quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008


Cartaz de
Alphonse Mucha
em
1897,
o ano de
Un coup de dés (Mallarmé),
Os frutos da terra (Gide),
Os Sobrinhos do Capitão (Dirks) e
De onde viemos? O que somos? Para onde vamos?
(Gauguin)


BALAIO PORRETA 1986
n° 2232
Rio, 14 de fevereiro de 2008


FENECER
Marize Castro
[ in Marrons, crepons, marfins. Natal, 1984 ]

Feneço na ausência
dos homens cor de bronze
do prepúcio de púrpura.

Quem me lapidou
esqueceu de me tirar
o veneno.

Ateio
fogo na minha própria
teia.

Como quem preserva fortalezas
corto minhas/alheias
veias.

Feneço, infinitivamente,
na presença dos homens
que têm grandes pés e nenhuma fé.
Que me rasgam a carne
e me sepultam em suas glandes.

Não fosse eu
uma pessoa de múltiplos escudos
viveria a vida toda
com um único vestido
de veludo.


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

Que é a literatura? [1948], de Jean-Paul Sartre. Trad. Carlos Felipe Moisés. São Paulo : Ática, 1989, 232p. [] Não adianta negar: Sartre continua sendo uma das minhas referências intelectuais. Daí o meu respeito e a minha admiração por sua obra. Um obra capaz de problematizar idéias que merecem ser pensadas até hoje, concordemos ou não com elas:
"... na verdade, a poesia não se serve de palavras; eu diria antes que ela as serve. Os poetas são homens que se recusam a utilizar a linguagem" (p.13);
"O poeta está fora da linguagem, vê as palavras do avesso, como se não pertencesse à condição humana, e, ao dirigir-se aos homens, logo encontrasse a palavra como uma barreira" (p.14);
"... a operação de escrever implica a de ler, como seu correlativo dialético, e esses dois atos conexos necessitam de dois agentes distintos. É o esforço conjugado do autor com o leitor que fará surgir esse objeto concreto e imaginário que é a obra do espírito. Só existe arte por e para outrem" (p.37);
"Escrever é doar" (p.85);
"Idealismo, psicologismo, determinismo, utilitarismo, espírito de seriedade, eis o que o escritor burguês deve refletir em primeiro lugar para o seu público" (p.91);
"Para uns, a literatura é a subjetividade levada ao absoluto, uma fogueira de alegria onde se retorcem os ramos negros dos seus sofrimentos e dos seus vícios ... Outros se constituem em testemunhas imparciais de sua época. Mas não testemunham aos olhos de ninguém ..." (p.99).
Nas páginas finais, encontramos um Sartre mais sartreano do que nunca, antes de aproximar-se do marxismo-maoísmo:
"Nada nos garante que a literatura seja imortal; hoje, a sua chance, a sua única chance, é a chance da Europa, do socialismo, da democracia, da paz. É preciso tentá-la; se nós, os escritores a perdermos, tanto pior para nós. ... o mundo pode muito bem passar sem a literatura. Mas pode passar ainda melhor sem o homem" (p.217-18).

4 comentários:

Anônimo disse...

Preciosa Marize.

Jens disse...

Salve Jean Paul! Bons tempos aqueles em que os filósofos entricheiravam-se atrás das barricadas nas ruas.

Marco disse...

Mais um de seus bons posts, caro mestre Moacy. O poema é MUITO bom. Curiosamente, vi nele uma certa concretude sartriana. Gostei muito do cartaz belle epoque também.
Tem uma lembrancinha pro amigo lá no Antigas Ternuras. Quando puder, dê uma chegadinha lá. Carpe Diem. Aproveite o dia e a vida.

Mary disse...

Este balaio esta cheio de preciosidades por isto pergunto,posso continuar a vendo tudo que nele possui?
Lindas postagens.
beijokas em seu coração.