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BALAIO PORRETA 1986
n° 2784
Rio, 15 de setembro de 2009
As coisas hediondas que tenho feito por amor... Chego a especular se não tenho correndo nas veias qualquer sangue de um demônio apaixonado.
(Fábio FRANÇOIS, in Odisseia Banal)
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BALAIO PORRETA 1986
n° 2784
Rio, 15 de setembro de 2009
As coisas hediondas que tenho feito por amor... Chego a especular se não tenho correndo nas veias qualquer sangue de um demônio apaixonado.
(Fábio FRANÇOIS, in Odisseia Banal)
cantar rochas amar demais
entrar na revolução
como uma erupção
abordar o perfil de
dureza
com delírios de vida
e vagas explosões
desses barcos sufocados
pela vida
e rochas do homem
mal dizem os saberes:
quem canta rochas
vulcaniza a próstata.
UMA OUTRA PROSA
Assis Freitas
[ in Árvore da Poesia ]
percebo o que havia no teu corpo
néctar, pólen, semente
mas também havia poesia
disso a língua não sabia
"O sonho é mais forte do que a experiência" (p.43).
"Só se pode estudar aquilo que se sonhou primeiro. A ciência começa mais com um devaneio do que com uma experiência, e são [necessárias] muitas experiências para afastar todas as brumas do sonho" (p.48).
"O amor não é mais do que um fogo que se transmite. O fogo é um amor que se descobre" (p.52).
"O calor é um bem, uma possessão. Deve guardar-se ciosamente e só o conceder a um ser eleito que mereça uma comunhão, uma fusão recíproca" (p.75).
"Depois do desejo, é preciso que a forma se concretize, é preciso que o fogo acabe e se cumpram os destinos. Neste sentido, o alquimista e o poeta interrompem e apagam o jogo ardente da luz" (p.99).
"Com o fogo tudo se modifica. Quando queremos que tudo se modifique apelamos para o fogo" (p.103).
"... as ideias antigas desafiam as idades; regressam sempre em devaneios mais ou menos científicos com a sua parte de ingenuidade primitiva" (p.119).
"... um espírito poético é pura e simplesmente uma sintaxe das metáforas" (p.187).
néctar, pólen, semente
mas também havia poesia
disso a língua não sabia
A OUTRA FACE
Márcia Maia
[ in Tábua de Marés ]
se o fogo fere o amor
a alma e o corpo
o corpo ainda assim vez
por outra regozija
a mágoa ata
e o ódio nada é que o amor
visto do avesso do espelho
MEU CORAÇÃO ESCONDE
Carmen Vasconcelos
[ in Chuva ácida, 2000 ]
Meu coração esconde,
a palavra escapa,
a palavra que preciso cuspir.
Mas não é porque me cobre
a túnica do silêncio,
que estarei despida de poesia
ou perecerá,
sobre o branco impecável desta página,
o meu reflexo.
Márcia Maia
[ in Tábua de Marés ]
se o fogo fere o amor
a alma e o corpo
o corpo ainda assim vez
por outra regozija
a mágoa ata
e o ódio nada é que o amor
visto do avesso do espelho
MEU CORAÇÃO ESCONDE
Carmen Vasconcelos
[ in Chuva ácida, 2000 ]
Meu coração esconde,
a palavra escapa,
a palavra que preciso cuspir.
Mas não é porque me cobre
a túnica do silêncio,
que estarei despida de poesia
ou perecerá,
sobre o branco impecável desta página,
o meu reflexo.
DOIS SENTIDOS
Vais
minhas mãos se ocupam de outros afazeres
e os olhos continuam vendo e lendo
Vais
minhas mãos se ocupam de outros afazeres
e os olhos continuam vendo e lendo
EQUAÇÃO
Hercília Fernandes
[ in HF Diante do Espelho ]
A culpa foi da rosa
da rosa do vento
quem sabe da roda?!
da roda do tempo
A culpa foi nossa
[ não da rosa não da roda ]
incógnita chama
sentimento...
Hercília Fernandes
[ in HF Diante do Espelho ]
A culpa foi da rosa
da rosa do vento
quem sabe da roda?!
da roda do tempo
A culpa foi nossa
[ não da rosa não da roda ]
incógnita chama
sentimento...
LIVROS QUE ME MARCARAM NOS ANOS 70
- e ainda me marcam (1)
A psicanálise do fogo [1938], de Gaston Bachelard. Trad. Maria Isabel Braga. Lisboa ; Estúdios Cor, 194p.
"O fogo é íntimo e universal. Vive no nosso coração. Vive no céu. Sobe das profundezas da substância e oferece-se como o amor. Volta a tornar-se matéria e oculta-se, latente, contido, como o ódio e a vingança" (p.21).
"O sonho caminha linearmente, esquecendo o percurso na corrida. O devaneio expande-se em estrela" (p.34).
"O homem é uma criação do desejo, não uma criação da necessidade" (p.36-37).
"O sonho é mais forte do que a experiência" (p.43).
"Só se pode estudar aquilo que se sonhou primeiro. A ciência começa mais com um devaneio do que com uma experiência, e são [necessárias] muitas experiências para afastar todas as brumas do sonho" (p.48).
"O amor não é mais do que um fogo que se transmite. O fogo é um amor que se descobre" (p.52).
"O calor é um bem, uma possessão. Deve guardar-se ciosamente e só o conceder a um ser eleito que mereça uma comunhão, uma fusão recíproca" (p.75).
"Depois do desejo, é preciso que a forma se concretize, é preciso que o fogo acabe e se cumpram os destinos. Neste sentido, o alquimista e o poeta interrompem e apagam o jogo ardente da luz" (p.99).
"Com o fogo tudo se modifica. Quando queremos que tudo se modifique apelamos para o fogo" (p.103).
"... as ideias antigas desafiam as idades; regressam sempre em devaneios mais ou menos científicos com a sua parte de ingenuidade primitiva" (p.119).
"... um espírito poético é pura e simplesmente uma sintaxe das metáforas" (p.187).
17 comentários:
Caro Moacy,
Deixo aqui um link de outro meu blog, onde pode encontrar mais poemas e 1 conto de Joao Tala.
Kandandu
fico sempre besta - e basta
Ave Moacy, agradeço por estar neste balaio voluptuoso e em tão densas companhias. Bachelard é um porreta, dele também me apaixonei por A poética do espaço. Abraço.
legal essa seleção de períodos do livro, Moacy. Cada frase uma sentença. um beijo da sua menina.
Desculpe, esqueci do link http://coresepalavras.blogspot.com/search/label/Joao%20Tala
Kandandu
Oi Moacy.
Hoje me encantei com o demoníaco Fábio François e com a foto. Deu vontade tomar banho de rio.
Um abraço.
Moa,
Bachelard é tremendo, na sondagem (poética) de todos os elementos.
Quanto à coletânea de hoje, Assis Freitas deve colher muitos frutos em sua Árvore (da Poesia), a se julgar por este.
Abração,
Marcelo.
Moacy,
Sua seleção é irretocável...destaco a Hercília, que adoro.Barchelard,hum, é maravilhoso...venho aqui para me ins-pirar.bj
ave bache'lord da poética do espaço! assonhando desejos, o cara é fogo, como essa foto disfarçada de água, ave moacy! vou ficando por aqui...
kandandu - que palavra linda! estou a gostar dessa integração brasil / angola!
viva a língua!
43, 99, 119. céus eu devo ter escrito isso de algum outro modo...
olá moacy,
veja, sempre em sintonia: hoje é a revolução desse joão tala. anda a me arranajr irmãos por aí, hein?
sim, canto à revolução, como cantou:
"en la lucha de clases
todas las armas
son buenas:
piedras,
noches,
poemas".
no "tigre e a neve" a personagem de benigni é um professor de poesia. ele dá uma aula dizendo que, escrever poemas de amor, só depois dos oitenta. agora devemos escrever tudo o mais. mas, sabe (eu sei.. rs) tudo o mais canta o amor...
um beijo :)
"O fogo é íntimo e universal. Vive no nosso coração. Vive no céu. Sobe das profundezas da substância e oferece-se como o amor. Volta a tornar-se matéria e oculta-se, latente, contido, como o ódio e a vingança".
Belíssimo post, Moacy. Bachelard, além de um cientista-historiador e/ou historiador das ciências, é um poeta que experimentou a "manualidade" do devaneio oriunda das profundezas da alma.
Belíssimos fragmentos você nos apresenta de "A psicanálise do fogo". Além da citação in abertura deste comentário, destaco uma de natureza conceitual:
"... um espírito poético é pura e simplesmente uma sintaxe das metáforas".
Esta frase é bachelardiana ao extremo, síntese de seu pensamento inovador e holístico.
Muito obrigada por meu poeminha "equação" figurar entre tão intrépidas vozes. Amei abundantemente os poemas aqui apresentados. Parabenizo a todos.
Forte abraço, poetíssimo!
Beijos :)
H.F.
Saudações,
ô moço, vou copiar o Assis Freitas
"Ave Moacy, agradeço por estar neste balaio voluptuoso e em tão densas companhias."
E, Assis, rapaz, gostei da Uma outra prosa, azar da língua,eheh
copio este também
"Com o fogo tudo se modifica. Quando queremos que tudo se modifique apelamos para o fogo" (p.103).
Moacy,
é um prazer
abraços
Que bom encontrar o velho e bom Bachelard aqui... Um maravilhoso bruxo. Aquela palavrinha, também maravilhosa -'coisário'-, na verdade está em A Poética do Devaneio. Vou corrigir lá no Lápis. Um abraço.
Moacy, li num blog que publicou um poema meu que voce queria saber o significado de algumas palavras, ei-las aqui, meu caro:
Toninhas – Golfinhos.
Kiandas – Divindades das águas, sereia.
Kalunga – Mar, Deus e muitos outros sentidos (morte, infinito...)
Xinguilar – Ficar possuído pelos espíritos, incorporar espíritos, entrar em transe, ficar maluco (alusao mais comum).
Jinguba – Amendoim.
Kifufutila/Quifufutila – Doce moído com jinguba, acucar, canela, etc
Os poemas são ótimos. As frases do livro são extra-classe.
A foto da ninfa do rio então...
Carpe Diem.
Ehr...tem o telefone da moça da foto? rsss
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