(1933)
BALAIO PORRETA 1986
n° 2770
Rio, 1 de setembro de 2009
Hoje é dia de lançamento lítero-musical em Natal: Poemúsicas, cd de Dácio Galvão, no Budda Pub, em Ponta Negra (Av. Eng. Roberto Freire). A partir das 19h. Decerto, um grande lançamento. O cd traz poemas interpretados por nomes da envergadura de Naná Vasconcelos, Alceu Valença, Dominguinhos, Geraldo Azevedo, Zeca Baleiro, Walter Franco,
entre outros, entre outros.
Não é porque a noite se mostra negra
que esqueço o brilho das estrelas
esqueço o brilho das estrelas
porque a noite se mostra negra
Não é por não dispor chaminé
que desacredito em papai Noel
desacredito em papai Noel
por não dispor chaminé
Não é porque o Sol se enfada se deita
que anuncio novo dia
anuncio novo dia
porque o Sol se enfada se deita
Não é porque a lua se apresenta gueixa
que afago cometas e vaga-lumes
afago cometas e vaga-lumes
porque a lua se apresenta gueixa
Não é por essas e outras coisas
que amo esse mesmo outro homem...
amo esse mesmo outro homem
por essas e outras coisas...
SOLITÁRIO
- para henrique pimenta
no cofre guardadinho para nada.
Não brilha seus encantos para a amada,
cintila para dentro o seu desplante.
Um homem que é sozinho, sem amante,
amarga seu amor numa danada
vontade pela fêmea que é gamada
na gema de outra jóia cintilante.
O príncipe galante foi em vão
princípio filosófico de vário
tesouro virtuoso, mas, então...
Os contos são escritos ao contrário:
virá do diamante - o seu carvão;
da fosca solidão - o seu calvário.
ESPELHO
Vejo-me semi-nua
Quase nua.
Vejo-me ansiosa
Quase frenética.
Vejo-me pura
Quase intacta.
Vejo-me pueril
Quase menina.
Vejo-me metade
Quase viés.
Vejo-me por dentro
Quase visceral.
Vejo-me ardente
Quase devassa.
Vejo-me casta
Quase um anjo.
Vejo-me revoando
Quase um pássaro.
Vejo-me em mil partículas
Quase invisíveis.
Vejo... uma menina
Ao lado de uma mulher.
QUEDA E ASCENSÃO DE UM TITÃ
Jens
[ in A Toca do Lobo ]
- Estou apaixonado – revelou com um brilho intenso no olhar.
Até aí tudo normal. Toda semana ele se apaixona e desapaixona.
- Desta vez é diferente. A gatinha tem 25 aninhos. Um pitéu.
Foi a minha vez de ficar impressionado.
- Ela é cega?
- Quequiéisto? Sou um cavalheiro ainda desfrutável. Dou um bom caldo, hehehe...
Olhei criticamente para a sua barriga proeminente de burguês bem sucedido, em contraposição à minha figura esbelta de operário intelectual, mas concordei. Não gosto de discutir de pandulho cheio. Além do mais ele estava pagando. Notei uma sombra de preocupação no seu semblante.
- Qual o problema?
Ele abriu as comportas do coração. Ainda não havia compartilhado momentos íntimos com a sua jovem e recente paixão, o que deveria acontecer àquela noite. Temia não dar conta do recado.
- Já teve problemas nesta área? – indaguei.
Negou com veemência, mas fez uma ressalva.
- Mas sabe como é a juventude de hoje... No nosso tempo era dourada, hoje, segundo dizem, é fogosa e insaciável.
Cocei o cavanhaque e fiz a sugestão.
- Apela pro azulzinho.
- Funciona mesmo?
- Claro, é pá-pum! – falei com conhecimento de causa.
Convencido, ele chamou o Sem Braço.
O Sem Braço é o quebra-galho do pedaço. Oficialmente é vendedor de bilhetes de loteria, mas consegue o que o freguês desejar: peças de computador, ipods, celulares, relógios, uísque, perfumes e, claro, as pílulas milagrosas. Tudo legítimo, importado diretamente do Paraguai.
***
No sábado pela manhã o telefone tocou. Atendi de mau humor.
- Quem é, porra?
Era o Moah.
- E aí, garanhão? – saudei efusivamente.
- Garanhão uma porra! Deu tudo errado – havia desespero na voz.
- O que houve?
- Falhei miseravelmente.
Contive o riso debochado. Aquele era um momento de dor.
- O Sem Braço vai se ver comigo, acho que a porra do comprimido era falso. Além disto, eu estava nervoso. O Nestor ficou inerte, como se estivesse desmaiado ou em coma.
Nestor é como ele chama o seu, naquele momento, órgão outrora reprodutor. O meu é Godofredo, mas sem o outrora.
- E ela, o que fez? – quis saber.
- Tentou me consolar, mas acho que estava segurando o riso. Mandei embora, estou arrasado.
- Deixa pra lá. Foi só um tropeço ocasional, acontece.
- Já aconteceu contigo?
- Epa!, comigo não – não ia entregar o ouro de bandeja.
- Não sei o que fazer.
- Descansa, relaxa, cuida da alimentação. Vai passar – tentei tranquilizá-lo.
- É isto ou então atear fogos às vestes – concluiu antes de desligar.
***
Ontem encontrei-o novamente. O diálogo foi rápido.
- Tinhas razão. Foi só um acidente de percurso.
- Beleza - eu disse. - Que anjo te resgatou do inferno?
- Sabe a Zelda? Pois é, hehehe... Aliás, tenho um encontro com ela e já estou atrasado.
Depois de emprestar 50 paus – dificilmente nega um pedido de pecúnia quando está de bem com a vida - lá se foi ele, todo pimpão, flanando pelas ruas da cidade.
Assim como depaupera, a paixão revigora.
14 comentários:
Vixeee!
Mestre como é bom estar aqui de novo!
Você sempre me faz feliz, com seu carinho, seus elogios. Fico sempre toda frajola. É sempre uma honra estar aqui no Balaio! Já lhe disseram que vc é iluminado? Eu digo!
Beijos e muito catinho.
mestre moa,
as misturas-costuras do seu balaio dão aos poetas uma bela colcha de versos unidos. sua feira é excelente!
o soneto de bardo para bardo (como é bom o poeta henrique, não?)tem a qualidade dos grandes,
o texto da toca do lobo é excelente!
beti e hercília são delicadas vozes na constante pela poesia feminina,
as fotos de bresson são de outro mundo e esta é maravilhosa, maravilhosa...
tudo disponível, tudo aqui, uma revista digital de grande valor!
seu trabalho é imprescindível.
ps: como fã de lars von trier foi bom saber de seu apoio ao filme, fico sua fã pela enésima vez!
um beijo!
obrigado por me compartilhar com tanta gente boa.
parabéns a todos!
- Henrique Pimenta
Bom dia Moacy!
Linda a imagem!
Hercília, é "Hor Concour" assim como Bardinho que se diz tão solitário e cercado por mulhers! Tadinho!
Beti Também maravilhoso poema!
Agora Jeans, sequer o conheço, mas como você entrega assim o ouro?
Gostei muito, porque vi o Moacy, mestre em tudo como gente. Como uma pessoa normal com todos os percalços.
Você tambéms Jeans está de parabéns, pela elegância da narrativa!
Beijos a todos
Mirse
Uma alegria imensa integrar o Balaio, Moacy.
O post está belíssimo. Muito me honra figurar ao lado de tão belas vozes.
Receba o meu sincero agradecimento.
Forte abraço,
H.F.
Volto para pedir desculpas pela ausência dos últimos dias.
Sempre acompanho as matérias do Balaio, mas nem sempre disponibilizo de tempo para comentá-las - o que lamento muitíssimo.
Um forte abraço, poetíssimo.
H.F.
Muito bom, Moacy, esse texto do Jens. Bem escrito e com senso de humor. Também bom o poema de Miss Beti (como a chamo), que já comentei no blogue dela. Um abraço.
* E o Flu? E o ABC? Haja sofrimento dos torcedores dos 2, como é o seu caso, amigo.
Pô Moacy, o clã invadiu o Balaio. Só faltou a Mariana Timm. Muito bacana. Fiquei contente. Thanks.
***
Também agradeço aos elogios nos comentários. Valeu, pessoal.
***
Esclarecimento: o Moah é um camarada meu aqui de POA. Não se trata do Moacy. Como é público e notório, sertanejos caicoenses não costumam negar fogo quando o assunto é conúbio carnal. Chico Doido de Caicó é o mais vistoso exemplo.
***
Cuca no Flu. Agora vai!
***
Um abraço.
bons poemas. prosa bem escrita. ô coisa boa de vir aqui! cheiro meu querido, S.
Rapaz, arrasaste com os talentosos Henrique, Jens e com a sempre fabulosa Beti! Ainda mais com a doce mocinha bêbada que fez o quatro depois de caída no rio... Abração!
Belíssima e rica postagem. Como sempre, fico feliz ao ler algo de Pimenta. E a foto de Bresson é de uma sensualidade sem igual.
Abs.
Olá, Moacy!
Visitar o Balaio é conhecer coisas novas e rever coisas antigas.
Vir ao Balaio é seguir por caminhos bons com bons passos.
Adorei ver minha querida Beti e meu querido Jens nestas páginas.
Adoro o que eles escrevem e os amo muito.
Junto com Henrique e Hercília ficaram ótimos.Que mistura supimpa!
Muito bom.
Valeu, Moacy.
Bom trabalho pra você.
Muita paz! Beijosssssssss
Muito legal. Linha direta entre o Bar do Ferreirinha e o Bar do Alemão. Fui lá.
Venha sempre Jens,aqui vc será muito bem recebido.
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