita moacy, cão "danado pra catende" você e suas indagações de cutucar o vazio. tenho acompanhado as concertinas do bar do ferreirinha. reduto-póvora; reduto flor-de-muçambê; de açudes-sangria. abraços

Jens disse...

Oi Moacy.
Quarta-feira irretocável no Balaio: poemas de alta qualidade (o "poço da alma" é sensacional e a confissão, um momento de pura e ingênua ternura). A Inês vem se revelando uma grata surpresa na arte de contar histórias curtas. Quanto ao sacripanta do Marconi Leal, dispensa comentários. Continua escrevendo bem, o sacripanta.
Pra quarta-feira ficar irretocável também aqui nos pampas, o Inter tem que vencer o Santos hoje à noite. Reforça a torcida aí.

Um abraço.

Ines Mota disse...

Olá, Moacy.
Obrigada pela publicação do Conto. Aliás, esse Balaio hoje tá meio encapetado, como diria o Henrique Pimenta. Ele disse que sou da parte do cão. Até gostaria ser da parte de alguém, ainda que do cão. Sou tão complicada pra empunhar bandeiras, hehhe.
Beijos!
(Ah, Escrevi sUpultamento ao invés de sepultamento, rs)

Unknown disse...

Oi Noacy!

Seu bom gosto para filmes, é incrível!

Poemas maravilhosos, mas destaco o do Lívio e aplaudo!

Contratação do Diabo.... ah Fausto que veja isso!

Poderia ser o boy do Senado?


Parabéns, Moa!

Beijos

Mirse

Mme. S. disse...

Assisti os dois últimos da lista. Gostei muito.

Um beijo, S.

Marco disse...

Toda a postagem está ótima! O trailer é absolutamente instigante. Um belo exemplo de conflito dramatúrgico.
É sempre um prazer ler textos do Marconi.
De sua lista, só vi dois. E, é claro, tenho uma outra lista sobre o assunto. mas todo mundo tem, não é?
Carpe Diem. Aproveite o dia e a vida.

Paulo Jorge Dumaresq disse...

Moa, parabéns pela lista. Assim como Mme. S. assisti apenas a "Dogville" e "Lavoura Arcaica". Sugestão: seria legal uma enquete com a opinião de outros cinéfilos. Abração e obrigado pelo comentário ontem.

Batom e poesias disse...

Passando para conferir as dicas, e presentes desse balaio.
bjs

Rossana