às margens do Itans, em Caicó,
ao lado de um pirarucu pescado pouco antes,
da esquerda para a direita,
Pajá (ainda hoje frequentador do Bar de Ferreirinha),
Luiz Cirne (meu pai), Antônio Lins e Seu Bento.
Clique na imagem para ampliá-la.
[Foto do acervo de Souza, o Bacuê, inventor do iPosso]
BALAIO PORRETA 1986
n° 2763
Rio, 25 de agosto de 2009
(Susan SONTAG. A vontade radical, 1969)
MATINO
Mário Ivo
[ in Cidade dos Reis ]
Ao amanhecer todas as cidades se parecem.
Só você ao despertar não se assemelha a ninguém
nem a nada no mundo.
No alto dos prédios imóveis pastoreia as nuvens o sol.
A teus pés apascento o sonho. Para quando despertes o mundo não se pareça a nenhuma manhã conhecida.
HISTÓRIAS DO BRASIL: PEQUENAS VERGONHAS
Marcos de Vasconcelos
(1983)
Benedito Valadares, então governador de Minas (dizia-se Presidente), quando soube que um determinado político circulava por todo canto a falar mal dele:
- Mas que favor que eu fiz a ele?
Mendonça Falcão, o folclórico dirigente do Santos de Pelé, quando era chefe da Delegação Brasileira de Futebol em viagem à Europa, dirigindo-se ao Presidente da Federação Portuguesa, agradecendo à saudação deste, desfechou este brinco, para horror dos companheiros:
- Sua senhora é a verdadeira portuguesa de desportos.
Mauritônio Meira e José Geraldo Costa subiam as ruas empedradas do Alfama, o lindo bairro da Lisboa Velha, admirando o casario irregular, celebrado já no tempo da ocupação moura.
Numa das vielas, cruzaram com duas raparigas. Uma delas comentou alto, com forte sotaque brasileiro e nordestino:
- Copiaram tudo isso da Bahia!...
Almoço na casa de Oscar Niemeyer, a famosa residência do arquiteto nas Canoas, no Rio. Comensais, além do anfitrião: o [então] vice-governador carioca Darcy Ribeiro, o poeta e engenheiro Joaquim Cardoso, o arquiteto Nauro Esteves, assistente do Oscar nos projetos de Brasília e eu.
Pode-se supor o alto nível da conversa formada por atuantes trabalhadores intelectuais brasileiros. A tese eleita para discussão, enquanto traçávamos uma salada de tomate, arroz e bife, foi a proposta pelo antrpólogo Darcy Ribeiro: como seriam as relações entre os seres humanos se tivéssemos rabo.
AUTO-FLAGELO
de Suzana Vargas
[in Caderno de outuno, 2ª ed., 1998 ]
Na mesa:
o pão, o leite, a manteiga
e o
Nescafé
insolúvel dos meus dias.
POEMA
Alexandre Lourenço
O amor impossível
não se intimida com os crepúsculos
de cimento azul.
Nem com as catedrais
grávidas de silêncios barrocos.
O amor impossível
constroi sua geometria do imprevisível.
E se basta em sua impossibilidade desenhada
pelo voo noturno da gaivota de papel e melancia.
POEMA
Sandra Camurça
[ in O Refúgio ]
acordou sem saber
se era segunda ou domingo...
era segunda
e abandonado entre lençóis
seus sonhos adormeceram
O ADEUS DOS POETAS
Maria Maria
[ in Espartilho de Eme ]
No dia em que os poetas
se disserem adeus,
a alma humana se perderá
no escuro da palavra.
POEMA de
Zé Limeira
[ Republicado in Balaio 1213, de 14/10/1999 ]
Quando D. Pedro II
Governava a Palestina
E Dona Leopoldina
Devia a Deus e ao mundo
O poeta Zé Raimundo
Começou a capar jumento.
Daí veio um pensamento:
Tudo aquilo era boato.
Oito noves fora quatro,
Diz o Velho Testamento.
Marcílio Medeiros
[ in Vida Literária ]
sempre há uma brecha
raios a decepar flores
a nudez das cores reservadas
estiletes eretos na raspagem
da poeira que se esconde
e repousa na limitada
decomposição que lhe resta
as dobras dos móveis
sua carapaça, seu secreto
labirinto onde maturam
os dias passados em objetos
um sopro, uma falha
traz o arpão incendiado
a gralha silenciosa, mas munida
a riscar o olhar assustado
de coisas mal-dormidas
há um tempo.
mesmo das infidelidades há um tempo.
o olho do campo regurgita os pastos.
há um tempo.
mesmo da permanência havida há um tempo.
os bruscos lençóis resvalam cores
amplas de medo.
há um tempo.
mesmo de braços contidos há um tempo.
sem mais ver,
bruscos rugidos vão prestar tempestades.
quantas noites os tumultos violam
de manter falências e medos?
quantas gargantas se contêm de dizer?
há um tempo. claro e justo tempo
Humor
MULHER SUSPEITA
Armando Negreiros
[ in Viva a Verve!, 2000 ]
- Qual o motivo?
- São mulheres suspeitas.
- Suspeitas? Essas duas? De maneira nenhuma! Essas duas são putas, as suspeitas estão aí dentro.
UMA PEQUENA NOTA POLÍTICA
Em se tratando da política do Rio Grande do Norte, o sen. José Agripino Rabo de Palha Maia - para usar uma expressão muito cara a Leonel Brizola - não passa de um "filhote da ditadura". Aliás, será que existe alguma diferença entre ele e Sarney?
16 comentários:
Nossa, precisei de fôlego para ler textos tão intensos...
Variados e excelentes...
Parabéns, mestre Moa, pela escolha.
Parabéns aos seletos!
não sei se ao amanhecer todas as cidades se parecem. já vi cidades de outros países, até pela localização no planeta a iluminação é diferente. beijos, pedrita
nossa, que peixão, hein. e bem ao estilo mata a cobra e mostra o pau. essa não é só de pescador. vou de historiadora :)
por isso fico com a revolução, contida como... nada deveria ser.
o tempo é mesmo o meu ofício, ora veja... bem ao limeira, bem um bem :D
beijo, moacy.
moacy,
já que hoje falamos do tempo, deixo um poema do anibal beça, o magnífico, que, hoje, foi pr'outro tempo. o tempo do eterno:
TEMPO DE BUSCA
Aníbal Beça
"Procuro por uma porta
que me abra um tempo mais sereno.
Pressinto que ela está por aí, talvez próxima,
à toa nos meus caminhos vagos.
Entre uma passada e outra
me apresso em tocá-la,
e ela na sua calma surda de madeira
se afasta para voltar ao estado de árvore.
Sinto que também ela procura por alguma coisa
com algo de vento mastigando capim.
Vez por outra escuto um mugido
rangendo entradas e saídas
trompa pastoral se fechando em tardes.
Meus amigos me dizem que possuem sua chave,
que são íntimos no entrar e sair.
— seja pela parte da frente seja pela parte de trás —
sabem até do seu humor
pela leitura enrugada dos múltiplos nós,
mas não podem emprestá-la.
Temem que eu não volte para devolvê-la."
Eita, esse Itans dá muitas histórias!
Boa memória!
Obrigada pela postagem.
Os poemas estão fantásticos!
Beijos,
Maria Maria
Esse balaio se explica...tantos poetaços, tanta história e crítica...sempre me instruo por aqui...
Poética e bem humorada edição, Moacy.
Destaco a participação inspirada da Sandrix. A guria está cada vez melhor.
Um abraço.
Sobre os políticos deixo aqui as palavras sábias do Pe. Antonio Vieira: 'Tempo houve em que os demônios falavam e o mundo os ouvia; mas depois que ouviu os políticos ainda é pior mundo'.
É isso aí!
Um abraço...
Oi Moacy!
Blog quase pronto, ficando as dificuldades para a atualização.
Amei a postagem de hoje!
Nem precisava apontar seu pai.
Concordo com Susan Sontag.
Poemas todos maravilhosos.
Destaco porém, Maria Maria e Suzana Vargas!
O humor está espêndido!
Parabéns por mais esta edição!
Beijos
mirse
Mestre, o blog continua do balacobaco. Ótimos poemas, sobretudo o do Alexandre Lourenço. E os filmes? Coisas interessantes em cartaz? Caríssimo, forte abraço.
hoje o balaio transborda... a foto que fez lembrar meu pai, os queridos e brilhantes poetas marcílio, romério, a lembrança e a saudade de beça no comentário da nina, todos, tudo... de perder o fôlego. foi bom demais estar aqui, moacy.:) beijos.
incrível essa edição do balaio, moa!!!
tá uma overdose de bom gosto nos poemas :)
e que bela foto, deve trazer muitas recordações, não?
eu vou ficar com o poema do mário ivo... que coisa linda.
beijos
Belo Balaio, Moacy.
Lindos poemas.
Reconheci de imediato , seu Bento Xavier, o sogro de minha irmã (de saudos memória).
Beijos
Gostei desse balaio, especialmente pelo poema do Marcílio Medeiros, esse caico-bugiense. Abraço!
Moacy,
muito bom estar aqui no seu espaço. obrigado.
quanto ao caicó-bugiense (ou sabucaicoense), me reconheci. é isso mesmo!
abs
Moacy, querido,
grata! Olha só, vou sumir não, viu? vez por outra faço uma visitinha aqui, ali, acolá... quanto as minhas postagens, vou postar quando tiver tesão de escrever senão não faz sentido, escrever por escrever, né não?
fico emocionado com todo o carinho que recebo de vocês, falo de Vais, Jens, você e outros/as leitores/as. sinto saudade também mas prefiro não falar em saudade porque fico nostálgica e melancólica e no momento preciso perseverar com otimismo e alegria nesse caminho que estou traçando. um beijo enorme procê.
Postar um comentário