BALAIO PORRETA 1986
n° 2818
Rio, 21 de outubro de 2009
Vargas LLosa tem razão ao dizer que o mundo sem o romance cai direto na barbárie. Não tenho a menor dúvida disso. // Arrisco até a dizer que quem fica viciado em leitura dificilmente a substitui por alguma droga fuleira como a cocaína ou o crack. Acho que os problemas das drogas poderiam ser resolvidos com um simples livro. Quem lê muito não abre mão deste prazer por paraísos artificiais por muito tempo. Ler é sempre melhor. O melhor ópio que existe. Melhor que religião. Melhor que álcool. Um pouco menos que sexo. Um pouco menos que música.
(Carlos de SOUZA. Literatura, in Substantivo Plural)
OFÍCIO
Jairo Lima
[ in Bar & Cachaçaria Papo Furado ]
Calma
não quero emocionar ninguém
faço poemas de página
porque grandes sagas
provocam alvoroço
e me obrigam a atravessar um pátio
uma cozinha
um pequeno corredor
uma sala nua
um corredor maior que olha para a rua
até chegar a uma sala
onde uma secretária
me empresta um grampeador
portanto, calma,
não quero emocionar ninguém
Jairo Lima
[ in Bar & Cachaçaria Papo Furado ]
Calma
não quero emocionar ninguém
faço poemas de página
porque grandes sagas
provocam alvoroço
e me obrigam a atravessar um pátio
uma cozinha
um pequeno corredor
uma sala nua
um corredor maior que olha para a rua
até chegar a uma sala
onde uma secretária
me empresta um grampeador
portanto, calma,
não quero emocionar ninguém
SOLDADO
Henrique Pimenta
[ in Bar do Bardo ]
Estranho e tão sensível, um civil
Demente que milita desarmado.
Senhor, meu inimigo, meu amado,
Não troca a floração pelo fuzil.
Soldado não amigo nem domado,
Um cão com seus caninos que dão frio,
As garras são de lâminas em fio,
O peito é de mistério consumado.
Senhor, o meu pedido vem da mata,
Da noite de extermínio do palor
Com fogos de artifício cor de prata.
Ordeno-me e vos peço, pois, Senhor:
A cena da batalha que nos mata,
Soldados que se beijam por Amor.
Henrique Pimenta
[ in Bar do Bardo ]
Estranho e tão sensível, um civil
Demente que milita desarmado.
Senhor, meu inimigo, meu amado,
Não troca a floração pelo fuzil.
Soldado não amigo nem domado,
Um cão com seus caninos que dão frio,
As garras são de lâminas em fio,
O peito é de mistério consumado.
Senhor, o meu pedido vem da mata,
Da noite de extermínio do palor
Com fogos de artifício cor de prata.
Ordeno-me e vos peço, pois, Senhor:
A cena da batalha que nos mata,
Soldados que se beijam por Amor.
NO MURO DAS LAMENTAÇÕES
Líria Porto
[ in Tanto Mar ]
chorei todos os rios
depois chorei os mares e oceanos
chorei todas as lágrimas das viúvas
todas as chuvas
molhei todos os lenços lençóis
e fronhas
chorei as pitangas
POEMA
Mariana Botelho
[ in Suave Coisa ]
MINITEXTOS
Mário Quintana
[ in A vaca e o hipogrifo ]
Intérpretes
Mas, afinal, para que interpretar um poema? Um poema já é uma interpretação.
Leituras secretas
No Céu, os Anjos do Senhor lêem poemas às esondidas... Os livros de poemas são os livros pornográficos dos anjos.
Ingenuidade
Mas que monótona não deveria ser a vida amorosa de Don Juan! Ele pensava que todas as mulheres eram iguais...
Memória 1978
OS DEZ CONTOS MAIS IMPOPORTANTES
DA LITERATURA MUNDIAL
[ in Revista de Cultura Vozes, set. 1978 ]
Líria Porto
[ in Tanto Mar ]
chorei todos os rios
depois chorei os mares e oceanos
chorei todas as lágrimas das viúvas
todas as chuvas
molhei todos os lenços lençóis
e fronhas
chorei as pitangas
POEMA
Mariana Botelho
[ in Suave Coisa ]
permanece na língua
o sabor de lima
e é doce -
como diz a memória
essa fruta
colhida
fora do tempo
o sabor de lima
e é doce -
como diz a memória
essa fruta
colhida
fora do tempo
MINITEXTOS
Mário Quintana
[ in A vaca e o hipogrifo ]
Intérpretes
Mas, afinal, para que interpretar um poema? Um poema já é uma interpretação.
Leituras secretas
No Céu, os Anjos do Senhor lêem poemas às esondidas... Os livros de poemas são os livros pornográficos dos anjos.
Ingenuidade
Mas que monótona não deveria ser a vida amorosa de Don Juan! Ele pensava que todas as mulheres eram iguais...
Memória 1978
OS DEZ CONTOS MAIS IMPOPORTANTES
DA LITERATURA MUNDIAL
[ in Revista de Cultura Vozes, set. 1978 ]
Na opinião de
Antônio Torres - BA/RJ [Romancista]
1. O alienista (Machado de Assis)
2. A hora e vez de Augusto Matraga (Guimarães Rosa)
3. Folhas vermelhas (Faulkner)
4. Uma rosa para Emily (Faulkner)
5. A curta e feliz existência de Francis Macomber (Hemingway)
6. O fim (Borges)
7. O homem da esquina rosada (Borges)
8. Balada do café triste (McCullers)
9. O perseguidor (Cortázar)
10. Babilônia revisitada (Fitzgerald)
Antônio Torres - BA/RJ [Romancista]
1. O alienista (Machado de Assis)
2. A hora e vez de Augusto Matraga (Guimarães Rosa)
3. Folhas vermelhas (Faulkner)
4. Uma rosa para Emily (Faulkner)
5. A curta e feliz existência de Francis Macomber (Hemingway)
6. O fim (Borges)
7. O homem da esquina rosada (Borges)
8. Balada do café triste (McCullers)
9. O perseguidor (Cortázar)
10. Babilônia revisitada (Fitzgerald)
Na opinião de
Benedito Nunes - PA [Ensaísta]
1. A lenda de São Julião, o hospitaleiro (Flaubert)
2. Olhos mortos de sono (Tchecov)
3. A morte de um cavalo (Tolstói)
4. Cocorico! (Melville)
5. Cantiga de esponsais (Machado de Assis)
6. Casa tomada (Cortázar)
7. O grande passeio (Clarice Lispector)
8. Turpid smoke (Nabokov)
9. The chinago (London)
10. A terceira margem do rio (Guimarães Rosa)
Benedito Nunes - PA [Ensaísta]
1. A lenda de São Julião, o hospitaleiro (Flaubert)
2. Olhos mortos de sono (Tchecov)
3. A morte de um cavalo (Tolstói)
4. Cocorico! (Melville)
5. Cantiga de esponsais (Machado de Assis)
6. Casa tomada (Cortázar)
7. O grande passeio (Clarice Lispector)
8. Turpid smoke (Nabokov)
9. The chinago (London)
10. A terceira margem do rio (Guimarães Rosa)
UM POEMA, O ORIGINAL E UMA TRADUÇÃO
ÉPIGRAMME
La Fontaine
Aimons, foutons, ce sont plaisirs
Qu'il ne faut pas que l'on sépare;
La jouissance et les désirs
Sont ce que l'âme a de plus rare.
D'un vit, d'un con, et de deux coeurs,
Naît un accord plein de douceurs,
Que les dévots blâment sans cause.
Amarillis, pensez-y bien:
Aimer sas foutre est peu de chose
Foutre sans aimer ce n'est rien.
EPIGRAMA
Trad.
José Paulo Paes
Amar, foder: uma união
De prazeres que não separo.
A volúpia e os desejos são
O que a alma possui de mais raro.
Caralho, cona e corações
Juntam-se em doces efusões
Que os crentes censuram, os loucos.
Reflete nisto, oh minha amada.
Amar sem foder é bem pouco,
Foder sem amar não é nada.
[ in Poesia erótica em tradução.
São Paulo : Companhia das Letras, 1990, p. 98-99 ]
COMO OS CLÁSSICOS VIRAM CLÁSSICOS
Roberto Pereira Silva
[ in Carta Maior ]
[ Clique aqui para ler o artigo na íntegra ]
ÉPIGRAMME
La Fontaine
Aimons, foutons, ce sont plaisirs
Qu'il ne faut pas que l'on sépare;
La jouissance et les désirs
Sont ce que l'âme a de plus rare.
D'un vit, d'un con, et de deux coeurs,
Naît un accord plein de douceurs,
Que les dévots blâment sans cause.
Amarillis, pensez-y bien:
Aimer sas foutre est peu de chose
Foutre sans aimer ce n'est rien.
EPIGRAMA
Trad.
José Paulo Paes
Amar, foder: uma união
De prazeres que não separo.
A volúpia e os desejos são
O que a alma possui de mais raro.
Caralho, cona e corações
Juntam-se em doces efusões
Que os crentes censuram, os loucos.
Reflete nisto, oh minha amada.
Amar sem foder é bem pouco,
Foder sem amar não é nada.
[ in Poesia erótica em tradução.
São Paulo : Companhia das Letras, 1990, p. 98-99 ]
COMO OS CLÁSSICOS VIRAM CLÁSSICOS
Roberto Pereira Silva
[ in Carta Maior ]
Em janeiro de 1959, vinha a público Formação Econômica do Brasil, de Celso Furtado. Passados cinquenta anos, a obra tornada clássica ganha sua primeira edição comemorativa. Organizado pela viúva do autor, Rosa Freire d’Aguiar Furtado e com introdução de Luis Felipe de Alencastro, o conjunto reúne a fortuna crítica que se seguiu ao aparecimento da obra. Verdadeiros documentos que reconstituem a biografia do livro, testemunho de sua recepção no Brasil e no exterior, esse conjunto de resenhas e introduções ao livro ajuda a reconstruir a consolidação de Formação Econômica do Brasil, como um dos mais importantes livros de história econômica já escritos.
[ Clique aqui para ler o artigo na íntegra ]
16 comentários:
Bom dia, Moacy
Belíssima imagem de Martin Iman.
Vargas llosa acertou comigo. Um livro, um bom livro me tira da superfície , voo junto com ele e esqueço o resto.
Henrique Pimenta, Líria Porto e Mariana Botelho, são as estrelas que brilham hoje no Balaio, na minha opinião. Assim como o POEMA ORIGINAL = show!
Beleza de Balaio!
Beijos
Mirse
Moacy,
Machado definiu o livro como uma cocaína moral. E falando de Vargas Llosa, ele declarou, certa vez, que é mais fácil se suportar um filme ruim do que um livro ruim. Um abraço.
adoro borges. beijos, pedrita
Um balaio a exigir muito fôlego, concentrado em sutilezas. Vou digerí-lo com calma.
Moa,
Jairo Lima faz bem em nos alertar para termos calma, ao exemplificar a saga de todo dia, construída em poucos metros quadrados-existenciais. Henrique, com sua métrica, mal disfarça algo que eu batizaria de "misticismo engajado".
Tatos, olfatos, texturas e paladares são com a Mariana, com certa concisão mineira que flerta com hai kais, sem diluir-se neles, porque precisa de uma sílabas a mais. Ou a menos. E de sua própria métrica.
Gostei das listas dos contos.
Abração,
Marcelo.
Mestre Moa, obrigado pelo processo do poema...
Namastê!
Gostei da "cocaína moral" referenciado pelo Sobreira aí em cima.
***
Minha contribuição para os melhores contos: O curioso caso de Benjamin Button, O boa-vida e mais uma porrada de contos do Scott Fitzgerald.
Um abraço.
Moa,
antes de ser avisada eu vim no balaio e encontrei comigo mesma em belíssima companhia.
ave, caríssimo.
beijo
PS:
Duc... o Epigrama. Assino embaixo.
Moacyr, o Balaio hoje está especialmente bom, especialmente, com a presença do Pimenta. Gostei da lista dos contos e também do poema porreta do La Fontaine. Parabéns. beijo.
nossa, que epigrama. eu vou repetir isso que já trepido por aí. é isso aí, poesiei-me de boa :)
oba - estar no balaio é um luxo!
a leitura é um prazer inenarrável! das vez até melhor que sexo... risos
besos
A postagem de hoje merece louvores. Ressalto os poemas de Jairo Lima e de Henrique Pimenta. Supimpas. Forte abraço.
Caro mestre Moacy,
mais uma bela postagem com belos poemas (como você consegue tantos tão ótimos?), especialmente meu predileto, Quintana.
Conheço alguns destes contos e são verdadeiramente muito bons. Se eu fizesse uma lista, incluiria algum de Dalton Trevisan e de Rubem Fonseca. E há um conto que me agrada muitíssimo: "Noites brancas", de Dostoiévski.
Carpe Diem. Aproveite o dia e a vida.
Amigo Moacy: vamos conversar mais com o amigo Carlão, que tá precisando de um bom bate papo para esquecer a conversa chata e sem nenhuma literatura que presenciou (basta ler o artigo inteiro no Substantivo para entender o contexto, você sabe). E a respeito dos contos, lembrei de imediado de um "coletivo" deles na mesma bruchura (ao qual, por sinal, cheguei por meio do mesmo Carlão): "A morte de D.J. em Paris", da lavra de Roberto Drummond. É sempre bom passar por aqui.
gentem! aqui nessa edição só fera, só fera!!!
beijo moa ;)
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