A arte de
Arlete Marques
Angola
[ in Ondjira Sul ]
BALAIO PORRETA 1986
n° 2921
Rio, 3 de fevereiro de 2010
Vestias diante do espelho
o vestido de viagem,
e o espelho partiu-se ao meio
querendo prender-te a imagem.
(Mauro MOTA. Canto ao meio, 1964)
MAR-AHU
Max Martins
[ in Caminho de Marahu. Belém, 1983 ]
Não
é a ilha
Não
é a praia
E o mar
(de nos fazermos ao)
é só um nome
sem
a outra margem
PARA UMA BIBLIOTECA PORRETA
( 39 / 43 )
Teoria da história do Brasil (José Honório Rodrigues, 1949)
Cangaceiros e fanáticos (Rui Facó, 1963)
A cidade na história (Mumford, 1961)
Obra aberta (Eco, 1962)
Luuanda (Luandino Vieira, 1963)
Grandes esperanças (Dickens, 1860-61)
Moll Flanders (Defoe, 1722)
Germinal (Zola, 1885)
Canto ao meio (Mauro Mota, 1964)
Caminho de Marahu (Max Martins, 1983)
Fragmento inicial
DEFENESTRAÇÃO
Luís Fernando Veríssimo
[ in O analista de Bagé, 1981 ]
Arlete Marques
Angola
[ in Ondjira Sul ]
BALAIO PORRETA 1986
n° 2921
Rio, 3 de fevereiro de 2010
Vestias diante do espelho
o vestido de viagem,
e o espelho partiu-se ao meio
querendo prender-te a imagem.
(Mauro MOTA. Canto ao meio, 1964)
MAR-AHU
Max Martins
[ in Caminho de Marahu. Belém, 1983 ]
Não
é a ilha
Não
é a praia
E o mar
(de nos fazermos ao)
é só um nome
sem
a outra margem
PARA UMA BIBLIOTECA PORRETA
( 39 / 43 )
Teoria da história do Brasil (José Honório Rodrigues, 1949)
Cangaceiros e fanáticos (Rui Facó, 1963)
A cidade na história (Mumford, 1961)
Obra aberta (Eco, 1962)
Luuanda (Luandino Vieira, 1963)
Grandes esperanças (Dickens, 1860-61)
Moll Flanders (Defoe, 1722)
Germinal (Zola, 1885)
Canto ao meio (Mauro Mota, 1964)
Caminho de Marahu (Max Martins, 1983)
Fragmento inicial
DEFENESTRAÇÃO
Luís Fernando Veríssimo
[ in O analista de Bagé, 1981 ]
Certas palavras têm o significado errado. Falácia, por exemplo, devia ser o nome de alguma coisa vagamente vegetal. As pessoas deveriam criar falácias em todas as suas variedades. A Falácia Amazônica. A misteriosa Falácia Negra.
Hermeneuta deveria ser o membro de uma seita de andarilhos herméticos. Onde eles chegassem, tudo se complicaria.
- Os hermeneutas estão chegando!
- Ih, agora é que ninguém vai entender mais nada...
Os hermeneutas ocupariam a cidade e paralisariam todas as atividades produtivas com seus enigmas e frases ambíguas. Ao se retirarem deixariam a população prostrada pela confusão. Levaria semanas até que as coisas recuperassem o seu sentido óbvio. Antes disso, tudo parecia ter um sentido oculto.
- Alo...
- O que é que você quer dizer com isso?
Traquinagem devia ser uma peça mecânica.
- Vamos ter que trocar a traquinagem. E o vetor está gasto.
Plúmbeo devia ser o barulho que um corpo faz ao cair na água.
Mas nenhuma palavra me fascinava tanto quanto defenestração.
A princípio foi o fascínio da ignorância. Eu não sabia o seu significado, nunca me lembrava de procurar no dicionário e imaginava coisas. Defenestrar devia ser um ato exótico praticado por poucas pessoas. Tinha até um certo tom lúbrico. Galanteadores de calçada deviam sussurar no ouvido das mulheres:
- Defenestras?
A resposta seria um tapa na cara. Mas algumas... Ah, algumas defenestravam.
(...)
Hermeneuta deveria ser o membro de uma seita de andarilhos herméticos. Onde eles chegassem, tudo se complicaria.
- Os hermeneutas estão chegando!
- Ih, agora é que ninguém vai entender mais nada...
Os hermeneutas ocupariam a cidade e paralisariam todas as atividades produtivas com seus enigmas e frases ambíguas. Ao se retirarem deixariam a população prostrada pela confusão. Levaria semanas até que as coisas recuperassem o seu sentido óbvio. Antes disso, tudo parecia ter um sentido oculto.
- Alo...
- O que é que você quer dizer com isso?
Traquinagem devia ser uma peça mecânica.
- Vamos ter que trocar a traquinagem. E o vetor está gasto.
Plúmbeo devia ser o barulho que um corpo faz ao cair na água.
Mas nenhuma palavra me fascinava tanto quanto defenestração.
A princípio foi o fascínio da ignorância. Eu não sabia o seu significado, nunca me lembrava de procurar no dicionário e imaginava coisas. Defenestrar devia ser um ato exótico praticado por poucas pessoas. Tinha até um certo tom lúbrico. Galanteadores de calçada deviam sussurar no ouvido das mulheres:
- Defenestras?
A resposta seria um tapa na cara. Mas algumas... Ah, algumas defenestravam.
(...)
5 comentários:
acho que defenestrar devia ser o que é mesmo. eu adoraria defenestrar o meu chefe, por exemplo...
adoro essa tela da Arlete; bem como o livro do Facó, mas ficarei com o germinal, minha primeira grande leitura: o nascimento da classe trabalhadora se dá quando ela se conscientiza como tal, né.
um poema? claro, mar-ahu.
e um beijo.
O bom da poesia é que com ela a gente pode ressignificar (aí uma palavrinha que soa outra coisa) as palavras, acrescentar, impingir (parece doença de pele) outras atribuições. Defenestrar as regras. Abraço.
Oi Moacy!
Belíssima arte!
LFV faz parte da minha leitura diária. Mas esse texto em particular de O Analista de Bagé, é sucesso sempre!
Plúmbeo é ótimo!
Beijos
Mirse
Estou aderindo a uma campanha para evitar que Nina Rizzi seja obrigada a rarear as suas postagens e reduzir o espaço de Ellenismos.Disponho-me a colaborar
financeiramente com o Ellenismos.Nina Rizzi, claro, não propôs nenhuma ajuda, apenas expôs os motivos, justificando as faltas de atualização do blogue.Nina Rizzi
é grande poeta e jornalista (devo
o conhecimento de sua arte, através de Moacy Cirne; outro amigo,Abimael Siva, me falou entusiasticamente dela).Entre Ellenismos e Balaio Vermelho passeia meu coração.Chamo a atenção
de outros blogues culturais que visito, como o Substantivo Plural, o Grande Ponto,o Blogue de Ailton Medeiros, para um problema: até quando vamos suportar, por falta
de apoio e de uma política cultural efetiva, a submersão dos talentos ?No jornalismo impresso, nesta minha província submersa, os suplementos culturais, por motivos que todos sabemos,desapareceram.Que isto não aconteça em nossa blogosfera.
Moacy, obrigado pelo carinho que voce vem dedicando á cultura africana e, na parte que me toca, á cultura angolana.
Kandandu
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