Mulher africana
Foto de
Uwe Ommer
[ in Black ladies ]
BALAIO PORRETA 1986
n° 2840
Natal, 12 de novembro de 2009
Na tradução deve ir-se até ao intraduzível:
só então nos daremos conta da nação estrangeira
e da língua estranha.
(GOETHE. Máximas e reflexões, trad. 1987)
Marcelo Novaes
[ in Prosas Poéticas ]
Foto de
Uwe Ommer
[ in Black ladies ]
BALAIO PORRETA 1986
n° 2840
Natal, 12 de novembro de 2009
Na tradução deve ir-se até ao intraduzível:
só então nos daremos conta da nação estrangeira
e da língua estranha.
(GOETHE. Máximas e reflexões, trad. 1987)
APRENDIZAGENS
Carmen Vasconcelos
[ in Preá n° 12, Natal, FJA, 2005 ]
"Não há nada de novo debaixo do sol"
(Eclesiastes, 1,9)
Chego ao sol, meu pasmo é imenso!
Quero enfeitiçar o amanhecer.
Tranço cabelos, destranco roupas,
fico tramando proximidades.
Guardo nesgas da noite nos poros,
trago cartas, cristais, oráculos
e pulsares varados de vidência.
Não me seguro em pensamentos,
o mundo é coisa de sentir.
Abro janelas em mim, e portas,
mas conservo cortinas, transparências,
para reter os avisos do vento.
Todos os dias teço aprendizagens,
todos os dias renasço de assombro.
O sol é um deus que sabe doar-se.
QUENTE OU FRIOCarmen Vasconcelos
[ in Preá n° 12, Natal, FJA, 2005 ]
"Não há nada de novo debaixo do sol"
(Eclesiastes, 1,9)
Chego ao sol, meu pasmo é imenso!
Quero enfeitiçar o amanhecer.
Tranço cabelos, destranco roupas,
fico tramando proximidades.
Guardo nesgas da noite nos poros,
trago cartas, cristais, oráculos
e pulsares varados de vidência.
Não me seguro em pensamentos,
o mundo é coisa de sentir.
Abro janelas em mim, e portas,
mas conservo cortinas, transparências,
para reter os avisos do vento.
Todos os dias teço aprendizagens,
todos os dias renasço de assombro.
O sol é um deus que sabe doar-se.
O MORTO
Newton Navarro
[ in Subúrbio do silêncio. Natal, 1953 ]
Despido de azul e de paisagem
O morto está.
Silenciosa semente de carne
Aguardando as raízes.
Sem pai, sem mãe,
Sem casa,
Sem sono.
Até sem mortos
O morto está.
Não lhe resta lembrança alguma,
Ignora a tarde e as flores
Que o cobrem
E a escura casaca
Com que o vestiram um dia.
Não tem pranto nos olhos.
Não tem olhos,
Nem saudade,
Nem lembrança.
Nem ele mesmo se possui
Nem mesmo alma.
Apodrecida semente
Que espera raízes,
Assim o morto está:
Incompleto, inconseqüente
E só.
Sem presença
Sem confiança de que será terra,
Infinito,
Assim o morto está.
Os sinos da cidade
Não o despertarão nunca.
Por que, então, o vosso pranto, Senhora?
Newton Navarro
[ in Subúrbio do silêncio. Natal, 1953 ]
Despido de azul e de paisagem
O morto está.
Silenciosa semente de carne
Aguardando as raízes.
Sem pai, sem mãe,
Sem casa,
Sem sono.
Até sem mortos
O morto está.
Não lhe resta lembrança alguma,
Ignora a tarde e as flores
Que o cobrem
E a escura casaca
Com que o vestiram um dia.
Não tem pranto nos olhos.
Não tem olhos,
Nem saudade,
Nem lembrança.
Nem ele mesmo se possui
Nem mesmo alma.
Apodrecida semente
Que espera raízes,
Assim o morto está:
Incompleto, inconseqüente
E só.
Sem presença
Sem confiança de que será terra,
Infinito,
Assim o morto está.
Os sinos da cidade
Não o despertarão nunca.
Por que, então, o vosso pranto, Senhora?
POEMA
Luma Carvalho
[ in Tamborete. Currais Novos, dez./2oo3 ]
O pior (ou melhor, sei lá...)
de te amar
é essa eterna e imensa
Saudade
que sinto de você
mesmo quando estamos abraçados...
INFELIZES
Líria Porto
[ in Tanto Mar ]
o que foi feito de amália
a bela de olhos lânguidos
e de tristeza entranhada
cujos passos a levaram
para a sombra de antônio
um homem de gestos rentes
e sorriso ácido?
o que foi feito de amélia
aquela mulher desverdade
que passava suas tardes
sem dizer uma palavra
e que durante o trabalho
deixava em tudo o rastro
da sua poeira amarga?
o que foi feito de emília
da sua pálida pele
quando foi abandonada
tão quieta tão sem ânimo
até que veio um pássaro
e levou-a para o céu
para a suíte dos santos?
o que foi feito de ordália
adélia odília odete
ana
o que foi feito de ângela?
Luma Carvalho
[ in Tamborete. Currais Novos, dez./2oo3 ]
O pior (ou melhor, sei lá...)
de te amar
é essa eterna e imensa
Saudade
que sinto de você
mesmo quando estamos abraçados...
INFELIZES
Líria Porto
[ in Tanto Mar ]
o que foi feito de amália
a bela de olhos lânguidos
e de tristeza entranhada
cujos passos a levaram
para a sombra de antônio
um homem de gestos rentes
e sorriso ácido?
o que foi feito de amélia
aquela mulher desverdade
que passava suas tardes
sem dizer uma palavra
e que durante o trabalho
deixava em tudo o rastro
da sua poeira amarga?
o que foi feito de emília
da sua pálida pele
quando foi abandonada
tão quieta tão sem ânimo
até que veio um pássaro
e levou-a para o céu
para a suíte dos santos?
o que foi feito de ordália
adélia odília odete
ana
o que foi feito de ângela?
Marcelo Novaes
[ in Prosas Poéticas ]
Terrores quentes, barbáries geladas [nem adianta andar por sobre as águas]. Nas cortes dos reis, nas peças dramáticas, nas línguas içadas aos céus [nas pipas, nos fios enroscados], sentenças de morte. [No chão, jaz um homem eletrocutado.] Por ter com isso sonhado, queda-se, louca, a noiva. Na hipótese de prever, dor e frenesi. [Não adianta colher doze cestos de restos de pães multiplicados.] Há um que de arrogância nos céticos. Há um que de arrogância nas Escrituras Sagradas [ninguém lhe soube ouvir...]. Guardar, só para si, a morte antecipada. Depois, enlouquecer.
15 comentários:
Essas mulheres e seus versos e ainda o rosto a perscrutar o indizível.
Oi Moacy, além dos poemas, me deixei viajar nos teus textos memorialísticos mais abaixo. Legal ver o retrato do professor quando jovem.
Um abraço.
linda foto. beijos, pedrita
negras são lindas!!
Olá Moacy,
Parabens pelo Flu, jogou bem com a batuta do grande Fred.
De outra forma, achei injusto o placar de Palmeira e Esporte.
Expulsão injusta em impedimento. Assim vi.
Belas africanas. Um colírio para dias cinzentos e a mini- saia ainda dar o que falar depois de mais de 50 anos
Moa,
As Black Ladies são musas maiores.
Grato por inserir minha pequena prosa em meio a tão bom conjunto.
Abração,
Marcelo.
nossa, "como as mulheres são lindas,/ inutil pensar que é do vestido/ [...]/ como deve ser bom gostar de uma feia/ o meu amor porém não tem bondade alguma/ é fraco, fraco/ meu deus, eu amo como as criancinhas"
quando eu era criancinha só gostava das feias. e há quem me chame de feia. aí eu me lembro da feia do jacob do bandolim. e nestas negras tuas... ai, que de feiura me faço...
acho bárbaro o livro de eclasiastes. quando ele se pergunta sobre a metafícida da construção dos ossos dentro de uma mulher, nossa, é totalmente revolucionário dentro de um contexto bíblico...
no mais, é bom ter saudade, quando muitos não o podem...
um largo riso negro praí.
O APAGÃO É AQUI
O apagão é mais em baixo
O apagão é no embotamento de muitos
O apagão é na oimissão
O apagão é na educação
O apagão é na falta de cultura.
O apagão é a antecipação das eleições.
O apagão é na torcida organizada contra o governo Lula que não conseguiu emplacar.
O apagão é na nossa miséria intelectual
O apagão é na falta de segurança
O apagão tambem está aqui.
Falta de água. Agua nitretada. Praias poluídas
Ao lado da minha sala de trabalho onde fico o dia inteiro: o banheiro nao funciona,
O bujão d´agua foi encontado no vaso sanitário e estamos sem água. E falo de um Universidade
O apagão é a falta de solidariedade para com um colega que está sendo processado no exercício da sua profissão e a maioria fica calado.
O apagão é Micarla fazendo propaganda em horário nobre para dizer o que
não fez. Dá enjoo ouvir essa mulher mil vezes durante o dia
O Apagão é Wilma dizendo o que não fez
O apagão é essa decoração horrorosa de Natal em Natal
O apagão é a falta de leitura, saúde e alegria de viver.
etc, etc, etc
damata
Oi Moacy!
Que bela foto. Sempre tive vontade de ser dessa cor. O inverso de Michael... mas vou ficar assim mesmo. Mas que são lindas, são!
Adorei o poma de Newton Navarro! Não esperava pelo surpreendente final.
Liria Maravilha, brilhando sempre!
E Claro na mais alta constelação a prosa de Marcelo! Belíssima!
Beijos, Moacy!
Mirse
quando eu nascer outra vez, quero ser negra retinta!!!! já disse e repito!
besos
gosto de estar no balaio - gracias, moacy!
Moacy,
Bela Foto, bela mulher. E muito bons os poemas de Newton (que já conhecia),de Líria e de Carmem. Um abraço.
Doa Líria e Senhor Marcelo mandam bem.
black is beautiful e o dedo no mouse deslizou em total sintonia como o que li, o olhar desci, senti, deslizei, aprendi, me prendi, num ritmo de sensações, voltei, subi, reli, até ficar fraco, eu sou um homem ou um rato? sou um mouse - subindo e descendo poemas do balaio, não saio, não saio...
Bela foto, belos textos.
Gostei do poema do Newton Navarro.
bjs
helen involvement pdfneuendorf grounded blenheim univ mellon clerical cornier contextual truthfully
semelokertes marchimundui
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