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para verouvir o trêiler de
Um condenado à morte escapou
(Robert Bresson, 1956)
Durante a 2ª guerra mundial, um combatente da resistência francesa é feito prisioneiro pelos alemães e o filme, de forma fria e exasperante, preciso nos mínimos detalhes, inclusive em sua lentidão, dirige o foco narrativo (e desdramatizado) para a sua fuga, ao lado de mais um encarcerado. Mais bressoniano do que nunca, Um condenado à morte escapou, com tema musical centrado em Mozart, é um dos filmes mais brilhantes dos anos 50, com toda a sua simplicidade narrativa: a secura formal a serviço do Cinema e do antiespetáculo. Ou como disse André Bazin: "Uma obra insólita, que não se parece com nada". Ou como disse Luiz Rosemberg Filho: "Uma obra radical, com a objetividade e a susbtância fílmica das linguagens audiovisuais". No lugar do espetáculo das emoções, das sensações impressionistas, o que se tem, em última instância, é o antiespetáculo da escrita. Para nós, e para muita gente, trata-se de uma obra-prima. Das maiores. E até mesmo o trêiler que apresentamos aqui - o melhor que já vimos até hoje, e que nos marcara desde a sua exibição no Rex, em Natal, em 1961 - tem a emblematicidade anticomercial do grande diretor francês.
BALAIO PORRETA 1986
n° 2939
Natal, 21 de fevereiro de 2010
Cinema
OS FILMES FUNDAMENTAIS DOS ANOS 50
[1]
1. Hiroshima, meu amor (Resnais, 1959)
2. A marca da maldade (Welles, 1958)
3. Diário de um pároco de aldeia (Bresson, 1951)
4. Pickpocket (Bresson, 1959)
5. The searchers / Rastros de ódio (Ford, 1956)
6. Um condenado à morte escapou (Bresson, 1956)
7. A palavra (Dreyer, 1955)
8. Contos da lua vaga (Mizoguchi, 1953)
9. Rio Bravo (Hawks, 1959)
10. As férias do Sr. Hulot (Tati, 1953)
11. À bout de souffle / Acossado (Godard, 1959)
12. Morangos silvestres (Bergman, 1957)
13. O grito (Antonioni, 1957)
14. A carruagem de ouro (Renoir, 1952)
15. A princesa Yang Kwei Fei (Mizoguchi, 1955)
16. Johnny Guitar (Ray, 1954)
No próximo domingo:
o Grupo [2] dos Filmes Fundamentais dos Anos 50
Atualização às 18:59h
PARABÉNS AO BOTAFOGO
pelo título da
Taça Guanabara / 2010
ESTAÇÕES
Antonio Carlos de Brito / Cacaso
[ in Beijo na boca. Rio, 1975 ]
Do corpo de meu amor
exala um cheiro bem forte.
Será a primavera nascendo?
HAI-CAI
de Cássio Amaral
[ in Enten Katsudatsu ]
todo dia me suicido
lembrando que nunca envelheço
meu preço é ser inocente
POEMA
Tati Fadel
[ in Crânio e Gavetas ]
É com horror
e alegria
que percebo:
a menina no espelho
sou eu.
ADIVINHA
Orides Fontela
[ in Teia. São Paulo, 1996 ]
O que é impalpável
mas
pesa
o que é sem rosto
mas
fere
o que é invisível
mas
dói.
AUTO-EPITÁFIO n° 2
José Paulo Paes
[ in Socráticas. São Paulo, 2001 ]
para quem pediu sempre tão pouco
o nada é positivamente um exagero
MEMÓRIAS DE UM LEITOR NASCIDO NO SERIDÓ
Moacy Cirne
Bodas em Tipasa [Bodas, 1938, e O verão, 1954], de Albert Camus. Trad. Sérgio Milliet. São Paulo : Difusão Européia do Livro, 1964, 124p. [Meu exemplar foi adquirido por volta de 1964-65, na Livraria Universitária, em Natal].
para verouvir o trêiler de
Um condenado à morte escapou
(Robert Bresson, 1956)
Durante a 2ª guerra mundial, um combatente da resistência francesa é feito prisioneiro pelos alemães e o filme, de forma fria e exasperante, preciso nos mínimos detalhes, inclusive em sua lentidão, dirige o foco narrativo (e desdramatizado) para a sua fuga, ao lado de mais um encarcerado. Mais bressoniano do que nunca, Um condenado à morte escapou, com tema musical centrado em Mozart, é um dos filmes mais brilhantes dos anos 50, com toda a sua simplicidade narrativa: a secura formal a serviço do Cinema e do antiespetáculo. Ou como disse André Bazin: "Uma obra insólita, que não se parece com nada". Ou como disse Luiz Rosemberg Filho: "Uma obra radical, com a objetividade e a susbtância fílmica das linguagens audiovisuais". No lugar do espetáculo das emoções, das sensações impressionistas, o que se tem, em última instância, é o antiespetáculo da escrita. Para nós, e para muita gente, trata-se de uma obra-prima. Das maiores. E até mesmo o trêiler que apresentamos aqui - o melhor que já vimos até hoje, e que nos marcara desde a sua exibição no Rex, em Natal, em 1961 - tem a emblematicidade anticomercial do grande diretor francês.
BALAIO PORRETA 1986
n° 2939
Natal, 21 de fevereiro de 2010
Cinema
OS FILMES FUNDAMENTAIS DOS ANOS 50
[1]
1. Hiroshima, meu amor (Resnais, 1959)
2. A marca da maldade (Welles, 1958)
3. Diário de um pároco de aldeia (Bresson, 1951)
4. Pickpocket (Bresson, 1959)
5. The searchers / Rastros de ódio (Ford, 1956)
6. Um condenado à morte escapou (Bresson, 1956)
7. A palavra (Dreyer, 1955)
8. Contos da lua vaga (Mizoguchi, 1953)
9. Rio Bravo (Hawks, 1959)
10. As férias do Sr. Hulot (Tati, 1953)
11. À bout de souffle / Acossado (Godard, 1959)
12. Morangos silvestres (Bergman, 1957)
13. O grito (Antonioni, 1957)
14. A carruagem de ouro (Renoir, 1952)
15. A princesa Yang Kwei Fei (Mizoguchi, 1955)
16. Johnny Guitar (Ray, 1954)
No próximo domingo:
o Grupo [2] dos Filmes Fundamentais dos Anos 50
Atualização às 18:59h
PARABÉNS AO BOTAFOGO
pelo título da
Taça Guanabara / 2010
ESTAÇÕES
Antonio Carlos de Brito / Cacaso
[ in Beijo na boca. Rio, 1975 ]
Do corpo de meu amor
exala um cheiro bem forte.
Será a primavera nascendo?
HAI-CAI
de Cássio Amaral
[ in Enten Katsudatsu ]
todo dia me suicido
lembrando que nunca envelheço
meu preço é ser inocente
POEMA
Tati Fadel
[ in Crânio e Gavetas ]
É com horror
e alegria
que percebo:
a menina no espelho
sou eu.
ADIVINHA
Orides Fontela
[ in Teia. São Paulo, 1996 ]
O que é impalpável
mas
pesa
o que é sem rosto
mas
fere
o que é invisível
mas
dói.
AUTO-EPITÁFIO n° 2
José Paulo Paes
[ in Socráticas. São Paulo, 2001 ]
para quem pediu sempre tão pouco
o nada é positivamente um exagero
MEMÓRIAS DE UM LEITOR NASCIDO NO SERIDÓ
Moacy Cirne
Bodas em Tipasa [Bodas, 1938, e O verão, 1954], de Albert Camus. Trad. Sérgio Milliet. São Paulo : Difusão Européia do Livro, 1964, 124p. [Meu exemplar foi adquirido por volta de 1964-65, na Livraria Universitária, em Natal].
Um (duplo) livro extremamente amoroso: um hino à vida, mesmo levando em conta o seu absurdo e as suas perplexidades. Pareceu-me, então, uma obra tão apaixonante, e ao mesmo tempo tão "natalense" e luminosa, que, por ocasião de sua venda inicial entre nós, a presenteei a vários de meus amigos e amigas potiguares. Era preciso compartilhar a beleza de suas páginas com o maior número possível de pessoas. Era preciso que elas também saboreassem, com prazer, as palavras do autor franco-argelino, que nos dera O estrangeiro (1942), A peste (1947) e O homem revoltado (1951): "Compreendo aqui [seja a Argélia, seja o Rio Grande do Norte] aquilo que se chama glória: o direito de amar sem medida" (p.10); "Quando fico algum tempo longe dessa terra [para ele, a Argélia; para mim, o Seridó], sonho com seus crepúsculos como promessas de felicidade" (p.26). Ou, de igual modo, palavras como: "... a esperança, ao contrário do que se imagina, equivale à resignação. E viver não é resignar-se" (p.33); "Não há mais desertos. Não há mais ilhas. Há, entretanto, necessidade de desertos e de ilhas. Para compreender o mundo, é preciso por vezes afastar-se dele; para melhor servir os homens, mantê-los durante um momento a distância" (p.51).
Continuemos, continuemos... éramos todos camusianos naquela Natal marcada pelo tédio e pela impotência diante do golpe de abril de 64. E se viver não é resignar-se, não é se deixar dominar por leituras inertes (cf. Bachelard), "Os mitos não têm vida por si mesmos. Aguardam que os encarnemos" (p.82). E os encarnamos através de processos muitas vezes tortuosos. Como tortuosos muitas vezes são os caminhos que nos levam a se identificar emocionalmente com uma cidade, por exemplo. Ora, uma cidade - qualquer cidade: Natal, Caicó, Currais Novos, Martins, São José do Seridó, Fortaleza, São Paulo, Rio de Janeiro - mede-se pela leitura de seus poetas, de seus artistas, de seus sonhadores, de seus músicos, de seus estudiosos, de seus boêmios, de seus amantes, de suas figuras populares. E se mede também pela preservação viva de sua memória e pela paixão dionisíaca (a rigor, toda paixão é dionisíaca) que alimenta seus butecos, suas pequenas praças, seus horizontes, suas ruas, suas esquinas, seus becos, e seus clubes de futebol, dos mais simples aos mais poderosos, dos mais fuleiros aos mais aguerridos. Aliás, é bom registrar, Albert Camus era um verdadeiro entusiasta do futebol. Chegou, inclusive, a praticá-lo.
Continuemos, continuemos... éramos todos camusianos naquela Natal marcada pelo tédio e pela impotência diante do golpe de abril de 64. E se viver não é resignar-se, não é se deixar dominar por leituras inertes (cf. Bachelard), "Os mitos não têm vida por si mesmos. Aguardam que os encarnemos" (p.82). E os encarnamos através de processos muitas vezes tortuosos. Como tortuosos muitas vezes são os caminhos que nos levam a se identificar emocionalmente com uma cidade, por exemplo. Ora, uma cidade - qualquer cidade: Natal, Caicó, Currais Novos, Martins, São José do Seridó, Fortaleza, São Paulo, Rio de Janeiro - mede-se pela leitura de seus poetas, de seus artistas, de seus sonhadores, de seus músicos, de seus estudiosos, de seus boêmios, de seus amantes, de suas figuras populares. E se mede também pela preservação viva de sua memória e pela paixão dionisíaca (a rigor, toda paixão é dionisíaca) que alimenta seus butecos, suas pequenas praças, seus horizontes, suas ruas, suas esquinas, seus becos, e seus clubes de futebol, dos mais simples aos mais poderosos, dos mais fuleiros aos mais aguerridos. Aliás, é bom registrar, Albert Camus era um verdadeiro entusiasta do futebol. Chegou, inclusive, a praticá-lo.
13 comentários:
Moacy:
Os anos 50 do século passado são uma perdição (ou um achamento!) para quem gosta de cinema. Uma década que viu nascerem Hiroshima meu amor e O grito vale por um século.
Abraços:
Marcos Silva
Moacy:
Os anos 50 do século passado são uma perdição (ou um achamento!) para quem gosta de cinema. Uma década que viu nascerem Hiroshima meu amor e O grito vale por um século.
Abraços:
Marcos Silva
Mestre Moa,
Meu muitíssimo obrigado!
Grande abraço de luz.
Poesia muito bem representada ou apresentada, como um presente, dos filmes, a seleção, caprichada mais uma vez. Debruço-me, e encantado, nas MEMÓRIAS DE UM LEITOR NASCIDO NO SERIDÓ. Ou crônica de uma cidade singular. A minha, que também é nossa, Feira de tantos cruzamentos. Para degustar mais e mais. Abraço, mestre.
Moacy,
Já no trailer (que não conhecia) se percebe que Bresson não dava a mínima para o espectador que vai ao cinema para se divertir. Vi O Condenado... apenas uma vez, quando já morava em Natal. Não me lembro de nada (ou quase nada), gostaria de revê-lo, embora Bresson não esteja entre os meus cineastas preferidos. E quanto a Camus, talvez até por sua morte mais ou menos recente, quando cheguei a Natal, ele era um nome sagrado para os jovens intelectuais, notadamente os associados do Cine Clube Tirol. Um abraço.
Moacy: eu acho 'Um condenado à morte escapou' o melhor filme de Bresson, dentre os poucos que conheço do mesmo. Eu o assisti no dia 26 de outubro de 1963, no cine Rex.
Gostaria muito de revê-lo, evidentemente.
Um abraço...
Crticas cinematográfica, literária e existencial da mais alta qualidade. É um prazer ler textos assim.
Abraço, Moacy.
Moacy, Moacy, o texto quase ensaio sobre Camus é perfeito. Ele figura entre meus escribas preferidos. Grande! Dos filmes fundamentais dos anos 50 elejo "O Grito" como meu preferido. O filme do Bresson ainda não vi, mas agora me interessa saboreá-lo. Os poemas também de ótimo calibre. Esse Balaio de hoje tem com cheiro de alta cultura.
enten katsudatsu
Post inspirado e inspirador...
O trailer é tão genial quanto o filme!
Muitas obras-primas nos anos 50. Aguardando o grupo 2.
Um abraço.
mestre,
tudo lindo, tudo divino, tudo maravilhoso, botafogo-ô-ô-ô-ô principalmente.
todos os textos de grande inspiração. é incrível como você sempre consegue pescar poesia e prosa da melhor qualidade,
o seu texto tem a mágica de nos fazer parecer íntimos das coisas todas que você narra. maravilha!
um beijo.
preciso que mande pra mim Bodas em Tipasa, não encontro mais pra comprar em SP e perdi o meu exemplar lido à mesma época que vc.
elianaiglesias@terra.com.br
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