sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Um olhar
na foto de
Carlos Manuel Pereira

[ in 1000 Imagens ]


BALAIO PORRETA 1986
n° 2780
Rio, 11 de setembro de 2009

A floresta precede o homem, o deserto o segue.
(Maio de 1968: Nos muros de Paris)


Repeteco
UM DIA TRÁGICO
[ in Balaio 1839, de 11 de setembro de 2006 ]

11 de setembro. Um dia trágico para a história da humanidade. 11 de setembro. Um dia terrível para a história das Américas. 11 de setembro... de 1973. A data que assinala uma vergonha mundial: golpistas chilenos, com o apoio estratégico dos governantes terroristas dos Estados Unidos da Morte, derrubam o governo democraticamente eleito de Salvador Allende. Uma data para não ser esquecida. Nunca. Anos depois, outro 11 de setembro atinge, dessa vez, o coração dos norte-americanos. Qual a grande lição do episódio de 2001: Quem com terrorismo fere com terrorismo será ferido.


Memória
EM 12 DE SETEMBRO DE 1973,
UM JORNAL SEM MANCHETE

"O socialista Salvador Allende é eleito presidente do Chile em 1970, em coalizão popular de que participam comunistas e outras forças à esquerda. Seu governo é desestabilizado e, em 11 de setembro de 1973, derrubado por um golpe militar ativamente apoiado pelo governo dos Estados Unidos. Implanta-se uma ditadura sanguinária responsável por execuções, massacres e tortura. Allende suicida-se em seguida ao golpe. No Brasil do general Médici, a Polícia Federal, através de telefonema do censor, determina que os jornais não podem tratar do caso em manchete. No Jornal do Brasil a primeira página já está arrumada. O editor-chefe [Alberto Dines, com Carlos Lemos como chefe de redação, e Ezio Speranza como diagramador] resolve desmoralizar a censura: desenha uma primeira página, sem título [em quatro colunas], como queriam as autoridades, mas com um texto dramatizado tipograficamente. O silêncio mais clamoroso já registrado na imprensa do país". (Alberto DINES, org. 100 páginas que fizeram história. São Paulo : LF&N, 1997)


PROSA ORDINÁRIA
Marcelo Novaes
[ in Prosas Poéticas ]

A nissei: conheço-a pela distância de si mesma. Ela anda de máscara pelas ruas. Eu entendo sua ausência. Um garoto que cheirou demasiado grita ao telefone não conseguir sentir a própria cara. Caem-lhe lágrimas dos olhos. Caem-lhe lágrimas do nariz. Não adianta o médico saber da doença o nome. O mal não pode ser explicado por estupidez ordinária. Muitos seguem só ansiando pelo dinheiro que esperam, imaginando poder lhes tapar as fomes. Poder lhes tapar os medos. A ilusão da realidade comum, nem o álcool redime. Nosso calendário instituiu o Ano da Confusão. Mulheres iludem-se falando. Homens se iludem comendo.


POEMA de
JOSÉ ANTONIO
[ in Verbo e Devaneio, de Giovanna ]

Vende-se sol.
Negócio de ocasião.
Aceito troca por noites sem lua.


DOIS POEMAS
Adelaide de Julinho
[ in Germina Literatura ]

quase impossível

difícil convivência:
ele, superego,
eu, superégua

8 de macho

nasci pra isso:
ou fico por cima,
ou não saio debaixo


POESIA, BUSCA DA GEMA
Afonso Henriques Neto
[ in 50 poemas escolhidos pelo Autor, 2003 ]

poesia, busca da gema nos destroços,
música, bicho
naufragado no conhaque do sol

agora que sei ler a biópsia do desastre
quero você num maremoto de flores,
amanhecida, anoitecida, bêbada de flores


ARETHA
Nina Rizzi
[ in Putas Resolutas ]

as pernas de aretha
são da cor de seu rosto
(quase os olhos teus)
de suas mãos.

as pernas de aretha
são longas. maciças
me apetece!
me apetece dizer ai!
não um ai de dor
mas um ai que cala
quando a minha língua
encontra as pernas de aretha.

e de tudo eu gosto mesmo
é da linguagem silenciosa
dos buracos, olhos de aretha.
o fogo sobe a serra - capeta
morde o verde cospe os gravetos
empurra os bichos espanta os passarinhos
deixa por onde passa fumaça
terra arrasada
cadáveres
carvão


MÁXIMAS E MÍNIMAS DE STANISLAW PONTE PRETA
[ in Máximas inéditas de Tia Zulmira, 1976 ]

[] Bebia muito sim e nunca teve ressaca. Tinha mesmo era maremoto.
[] Crer em Deus é fácil. Nos padres é que é difícil.
[] Quando um amigo morre leva um pouco da gente.
[] Quem assiste à programação noturna da televisão não é capaz de imaginar que a diurna é pior.
[] Há sujeitos tão inábeis que sua ausência preenche uma lacuna.


NATAL: PRAIA, SOL E NEVE

A vereadora Sargento Regina (que nome!, que nome!), da base aliada da prefeita Micarla de Souza, está com uma ideia sensacional: vai apresentar um projeto para incrementar o turismo na capital potiguar. Que os Alpes, os Andes, o Himalaia e as Sagradas Escrituras se cuidem: nevará em Natal, em dias e noites - e lugares de moral duvidosa - predeterminados. Já pensaram, amigos e amigas? Um senhor estrangeiro conhecido pelo nome ligeiramente familiar de Papai Noel, suposto colega de um tal de João Agrinino Rabo de Palha, adorou o carnaval: decerto será o próximo secretário de Turismo do município. Há que perguntar: o Partido pseudoVerde (junto com o PDT, da Sra. Sargento) pagará por esse mico?

15 comentários:

líria porto disse...

maravilha de foto - falo e repito - quando eu nascer outra vez quero ser negra retinta - brancos só mesmo os dentes...

beleza - três suicidas aqui - a nina a sil (adelaide) e eu -oba!

e ainda tantos outros!
besos - gracias!

Adriana Riess Karnal disse...

Moacy,
Grande seleção....especialmente a Nina e a Líria, que são putas resolutas,rs..e grandes poetas

Adriana Godoy disse...

Moacyr, faço das palavras da Karnal as minhas. Bj

nina rizzi disse...

eita, pensei a mesma coisa que liroca: que imagem, quero ser negra, três suicidas!

bem, hoje é onze de setembro. devemos não esquecer a chuva sobre o chile e, também, devemos comemorar algo? (ai, que maldade!).. os ataques ao wtc ainda me são de uma má-digestão, colagens de michael moore, distopias e anarquismos.

ai, eu quero os buracos da aretha. os que estão cobertos, bem, ainda bem, talvez provocassem muitos ataques...

beijo, moacy. ah, claro, adoro-adoro estar aqui :D

Tahiane disse...

se eles sofressem um 11 de setembro todo dia não seria metade do que eles fazem apenas no oriente médio. Não preciso nem falar das atrocidades cometidas na palestina com o aval dos Estados Unidos.

BAR DO BARDO disse...

ninette e lirinha são o cão!

Dilberto L. Rosa disse...

Eta 'post' versátil... Vamos lá: excelente lembrança do golpe no sonho de Allende, sempe bom revisitar o Dinnes; Dos poemas, os melhores são Poema e Diablo; Stanislaw é eterno; difícil de crer... mas é verdade esta loucura climática sobre a tal Sargento?! E eu pensando que São Luís era o limite da loucura política... Falando em SL, aproveite para visitar a cidade num vídeo regado a 'reggae' maranhense lá nos Morcegos (coloquei depois de teu comentário): só assim você conhece um pouquinho desta capital ainda desconhecida pra você... Abração!

Unknown disse...

Bom Dia quase tarde. Moacy!

A beleza negra realmente deixa devaneios. Supera em muito as lourices artificiais.

Esse terrorismo de 11 de setembro, sempre foi misterioso para mim. Uma base aérea tão bem manipulada e deixar passar... americanos, digo terroristas????!!!!!


Acrescento a manchete de 8 de setembro do jornal O Globo: Hugo Chaves cria espaço para esperimentos nucleares na Venezuala!!!!!

Marcelo Noves deu um show nesse poema! Ele é 1000! Parabéns, Marcelo!

Líria, José antonio, Adelaide de Julinho, Nina e Afonso Henrique, cada um com sua beleza poética, enfeitando o Balaio do Mestre!

Sem palavras para Stanislaw que eu tanto admirava!

Beijos, Moacy

Parabéns!

Mirse

Marcelo Novaes disse...

Moa,




Isso de nevar em Natal faz sentido literal. É cartão postal no mundo. Tais políticos devem estar levando as coisas muito ao pé-da-letra. São menos poetas do que os que vc apresenta aqui. Sugestão: putas resolutas neles!





Abração,








Marcelo.

nina rizzi disse...

ah, esqueci de dizer, andamos (o balaio e os ellenismos) "africanos", né?.. quer dizer, africanos somos, andamos então a nos revisitar... ê coisa boa...

beijos :)

putas resolutas disse...

vou recair na vida!! risos
besos

putas resolutas disse...

errar é humano? pois acertar é muçulmano, já bem disseram porraí!
besos

Unknown disse...

Amigos:

O projeto de uma vereadora natalense aqui comentado (nve artificial e permanente) é inacreditável.
Jesus nasceu numa região extremamente quente. Neve e renas fazem parte de uma tradição cultural natalina, respeitável em seu contexto original (hemisfério norte) mas ridícula quando mantida como obrigação universal.
A Cidade do Natal relembra sempre o nascimento de Jesus em seu próprio nome. Mas também possui tradições próprias de comemorar o evento. Existe uma enorme riqueza clássica nos grupos tradicionais de Pastoris e Lapinhas, que podem ser encontrados na Cidade do Natal e em seu entorno. A Festa de Reis, em Natal, é dotada de características próprias que devem ser consolidadas, expandidas e divulgadas.
Se a vereadora quer contribuir para um fortalecimento da imagem da Cidade do Natal como lugar para turismo natalino, sugiro que ela convoque um Encontro de Pastoris e Lapinhas. Ao invés de renas e camelos, proponho a presença de animais realmente existentes na fauna regional – jumentos bem tratados são dóceis e até bonitos, estiveram no presépio original e podem servir como montaria e animais de estimação.
Relembro que Luís da Câmara Cascudo escreveu muito sobre tradições culturais da Cidade do Natal, inclusive aquelas ligadas ao Ciclo Natalino. A vereadora poderia convocar um magnífico seminário para retomar os debates iniciados por Luís e continuados por inúmeros estudiosos.
Abraços:

Marcos Silva

Milton Ribeiro disse...

Médici não deixou publicar nada... Afinal, havia um como ele no Chile. Que vergonha essa história do JB e que coragem do Dines!

Lou Vilela disse...

Que seleta! Destaque para as suicidas (principalmente as putas) e para o Marcelo! ;)

Bjs