Expressões das paixões da alma
(1698)
Charles Le Brun
BALAIO PORRETA 1986
n° 2638
Rio, 24 de abril de 2009
Minha aproximação ao texto bíblico - assinale-se - é laica. Estou primacialmente interessado em poesia. (Por outro lado, como ver incompatibilidade entre sacralidade e poeticidade?)
(Haroldo de CAMPOS. Bere'shith - A cena da origem, 2000)
O LIVRO DOS LIVROS
(22)
Texto estabelecido por
Moatidatotatýne, o Escriba
As novas dúvidas do Senhor das Alturas
E o Altíssimo, entre uma lapada(¹) e outra da boa e velha manjopina(²), tendo queijo de coalho como parede(³), parou para pensar pensando. E pensou. E pensou. E repensou.
"E se Eu não existisse, o Mundo existiria? E se Eu não fosse o Tudo Absoluto, seria o quê? O Nada Relativo? O Nada Nadificante? Para Me responder, preciso voltar às origens, à poeira cósmica que Me forjou. Foi a partir daí que fundei o Seridó e toda a Terra e todo o Universo".
"Campos e Campos(ª¹), Criei-me Consciência, aCaso e Conhecimento: no começar criando o Cosmos: céufogoterrágua(ª²). E disse: seja Luz e Seridó. E foi Luz e Seridó. E Vi que a Luz era boa, e Vi que o Seridó era bom, muito bom. E assim começou o começo: começando".
"Por que duvidar, então, de Minha concretude? Eis-me aqui: travessia. Assim: duvido, logo acredito. Acredito, logo invento. Invento, logo questiono. Questiono, logo penso. Penso, logo existo(ª³). Por que duvidar, pois, de Minha concreção cosmológica e seridoense?"
"Que o Senhor das Sombras, e mais um tal de Moacy Cirne e muitos e muitos outros não acreditem em Mim, tudo bem! Mas que Eu próprio, o Todo Poderoso, o Infinito, o Infalível, o Grande Sertão, a Travessia, o Cara, não Me acredite, assim também já é demais!"
"De uma vez por todas: sou o Inverno, não sou o Inferno. Sou a Compreensão e não a Incompreensão. Sou a Construção e não a Desconstrução. Sou o Cinema e não o antiCinema(ªª¹). Sou o aTemporal e não o Temporal. Sou o Deus e não o Dem/o. Sou o que Sou: e Só!"
"E se às vezes fico puto da vida, costurando e bordando horrores, faço-o pelo bem da Humanidade. Se às vezes desejo destruí-la, desejo-o por amá-la. E Eu a amo porque Me amo. Ou não? Ou sim? Ou talvez? Assim é, é assim. Enfim: sou ou não sou, eis a questão(ªª²)".
Próximo capítulo:
O encontro com Anselmo de Cantuária
(1698)
Charles Le Brun
BALAIO PORRETA 1986
n° 2638
Rio, 24 de abril de 2009
Minha aproximação ao texto bíblico - assinale-se - é laica. Estou primacialmente interessado em poesia. (Por outro lado, como ver incompatibilidade entre sacralidade e poeticidade?)
(Haroldo de CAMPOS. Bere'shith - A cena da origem, 2000)
O LIVRO DOS LIVROS
(22)
Texto estabelecido por
Moatidatotatýne, o Escriba
As novas dúvidas do Senhor das Alturas
E o Altíssimo, entre uma lapada(¹) e outra da boa e velha manjopina(²), tendo queijo de coalho como parede(³), parou para pensar pensando. E pensou. E pensou. E repensou.
"E se Eu não existisse, o Mundo existiria? E se Eu não fosse o Tudo Absoluto, seria o quê? O Nada Relativo? O Nada Nadificante? Para Me responder, preciso voltar às origens, à poeira cósmica que Me forjou. Foi a partir daí que fundei o Seridó e toda a Terra e todo o Universo".
"Campos e Campos(ª¹), Criei-me Consciência, aCaso e Conhecimento: no começar criando o Cosmos: céufogoterrágua(ª²). E disse: seja Luz e Seridó. E foi Luz e Seridó. E Vi que a Luz era boa, e Vi que o Seridó era bom, muito bom. E assim começou o começo: começando".
"Por que duvidar, então, de Minha concretude? Eis-me aqui: travessia. Assim: duvido, logo acredito. Acredito, logo invento. Invento, logo questiono. Questiono, logo penso. Penso, logo existo(ª³). Por que duvidar, pois, de Minha concreção cosmológica e seridoense?"
"Que o Senhor das Sombras, e mais um tal de Moacy Cirne e muitos e muitos outros não acreditem em Mim, tudo bem! Mas que Eu próprio, o Todo Poderoso, o Infinito, o Infalível, o Grande Sertão, a Travessia, o Cara, não Me acredite, assim também já é demais!"
"De uma vez por todas: sou o Inverno, não sou o Inferno. Sou a Compreensão e não a Incompreensão. Sou a Construção e não a Desconstrução. Sou o Cinema e não o antiCinema(ªª¹). Sou o aTemporal e não o Temporal. Sou o Deus e não o Dem/o. Sou o que Sou: e Só!"
"E se às vezes fico puto da vida, costurando e bordando horrores, faço-o pelo bem da Humanidade. Se às vezes desejo destruí-la, desejo-o por amá-la. E Eu a amo porque Me amo. Ou não? Ou sim? Ou talvez? Assim é, é assim. Enfim: sou ou não sou, eis a questão(ªª²)".
Próximo capítulo:
O encontro com Anselmo de Cantuária
Notas dos Editores:
(¹) Lapada : Talagada, gole.
(²) Manjopina : Cachaça.
(³) Parede : Tira-gosto.
(ª¹) Possível referência a dois irmãos teólogos do século XX da Era Comum, de formação paulistana.
(ª²) Palavra-conceito cuja origem pode se encontrar na teologia dos irmãos supra-mencionados.
(ª³) Séculos depois, um filósofo francês, René Descartes assim nomeado, retomaria as Palavras Sagradas do Senhor das Alturas para construir o seu método especulativo.
(ªª¹) Passagem absolutamente enigmática d' O Livro dos Livros. O teólogo Ro-Rosemberg Aguiar acredita que se trata de uma alusão metafórica ao pintor e poeta José Lino Godard, autor de Acossado das Amérikas, obra do século XX da Era Comum.
(ªª²) Qualquer semelhança com o poeta WS, de épocas futuras, não passa de pura metaficção.
(¹) Lapada : Talagada, gole.
(²) Manjopina : Cachaça.
(³) Parede : Tira-gosto.
(ª¹) Possível referência a dois irmãos teólogos do século XX da Era Comum, de formação paulistana.
(ª²) Palavra-conceito cuja origem pode se encontrar na teologia dos irmãos supra-mencionados.
(ª³) Séculos depois, um filósofo francês, René Descartes assim nomeado, retomaria as Palavras Sagradas do Senhor das Alturas para construir o seu método especulativo.
(ªª¹) Passagem absolutamente enigmática d' O Livro dos Livros. O teólogo Ro-Rosemberg Aguiar acredita que se trata de uma alusão metafórica ao pintor e poeta José Lino Godard, autor de Acossado das Amérikas, obra do século XX da Era Comum.
(ªª²) Qualquer semelhança com o poeta WS, de épocas futuras, não passa de pura metaficção.
10 comentários:
"E disse: seja Luz e Seridó. E foi Luz e Seridó. " - esta parte me comove!! be-lís-si-mo!
obrigada pelo lindo recomeço, afinal, é outro dia...
besos
Bom Dia, Moacy!
Charles Le Burn (1698) Era um Gênio. Maravilhosas expressões. Observei uma a uma. Deve ser uma escultura ou já se usava a técnica de 3ª dimensão.
Rzão das Razões: Como ver incompatibilidade entre sacralidade e poeticidade? [MUITO BOM]
Essas dúvidas do Senhor das Alturas, durante a poeira cósmica deve ter-se espalhado pelo DNA dos que foram são e virão.
Assim duvido, logo acredito!
Sou o que Sou: e Só!
Só mesmo Moatidatotayne para ter a paciência (dom) de escrever isso tudo.
As Notas dos Editores, ultrapassam as barreiras do Humor!
Show!!!
Parabéns Moacy!
Beijos
Mirse
moa, fui ao espaço da mirse, sempre tropeço nela durante os voos literários, e achei lá algo que escreveste e que contém algumas das palavras que mais amo na língua portuguesa:
"tuas planícies tuas auroras tuas acácias" - porezemplo... ;-)
Hehehe, o Senhor das Alturas bebeu mal. Ou bem. Seja como for, a manjopina é poderosa.
Um abraço.
Caro Moacy,
Belamente expressivo esse quadro. Um abraço.
"Mas que Eu próprio, o Todo Poderoso, o Infinito, o Infalível, o Grande Sertão, a Travessia, o Cara, não Me acredite, assim também já é demais!"
parece um amigo meu falando, ele sempre usa um monte de adjetivo e superlativo, hahaha, "assim também já é demais"
cheers!
Moa, hoje o senhor das alturas tava reflexivo hein!
a todo momento entre o lírico e o humor... muito bom seu texto!
um beijo
trinca as rachas e as duras
moatidatotaýne, o estriba escriba
abrir o real ao ponto do não-retorno até não sê-lo nem tê-lo mais...
eis a li.verdade do li.vre dos li.vros
fascinante!
Bom demais! Moacy, querido, você é que é "O Cara"! rsrsrs...
Beijos.
Luz e Seridó! É o que me encanta no Livro dos Livros. Mudando de assunto (ou não): tenho a ligeira impressão de que o Senhor das Sombras mais do que qualquer outro acredita no Senhor das Alturas.
Postar um comentário