quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Mulher africana
Foto:
Uwe Ommer
in
Black ladies


BALAIO PORRETA 1986
n° 2936
Natal, 18 de fevereiro de 2010


FEIRA DE PROVÉRBIOS ESPORRENTOS

Ele me prometeu brincos, mas apenas furou minhas orelhas.
(Árabe)
Os homens são como tapetes: às vezes precisam ser sacudidos.
(Árabe)
Se os filhos da puta voassem, nunca veríamos o sol.
(Argentino)
Aqueles que não sonham estão perdidos.
(Australiano)
A língua suave é a árvore da vida,
a língua perversa quebra o coração.
(Bíblico)
A tinta mais fraca é melhor que a melhor memória.
(Chinês)
Falar sem pensar é atirar sem mirar.
(Espanhol)
Três espanhóis, quatro opiniões.
(Espanhol)
A partir de uma certa idade, o único afrodisíaco é a variedade.
(Francês)
Dinheiro público é como água benta: todos põem a mão.
(Italiano
)


AINDA ERA CARNAVAL
Nydia Bonetti
[ in Longitudes ]

me convidaram ontem
pro bloco dos felizes

não pude ir

não consegui achar
a minha velha fantasia


PARA UMA BIBLIOTECA PORRETA
( 54 / 66 )

Dicionário de lugares imaginários (Manguel & Guadalupi, 1999)
Uma história da leitura (Manguel, 1996)
História das civilizações (Ferro, 1994)
Estética y marxismo (Vários, ed. esp. 1970)

Dialética da colonização (Alfredo Bosi, 1994)
O design brasileiro antes do design (Rafael Cardoso, 2005)

Literatura e sociedade (Antonio Candido, 1976)
Papeis colados (Flora Sussekind, 1993)
Os bruzundangas (Lima Barreto, 1922)
A arte da entrevista (Fábio Altman, 1995)


POEMA
Adília Lopes
[ in Caderno & Etc., 2007 ]

Dia
sem poesia
não é dia
é noite escura

Mas a poesia
é noite escura


DICIONÁRIO DO DIABO
/Fragmentos/
Ambrose Bierce
(1842-1913)


Advogado : Pessoa hábil em burlar a lei.

Deplorável : O estado de um inimigo ou adversário após um choque imaginário conosco.

Diplomacia : A arte honrosa de mentir pela pátria.

Fidelidade : Virtude própria dos que estão prestes a ser traídos.

História : Crônica quase sempre falha, de acontecimentos quase sempre sem importância, causados por governantes quase sempre velhacos e por soldados quase sempre imbecis.

Liberdade : Um dos mais preciosos bens da imaginação.

Paciência : Forma menor de desespero, disfarçada como virtude.

Patriotismo : No famoso dicionário do Dr. Johnson, o patriotismo é definido como o último refúgio dos patifes. Com todo o respeito devido a um esclarecido mas inferior lexicógrafo, peço licença para sugerir que seja o primeiro.

Santo : Um pecador revisto e corrigido.

Virtudes : Certas abstenções.


MEMÓRIAS DE UM LEITOR NASCIDO NO SERIDÓ
Moacy Cirne

Sobre a prática & Sobre a contradição [1937], de Mao Tse-tung, in Mao Tse-tung - Política, org. Emir Sader. São Paulo : 1982, p.79-125 /Grandes Cientistas Sociais, v.30.

Sei, sei: hoje se questiona o "revolucionarismo" de Mao, mas Sobre a prática e Sobre a contradição - lidos por mim em 1967 - permanecem como textos fundamentais para a compreensão filosófica do marxismo no decorrer do século XX: "O conhecimento humano depende essencialmente da atividade do homem na produção material" (p.79), dizia Mao. E mais dizia: "Se se quer conhecer o sabor de uma pera, há que transformá-la, há que comê-la. ... Se se quer conhecer a teoria e os métodos da revolução, há que participar dela. Todo conhecimento autêntico nasce da experiência direta" (p.84). E dizia mais: "Qualquer processo, natural ou social, avança e se desenvolve em razão de suas contradições e lutas internas" (p.90), o que, aliás, faria com que eu investisse mais ainda no aprofundamento prático e teórico do poema/processo - matrizes e projetos de uma luta (anti)literária e (contra)ideológica no calor das emoções políticas vividas por todos nós. Viajante de cinematecas imaginárias e de sonhos impublicáveis, no lugar de Bense, Moles, Peirce e McLuhan, endeusados pelos poetas concretos da paulicéia tresvairada, eu investia, no campo da poética, em Macherey, Badiou, Althusser, Lênin, Marx, Engels, Gramsci e Mao. Há, ainda, para completar, um fato de ordem pessoal que me liga visceralmente a esses dois textos: em 1968, militante do POC - Partido Operário Comunista, fui incumbido de traduzi-los para distribuição clandestina no circuito universitário do Rio. Cumpri a tarefa com entusiasmo juvenil, revelo publicamente pela segunda vez (a primeira vez foi em janeiro de 2008), 40 anos depois, a partir das edições francesas da Maspero. Infelizmente, depois do AI5, fui obrigado a me desfazer da cópia (mimeografada) da tradução e de vários livros da Maspero, cujos títulos, até então, eram vendidos abertamente na Leonardo Da Vinci, ponto de encontro de intelectuais de todas as tendências políticas e culturais em terras cariocas: um espaço democrático por excelência. Até hoje. Até sempre.


À LUTA, À LUTA
(1980)
Moacy Cirne
[ Republicado in Balaio, n° 158, em 23/05/1989 ]

à luta, à luta,
companheiro,
que a hora é de lutar e sonhar,
de sonhar e lutar.

à luta, à luta,
doce amiga,
que a hora é de lutar e amar,
de amar e lutar.

à luta, à luta,
trabalhador,
que a hora é de lutar e avançar,
de avançar e lutar.

à luta, à luta,
caro poeta,
que a hora é de
que a hora é de
que a hora é de construir
e trans/formar.

GALOPE
Artur Gomes
[ in Carne viva, 1984 ]

com espada
em riste
galopamos
pradarias
e lutamos
ferozmente
por dois segundos
e meio
tua fúria era louca
que agarrei-me
em tuas crinas
pra não cair na lama
mas o amor era tanto
e tanto era o prazer
que quando fomos pra cama
não tinha mais o que fazer.

14 comentários:

Unknown disse...

Oi Moa!

à luta, sim
à luta e por isso estou aqui!

Belo de+++... Melhor ir à luta que às armas!

Nydia Bonneti como sempre um arraso!

Todos os poemas e textos con-sagrados!

Beijos

Mirse

Marcelo Novaes disse...

Moa,




Provérbios e definições precisas.







Abração.

Unknown disse...

Como bem cantou Walter Franco: quem puxa aos seus não degenera, não degenera, não. Abraço, mestre.

nydia bonetti disse...

Vim, mas vim sem fantasia. Vamos à luta, companheiro. Caminhando, cantando, sonhando e se possível, amando. :)

Beijo!

Jens disse...

Moacy, o Balaio reluz ainda mais quando publicas textos e versos de tua autoria. Não seja sovina, mestre. Mais, mais, mais...

Um abraço.

BAR DO BARDO disse...

nydia machuca

nina rizzi disse...

o bardô tem razão.

e um cumprido balaio pra matar as saudades tão compridas, que beleza. nbem sei o que destacar.

bem, à luta, né: poetricinas e militâncias, até amorosas :)

ah, oxalá, eu tou apaixonada pelos olhares de Uwe Ommer.

um cheiro, camarada.

Jarbas Martins disse...

é importante, moacy, que você pu-
blique as suas memórias.um belo testamento, do ponto de vista estético, político e filosófico. com todos os seus acertos e desacertos.

valeu,àquela época, ter lido mao-
tsé-tung. ter acreditado (não em vão) que as mil flores da REVOLUçÃO
rebentariam.
valeu, moacy

dade amorim disse...

Teu poema me levou de volta à universidade, nos anos de chumbo. Por muito pouco não levei chumbo também.

O Baú só tem coisa boa, benzadeus.

Beijo.

Anônimo disse...

Moacy, meu correspondente no Rio de Janeiro:
O Bar de Ferreirinha chegou aos 100 mil acessos hoje.
Estamos imensamente felizes e gratos a todos os que nos visitam diariamente, especialmente a você que nos estimula e deu visibilidade nacional ao Bar.
Obrigado, muito obrigado.
Um abraço forte,
Roberto Fontes

Evandro L. Mezadri disse...

Grandes poesias, belos momentos.
Abraços e sucessos!

líria porto disse...

à luta!

o refúgio disse...

à luta, à luta! adoro esse poema seu.
ah, vi uns versos meus na postagem anterior. grata, viu?
beijos

CANTO GERAL DO BRASIL (e outros cantos) disse...

Moacy,
Sua seleção de poemas é sempre campeã das campeãs, vale a luta, vale quanto preza...

Abraço mineiro,
Pedro Ramúcio.