domingo, 28 de dezembro de 2008


Eis o reflexo do ataque de Israel, ontem,
na Faixa de Gaza:
225 mortos e 700 feridos
[ 315 mortos às 8h do dia 29 ]


Foto:
Times Online


BALAIO PORRETA 1986
n° 2520
Natal, 28 de dezembro de 2008

Uma criança e a dor.
Uma dor e a desesperança.
Uma desesperança e a criança.
Diante da morte. Diante do inverossímel.
E do incompreensível.



GRITAREI
Poema de SAMIH AL QASSIM

No Século Vinte

Aprendi a não odiar
durante séculos
mas me obrigaram
a brandir uma flecha permanente
diante do rosto de uma píton
a brandir uma espada de fogo
diante do rosto do Baal demente
a transformar-me no Elias do século vinte

aprendi
durante séculos
a não proferir heresias
hoje açoito os deuses
que estavam no meu coração
os deuses que venderam o meu povo
no século vinte

aprendi
durante séculos
a não fechar a porta diante dos hóspedes
mas um dia
abri os olhos
e vi minhas ovelhas roubadas
enforcada a companheira de minha vida
e nas costas de meu filho
sulcos de feridas
então reconheci a traição de meus hóspedes
semeei meu umbral com minas e punhais
e jurei em nome das cicatrizes
que nenhum hóspede ultrapassaria meu umbral
no século vinte

durante séculos
não fui mais do que poeta
assíduo freqüentador dos círculos místicos

mas me transformei
num vulcão em revolta
no século vinte!

[in Poesia palestina de combate.
/Trad. não especificada/
Rio de Janeiro: Achiamé, 2ª ed., s/d, p.59-60 ]


OS LÁBIOS CORTADOS
Samih Al Qassim
[ in Poesia palestina de combate ]

Eu poderia ter contado
a história do rouxinol assassinado
Poderia ter contado
a história...
se não me tivessem cortado os lábios.


O ESTRANGEIRO
Hayi L'Assaqilah
[ in Poesia palestina de combate ]

Não se apoderem de meus olhos
Sou o estrangeiro
em busca de uma pátria
meu coração se esmigalhou
sobre as montanhas da neve, do sangue e da geada
caminhei com as crianças
me abandonaram
na noite da fome, do sangue e da geada
levantaram sobre minhas costas
as tábuas do meu ataúde

Não me exterminem
sou o estrangeiro
em busca de uma pátria...
que erro cometeu meu povo
para que viva hoje
numa terra em ruínas
que erro cometeu o pássaro
para que o joguem de um bosque a outro
que erro cometeu meu coração
para que derramem sobre ele
a catástrofe e tanta dor.

5 comentários:

"Monica Mamede" disse...

Olá Moacy,
Embora sempre acompanhe este Balaio [encantador], nem sempre comento.
A organização do post está profunda; desconhecia essa 'coletânea' de poesias, vou procurar mais.

E espero, sinceramente, que em 2009 os dias sejam melhores para a humanidade.

Beijo grande

Anônimo disse...

Obrigado, caro Mestre, por nos proporcionar o encontro com uma poesia extraordinária, em todos os sentidos.
Um Novo Ano de muita Luz e saúde pra você e os seus.
Forte abraço,
Bosco

Cosmunicando disse...

fantástico este post, Moacy... diante de tamanha barbárie o Balaio mais uma vez sabe colocar os extremos lado a lado, uma foto chocante e poemas igualmente reflexivos.
beijos

Mariana Botelho disse...

...

Anônimo disse...

moacy:
valeu.
romério