domingo, 30 de dezembro de 2007


Natal:
Luar em Ponta Negra.

Foto:
autoria desconhecida.


BALAIO PORRETA 1986
n° 2200
Rio, 30 de dezembro de 2007


Natal, Natal:
Férias.
E, para todos os nossos amigos e amigas,
mil auroras
mil amores
mil frevos
mil sambas
em
2008
2009
2010
2011
2012
2013
e assim por diante.
De resto,

a madrugada abria-se como uma pequena lâmina:
os galos auroravam anunciando o encontro
do capitão virgulino com maria bonita
nas sutis madrugadas cruvianas
do anoitecer azul e violeta.
tudo tudo acontecia
seridozmente.
um menino pastorava as cores da manhã.

[]

O Balaio voltará a ser
editado/atualizado
no próximo 10
de janeiro.

sábado, 29 de dezembro de 2007


Um filme, um cartaz:
Sombras de Goya
(Forman, 2006)


BALAIO PORRETA 1986
n° 2199
Rio, 29 de dezembro de 2007



Cinema
RECOMENDAMOS NAS SALAS DO RIO

Império dos sonhos (Lynch, 2006)
O engenho de Zé Lins (Vladimir Carvalho, 2007)
Jogo de cena (Eduardo Coutinho, 2007)
A culpa é do Fidel (Gavras, 2007)
Sombras de Goya (Forman, 2006)


O QUE EU GOSTARIA DE REVER
NOS CINEMAS E/OU CENTROS CULTURAIS
EM 2008

[] Filmes de Antonioni
[] Filmes de Straub & Huillet
[] Filmes de Glauber Rocha
[] Filmes do Grupo Dziga-Vertov (Godard & Gorin)
[] Filmes da Boca do Lixo, de São Paulo
[] Chanchadas da Atlântida, do Rio
[] A terra treme, de Visconti
[] Une partie de campagne, de Renoir
[] My darling Clementine, de Ford
[] A princesa Yang Kwei Fei, de Mizoguchi
[] A General, de Keaton & Bruckman
[] Era uma vez no Oeste, de Leone
[] Agonia e glória, de Fuller
[] As férias do Sr. Hulot, de Tati
[] A palavra, de Dreyer
[] A marca da maldade, de Welles
[] Entusiasmo, de Vertov
[] La hora de los hornos, de Solanas
[] Simão do Deserto, de Buñuel
[] Morangos silvestres, de Bergman
[] Vidas secas, de Nelson Pereira dos Santos
[] Diário de um pároco de aldeia, de Bresson
[] Madre Joana dos Anjos, de Kawalerowicz
[] 2001: uma odisséia no espaço, de Kubrick




A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

A humanidade e a Mãe-Terra; uma história narrativa do mundo [1976], de Arnold Toynbee. Trad. Helena Maria Martins Pereira & Alzira Soares da Rocha. Rio de Janeiro : Zahar, 1979, 774p. [Adquirido em sebo, no centro do Rio, com a seguinte dedicatória: "Para o Anderson Rayol dos Santos, colega de idos e saudosos tempos do Colégio Salesiano de Manaus, na data de seu septuagésimo ano de honrada e digna existência, este livro de um sábio, que desvenda aos olhos atormentados da humanidade, a predação da MÃE-TERRA pelo homem, seu único filho dotado de inteligência, em afetuoso abraço do Chico Fernandes da Costa. E salve 22.05.81!"] Embora Toynbee seja hoje um historiador desprestigiado, esta dedicatória, envolvendo nomes desconhecidos para mim, tem um valor simbólico em relação ao próprio texto: por que não relê-lo, agora, com olhos menos radicais? Franklin de Oliveira - outro nome injustamente esquecido - disse-o com acerto: "Erro não haverá em dizer-se ser este soberbo livro, que desdobra diante dos nossos olhos deslumbrados a história panorâmica do mundo como uma totalidade, o testamento espiritual de Toynbee". A grande pergunta é, pois, contrariando a opinião de muita gente: ainda vale a pena investir no testamento espiritual do autor de Helenismo, A sociedade do futuro e O desafio de nosso tempo?

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007


Foto de
Fátima Silveira
in
1000 Imagens


BALAIO PORRETA 1986
n° 2198
Rio, 28 de dezembro de 2007



PRIMEIRO MANDAMENTO
Paulo de Tarso Correia de Melo (Natal, RN)
[ in Rio dos homens, 2002 ]

Coronel Chiquinho não chegava
a desejar mal ao próximo.
Apenas perguntava:

Com tanta cascavel desocupada
por aí, como é que gente ruim
no mundo não se acaba?


MANHÃZINHA
Wescley J. Gama (Currais Novos, RN)
[ in A Taberna ]

toda vez que a lenha estalava no fogo
o cheiro do café gritava,
acordando todo mundo


MIOSÓTIS
Jeanne Araújo (Acari, RN)

Entre os meus mamilos
há pequenos miosótis
guarnecendo pequenas feridas.
Encosto-me à cama simples
roçando a poesia no teu peito.
Viro-me pelo avesso,
sou muro e muralha,
pedra e diamante
procurando as frestas
da tua solidão.


POESIA
Sandra Camurça (Recife, PE)
[ in O Refúgio ]

nu céu escarlate
precipito-me lua
e rasgo o véu da tarde


COMEÇANDO A LER

A love supreme; A criação do álbum clássico de John Coltrane, de Ashley Kahn. Trad. Patricia de Cia & Marcelo Orozco. Pref. Elvin Jones. São Paulo : Barracuda, 2007.

Compor qualquer tipo de música é um desafio: muita coisa é subjetiva, vem da reação pessoal. Quando o assunto é Coltrane, as apostas são mais altas. Ele obrigou os críticos a inventar terminologias para descrever suas inovações em termos de técnica e estilo. "Camadas de som", escreveu um crítico sobre suas rajadas sônicas em 1958. "Antijazz", escreveu outro, anos depois.

A love supreme coloca as apostas no céu. A inegável espiritualidade do álbum - outra área de estudo que esgota o vocabulário disponível - abre a porta para um campo no qual o exame de detalhes específicos corre o risco de parecer incoerente, em que a discussão do espiritual pode se tornar um esforço rotineiro e insincero. No entanto, ao ouvir o álbum várias vezes, senti-me impelido a tratar da espiritualidade apaixonada de Coltrane. Embora eu me considere um agnóstico dedicado e um racionalista radical, estou pronto para admitir que muita coisa parece o trabalho de alguma força eterna que segue uma direção espiritual: as estações, a gravidade, a matemática, o amor romântico. "Deus respira plenamente por meio de nós", escreveu Coltrane em A love supreme, "tão suavemente que nem sentimos". (p.21)

Na vitrola:
A love supreme, de John Coltrane.
[ MCA/Impulse 229254557-2 (1964) ]

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007


Foto de
Jorge Casais
in
1000 Imagens


BALAIO PORRETA 1986
n° 2196
Rio, 27 de dezembro de 2007


PASTOR
de Lisbeth Lima (RN)
[ in Flor de Craibeira ]

De dia, tangia bois.
À noite, insone, tangia estrelas.


GERMINAL
de Ada Lima (RN)
[ in Menina Gauche ]

Apenas deságüe em mim
e faça surgir
um coração
em meu ventre.


ANÍMICO
de Nel Meirelles (PE/RJ)
[ in Fala Poética ]

meus desejos
vagam pelo teu corpo
na madrugada
como assombração
de beira de estrada.


PRÓXIMAS LEITURAS

Livro das mil e uma noites - vol. 3, ramo egípcio. Trad. Mamede Mustafa Jarouche. São Paulo : Globo, 2007, 372p.

A divina Comédia: Inferno, de Dante Alighieri. Trad. Jorge Wanderley. Pref. Marco Lucchesi. Rio de Janeiro : Record, 2004, 416p.

A love supreme; a criação do álbum clássico de John Coltrane, de Ashley Kahn. Pref. Elvin Jones. São Paulo : Barracuda, 2007, 282p.
[Para ler ao som da obra-prima de Coltrane,
um dos maiores discos do século XX.]


quarta-feira, 26 de dezembro de 2007


Seja a Coréia do Sul, seja a Coréia do Norte,
o que temos é a delicadeza de um povo e de uma arte


BALAIO PORRETA 1986
n° 2195
Rio, 26 de dezembro de 2007


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

Sijô - Poesiacanto coreana clássica, antologia. Trad. Yun Jung Im & Alberto Marsicano. Int. Haroldo de Campos. São Paulo : Iluminuras, 1994, 142p. [] Até então, anos 90, praticamente não conhecíamos a poesia coreana: uma poesia delicada. Em sua língua original, o Sijô compõe-se de três versos e cerca de 45 sílabas. Na recriação brasileira, a formatação será outra, necessariamente: os versos transformam-se em blocos formais. O fato é que o Sijô, como tal, consolida-se no final do século XIII. Para o estudioso Kevin O'Rourke, citado por Haroldo de Campos na apresentação, "ler o Sijô é viver e respirar a história e a cultura da Coréia" (p.11).


Sijô
de

Bag Peng-nyón
(1417-1456)

Dizem que o ouro
se encontra em águas claras
Mas nem toda água clara
o guarda

Dizem que o jade
se encontra nas montanhas
Mas nem toda montanha
o guarda

Dizem que o amor é o mais importante
Mas podemos buscar
a todos que amamos?
(p.26)


Sijô
de
Ju Üi-shig
(?-?)

O menino à janela
vem e me diz:
É o sol
do Ano Novo

Abro a janela
que dá para o leste
e vejo sempre
o mesmo sol

Menino: Este é o velho sol de sempre
Venha-me chamar
quando surgir um novo
(p.119)


RETIFICAÇÃO/REVISÃO

Ao consultar com mais cuidado a lista de filmes vistos em dvd, em 2007, verifico que deixei de lado um título excepcional: Santo Agostinho (Rossellini, 1972). Devo acrescentá-lo, pois, aos melhores vistos (pela primeira vez), figurando entre os dois ou três primeiros da relação já apresentada entre os assistidos em casa. Talvez seja mesmo a obra mais expressiva do cineasta italiano.


domingo, 23 de dezembro de 2007


Imagem:
Miguel Angel de Arriba Cuadrado
in
Photo Net

A homenagem de um materialista,
através do Balaio,
aos cristãos de todas as cores
de todos os sonhos
de todas as marias, de todos os josés


BALAIO PORRETA 1986
n° 2194
Rio, 24 de dezembro de 2007


São benditos os que trabalham para a paz na terra.
( Palavras do Rei Henrique,
in Ricardo VI, II Parte, Ato II,
de William Shakespeare
/trad. Carlos Alberto Nunes/ )

sábado, 22 de dezembro de 2007


Um filme, um cartaz:
Império dos sonhos
(Lynch, 2006)


BALAIO PORRETA 1986
n° 2193
Rio, 22 de dezembro de 2007



CINEMA 2007
Os melhores filmes vistos no ano
segundo minha leitura crítico-afetivo-libertinária,
considerando as seguintes cotações:

*** Excelente
** Ótimo
* Especialmente bom

Nos cinemas & centros culturais

1. Império dos sonhos *** (Lynch, 2006)
2. Conto de outuno *** (Rohmer, 1998)
3. Moolaadé *** (Sembene, 2004)
4. Medos privados em lugares públicos ** (Resnais, 2006)
5. Maria ** (Ferrara, 2005)
6. O engenho de Zé Lins ** (Vladimir Carvalho, 2007)
7. Romance do vaqueiro voador ** (Manfredo Caldas, 2006)
8. Jogo de cena ** (Eduardo Coutinho, 2007)
9. Santiago ** (João Moreira Salles, 2006)
10. Cartas de Ivo Jima * (Eastwood, 2006)
11. Lady Chatterley * (Ferran, 2006)
12. A culpa é do Fidel * (Gavras, 2007)
13. Curriculum vitae * (Kieslowski, 1975), média
14. Cabeças falantes * (Kieslowski, 1980), curta

Em casa

1. A princesa Yang Kwei Fei *** (Mizoguchi, 1955)
2. Othon *** (Straub & Huillet, 1969)
3. Agonia e glória *** (Fuller, 1980[2003])
4. Operários, camponeses *** (Straub & Huillet, 2001)
5. Aqui e lá *** (Godard & Miéville, 1977)
6. A mocidade de Lincoln *** (Ford, 1939)
7. O olhar de Michelangelo *** (Antonioni, 2004), curta
8. Prólogo *** (Tarr, 2004), curta
9. Toda revolução é um lance de dados *** (Straub & Huillet, 1977), curta
10. Band à part ** (Godard, 1964)

Principais revisões, nos cinemas:

1. Uma mulher sob influência *** (Cassavetes, 1974)
2. Faces *** (Cassavetes, 1968)
3. O padre e a moça ** (Joaquim Pedro de Andrade, 1966)

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007


Van Gogh
(1885):
dois livros -
a Bíblia e A alegria de viver (Zola)


BALAIO PORRETA 1986
n° 2192
Rio, 21 de dezembro de 2007



LIVROS 2007
As obras mais importantes para as minhas leiturAções
no ano que marcou o 40° aniversário do Poema/Processo

1. Passagens, de Walter Benjamin. Org. Willi Bolle. Trad. Irene Aron & Cleonice Paes Barreto Mourão. Belo Horizonte : EdUFMG ; São Paulo : Imp. Oficial Estado de São Paulo, 2006, 1168p. /Leitura iniciada em 2006/

2. Ensaios de literatura ocidental, de Erich Auerbach. Org. Davi Arriguci Jr. & Samuel Titan Jr. Trad. Samuel Titan Jr. & José Marcos Mariani de Macedo. São Paulo : Duas Cidades ; Ed. 34, 2007, 380p.

3. Terra sonâmbula [1992], de Mia Couto. São Paulo : Companhia das Letras, 2007, 206p.

Outros títulos, sem ordem preferencial:

Às portas da Revolução - Escritos de Lênin de 1917, de Slavoj Zizek. Trad. Luiz Bernardo Pericás, Fabrício Rigout & Daniela Jinkings. São Paulo : Boitempo, 2005, 350p.

O que sobrou do paraíso, de Jean Delumeau. Trad. Maria Lúcia Machado. São Paulo : Companhia das Letras, 2003, 566p.

O livro dos Mandamentos: 248 preceitos positivos [1187-1190], de Maimônides. Org. & trad. Giuseppe Nahaïssi. São Paulo : Hedra, 2007, 320p.

Tratado de ateologia, de Michel Onfray. Trad. Monica Stahel. São Paulo : Martins Fontes, 2007, 214p.

Deus, um delírio, de Richard Dawkins. Trad. Fernanda Ravagnani. São Paulo : Companhia das Letras, 2007, 520p.

O esquecimento da política, de Adauto Novaes (org.). Rio de Janeiro : Agir, 2007, 458p.

A rampa - Cahiers du Cinéma 1970-1982, de Serge Daney. Trad. Marcelo Rezende. São Paulo : CosacNaify, 2007, 248p.

Texto sentido, de Lau Siqueira. Recife : Bagaço, 2007, 66p.

O Menino da Paz [auto natalino], de Paulo de Tarso Correia de Melo. Natal : Fundação Cultural Capitania das Artes, 2007, 32p.


quinta-feira, 20 de dezembro de 2007


Cartum do gaúcho
Renato CANINI,
in Grafar,
um dos autores incluídos na
Antologia brasileira de humor


BALAIO PORRETA 1986
n° 2191
Rio, 20 de dezembro de 2007


O PRIMEIRO CRIME EM MANCHETE NOS DIAS DE HOJE
por ALDU (Alaor Dutra Oliveira)
[ in Antologia brasileira de humor ]

Escândalo no Paraíso
Crime horroroso no Paraíso
Deus expulsará Caim ainda hoje
Tragédia no Paraíso: Caim matou Abel
Polícia suspeita de Caim
Ciúme foi a causa do crime
Paraíso não é mais o mesmo
Pancadaria no Éden: um morto e vários feridos
Mundo transtornado chora a morte de Abel
Advogado do Diabo defenderá Caim
Paraíso perdido tem medo de outros crimes
Adão inconsolável: "Fiz tudo para evitar a tragédia"
Criminoso ainda comeu maçã depois do assassinato


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

Antologia brasileira de humor, por Adail [Adail José de Paulo] & outros. Porto Alegre : L&PM, 1976, 2v. [] Excelente coletânea de humor gráfico e humor verbal: o que de melhor existia, até então, em termos de produção brasileira na segunda metade do século passado. Basta conferir: Adail, Alcy, Aldu, Angeli, Benjamin, Canini, Caulos, Chico Caruso, Claudius, Coentro, Dirceu, Fortuna, Guidacci, Henfil, Karam. E mais: Juarez machado, Juska, Lapi, Luiz Gê, Luscar, Miguel Paiva, Miran, Nani, Paulo Caruso, Redi, Reinaldo, Santiago, Vilmar, Zélio. Há outros nomes, claro: Millor Fernandes, Luís Fernando Veríssimo, Leon Eliachar, por aí. Ao todo, são mais de 500 páginas.

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Nas próximas edições do Balaio:
Amanhã - Livros 2007
Sábado - Cinema 2007

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007


Ilustração de
Virgil Finlay
para a
Famous Fantastic Mystery,
em agosto de 1942


BALAIO PORRETA 1986
n° 2190
Rio, 19 de dezembro de 2007



MOMENTOS MÁGICOS DA FICÇÃO CIENTÍFICA

Um ilustrador:
O americano Virgil Finlay (1914-71)
Dois quadrinhos:
Flash Gordon (Raymond, 1934)
Barbarella (Forest, 1962)
Três filmes:
2001: uma odisséia no espaço (Kubrick, 1968)
Blade Runner - O caçador de andróides (Scott, 1982)
O dia em que a Terra parou (Wise, 1951)
Quatro livros:
Crônicas marcianas (Bradbury, 1950)
Billenium (Ballard, 1962)
A cidade e as estrelas (Clarke, 1956)
Solaris (Lem, 1961)


PERSPECTIVA
Henriqueta Lisboa
[ in Miradouro e outros poemas, 1976 ]

Longelua, como foi
que te sonharam os poetas
na parca visão de outrora?
Eras suspiro de nácar
eras intangível pétala?
Agora que te achas nua
no cosmo, que te pisaram
os homens com seus sapatos
e que os sábios te escalpelam
as rochas e outros entulhos,
talvez nunca mais te vejam
com o mesmo dulçor meus olhos
a contemplarem de esguelha
o que não há. Longelua...
Tão apenas Velalua.


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

Les chefs-d'oeuvre de la science-fiction, por Jacques Sternberg (org.). Paris : Planéte, 1970, 462p. [Livro adquirido em 1971, na Leonardo Da Vinci, no Rio] Sensível coletânea de contos, incluindo os clássicos Arena, de Fredric Brown, e Um som de trovão, de Ray Bradbury. A seleção dos autores, aliás, é ótima. Além de Brown e Bradbury, há que destacar as presenças de Arthur C. Clarke, Roger Zelazny, Philip Jose Farmer, Theodore Sturgeon, A.E. Van Vogt, Robert Scheckley, Brrian W. Aldisse, Philip K. Dick, H. P. Lovecraft (este, mais ligado à literatura fantástica, assim como Jorge Luis Borges, também presente com Tlön Uqbar Orbis Tertius), entre outros. Contudo, há duas lacunas imperdoáveis: Isaac Asimov e, sobretudo, J.G. Ballard. Voltemos aos pontos altos da antologia: os cadernos de ilustrações de Finlay, Dold, Wesso, Alejandro, Morey, e mais três ou quatro nomes. Mas sentimos a falta de Hannes Bok (1914-64). E de Albert Robida (1848-1926).

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É com Virgil Finlay que a angústia deixa de ser implícita. Embora o traço e a composição do desenhista norte-americano ainda guardem um certo academicismo, a sua arte representa uma trajetória para além das fronteiras do real, daquilo que percebemos através dos sentidos e elaboramos ao nível da consciência. Ele é o primeiro a abrir [na ficção científica] as portas ao inconsciente. (Mário PONTES. A ilustração na FC: evolução e impasse, in Revista de Cultura Vozes. Petrópolis, junho/julho 1972, p.48).

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007


Cartaz de
H. Gray (Henri Boulanger),

de 1899,
para as bicicletas Sirius
in
The pin-up,
de Mark Gabor


BALAIO PORRETA 1986
n° 2189
Rio, 17 de dezembro de 2007


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

The pin-up
; a modest history [1972], de Mark Gabor. Köln : Evergreen/Taschen, 1996, 274p. [] História, visualmente documentada, de estrelas & atrizes reais e imaginárias, que, de forma sedutora, atraíram ou ainda atraem o público masculino para os mais diversos produtos de consumo doméstico - ou não. Como, por exemplo, as bicicletas Sirius, no final do século XIX. Desenhadas ou fotografadas, foram e ainda são mulheres que sabem ser dengosas e desejáveis. Mais do que qualquer outra coisa, o livro de Mark Gabor é uma viagem no tempo, destacando a ousadia de artistas e editores em relação ao corpo da mulher, mulher essa que se apresenta(va) sempre jovem, sempre bela, sempre envolvente. Mas, de qualquer maneira, há, no livro, um capítulo dedicado ao corpo da figura masculina - "os heróis da tela" -, a partir de Ramon Novarro, que encantou a platéia feminina em Ben-Hur, de 1926. Apesar da presença de Novarro e outros, no final das contas The pin-up (e o nome já o diz!) termina por ser um inventário gráfico de anúncios publicitários que, em sua esmagadora maioria, atinge o mundo do homem.


INVENTÁRIO
Dailor Varela (RN/SP)
[ in Do meu caderno amarelo. Natal, 1994 ]

Para meus filhos
deixarei silêncios e
uma bicicleta azul que
nunca houve.
Deixarei poemas mal
escritos e palavras nunca
ditas por minha timidez
de poeta menor.
Deixarei um impreciso relógio
que cotidianamente me mata.


(RE)LEITURAS [COMPARATIVAS] DO MOMENTO

A gaia ciência [1882], de Friedrich Nietzsche. Trad. & notas Paulo César de Souza. São Paulo : Companhia das Letras, 2005, 362p.

A gaia ciência. Trad. Márcio Pugliesi, Edson Bini e Norberto de Paula Lima. São Paulo : Hemus, 1981, 294p.

A gaia ciência [fragmentos], in Os Pensadores. Trad. & notas Rubens Rodrigues Torres. Filho. São Paulo : Abril Cultural, 1974, p.195-231.

La ciencia jovial. Trad. & int. José Jara. Caracas : Monte Avila, 1990, 302p.

domingo, 16 de dezembro de 2007


Cartão-postal de Copacabana, Rio,
nos anos 20 do século passado

Imagem extraída de
CopacabAna de Toledo


BALAIO PORRETA 1986
n° 2188
Rio, 16 de dezembro de 2007


VIAGENS AO PASSADO

Imaginemos que vivemos num mundo digno das melhores histórias de ficção científica. À nossa disposição - e de todos os amigos e amigas - uma sofisticada máquina de viagem no tempo, em direção ao passado. Qualquer passado, qualquer lugar. Seria fascinante, não? Digamos que cada um de nós poderia optar por 13 viagens, com duração, cada uma delas, de 3 a 13 dias. Por que esses números? Nada de especial, garanto. Apenas gosto dos números 3 e 13. Mas não sou supersticioso, a não ser quando o assunto é futebol. Assim sendo, vamos aos fatos. Vamos às viagens.

No meu caso, eis as opções preferenciais em relação ao passado:

1.
Rio de Janeiro, 1941: para vibrar com o Fla-Flu da Lagoa, quando se decidiu o campeonato carioca do ano. O tricolor jogava pelo empate e os últimos seis minutos da partida (o Fluminense fizera 2 a 0, mas os rubro-negros empataram quase no final), os mais dramáticos da história do futebol mundial, duraram uma eternidade. O 2 a 2, por fim, deu o título ao clube das Laranjeiras.

2.
Caicó, Rio Grande do Norte: para viver com intensidade uma semana qualquer de 1820, 1821 ou 1822, ou mesmo 1828/29. Na época, a cidade seridoense talvez contasse com 200 ou 300 moradores em sua reduzida área urbana e o padre Brito Guerra, namorador que só ele, já dominava o cenário político da região. Já pensaram na magia do Poço de Santana, então?

3.
Natal, em dezembro de 1928: para sentir a cidade, com aproximadamente 25 mil habitantes, e presenciar, à distância, os encontros do Mestre Cascudo com Mário de Andrade. Além do mais, procuraria passar 13 dias entre a Redinha e Areia Preta, vagamundando, nas horas matutinas, pela Ribeira e pela Cidade Alta. Papoprosearia com Jorge Fernandes, por que não?

4.
São Petersburgo, Rússia, em outubro/novembro de 1917: para ver de perto o nascimento da revolução soviética. Talvez ouvisse os discursos inflamados do próprio Lênin. Encontraria uma maneira de viajar para Moscou, para conhecer Maiakóvski. Se possível. Decerto, o meu russo-seridoense não seria assimilado pelos moscovistas. E daí? Pouco importa(va).

5.
Copacabana, Rio, qualquer época entre 1920 e 1929. O bairro ainda não era a "princesinha do mar", mas já era, sem dúvida, um lugar maravilhoso: suas garotas, seu charme, seus encantos, suas ruas, suas praças, seus mistérios. Sua praia. A Praia de Copacabana. A Praia de todos os amores. A Praia de todas as ilusões. A Praia de todos os sonhos. A Praia de todos os azuis.

6.
Novamente Natal. A época? Final dos anos 40. Quando o Rio Grande foi inaugurado, com seus filmes que atraíam 1.500 pessoas nas sessões dominicais. Quando a esquerda era uma realidade dinâmica na capital potiguar. Quando o Grande Ponto reunia políticos, jornalistas e poetas ávidos pelas últimas novidades. Quando Maria Boa era um belo e importante cabaré.

7.
Palestina, primeiros anos da Era Comum: para ver, de perto, a morte de Cristo. Lenda, mito, ficção ou realidade? Muitas e muitas dúvidas poderiam desaparecer; muitos e muitos questionamentos poderiam (re)começar. Como dimensionar o cristianismo? Qual teria sido o verdadeiro papel de Cristo? E o de Madalena? Poderia confirmar - ou não - a ressureição?

8.
Paris, final da II Guerra Mundial: o dia da libertação. Os dias seguintes. A euforia das pessoas nas ruas da capital francesa. Os amantes perambulando pelos bairros mais tradicionais. Os filmes. Os vinhos. Os livros. Os jornais. As peças de teatro. Os crepúsculos. As auroras. As águas e os sonhos. A poética do devaneio. O combate ao nazismo, em todas as frentes.

9.
Veneza, 1910: para me emocionar com a estréia das Vésperas da Virgem, de Claudio Monteverdi. "Esta genial composição sacra, contemporânea das últimas obras de Shakespeare, é tão grandiosa e bela que nos poderíamos julgar chegados a uma espécie de apogeu da história da música" (Roland de Candé. As obras-primas da música, I. Porto, 1994).

10.
Havana, 1959: a vitória da Revolução Cubana. O (possível) contato com os guerrilheiros de Fidel Castro e Che Guevara. Sim, é verdade: Cuba deixava de ser um mero "quintal dos Estados Unidos" e transformar-se-ia numa esperança socialista. Cuba deixava de ser um reles "prostíbulo dos ricaços norte-americanos" e tornar-se-ia uma esperança revolucionária.

11.
Paris, maio de 1968: para, com emoção, participar das manifestações políticas dos estudantes, professores, poetas, cineastas e outros trabalhadores da cultura. Estaria ao lado daqueles que escreveriam nos muros da Cidade Luz: "É proibido proibir", "A imaginação no poder", "Sejamos realistas, almejemos o impossível", "Amai-vos uns sobre os outros". E mais. E muito mais.

12.
Brasil, litoral baiano, abril de 1500: ao lado dos índios, para ver e sentir aquelas estranhas embarcações, com aqueles homens igualmente estranhos, "achando" nossa terra e nossa gente. Como reagimos, de fato? Como nossos deuses se comportaram? Como sentimos o momento, plenamente? A Mata Atlântica (qual o seu nome original) era um colosso. O que fariam com ela?

13.
Região do Seridó, Rio Grande do Norte, 4 de novembro de 1917: para vivenciar o nascimento de um lugar, por muitos amado, por muitos desejado, por muitos vislumbrado - São José da Bonita. Ou São José de Todos os Encantos. Ou São José de Todos os Rios. Ou São José de Todos os Jardins. Ou São José de Todas as Águas. Ou, simplesmente, São José do Seridó.


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

Postaes do Brazil - 1893-1930, pesquisa & texto de Pedro Karp Vasquez. São Paulo : Metalivros, 2002, 240p. [Repeteco de um número anterior do Balaio, com novo texto] Uma viagem ao passado brasileiro através de alguns belos cartões-postais, reproduzidos com engenho e arte: uma viagem que contempla, por exemplo, a Praça 15 de Novembro, no Rio, postado em julho de 1926 (p.34-35); a enseada de Botafogo vista do alto do Corcovado, no Rio, em abril de 1911 (p.70); a Pedra da Itapuca na Praia de Icaraí, em Niterói, em abril de 1913; o Teatro Amazonas, em Manaus, em março de 1907 (p.122); o Mercado Ver-o-Peso e o casario da Travessa do Seminário, em Belém, em março de 1908 (p.132). Tem mais e mais e mais (ao todo, são 204 reproduções, mantendo as cores originais): uma vista geral de São Luiz, cartão postado em dezembro de 1911 (p.138); um trecho da Rua Paissandu, em Teresina, em dezembro de 1908 (p.142); a Rua Formosa, em Fortaleza, em janeiro de 1909 (p.1909); a Praça Augusto Severo, em Natal, em c1902 (p.152); a Igreja das Mercês, em Parahyba do Norte [atual João Pessoa], em c1910 (p.156-7); a Ponte Buarque de Macedo, em Recife, em novembro de 1906 (p.161). Há também cartões de Penedo (AL), Aracaju (SE), Salvador (BA), Ilhéus (BA), Vitória (ES), Belo Horizonte (MG), São Paulo (SP), Santos (SP), Cuiabá (MT), Goiás, hoje Goiás Velho (GO), Laguna (SC), Porto Alegre (RS), Caxias do Sul (RS). Nas referências cronológicas (p.227-28), há uma informação curiosa: 1 de outubro de 1869 pode ser considerada a data da criação oficial do cartão-postal, em Viena, Áustria. Outra curiosidade: a criação no Rio, em 1904, da primeira associação brasileira de colecionadores de cartões-postais, a Sociedade Cartophila; o poeta Olavo Bilac pertenceu a seus quadros. Enfim, em vários sentidos um livro maravilhoso. E que faz justiça à epígrafe de Theodor Adorno ao texto de apresentação da obra: "Não se trata de conservar o passado, mas de realizar suas esperanças".

sábado, 15 de dezembro de 2007


Um filme, um cartaz:
Cidadão Kane
(Welles, 1941)


BALAIO PORRETA 1986
n° 2187
Rio, 15 de dezembro de 2007



BEIJO
Bosco Sobreira
[ in A Pedra e a Fala ]

Na boca da noite
estrelas salivam fogo
e
mel


PARA ALICE RUIZ
Cássio Amaral
[ in Enten Katsudatsu ]

o futuro
é o claro
dentro do escuro


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

O cinema - Ensaios, de André Bazin. Intr. Ismail Xavier. São Paulo : Brasiliense, 1991, 326p. [] Os textos são dos anos 40 e 50, mas ainda mantém o mesmo frescor crítico, a mesma inquietação interpretativa, o mesmo alcance teórico, mesmo se levarmos em conta as conquistas semiológicas e psicanalíticas que alimentam, hoje, a Teoria Cinematográfica. São textos de um agente cultural que amava a "sétima arte", em seus múltiplos caminhos. São textos que nos fazem pensar sobre o tempo em Hulot/Tati, a escrita e a estilística de Bresson, o faroeste e a sua evolução, o realismo e o neo-realismo na Itália, a grande obra que é Umberto D. E assim por diante. "A função do crítico não é trazer numa bandeja de prata uma verdade que não existe, mas prolongar o máximo possível, na inteligência e na sensibilidade dos que o lêem, o impacto da obra de arte": a epígrafe de Bazin continua servindo de norte e nordeste metodológico para muitos de nós. Recorramos, por fim, à Introdução de Ismail Xavier: "... esta utopia da modernidade expressa de forma original na obra de Bazin, canto de cisne dos evangelhos do cinema, sem dúvida o mais brilhante".

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007


Imagem:
Alba Luna

in
Olhares


BALAIO PORRETA 1986
n° 2186
Rio, 14 de setembro de 2007


TERNURA
David Mourão-Ferreira
[ in Diário de Notícias, 1961 ]

Puxo sobre os teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do Sol,
quando depois do Sol não vem mais nada.
Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
em que uma tempestade sobreveio...
Começas a vestir-te lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...
Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!

[ Republicado in
Antologia da novíssima poesia portuguesa, 1961, p.106 ]


POESIA
Carito
[ in Os Poetas Elétricos ]

no soneto remeto minha poesia para certas rimas
mas ela no hai
cai

minha poesia está naqueles dias
sangrando...
são as regras!


40 ANOS DE POEMA/PROCESSO

Clique aqui para maiores informações sobre as comemorações do nosso movimento em Natal, com o poeta e artista Plínio Sanderson, no Bardalo's. Enquanto isso, a revista Brouhaha, da Fundação Cultural Capitania das Artes, prepara uma edição especial sobre o poema/processo. Será necessário espantar pela radicalidade, ainda hoje? Com a palavra, no Rio Grande do Norte, os poetas Anchieta Fernandes, Falves Silva, Jota Medeiros e Avelino de Araújo.


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

Por uma vanguarda nordestina, de Anchieta Fernandes. Natal : Fundação José Augusto, 1976, 130p. [] Uma crítica que se revela aberta, polêmica, instigante, procurando entender, teoricamente, a função do poema/processo no interior de outras vanguardas (dos anos 50 e 60) e sua interação criativa, enquanto realidade potiguar, com os demais Estados nordestinos. Documento histórico de algumas de nossas principais preocupações críticas, políticas e culturais da época. Será que a sua Nordestese - com suas complexidades estruturais - continua culturalmente válida? A História Literária responderá por Anchieta Fernandes e por todos nós.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007


Imagem: Haleh Bryan
in
Photo Net


BALAIO PORRETA 1986
n° 2185
Rio, 13 de dezembro de 2007


PEQUENO ATO DE AMOR I
Sheila Azevedo
[ in Bicho Esquisito ]

você é doce
triste
velho
criança
nuvem.
o homem que eu escolho
(todos os dias)
para ser meu
(um dia)


BANDIDO
Ada Lima
[ in Menina Gauche ]

Ele me levou tudo

das palavras escondidas
às roupas no varal

Sutil
como um serial killer.


(RE)LEITURAS DO MOMENTO

Grande e estranho é o mundo, de Ciro Alegría. Trad. Olga Savary. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1981, 424p.

O que sobrou do paraíso, de Jean Delumeau. Trad. Maria Lúcia Machado. São Paulo : Companhia das Letras, 2003, 566p.


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

Pequena estética, de Max Bense. Trad. Haroldo de Campos & outros. São Paulo : Companhia das Letras; EDUSP, 1971, 234p. /Coleção Debates, 30/ [] Uma das "bíblias teóricas" da poesia construtivista dos anos 50 e 60, renegada, então, pelo poema/processo. Mas a sua importância crítica é inegável para se entender parcela da vanguarda literária produzida entre nós e na Europa em anos de intensa agitação cultural: no caso brasileiro, anos de poesia concreta, de bossa nova, da construção de Brasília, de cinema novo (posteriormente, anos de tropicália e de poema/processo). Trata-se de uma estética fundada na semiótica abstrata, de matriz peirceana, marcadamente formalista. De qualquer modo, sua Teoria do Texto (p.171-3) e sua compreensão dos Textos visuais (p.175-9) ainda nos parecem significativas.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007


OLHO (1967),
de Anchieta Fernandes,
em releitura cromático-semiótica
de Regina Pouchain
[in Lambuja ]

11 de dezembro de 1967, em Natal
12 de dezembro de 1967, no Rio de Janeiro
40 anos do poema/processo


BALAIO PORRETA 1986
n° 2184
Rio, 11-12 de dezembro de 2007



É preciso espantar pela radicalidade.
(Poema/processo, 1967)


Poema/Processo de Laércio Bezerra (1967),
em versão de Moacy Cirne (1997)

[ in Poema/Processo 1967 ]


PARTICIPARAM DA FUNDAÇÃO DO POEMA/PROCESSO

Alvaro de Sá (RJ)
Anchieta Fernandes (RN)
Anselmo Santos (BA)
Ariel Tacla (RJ)
Dailor Varela (RN)
Falves Silva (RN)
Fernando Pimenta (RN)
Frederico Marcos (RN)
George Smith (RJ)
Hugo Bertolini (SC)
José Luiz Serafini (ES)
Marcos Silva (RN)
Moacy Cirne (RN/RJ)
Nei Leandro de Castro (RN)
Neide Dias de Sá (RJ)
Ribamar Gurgel (RN)
Sanderson Negreiros (RN)
Wlademir Dias Pino (RJ)
e outros


DO MANIFESTO LANÇADO EM NATAL

"A importância social do público como agente dinâmico na coparticipação criadora dos poemas - montando-os, colando-os, movimentando-os, rasgando-os, destruindo-os. poemas-cartazes, poemas-objetos, poemas-filmes. o consumo imediato".

domingo, 9 de dezembro de 2007


A água como vida,
a vida como arte,
a arte como poesia,
a poesia como paixão
em
José Gama
(1000 Imagens)


BALAIO PORRETA 1986
n° 2183
Rio, 9-10 de dezembro de 2007



100 LIVROS QUE ME FAZEM VIBRAR
segundo a minha leitura crítico-afetivo-libertinária

Ficção & Fantasia
1. Dom Quixote (Cervantes)
2. Grande sertão: veredas (Guimarães Rosa)
3. As aventuras de Tom Jones (Fielding)
4. A educação sentimental (Flaubert)
5. O vermelho e o negro (Stendhal)
6. Moby Dick (Melville)
7. Os demônios (Dostoiévski)
8. A vida e as opiniões de Tristram Shandy (Sterne)
9. Decameron (Boccaccio)
10. Ulisses (Joyce)
11. O pai Goriot (Balzac)
12. Guerra e paz (Tolstói)
13. Crime e castigo (Dostoiévski)
14. Os cantos de Maldoror (Lautréamont)
15. A montanha mágica (Mann)
16. Em busca do tempo perdido (Proust)
17. Bíblia: Velho Testamento (autoria coletiva)
18. As 1001 noites (autoria anônima)
19. Dom Casmurro (Machado de Assis)
20. O processo (Kafka)
21. Memórias póstumas de Brás Cubas (Machado de Assis)
22. Os Maias (Eça de Queiroz)
23. Luz de agosto (Faulkner)
24. Alice no País das Maravilhas (Carrol)
25. As viagens de Gulliver (Swift)
26. São Bernardo (Graciliano Ramos)
27. Ficções (Borges)
28. A invenção de Morel (Casares)
29. O estrangeiro (Camus)
30. A religiosa (Diderot)
31. Orlando (Woolf)
32. A dama do cachorrinho & outros contos (Tchecov)
33. A paixão segundo G.H. (Clarice Lispector)
34. Rayuela / O jogo da amarelinha (Cortázar)
35. Crônicas marcianas (Bradbury)
36. Billenium (Ballard)
37. A cidade e as estrelas (Clarke)
38. Bouvard e Pécuchet (Flaubert)
39. Mobile (Butor)
40. Histórias Extraordinárias (Poe)
41. O amante de Lady Chatterley (Lawrence)
42. Os irmãos Karamazov (Dostoiévski)
43. A volta ao mundo em 80 dias (Verne)
44. A guerra dos mundos (Wells)

Poesia, Classicismo & Teatro
1. A divina Comédia (Dante)
2. Hamlet (Shakespeare)
3. Ilíada (Homero)
4. Odisséia (Homero)
5. Othelo (Shakespeare)
6. Os lusíadas (Camões)
7. Macbeth (Shakespeare)
8. Édipo Rei (Sófocles)
9. Prometeu acorrentado (Ésquilo)
10. Medéia (Eurípides)
11. Paraíso perdido (Milton)
12. Eneida (Virgílio)
13. Fausto (Goethe)
14. Esperando Godot (Beckett)
15. Galileu Galilei (Brecht)
16. Vestido de noiva (Nelson Rodrigues)
Poesia & Modernidade
1. A ave (Wlademir Dias Pino)
2. As flores do mal (Baudelaire)
3. Un coup de dés (Mallarmé)
4. Poesias completas (Vladimir Maiakóvski)
5. Poesias completas (Fernando Pessoa)
6. A terra desolada (Eliot)
7. Poesias completas (Murilo Mendes)
8. Poemas (e.e. cummings)
9. O cão sem plumas (João Cabral de Melo Neto)
10. Folhas da relva (Whitman)
11. Poesias (Dickinson)
12. Cantos (Pound)
13. Romancero gitano (Lorca)
14. Poemics (Alvaro de Sá)
Cultura & Pensamento
1. Ensaios (Montaigne)
2. Manuscritos econômico-filosóficos (Marx)
3. A origem das espécies (Darwin)
4. O banquete (Platão)
5. A ideologia alemã (Marx & Engels)
6. Confissões (Santo Agostinho)
7. Arte retórica & Arte poética (Aristóteles)
8. A República (Platão)
9. A gaia ciência (Nietzsche)
10. Sobre a prática & Sobre a contradição (Mao)
11. Estética (Hegel)
12. Leviatã (Hobbes)
13. Elogio da loucura (Erasmus)
14. Sermões (Pe. Antonio Vieira)
15. A interpretação dos sonhos (Freud)
16. Confissões (Rousseau)
17. O Estado e a revolução (Lênin)
18. A poética do devaneio (Bachelard)
19. Do mundo fechado ao universo infinito (Koyré)
20. Dicionário filosófico (Voltaire)
21. Investigações filosóficas (Wittgenstein)
22. Metafísica (Aristóteles)
23. As palavras e as coisas (Foucault)
24. Manifesto do Partido Comunista (Marx & Engels)
25. Casa grande & senzala (Gilberto Freyre)
26. A água e os sonhos (Bachelard)

Considerações:
Embora, em Ficção & Fantasia, minhas opções finais tenham recaído em Verne e Wells, poderia perfeitamente ter optado por Nabokov (Lolita) e Conrad (O coração das trevas), ou por Musil (O homem sem qualidades) e Hammett (O falcão maltês), ou por Mann (Doutor Fausto) e Twain (As aventuras de Huckleberry Finn), ou ainda por Woolf (Mrs. Dalloway) e Hesse (O lobo da estepe), ou mesmo por Kafka (A metamorfose) e Guimarães Rosa (Corpo de baile). E o que dizer de Saramago (Memorial do convento) e Tolstói (Anna Karenina)? Ou da epopéia de Gilgamesh? Já em Poesia & Modernidade, há que pensar em Rimbaud e Oswald de Andrade como possíveis opções. E em Cultura & Pensamento, seria necessário que eu conhecesse melhor Ibn Klaldun e Tomás de Aquino para que os incluísse. De qualquer maneira, tudo é relativo, tudo é provisório. Parafraseando Fernando Pessoa, tudo vale a pena, se a visão do mundo (e da literatura) não é pequena.

sábado, 8 de dezembro de 2007


Um filme, um cartaz:
Bonequinha de luxo
(Edwards, 1961)


BALAIO PORRETA 1986
nº 2182
Rio, 8 de dezembro de 2007



ENFANT PHARE
Eduardo Sterzi
[ in Modo de Usar & Co. Rio : Berinjela, nov. 2007 ]

De um lado, a família puída, a
mobília entrevada, o
cadeado, o cheiro de
guardado e naftalina.

De outro, a noite corroída, a
saliva ácida: os ratos
luminosos, relâmpagos
amestrados.


Do BARÃO DE ITARARÉ
[ in AlManhaque, 2° semestre 1955 ]

Grave engano

Muitos homens casados falam do casamento como de uma desgraça, não percebendo que se trata apenas de uma besteira.

Ultimatum

O prefeito de Paraguaçu Paulista recebeu o seguinte ultimatum dos presos recolhidos ao presídio municipal: "Ou consertam esta cadeia ou nós fugimos!"


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

A arte do vídeo, de Arlindo Machado. São Paulo : Brasiliense, 1988, 226p. [] Os capítulos e subcapítulos tudo dizem, dizem tudo - Uma introdução à videosfera: democracia e televisão. O mosaico de retículas: tatuagens eletrônicas. A tela opaca: a intervenção do espectador. O eterno presente: verdades e mentiras. Editando em tempo presente: os três cortes da televisão. A imagem digital: uma geometria da desordem. O cinema eletrônico: experimentando a nova mídia. Na bibliografia, Theodor Adorno e Dominique Belloir.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007


Foto de Frank Tusch
in All Posters


BALAIO PORRETA 1986
n° 2181
Rio, 7 de dezembro de 2007


QUEBRAS E DOBRAS
Lívio Oliveira (Natal, RN)

Quebra-se o gelo
entre nossas línguas.
O suor escorre
entre os corpos,
atritando-se, alongados,
em bulícios contínuos.
O desassossego de nossa pele
se multiplica e alimenta
o novo ritmo
da dança impudica.
Costas, nádegas,
fronte, peitos, púbis.
Falo,
entrementes,
entredentes,
entrepernas
que não se saciam.
Curvas se delineiam
a todo cedo instante
em que estréiam
e se estufam
inditosos objetos.
As musculaturas
se franzem,
encrespam-se,
e, no momento seguinte,
explodem,
criando uma flora estranha,
indecifrável,
que pulsa,
cumulando espumas
que banham
a hora que nasce.


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

Memorial do Convento [1982], de José Saramago. São Paulo : DIFEL/Bertrand Brasil, 1987, 358p. [] Seria a obra-prima do autor lusitano? Talvez sim, talvez não. Trata-se de um romance que envereda pelas trilhas do realismo mágico? Talvez sim, talvez não. Um romance que "cria triunfalmente um mundo imaginário no qual as fantasias mais exuberantes brotam da objetividade da realidade cotidiana" (Reg Grant)? Talvez sim, talvez não. De qualquer modo, tudo começa em Portugal, no início do século XVIII, quando um rei tirano faz a promessa de levantar um grande convento em Mafra. "... descubram José Saramago e façam dele uma possessão ultramarina particular de cada um, e aproveitem" (José J. Veiga).

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007


Viagem no tempo:
Cartão postal da Praça Tiradentes (centro do Rio),
nos primeiros anos do século passado


BALAIO PORRETA 1986
n° 2180
Rio, 6 de dezembro de 2007



LIVROS, AUTORES & CREPÚSCULOS (2)

Eu vi uma coisa. Coisa mesmo. Eram dez horas da noite na Praça Tiradentes e o táxi corria. Então eu vi uma rua que nunca mais vou esquecer. Não vou descrevê-la: ela é minha. Só posso dizer que estava vazia e eram dez horas da noite. Nada mais. Fui porém germinada. (Clarice LISPECTOR. A descoberta do mundo [9/12/1967]. Rio de Janeiro : Rocco, 1999, p.51)

O universo interior de Clarice Lispector sempre desafiou seus leitores mais atentos. Dizer que se pautava em uma espécie de "delírio ontológico" talvez nos leve a divagações metafísicas sem maiores conseqüências críticas. Afinal, o seu "delírio" era por demais concreto, mesmo quando suas viagens literárias apontavam para a imaginação em transe. Não nos esqueçamos: Clarice é um dos nomes capitais da literatura brasileira. Ao lado de Machado, Graciliano e Guimarães Rosa. A rigor, um dos nomes capitais nos mais diversos sentidos.

Mas façamos um exercício de especulação ficcional. Tentemos descobrir que rua inesquecível era essa, uma rua que a germinou para todo o sempre. Seria uma Rua Perto do Coração Selvagem? Ou simplesmente uma Rua da Imaginação Delirante, Habitada por Fadas e Bruxas? Decerto, não se tratava da Rua da Carioca (ou se tratava?), nem tampouco da Rua da Constituição, muito menos da Rua Sete de Setembro ou da Avenida dos Passos, ou ainda da Rua Pedro Primeiro, ou da Rua Visconde do Rio Branco, que desemborcam na tradicional Praça Tiradentes.

Entre nuvens e neblinas, depois de reler alguns dos melhores contos de Ray Bradbury, acredito que Clarice Lispector simplesmente viajou para o passado, para os tempos do Rossio - futura Praça Tiradentes. Lá, por volta de 1825, existia o o Teatro de São João (transformado, décadas depois, no Teatro João Caetano) e a Rua da Carioca ainda era a Rua do Piolho. Na mesma época, no interior do Rio Grande do Norte, o famoso padre e político Brito Guerra era um dos maiores mulherengos de Caicó. Mas, claro, disso Clarice não sabia.

Mas devia saber que a Praça Tiradentes, que já fora Rossio, também fora Campo dos Ciganos. Antes mesmo de ser Rossio, quando não passava de um simples pantanal abandonado, longe da "civilização", habitado por alguns poucos ciganos, considerados "infames" pelos registros coloniais existentes. Na verdade, seu lugar de origem era a atual Rua da Constituição, que liga a Praça Tiradentes ao Campo de Santana, ou seja, Praça da República. Ouso dizer: Clarice Lispector, ucraniana de nascimento, era uma cigana da escrita.

Daí a sua viagem em dezembro de 1967, quando a Praça Tiradentes já era um espaço privilegiado de prostitutas, homossexuais e malandros de todas as espécies. Mas também era - e ainda é - o espaço do Teatro João Caetano, do Teatro Carlos Gomes e da gafieira Estudantina (aliás, será que ainda existe?), além, nas proximidades, do Centro de Artes Hélio Oiticica e do Real Gabinete Português. E mais: do centenário Bar Luiz, na Rua da Carioca. A Praça Tiradentes tem história (segundo dizem, foi lá que enforcaram o dito cujo, daí o nome).

A Praça Tiradentes tem história e histórias. Histórias de amantes desesperados, de loucuras inconfessáveis, de enforcamentos políticos. E de uma Clarice Lispector que um dia viu uma coisa: uma rua que, enquanto viveu, nunca mais saiu de sua lembrança. Provavelmente, a Rua do Piolho, sim, a Rua do Piolho, que abrigaria, no início do século XX, já como Rua da Carioca, o Cinema Íris. Sim, lembro-me perfeitamente de tê-la encontrado, nos idos de 1919, numa sessão do Íris. Para ver um filme de Tom Mix. Lembro-me bem do seu ar de felicidade quando a sessão terminou.


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

Memórias da Cidade do Rio de Janeiro, de Vivaldo Coaracy. Rio de Janeiro : José Olympio, 1965, 558p. [] Um livro para quem ama o Rio: sua história, sua gente, suas praças, seus largos, suas ruas, suas igrejas, suas lendas, seus feitiços, seus amores, seus primeiros teatros. Ricamente ilustrado, trata-se de um livro-homenagem: como historiografia memorialística, um verdadeiro canto de amor, que principia pelas louvações do pernambucano Manuel Bandeira e do mineiro Carlos Drummond de Andrade. Um livro para ser guardado com o necessário carinho por aqueles que sabem apreciar uma edição bem cuidada. Em texto bem escrito.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007


As horas
caem mansamente
e o silêncio
continua
a gritar
em mim

Texto e foto:
Claudia Perotti
[ in Olhares ]


BALAIO PORRETA 1986
n° 2179
Rio, 5 de dezembro de 2007


POEMA de
Luma Carvalho (Currais Novos, RN)
[ in Casarão de Poesia ]

de olhos vendados
hoje
a lua
nem flagrou
minha alma nua...


CLASSIFICADOS
de Ana de Santana (Caicó, RN)

Vende-se uma casa
Com vários vãos
E desvãos
Todos apetrechados
De máscaras e receitas de bolo
Ao redor
Árvores frondosas fazem a segurança

Vende-se um vestido de noiva
Todo bordado de quartos
Capelas e alpendres
Acompanha uma grinalda
De flores de laranjeira
E um spray para manter o cheiro natural

Também aceito troca
A casa por um cendero
O vestido por um candeeiro
E o resto por uma máquina de guardar idades


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

Todos os poemas, de Mário de Sá-Carneiro. Rio de Janeiro : Aguilar ; MEC, 1974. 148p. /Biblioteca Manancial 23/ [] Segundo o crítico e ensaísta Otto Maria Carpeaux, Sá-Carneiro (1890-1916) "é o mais estranho de todos os poetas portugueses", Estranho e extremamente criativo, acrescente-se. Num certo sentido, mais criativo e mais angustiado do que o próprio Fernando Pessoa, de quem, aliás, era grande amigo. Ou, pelo menos, mais antenado com a sua época. O próprio Pessoa dele afirmaria: "Gênio na arte, não teve Sá-Carneiro nem alegria nem felicidade nesta vida. ... Este morreu jovem, porque os Deuses lhe tiveram muito amor". Os dois fizeram parte da geração Orfeu, em Portugal, irrequieta e revolucionária para os padrões estéticos vigentes. A título de informação: aos 26 anos, Sá-Carneiro suicidou-se em Paris.


FRAGMENTOS DA POESIA DE SÁ-CARNEIRO

É só de mim que ando delirante -
Manhã tão forte que me anoiteceu.
(Álcool, in Dispersão [Todos os poemas, p.44])

Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto,
E hoje, quando me sinto,
É com saudades de mim.
...
(As minhas grandes saudades
São do que nunca enlacei.
Ai, como eu tenho saudades
Dos sonhos que nunca sonhei!...)
(Dispersão, in Obras citadas, p.48-49)

Sou esfinge sem mistério no poente.
(Estátua falsa, in Obras citadas, p.52)

Tenho medo de Mim. Quem sou? De onde cheguei?...
Aqui, tudo já foi... Em sombra estilizada,
A cor morreu - e até o ar é uma ruína...
(Epígrafe, in Indício de ouro [Todos os poemas, p.67])