sábado, 12 de setembro de 2009

FILMES QUE MARCARAM ÉPOCA
NA CAICÓ DOS ANOS 50
Clique na imagem
(Cornel Wilde e Gene Tierney)
para verouvir
os 10 minutos iniciais de
Amar foi minha ruína
(John M. Stahal, 1946)
Qual é o maior melodrama da história do cinema? Não é fácil apontar apenas um título, aquele que poderia ser "o" melodrama por excelência. Mas, é preciso reconhecer, Amar foi a minha ruína tem um lugar especial na galeria dos filmes lacrimogênicos dos anos 40, a partir da visão de uma bela mulher extremamente ciumenta, capaz de qualquer coisa em função da mais possessiva das paixões. O filme, claro, provocou um entusiasmo quase histérico nos seus milhares de admiradores. Em Caicó, ao ser exibido por volta de 1951, não seria diferente.


BALAIO PORRETA 1986
n° 2781
Rio, 12 de setembro de 2009

Se trepar não fosse a coisa mais importante da vida,
o Gênesis não começaria por aí.
(Cesare PAVESE. O ofício de viver, 1952)


CINEMA
Armando Freitas Filho
[ in De corpo presente, 1975 ]

Com o que guardo eu te ataco:
faca sob a capa, em todo o escuro
está a minha pata, e o tiro do
revólver que dispara no lusco-fusco
de um filme mudo - o dente de repente
que estraçalha - por dentro - sua carne;
eu ataco e nunca estou onde está
a minha marca - eu te afago
com esta mão de gato que te furta:
- novelo de disfarçada fúria
vestindp de lã, veludo e anelo
o arame de cada garra que arranha
a concha da pele, a curva de pétala
do peito feito oferta, e rasga
o pano, o forro, o estofo
vermelho do coração, e fura
até o fundo, - pisa - o que de você
ainda vive e resiste: cauda, pulso,
a lembrança muscular de um gesto
amputado, qualquer migalha, caco,
pedaço, o que sobrou, e o resto.


POEMA
Zemaria Pinto
[ in Fragmentos de silêncio, 1995 ]

garçom, traga-me uma navalha
e um chope espumando nuvens


SAUDADE
Gilka Machado
[ in Velha poesia, 1965 ]

De quem é esta saudade
que meus silêncios invade,
que de tão longe me vem?

De quem é esta saudade,
de quem?

Aquelas mãos só carícias,
Aqueles olhos de apelo,
aqueles lábios-desejo...

E estes dedos engelhados,
e este olhar de vã procura,
e esta boca sem um beijo...

De quem é esta saudade
que sinto quando me vejo?


ALMANAQUE, ALMANAQUE

Memória 1997
Maldade
"A turma da Academia Brasileira de Letras está de prontidão!
Circula em Brasília a informação de que José Sarney
cogita a possibilidade de abandonar a política
para avacalhar de vez com a literatura! Já pensou?"
Tutty Vásques, Jornal do Brasil, 22/5/1997

Memória 1892
Classificado de um jornal carioca
"Uma viúva interessante, distinta, de boa família e
independente de meios, deseja encontrar um homem de meia-idade,
sério, instruído, e também com meios de vida,
que esteja como ela cansada de viver só:
resposta por carta ao escritório desta folha.
Com as iniciais N.R..., a fim de ser procurada esta carta"
(1892)

Humor
A vida sexual aos 90
"- Como é a vida sexual na sua idade? -
perguntou um jornalista ao ator cômico Bob Hope,
de 94 anos de idade.
- É como jogar sinuca com uma corda
- respondeu rápido o ator, sem perder a pose e a piada".

Imprensa
Pérolas jornalísticas
"Parece que ela foi morta pelo seu assassino".
(E eu pensei que ela tivesse sido morta pelo assassino do vizinho.)
"Os quatro artistas formam um trio de talento".
(Por que não uma dupla, ou duo.)
"O presidente de honra é um septuagenário de 81 anos".
(Bem, pelo menos não se trata de um nonagenário de 81 anos,
não é mesmo?)

"Pérolas" colhidas na imprensa por Sérgio Duarte,
no Jornal do Brasil, de 14/5/2000.

[ in Nonadas - O livro das bobagens,
de Flávio Moreira da Costa, 2000 ]


ADIVINHAÇÕES POPULARES
[ in Cantadores, de Leonardo Mota ]

1. - O que é, o que é?:
A carne da moça é dura,
Mais dura é quem a furou:
Meteu o duro no mole,
O duro dependurou.

2. - O que é, o que é?:
Nágua nasci,
Nágua me criei;
Se nágua me botarem,
Nágua morrerei.

3. - O que é, o que é?
A mãe é verde,
A filha é encarnada;
A mãe é mansa,
A filha é danada.

[ Respostas no final da postagem ]


MANCHETES QUE ABALARAM O MUNDO
Max Nunes
[ in Uma pulga na camisola, 1996 ]

Tarado come maçã e ataca donzela no Paraíso.

Desfalcada a seleção da Grécia.
Acertaram o calcanhar de Aquiles.

Ainda não foram encontrados os restos mortais
do chinês que inventou a pólvora.

Navegador português sem radar descobre o Brasil.

Luís XV ganha o primeiro lugar
na categoria luxo do Baile de Sodoma.



POEMA
Flávio Boaventura
[ in Dimensão, n° 30, 2000 ]

giro não sei por onde
deliro não sei por quase
transpiro um sangue metálico
a cada bala perdida

tenho uma fome por dentro
um gatilho apertado no peito
uma alma que se lava
a cada chuva ácida


RESPOSTAS DAS ADIVINHAÇÕES

1. É brinco de orelha.
2. É sal.
3. É pimenta.


8 comentários:

BAR DO BARDO disse...

Antológico, embora a lógica às vezes vá passear no espaço...

Unknown disse...

Caros amigos:

O gênero melodrama, hoje lembrado por Moacy, foi preconceituado durante muito tempo. Abriga, todavia, filmes muito bonitos e com um alcance estético e crítico insuspeito. Lembro muito das duas versões de "Imitação da vida": além de registrarem dramaticamente o apartheid nos EEUU, apresentam questões como a enorme capacidade de sobrevivência de Delilah (a empregada negra na versão de 1934, dirigida por John Stahl) e o cruel inconformismo de Sarah Jane (a filha daquela empregada na versão de 1959, dirigida por Douglas Sirk). As duas versões conseguem apresentar aspectos do país habitualmente pouco discutidos. E Sirk incluiu a gloriosa Mahalia Jackson cantando no enterro final - a arte vai longe mesmo!
Abraços:

Pedrita disse...

bom, se até o collor entrou para uma academia de letras, tudo infelizmente é possível. beijos, pedrita

Francisco Sobreira disse...

Concordo com você, Moacy, que é muito difícil se apontar qual o mair melodrama. É claro que cada cin éfilo tem o seu preferido. Para mim, é Casablanca. Concordo com Marcos quanto ao preconceito contra o melodrama, mas fico em dúvida quanto ao "alcance estético e crítico insuspeito" que o gênero possa ter. Não consigo enxergar isso em "Suplício de Uma Saudade", pARa ficar só num exemplo. No mais, seu Balaio está hoje mais porreta do que nunca. Um abraço.

Unknown disse...

Bom dia, Moacy!

Adoro melodramas, daqueles que precisa de lençol para enchugar as lágrimas.
O Título acho que ficou em mim, mas o carro...eu vi, estava escrito em portugues: RANCHO DO BANZO. Não entendi!

Dos poemas, todos nuito bons, mas o de Gilka Machado está além.

No mais tudo ótimo e perfeito. Óbvio que errei as adivinhações, e se o Collor for eleito para a ABL, deve procurar ficar pertinho do P. Coelho!

Beijos

Mirse

Unknown disse...

Sobreira:

Certamente, o alcance estético e crítico não se manifesta da mesma forma em todos os filmes do gênero. Melodramaticamente, direi que eles contribuem para sentirmos mais a necessidade do amor num mundo sem amor (que nem a alma num mundo sem alma que Marx identificou na religião).
Abraços:

Marcos Silva

Sergio Andrade disse...

E a vilã é Gene Tierney, uma das mulheres mais belas dos anos 40. Adoro esse filme!

Um abraço!

Marcelo Novaes disse...

Moa,



São muitos os filmes que encharcaram colos e poltronas. Os mais jovens choraram com "Ghost" (muitos choraram meia dúzia de vezes). O poema "Cinema", de Armando Freitas Filho, é bem ao meu gosto. "Poema", do Zemaria Pinto, é uma bela sacada em cima do verso de Noel Rosa. Quanto aos velhos almanaques, vc os mantém vivos... O Balaio tem muito disso, trabalhado com estilo: cultura dos almanaques. Almanaque virtual é para os pacientes cultores / cultivadores de cada lampejo, cada faísca de sabor / humor, por aí abandonadas...









Abração,







Marcelo.