quinta-feira, 31 de janeiro de 2008


Ilustração para a revista
Careta (Rio),
em fevereiro de 1909
in
Memória Viva

O grande sucesso carnavalesco do ano,
no Rio, seria a polca
No bico da chaleira,
de Juca Storini,
consagrando, então,
a expressão "chaleira" como sinônimo de bajulador.
Enquanto isso, no Recife,
igualmente em 1909,
explodia o frevo
Vassourinhas,
de Joana Batista e Mathias da Rocha.


BALAIO PORRETA 1986
n° 2221
Rio, 31 de janeiro de 2008


OS GRANDES SUCESSOS CARNAVALESCOS
a partir de 1922 (5)

Fala Mangueira (Mirabeau & Milton de Oliveira, 1956), samba
Quem sabe, sabe (Carvalhinho & Joel de Almeida, 1956), marcha
Turma do funil (Mirabeau, Milton de Oliveira & Urgel de Castro, 1956), marcha
Exaltação à Mangueira (Enéas Brites da Silva & Aloísio Augusto da Costa, 1956), samba
Formigão (Felinho, 1956), frevo
Saudade de Pernambuco (Genival Macedo, 1956), frevo
Na onda do passo (Gennaldo, 1956), frevo
Evocação (Nelson Ferreira, 1957), frevo-de-bloco
É de fazer chorar (Luiz Bandeira, 1957), frevo-canção
Fantasia de capim (Dozinho, 1957), frevo-canção
Vai com jeito (João de Barro, 1957), marcha
Pisando em brasa (Gennaldo, 1957), frevo
Madureira chorou (Carvalhinho & Júlio Monteiro, 1958), samba
Os rouxinóis (Lamartine Babo, 1958), marcha-rancho
Frevo nº 3 (Antônio Maria, 1958), frevo-canção
Evocação n° 2 (Nelson Ferreira & Osvaldo Santiago, 1958), frevo-de-bloco
Voltei, Recife (Luiz Bandeira, 1959), frevo-canção

Chora doutor (J. Piedade, Orlando Gazzaneo & J. Campos, 1959), samba
Vai ver que é (Carvalhinho & Paulo Gracindo, 1959), marcha
Meu carnaval (J. Maia & Max Nunes, 1959), marcha-rancho
Me dá um dinheiro aí (Homero, Ivan & Glauco Ferreira, 1960), marcha
Frevo do bairro de São José (Nelson Ferreira, 1960), frevo-de-troça


SOBRE O FREVO

"Contrariando a opinião de alguns puristas, pode-se dizer que existem três tipos de frevo: o frevo-de-rua, inteiramente instrumental; o frevo-canção, com introdução instrumental, vibrante, sincopada, e duas partes cantadas; e o frevo-de-bloco, de forma idêntica à do frevo-canção, porém de andamento mais lento. A diferença entre os dois últimos corresponde, digamos, à diferença entre a marchinha e a marcha-rancho. Pertence à terceira categoria a bela composição Evocação, em que Nelson Ferreira recorda velhos carnavais recifenses, citando nominalmente agremiações (Bloco das Flores, Andaluzas, Pirilampos) e personagens lendários (Felinto, Pedro Salgado, Guilherme, Fenelon) da história do frevo. Lançado sem maiores pretensões pela gravadora pernambucana Mocambo, com o pessoal do bloco Batutas de São José, Evocação se tornaria o maior sucesso do Carnaval de 1957, sobrepujando a produção do eixo Rio-São Paulo" (Jairo SEVERIANO & Zuza Homem de MELLO. A canção no tempo; 85 anos de músicas brasileiras, v.I. São Paulo : Ed. 34, 1997, p.329-30).

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008


LAN
e o carnaval carioca
Imagem
extraída do álbum
É hoje! (1978)
in
Artes


BALAIO PORRETA 1986
n° 2220
Rio, 30 de janeiro de 2008


OS GRANDES SUCESSOS CARNAVALESCOS
a partir de 1922 (4)

Tomara que chova (Paquito & Romeu Gentil, 1951), marcha
Último dia (Levino Ferreira, 1951), frevo

Lágrimas de folião (Levino Ferreira, 1951), frevo
Frevo n° 1 (Antônio Maria, 1951), frevo-canção
Retrato do Velho (Haroldo Lobo & Marino Pinto, 1951), marcha
Madalena (Ari Macedo & Airton Amorim, 1951), samba
Papai Adão (Klecius Caldas & Armando Cavalcanti, 1951), marcha
Às três da tarde (Lídio Macacão, 1951), frevo
Freio a óleo (José Menezes, 1951), frevo
Lata d'água (Luís Antônio & Jota Júnior, 1952), samba
Maria Candelária (Klecius Caldas & Armando Cavalcanti, 1952), marcha
Sassaricando (Luís Antônio, Jota Júnior & Oldemar Magalhães, 1952), marcha
Relembrando o Norte (Severino Araújo, 1952), frevo
Clarins da madrugada (Baltazar de Carvalho, 1952), frevo
Confete (David Nasser & Jota Júnior, 1952), marcha
Cachaça (Lúcio de Castro, Heber Lobato, Marinósio Filho & Mirabeau, 1953), marcha
Zé Marmita (Luís Antônio & Brasinha, 1953), samba
Barracão (Luís Antônio & Oldemar Magalhães, 1953), samba
A fonte secou (Monsueto Menezes, Raul Moreno & Marcléo, 1954), samba
História da maçã (Haroldo Lobo & Milton de Oliveira, 1954), marcha
Abre-alas (Belém, B. Lobo & Hinha, 1954), samba

Piada de salão
(Klecius Caldas & Armando Cavalcanti, 1954), marcha
Isquenta muié
(Nelson Ferreira, 1954), frevo
Maria Escandalosa (Klecius Caldas & Armando Cavalcanti, 1955), marcha
Mora na filosofia (Monsueto Menezes & Arnaldo Passos, 1955), samba
Recordar (Aldacir Louro, Aloísio Marins & Adolfo Macedo, 1955), samba
Ressaca (Zé da Zilda & Zilda do Zé, 1955), marcha
Tem nego bebo aí (Mirabeau & Airton Amorim, 1955), marcha
Micróbio no frevo (Genival Macedo, 1955), frevo-canção
Vão me levando (Dozinho, 1955), frevo-canção
Tiradentes (Mano Décio da Viola, Estanislau Silva & Penteado, 1955), samba-enredo


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

É hoje!, de Lan (desenho) & Haroldo Costa (texto). Pref. Lena Frias. São Paulo; Rio de Janeiro : Irmãos Vitale, 1978. [] Maravilha das maravilhas: o traço do caricaturista Lan sobre as expressões emblemáticas (como o botequim, os instrumentos musicais, as mulatas) e as grandes figuras que fazem e/ou fizeram o carnaval e as escolas-de-samba do Rio, sublinhado pelos textos precisos de Haroldo Costa. "... o primeiro [livro] no gênero a fazer o registro gráfico do samba no Rio de Janeiro. Dia a dia. A vida e a vida do samba carioca" (Lena Frias). São muitos os "retratados", sempre de forma expressiva: Cartola, Nelson Cavaquinho, Isabel Valença, Jamelão, Nega Pelé (que ilustra a presente postagem), Dona Neuma, Xangô da Mangueira. E mais: Natal da Portela, Zé Keti, Paulinho da Harmonia, Mestre Fuleiro, Silas de Oliveira, Mano Décio da Viola, Dona Ivone Lara. E muito mais. E muito mais: Casemiro Calça Curta, Noel Rosa de Oliveira, Djalma Sabiá, Geraldo Babão, Duduca, Elton Medeiros, Martinho da Vila, Sérgio Porto.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008


Imagem:
Monica Fuchshuber
(2004)

Clique aqui
para ver o sítio
da designer e ilustradora


É FREVO, MEU BEM
(Capiba, 1950)

Pernambuco tem uma dança
Que nenhuma terra tem
Quando a gente entra na dança
Não se lembra de ninguém

É Maracatu?
Não, mas podia ser
Não será o Baião?
Não, mas podia ser
É o Bumba-Meu-Boi?
Não, mas podia ser
É a Dança de Roda?
Quero ver dizer!

É uma dança que vai e que vem
Que mexe com a gente
É Frevo, meu bem!

É uma dança que vai e que vem
Que mexe com a gente
É Frevo, meu bem!

( Para ouvi-lo, recomendamos a interpretação de
Claudionor Germano
em
Mestre Capiba, por Raphael Rabello e convidados
[ Acari Records, 2002, grav. 1994-95 ] )


BALAIO PORRETA 1986
n° 2219
Rio, 29 de janeiro de 2008


OS GRANDES SUCESSOS CARNAVALESCOS
a partir de 1922 (3)

Mexe com tudo (Levino Ferreira, 1941), frevo
Alá-lá-ô (Antônio Nássara & Haroldo Lobo, 1941), marcha
Aurora (Mário Lago & Roberto Roberti, 1931), marcha
O bonde de São Januário (Wilson Batista & Ataulfo Alves, 1941), samba
Helena, Helena (Antônio Almeida & Constantino Silva, 1942), samba
Praça Onze (Herivelto Martins & Grande Otelo, 1942), samba
Ai, que saudades da Amélia (Ataulfo Alves & Mário Lago, 1942), samba
Nega do cabelo duro (Rubens Soares & David Nasser, 1942), batucada
Nós, os carecas (Roberto Roberti & Arlindo Marques Júnior, 1942), marcha
Buliçosa (Zumba, 1942), frevo
Cinco horas da manhã (Ari Barroso, 1943), samba
Vassourinhas (Joana Batista & Matias da Rocha, 1909; Variações [Felinho, 1944]), frevo
Atire a primeira pedra (Ataulfo Alves & Mário Lago, 1944), samba
Cecília (Roberto Martins & Mário Rossi, 1944), marcha
A hora é essa (Zumba, 1944), frevo
Isaura (Herivelto Martins & Roberto Roberti, 1945), samba
Que rei sou eu (Herivelto Martins & Valdemar Ressurreição, 1945), samba
Coitado do Edgar (Haroldo Lobo & Benedito Lacerda, 1945), samba
Espanhola (Benedito Lacerda & Haroldo Lobo, 1946), marcha
Entre na fila (Levino Ferreira, 1947), frevo
Morena cor de canela (Capiba, 1947), frevo-canção
Anda Luzia (João de Barro, 1947), marcha
Odalisca (Haroldo Lobo & Geraldo Gomes, 1947), marcha
O periquito da Madame (Nestor de Holanda, Carvalhinho & Afonso Teixeira, 1947), marcha
É com esse que eu vou (Pedro Caetano, 1948), samba
Cadê Zazá (Roberto Martins & Ari Monteiro, 1948), marcha
Tira-teima (Carnera, 1948), frevo
Chiquita Bacana (João de Barro & Alberto Ribeiro, 1949), marcha
Pedreiro Valdemar (Roberto Martins & Wilson Batista, 1949), marcha
Jacarepaguá (Paquito, Romeu Gentil & Marino Pinto, 1949), marcha
Balzaqueana (Antônio Nássara & Wilson Batista, 1950), marcha
General da Banda (Sátiro de Melo, Tancredo Silva & José Alcides, 1950), samba
Nega maluca (Fernando Lobo & Evaldo Rui, 1950), samba
A coroa do rei (Haroldo Lobo & David Nasser, 1950), saamba
Daqui não saio (Paquito & Romeu Gentil, 1950), marcha
Lá vai veneno (Zumba, 1950), frevo
Frevo da meia-noite (Carnera, 1950), frevo
Gostosão (Nelson Ferreira, 1950), frevo
Hino da Pitombeira (Alex Caldas, 1950), frevo-de-rua
É frevo, meu bem (Capiba, 1950), frevo-canção
Sonhei que estava em Pernambuco (Clóvis Mamede, 1950), frevo-canção

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008


Recife Carnaval Frevo

Foto de
Nivaldo Almeida Filho
in
TrekEarth Com



BALAIO PORRETA 1986
n° 2218
Rio, 28 de janeiro de 2008



TEM UM LANCE DE LUA NO NÉON
Angela Melim
[ in Vale o escrito. Rio, 1981 ]

Tem um lance de lua
no néon, a lua é fria
a mulher ri
agulha
o salto da sandália devagar
mergulha - de verniz, cintila - e voa
fura
todas as letras do hotel gritam no céu.


OS GRANDES SUCESSOS CARNAVALESCOS
a partir de 1922 (2)

Cidade maravilhosa (André Filho, 1934), marcha
O orvalho vem caindo (Noel Rosa & Kid Pepe, 1934), samba
Linda lourinha (João de Barro, 1934), marcha
Ride palhaço (Lamartine Babo, 1934), marcha
A cuíca tá roncando (Raul Torres, 1835), batucada
Vou cair no frevo (Capiba, 1935), frevo-canção
É bom parar [Por que bebes tanto assim, rapaz?] (Rubens Soares, 1936), samba
Pierrô apaixonado (Noel Rosa & Heitor dos Prazeres, 1936), marcha
Cadê Mimi (João de Barro & Alberto Ribeiro, 1936), marcha
Pirata (João de Barro & Alberto Ribeiro, 1936)
Querido Adão (Benedito Lacerda & Osvaldo Santiago, 1936), marcha
Mamãe eu quero (Jararaca & Vicente Paiva, 1937), marcha
Como vais você (Ari Barroso, 1937), marcha
Lig-Lig-Lig-Lé (Paulo Barbosa & Osvaldo Santiago, 1937), marcha
Abre a janela (Arlindo Marques Jr. & Roberto Roberti, 1938), samba
Pastorinhas (João de Barro & Noel Rosa, 1938), marcha
Touradas em Madri (João de Barro & Alberto Ribeiro, 1938), marcha
Yes, nós temos bananas (João de Barros & Alberto Ribeiro, 1938), marcha
Periquitinho verde (Antônio Nássara & José de Sá Roris, 1938), marcha
Seu condutor (Alvarenga, Ranchinho & Herivelto Martins, 1938), marcha
A jardineira (Benedito Lacerda & Humberto Porto, 1939), marcha
Quem tem amor não dorme (Capiba, 1939), frevo-canção
Florisbela (Antônio Nássara & Erastóstenes Frazão, 1939), marcha
Sei que é covardia (Ataulfo Alves & Claudionor Cruz, 1939), samba
Ó seu Oscar (Wilson Batista & Ataulfo Alves, 1940), samba
Não sei o que fazer (Capiba, 1940), frevo-canção
Linda flor da madrugada (Capiba, 1940), frevo-canção


DISCOS QUE ME EMOCIONAM

Pernambuco falando para o mundo, de Antonio Nóbrega [Brincante BR 0003, grav. 1998]. Com Adriano Busko,Bré e Gabriel Almeida, na percussão; Antonio Bombarda e Oswaldinho, no acordeão; Cláudio Faria e Enoque Chagas, no trompete; Daniel Allain e Eugênia Nóbrega, na flauta e flautim; Spok, no sax alto; Marco César, no bandolim, cavaquinho e viola; Antonio Nóbrega, no violino e rabeca. E outros. Entre as várias faixas, do mais saboroso requinte popular, há uma versão quase camerística do célebre Vassourinhas e uma seleção de Capiba absolutamente inolvidável, incluindo De chapéu-de-sol aberto, Oh! Bela, Cala a boca menino, Frevo e ciranda, além de Trombone de prata. Há, ainda o frevo Formigão, de Felinho (Félix Lins de Albuquerque, 1895-1980). Para que tenhamos idéia da importância de Felinho, basta dizer que ele é o criador, nos anos 40, das variações rítmicas que fizeram e fazem de Vassourinhas (1909) o sucesso maior do carnaval pernambucano como entendemos até hoje. Enfim, um disco para se ouvir não apenas nos dias de folia: um disco para se ouvir em qualquer época do ano.

domingo, 27 de janeiro de 2008


Pierrô, Arlequim e Colombina
(1922)
Di Cavalcanti
[óleo sobre tela: 78 x 65cm ]


BALAIO PORRETA 1986
n° 2217
Rio, 27 de janeiro de 2008



VERDADE
Yasmine Lemos
[ in Rascunhos ]

O que eu escrevo
Muitas vezes nem eu acredito
O que eu te falo
Nem eu mesmo me digo
O que eu sinto:
Tenha medo profundo!
É o meu amor,
O meu mundo.


UMA CITAÇÃO ESPORRENTA
Se Deus existe, ele é ateu.
(Bruno Gaudêncio, in Mal Estar Imperfeito ]


GRANDES SUCESSOS CARNAVALESCOS
a partir de 1922 (1)

Ai seu Mé (Freire Júnior & Careca, 1922), marcha
Eu só quero é beliscá (Eduardo Souto, 1922), marcha
Macumba gegê (Sinhô, 1923), samba
O casaco da mulata (Careca, 1924), samba
Zizinha (José Francisco de Freitas & outros, 1926), marcha
Café com leite (Freire Júnior, 1926), maxixe
Pinta, pinta melindrosa (Freire Júnior, 1926), marcha
Dondoca (José Francisco de Freitas, 1927), marcha
Dorinha, meu amor (José Francisco de Freitas, 1929), samba
Na Pavuna (Homero Dornelas & Almirante, 1930), samba
Pra você gostar de mim [Taí] (Joubert de Carvalho, 1930), marcha
Iaiá, Ioiô (Josué de Barros, 1930), marcha
Frevo pernambucano (Luperce Miranda & Oswaldo Santiago, 1930), frevo
Com que roupa (Noel Rosa, 1931), samba
Se você jurar (Ismael Silva & outros, 1931), samba
Vamo se acabá (Nelson Ferreira, 1931), frevo
A E I O U (Lamartine Babo & Noel Rosa, 1932), marcha
O teu cabelo não nega (Irmãos Valença & Lamartine Babo, 1932), marcha
Arrasta a sandália (Aurélio Gomes & Osvaldo Vasques, 1933), samba
Fita amarela (Noel Rosa, 1933), samba
Linda morena (Lamartine Babo, 1933), marcha
Moreninha da praia (João de Barro, 1993), marcha
Até amanhã (Noel Rosa, 1933), samba
Formosa (Antônio Nássara & J. Rui, 1933), marcha
É de amargar (Capiba, 1933), frevo-canção


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

Ameno Resedá; o Rancho que foi Escola, de Jota Efegê. Pref. Edison Carneiro. Rio de Janeiro : Letras e Artes, 1965, 182p. [] Documento historiográfico sobre a associação carnavalesca que marcou época nos cortejos momescos cariocas das primeiras décadas do século XX. Fundado em 1907 - curiosamente, quando o frevo era "batizado" na Recife de todos os dengos e de todas as pernambucálias nordestinas -, o Ameno Resedá, nascido na Ilha dePaquetá, é aqui lembrado com "inestimável documentação material e humana" (Edison Carneiro). Sua trajetória até 1932, quando chegou ao fim, é traçada de forma amorosa por Jota Efegê. Para os pesquisadores do carnaval carioca, um livro imprescindível.

sábado, 26 de janeiro de 2008

Soneto Visual
de
Avelino de Araújo
(RN)

Republicado igualmente
in Poema Processo


BALAIO PORRETA 1986
n° 2216
Rio, 26 de janeiro de 2008


OS ÚLTIMOS FILMES (RE)VISTOS
Cotações:
*** (excelente); ** (ótimo); * (especialmente bom)
Sem cotação: razoável e/ou interessante

O sol ** (Sokúrov, 2005), no CCBB
Sempre bela * (Oliveira, 2006), no CCBB
Ouro carmin (Panahi, 2003), no CCBB
Vício e beleza (Cheng-Sheng, 2001), no CCBB
Em casa:
Jeanne Dielman, 23 Quai de Commerce, 1080 Bruxelles *** (Akerman, 1975)
Dans le noir du temps *** (Godard, 2002), curta/episódio
O vento nos levará * (Kiarostami, 1999)
Diário de uma prostituta ** (Marcelo Ikeda, 2007), curta/vídeo
[R] A carruagem de ouro *** (Renoir, 1952)


PARA UMA FILMOGRAFIA BÁSICA

Jeanne Dielman, 23 Quai du Commerce, 1080 Bruxelles (Bélgica/França, 1975)
de Chantal Akerman
com Delphine Seyrig
[] Uma obra-prima não se constrói fácil, assim como, muitas vezes, não se faz fácil a sua leitura. Um filme como Jeanne Dielman ..., da diretora belga Chantal Akerman, com suas 3:20h em pouquíssimos ambientes cenográficos, é rigoroso exemplo da mais perfeita e ousada (anti)narratividade minimalista: formalmente contidos são os seus planos e enquadramentos, as suas cores interiores, os gestos de seus personagens, a sua trilha sonora (composta, basicamente, de pequenos ruídos e inevitáveis silêncios), a sua ação dramática aparentemente - mas só aparentemente - nula (a lembrar os "tempos mortos" de Antonioni, a tessitura formal de Straub & Huillet, o absurdo temático de corte camusiano). O tédio e o gesto gratuito da mulher (DS) no final são, ao mesmo tempo, perturbadores e sufocantes. O filme em nenhum momento se deixa seduzir; neste particular, aproxima-se de Straub e não de Antonioni. A diretora, com seu rigor exasperante, dilacerado, visceral, faz do cinema a própria especificidade cinematográfica. Por outro lado, seu olhar sobre o mundo pequeno-burguês de uma dona-de-casa viúva, que recorre à prostituição para sobreviver com um mínimo de dignidade possível, é cruel e desencantado. E o final, trágico, até mesmo por seu absurdo, não poderia ser outro. Neste sentido, o último plano do filme, por mais frio e racional que seja (de resto, como os demais planos da obra), carrega, em seu interior, as marcas de uma emoção inesperada, sobretudo porque a tragédia que o contém não estava anunciada nas 3:15h da trama conteudística até aquele momento, lenta e pausadamente construída como se fora a dolorosa engenharia de alguns raros sentimentos não-explicitados. Sem dúvida, um filme para poucos; um filme como poucos.


DICIONÁRIO DO DIABO
/Fragmentos/
de Ambrose Bierce (1842-1913)

Advogado : Pessoa hábil em burlar a lei.
Deplorável : O estado de um inimigo ou adversário após um choque imaginário conosco.
Diplomacia : A arte honrosa de mentir pela pátria.
Fidelidade : Virtude própria dos que estão prestes a ser traídos.
História : Crônica quase sempre falha, de acontecimentos quase sempre sem importância, causados por governantes quase sempre velhacos e por soldados quase sempre imbecis.
Liberdade : Um dos mais preciosos bens da imaginação.
Paciência : Forma menor de desespero, disfarçada como virtude.
Patriotismo : No famoso dicionário do Dr. Johnson, o patriotismo é definido como o último refúgio dos patifes. Com todo o respeito devido a um esclarecido mas inferior lexicógrafo, peço licença para sugerir que seja o primeiro.
Santo : Um pecador revisto e corrigido.
Virtudes : Certas abstenções.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008


A arte de
JOAN MIRÓ
(1893-1983)


BALAIO PORRETA 1986
n° 2215
Rio, 25 de janeiro de 2008


DO QUE PASSOU
Lara de Lemos
[ in Dividendos do tempo. Porto Alegre, 1995 ]

Não me tragam memórias
de velhos tempos idos.

Deixem-me a sós comigo.

Cada poema tem o seu motivo,
cada gota de vinho tem seu travo
que não se repete noutro copo.

É preciso degustá-lo
sem agravos
e esquecer o que não foi bebido.


Cinema
RECOMENDAMOS, EM NATAL
Medos privados em lugares públicos ** (Resnais, 2006)


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

Joan Miró, de João Cabral de Melo [Neto]. Rio de Janeiro : Ministério da Educação e Saúde - Serviço de Documentação, 1952, 48p. /Os Cadernos de Cultura/ [] Um pequeno grande livro: exercício de admiração ou leitura amorosa? Análise criativa ou crítica impressionista? Um pouco de tudo? Um pouco sobre tudo? Em última análise, o que se tem, nestas páginas (incluindo duas ilustrações coloridas do pintor nascido em Barcelona), é um olhar crítico-amoroso voltado para uma dada sensualidade plástico-expressional. O rigor formal de Cabral, na poesia, abre-se conceitualmente para o rigor informal de Miró, na arte: dois gênios que, em pleno século XX, souberam compreender os signos emblemáticos de um verdadeiro humanismo criador: a sua linha composicional, se, num primeiro momento, é "elegante ou harmoniosa" (nas palavras de Cabral, p.23), num segundo momento, anos 40, busca "a criação de novas melodias" (p.23). Trata-se, bem entendido, de uma melodia gráfica, capaz de fazer da surpresa pictórica o espaço aberto, e mesmo essencial, de uma vibração sígnica instigante entre a linha e a cor. "Em Miró, mais do que em nenhum outro artista, vejo uma enorme valorização do fazer. Pode-se dizer que, enquanto noutros o fazer é um meio para chegar a um quadro, para realizar a expressão de coisas anteriores e estranhas a esse mesmo realizar, o quadro, para Miró, é um pretexto para o fazer. Miró não pinta quadros. Miró pinta" (p.33).

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008


Poema concreto
de
Décio Pignatari
(1957)


BALAIO PORRETA 1986
n° 2214
Rio, 24 de janeiro de 2008


DRUMMONDIANA
Alice Ruiz
[ in Antonio Miranda ]

e agora maria?

o amor acabou
a filha casou
o filho mudou
teu homem foi pra vida
que tudo cria
a fantasia
que você sonhou
apagou
à luz do dia

e agora maria?
vai com as outras
vai viver
com a hipocondria

[ Cf. José, de Carlos Drummond de Andrade ]


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

Poesia pois é Poesia, de Décio Pignatari. São Paulo : Duas Cidades, 1977, 208p. [] Do verso à poesia concreta e a o poema semiótico: a explosão criativa do grupo Noigandres, uma das bases do concretismo literário entre nós (as outras são as vertentes produtivas de Wlademir Dias Pino e Ferreira Gullar). O que se vê aqui? O verso pouco usual de O carrossel (1950) e Rumo a Nausicaa (1952). E a poesia concreta propriamente dita: terra (1956), coca cola (1957), LIFE (1957), OrganismO (1960). Além de poemas francamente visuais como Cr$isto é a solução (1967), os ideogramas verbais (1968) e o D. Quimorte (1968). Há outras experiências, talvez menos significativas. Registre-se, de igual modo, a expressividade de seus poemas políticos: é o caso da antipropaganda da coca-cola. No fundo, o poema quer dizer: "Não beba coca-cola, que não passa de cloaca". E embora o cruzeiro tenha sido substituído pelo real, não se pode negar a atualidade de Cr$isto é a solução. Afinal, em nome de Cristo, alguns pseudo-religiosos enriquecem ilicitamente, explorando a ingenuidade e a boa-fé de muitos. Haja vista o exemplo da Igreja Universal do Reino de Deus. Haja vista o exemplo da igreja Renascer em Cristo.


NO MUNDO DOS BLOGUES
Recomendamos:
Kaká, o ingênuo garoto-propaganda da Renascer,
de Milton Ribeiro,
in Improvisações sobre literatura, música, cinema...

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008


La Magie Noire
(1935)
de
René Magritte


BALAIO PORRETA 1986
n° 2213
Rio, 23 de janeiro de 2008


POETAS, POEMAS & POESIA
Moacy Cirne
[ in Balaio, n° 1470. Rio, 3/2/2002 ]

1. A partir do modernismo, são múltiplos os caminhos da poesia brasileira e todos podem ser válidos, desde que explorados com a devida competência, a devida sensibilidade, a devida honestidade literária. A partir do modernismo, tudo se tornou possível. Embora não possamos ignorar a poesia anterior, evidentemente. Como ignorar a poesia de um Gregório de Matos?

2. "Tudo vale a pena,/ se a alma não é pequena" (Fernando Pessoa). Eis uma citação que, na história literária brasileira do século XX, abre-se para a imaginação do leitor, como essa, de Oswald: "Ver com olhos livres".

3. Decerto, podemos gostar mais desse ou daquele poema, dessa ou daquela tendência, desse ou daquele poeta. Admirar em larga escala um Murilo Mendes, um João Cabral, ou um Manuel Bandeira, não quer dizer que não nos sensibilizemos diante de um Carlos Pena Filho, de um Ronaldo Werneck, de um Lau Siqueira, de um Celso Japiassu, de uma Iracema Macedo, de uma Cecília Meireles, por exemplo.

4. Gostar de poesia verbal, versificada ou não, não quer dizer que não sejamos capazes de admirar a poesia gráfica e/ou visual. Ou vice-versa. Todos os caminhos podem ser válidos, repetimos. Assim como, para um poeta oriundo da classe trabalhadora, em sendo nordestino, o cordel será um caminho natural, tão importante quanto qualquer outro.

5. Um crítico também tem as suas preferências, e como tal precisa ser respeitado. Como qualquer um de nós, eventualmente comete injustiças, ou equívocos. Se for um crítico sério, mais cedo ou mais tarde saberá reconhecê-las, saberá reconhecê-los. Se excessivamente formalista, se excessivamente acadêmico-universitário, seus possíveis erros de avaliação, em acontecendo, serão lamentáveis, mas a boa poesia a eles resistirá. Com bravura. Com tenacidade. Dependendo da situação, haverá dificuldades em se resistir, claro.

6. Contudo, não façamos da vaidade e do ressentimento os pilares de nosso quase sempre justo descontentamento com a política literária vigente entre poetas, críticos e professores de letras do país. Não caiamos na fórmula fácil do ataque gratuito, sem maior fundamentação crítica e/ou teórica.

7. Há equívocos e equívocos, certamente. Por exemplo: não podemos confundir a política literária do Grupo Noigandres da poesia concreta, danosa para o próprio poema experimental brasileiro pós-64, com a produção literária de Décio Pignatari e Augusto de Campos, que, em sendo de boa qualidade, merece ser respeitada.

8. Em poesia - conjunto de soluções formais e estruturais -, há poetas revolucionários e poetas que são mestres (cf. Ezra Pound: inventores, mestres, diluidores etc.). Mas há, sobretudo, poetas que são bons, que são significativos e há poetas que são ruins, pouco expressivos.

9. Para uns e outros, aprendamos com Gaston Bachelard: sejamos leitores felizes.

10. Aprendamos também com o filho de Oswald de Andrade: "poesia é a descoberta das coisas que eu nunca vi". Afinal, poesia é vida.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008


Costurando, pintando e bordando... e dançando
com
Sandra Camurça
in
O Refúgio


BALAIO PORRETA 1986
n° 2212
Rio, 22 de janeiro de 2008


POEMA
de Armando Freitas Filho
[ in 3x4. Rio, 1985 ]

Beijo
sua boca
de
baixo.
Seus bellos cabellos
molhados.
Beijo tanto e tão
com a cara toda
enfiada e cega
sem ver nada com os olhos
mas com a língua inteira.


ESTAÇÕES
Antonio Carlos de Brito / Cacaso
[ in Beijo na boca. Rio, 1975 ]

Do corpo de meu amor
exala um cheiro bem forte.

Será a primavera nascendo?


HAI-CAI
de Cássio Amaral
[ in Enten Katsudatsu ]

todo dia me suicido
lembrando que nunca envelheço
meu preço é ser inocente



A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

Os escritores; as históricas entrevistas da Paris Review, por Marcos Maffei (sel.). Pref. Sérgio Augusto. São Paulo : Companhia das Letras, 1988, 328p. [] Material originalmente publicado entre 1957 e 1986. Basta ver a relação dos autores entrevistadas para se ter uma idéia do livro: William Faulkner, Georges Simenon, Ezra Pound, T.S. Eliot, William Burroughs, Saul Bellow, Jorge Luis Borges, Gore Vidal. E outros.Vejamos algumas das respostas, ao acaso:
"Um escritor precisa de três coisas: experiência, observação e imaginação, sendo que duas dessas, às vezes até mesmo uma, podem suprir a falta das outras" (Faulkner, p.46);
"Escrever não é uma profissão, mas uma vocação de infelicidade. Não penso que um artista possa jamais ser feliz" (Simenon, p.56);
"Acho tremendamente perigoso dar conselhos gerais. Creio que o melhor que se pode fazer por um jovem poeta é criticar em detalhe um determinado poema seu. Discutir com ele, se necessário; dar-lhe uma opinião, e, se houver uma generalização a fazer, que ele mesmo a faça" (Eliot, p.99);
"A maioria das pessoas não vê o que está acontecendo à sua volta. Esta é a minha principal mensagem para os escritores. Pelo amor de Deus, mantenham seus olhos abertos" (p.143);
"... a inteligência tem pouco a ver com a poesia. A poesia brota de algo mais profundo; está além da inteligência" (Borges, p.212).
E há uma confissão deliciosa do autor argentino, sobretudo para os cinéfilos que amam os musicais americanos: Borges viu muitas vezes West side story / Amor, sublime amor, de Wise & Robbins, produzido em 1961 (cf. p.201).

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008


Poema de
Paulo de Toledo
in
Poesia e outras bobagens


BALAIO PORRETA 1986
n° 2211
Rio, 21 de janeiro de 2008



OLHO NAS PRATELEIRAS
de Carito
[ in Os Poetas Elétricos ]

Aparelho de barbear para peles sensíveis, pasta de dentes para dentes frágeis e gengivas delicadas...

Mas não há nada para corações sensíveis, frágeis, delicados...

Supermercado reeira.


REFLETIR
de Eliene Dantas
[ in ACCAS na Net ]

esquecer
para não esquecer
de me esquecer
o que esquecer
no meu esquecer


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

Poesias completas
, de Joaquim Cardozo. Rio de Janeiro : Civilização Brasileira, 1971, 210p. [] Ainda há leitores para o poeta (pernambucano) de Signo estrelado, de 1960, Trivium, de 1970, e Mundos paralelos, igualmente de 1970. Eu sou um deles. Com seus eventuais grafismos paraconcretos, o que importa mesmo, no poeta-engenheiro Joaquim Cardozo, é a precisão lírica de seus versos. Alguns exemplos:
Sob o caminho de muitas luas
O teu corpo floresceu.
(Menina, p.25)
Cavalos ligeiros
De eriçadas crinas
Por que sobre as ondas
Passais sem parar?
(Espumas do mar, p.37)
Luzia, dos teus cabelos
Farei o vento da noite;
Farei as ondas serenas
De um mar por onde me afoite
Em busca da luz polar;
De tuas graças morenas,
Luzia, por que a ventura
A mim me queres negar?
(Fragmentos de uma conjectura dramática, p.83).
Veja-se, ainda, o lirismo erótico-amoroso que explode neste belo
Poema do amor sem exagero (p.26):
Eu não te quero aqui por muitos anos
Nem por muitos meses ou semanas,
Nem mesmo desejo que passes no meu leito
As horas extensas de uma noite.
Para que tanto Corpo!
Mas ficaria contente se me desses
Por instantes apenas e bastantes
A nudez longínqua e de
pérola
Do teu corpo de nuvem.

domingo, 20 de janeiro de 2008


Cartaz
in
All Posters


BALAIO PORRETA 1986
n° 2210
Rio, 20 de janeiro de 2008



POEMETO IRÔNICO
de Bruno Gaudêncio
[ in Mal Estar Imperfeito ]

Deus existe.
Mas está escondido
Na música de Bach.

O diabo existe.
Mas está escondido
Na música de Bar.


POEMA
de Tati F.
[ in Crânio e Gavetas ]

É com horror
e alegria
que percebo:

a menina no espelho
sou eu.


MAPEANDO UM PROJETO
de Romário Gomes
[ in ACCAS na Net ]

sou um poeta/processo
quando prefiro uma aurora a um crepúsculo
quando prefiro São José do Seridó a São José da Bonita

são josé (do seridó) em duas mil e sete versões
são josé (da bonita) em noventa e uma mil versões

São José
pintada de
verdeesperança
e
vermelhorevolução


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

Ficção completa, poesia & ensaios, de Edgar Allan Poe. Trad. Oscar Mendes & Milton Amado. Rio de Janeiro : Aguilar, 1965, 1022p. [Volume adquirido em Natal, nos anos 60] Os contos policiais. E os contos de terror e mistérios. As viagens fantásticas e as aventuras fabulosas. Os ensaios e os poemas. Em síntese: um grande Autor, um grande Livro. Entre os contos, há obras-primas que nos parecem indiscutíveis: William Wilson, Eleonora, O retrato oval, O coração dennciador, O barril de amontilado. Há uma novela primorosa: Narrativa de Artur Gordon Pym. Há as várias traduções do poema O corvo. Há outros poemas. E há os ensaios. "A maior parte das viagens fantásticas escritas no século XVIII não são senão artifícios para descrever utopias sociais. A viagem imaginária de Poe tem uma tonalidade mais profunda, mais cósmica. Poe é um aventureiro da solidão" (Gaston BACHELARD. Le droit de rêver [1970]. Paris : PUF, 1973, p.138-9).

sábado, 19 de janeiro de 2008


Blogueando pelos sonhos virtuais da imaginação

Foto de
Haleh Bryan


BALAIO PORRETA 1986
n° 2209
Rio, 19 de janeiro de 2008


Cinema
ÚLTIMOS FILMES [RE]VISTOS
Principais cotações:
***
(excelente); ** (ótimo); * (especialmente bom)
Sem cotação: apenas razoável e/ou interessante

Tilaï ** (Ouedrago, 1990), no CCBB
Finyé / O vento ** (Sisé, 1982), no CCBB
Drum * (Maseko, 2004), no CCBB
Atonement / Desejo e reparação * (Wright, 2007), no São Luiz
Heremakono (Sissako, 2002), no CCBB
Em casa:
Vinyl *** (Warhol, 1965)
Velvet Underground & Nico ** (Warhol, 1967)
Sarabanda ** (Bergman, 2003)
The cut-ups ** (Balchi & Burroughs, 1966), curta
[R] A carruagem de ouro *** (Renoir, 1952)
[R] Três homens em conflito *** (Leone, 1966)


PARA UMA FILMOGRAFIA BÁSICA

A carruagem de ouro (Itália, 1952)
De Jean Renoir
Com Anna Magnani, Duncan Lamont, Paul Campbell
[] Em colorido deslumbrante, uma deliciosa homenagem à Commedia dell'Arte: em país imaginário da América espanhola, no século XVIII, uma trupe de atores ambulantes faz uma pequena revolução nos costumes conservadores da região. Anna Magnani, em interpretação antológica, é a atriz maravilhosa que a todos enfeitiça, inclusive o vice-rei com sua carruagem de "fogo". Uma jóia rara do cinema europeu dos anos 50. [Cópia disponível em DVD, pela Versátil/BetaFilm]

Vinyl (USA, 1965)
De Andy Warhol
Com Edie Sedgick, Tosh Carrillo, Gerard Malanga, J.D. McDermott
[] Em 63 minutos, uma câmera absolutamente estática (ao contrário da câmera enlouquecida de Velvet ...). Dois ou três planos, apenas. E, mesmo assim, fascinante: o cinema underground por excelência. Antes de Kubrick. em 1971, o polêmico artista plástico Warhol adaptou, exatamente com esse filme, Laranja mecânica: a violência do início e a violência do final, com toques sado-masoquistas e homossexuais, são referências fortes na adaptação do livro de Burgess. [Cópia disponível em DVD, pela Magnus Opus]


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

Brasil revisitado; palavras e imagens, de Carlos Guilherme Mota & Adriana Lopez (ed.). São Paulo: Rios, 1989, 200p. [] Tudo começa com uma epígrafe de Gregório de Matos: "Que me quer o Brasil,/ que me persegues?" A partir daí, folheando com prazer a coletânea de imagens e citações, pode-se acrescentar: O Brasil me quer? Eu quero o Brasil? O Brasil me sonha? Eu sonho o Brasil? O Brasil me constrói? Eu construo o Brasil? O Brasil me desfigura? Eu desfiguro o Brasil. Pelo sim, pelo não, pelo talvez, façamos uma viagem pelas trilhas & veredas que fazem o nosso país: Pero Vaz de Caminha e Almeida Júnior, Padre Antônio Vieira e Victor Meirelles, Guiumarães Rosa e Guignard, Joaquim Felício dos Santos e Debret, Vinicius de Moraes e Rugendas, Lima Barreto e Thomas Ender, Raymundo Faoro e Victor Frond, Mário de Andrade e Tarsila do Amaral, Jomard Muniz de Britto e Hélio Oiticica. A palavra e a imagem. A escrita e o olhar. Os brasileiros e o Brasil. Para se lamentar: a ausência de cartunistas & quadrinhistas, com exceção de Millôr Fernandes.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008


Sertões da Paraíba

Foto de
Lisbeth Lima
in
Flor de Craibeira


BALAIO VERMELHO 1986
n° 2208
Rio, 18 de janeiro de 2008


POEMA
de Ronaldo Santos
[ in 14 Bis. Rio, 1979 ]

um lance de dados jamais abolirá os doidos

um lance de doidos jamais abolirá os dados


AOS IMIGRANDES
de Lara de Lemos
[ in Dividendos do tempo. Porto Alegre, 1995 ]

Meus mortos estão guardados
em mim mesma.
Por isso não os procuro
em sepulturas.

Encontro-os
no labirinto dos sonhos
em longas noites
escuras.


POÉTICA
de Cassiano Ricardo
[ in Jeremias Sem-Chorar. Rio, 1964 ]

1

Que é a Poesia?

uma ilha
cercada
de palavras
por todos
os lados

2

Que é o Poeta?

um homem
que trabalha o poema
com o suor do seu rosto.
Um homem
que tem fome
como qualquer outro
homem.


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

Jeremias Sem-Chorar, de Cassiano Ricardo. Rio de Janeiro : José Olympio, 1964, 160p. [Adquirido em Natal, na Universitária, em agosto de 1964] Quem ainda lê o paulista Cassiano Ricardo nos dias atuais? Talvez seja a hora de se voltar para os seus inspirados versos; aqui, em alguns textos, francamente marcados pela influência da poesia concreta, em poemas como 'Translação', 'Gagarin' e 'A máquina e seus prefixos', quando o próprio verso é abolido. Na última página, algo me chama a atenção - algum amigo natalense escreveu em letras bem acabadas, sem especificação de data: "O melhor livro da poesia moderna do Brasil!" Parece ser a letra de Nei Leandro de Castro; preciso confirmar com ele. (Mas talvez seja a letra de Luís Carlos Guimarães, não sei.) E a opinião dada, pensando na produção poética brasileira até 1964, permanece inalterada? Talvez sim, talvez não. De qualquer maneira, trata-se de um belo livro, cujo autor se revela em versos como "Manhã fêmea, manhã gêmea./ Fruto para a minha fome/ que está na tua boca; pois/ na tua é que a minha come" ('Vidro duplo', p.70).

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008


Nu feminino
(c1853)
de
Eugène Durieu

in
Photo icons
[ Taschen, 1996, p.26 ]


BALAIO PORRETA 1986
n° 2207
Rio, 17 de janeiro de 2008


ADIVINHA
Orides Fontela
[ in Teia. São Paulo, 1996 ]

O que é impalpável
mas
pesa

o que é sem rosto
mas
fere

o que é invisível
mas
dói.


AUTO-EPITÁFIO n° 2
José Paulo Paes
[ in Socráticas. São Paulo, 2001 ]

para quem pediu sempre tão pouco
o nada é positivamente um exagero


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

Photo icons; Petite histoire de la photo [1996], de Hans-Michael Koetzle. Paris; Köln; Hong Kong; Los Angeles; Madrid; Tokyo : Taschen, 2005, 352p. [] Mapeamento crítico-histórico e gráfico-visual de fotos emblemáticas, entre 1827 e 1991. As reproduções são perfeitas, como a do Nu (p.26), segundo a visão sofisticada de Eugène Durieu (1800-74), em associação com o pintor Eugène Delacroix: a fotografia, já em seu início, ou quase, começava a ser arte. Muitas vezes, arte e encantamento, como a série dedicada a Sarah Bernhardt por Nadar (1820-1910), em 1864 (p.54ss); arte e realismo, como a famosa Mulher cega, em 1916 (p.150), de Paul Strand (1890-1976); arte e experimentalismo, nos anos 20 (p.158ss), por Man Ray (1890-1976); arte e jornalismo, como Morte de um soldado republicano, de 1936 (p.178), por Robert Capa (1913-54). Há outras referências icônicas, igualmente analisadas com agudeza interpretativa: Toulouse-Lautrec em seu gabinete (1894, p.80), de Maurice Guilbert; Alemanha 1945 (1945, p.206), um dos trabalhos mais cultuados de Henri Cartier-Bresson; as últimas fotos de Marilyn Monroe (1962, p.252ss), de Bert Stern; Che (1963, p.264), de René Burri; Kwait (1991, p.332), de Sebastião Salgado. Há outros nomes, outros ícones, outras descobertas. Afinal, com a fotografia, mesmo a mais amadora, o nosso olhar faz do "congelamento" estético um espaço aberto para a memória e a emoção. Decerto, há obras com maior número de informações. Por exemplo: A concise history of photography, de Helmut & Alison Gernsheim (London : Thames and Hudson, 1965, 314p), ou, então, com aparato crítico mais fascinante. É o caso de Susan Sontag em Ensaios sobre fotografia.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008


Entardecer em Portugal:
aviões sobrevoando o Alentejo

Foto de
Eduardo Cândido
in
Olhares


BALAIO PORRETA 1986
n° 2206
Rio, 16 de janeiro de 2008


FRASEPOEMA
de Vítor Freire
[ in Não consigo ir embora de mim a pé ]

Nem toda tristeza é triste.


DIonisíACO
de Mario Cezar
[ in Coivara ]

esqueci que sou completo de amarguras.


POEMA/PROCESSO: ANTIPROJETO n° 10
de Moacy Cirne
[ in Objetos verbais. Rio, 1979 ]

releia este poema com a máxima atenção.


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

Construtivismo - Origens e evolução [1967], de George Rickey. São Paulo : Cosac & Naify, 2002, 240p. [] O legado da produção construtivista, em arte e arquitetura: o mundo nã0-figurativo na Rússia revolucionária. A Bauhaus e o novo mundo. A ordem clássica e as novas idéias sobre o espaço: a imagem centralizada e o concretismo. Ilustrações: Tatlin, El Lissitzki, Gabo, Calder, Malevitch, Mondrian, Feitelson. E muitos e muitos e muitos e muitos e muitos outros: Poons, Riley, Gerstein, Talman, Agam, Tomasello, Graevenitz. E mais uma porrada de gente. Enquanto isso, em 1967 surgia o poema/processo: a semiotização cangaceira do imprevisível contra o monstro sagrado da poesia concreta. Novos tempos: novos conceitos, novas grafias, novas políticas culturais. E se não criamos na ocasião, criamos agora, sem qualquer vestígio construtivista, a Lanchonete dos manjares poéticos: o de manga manhosa (manga, leite, licor de pêssego e um pouco de aurora deslumbrada), o de chocolate doidão (chocolate, leite, licor de café, guaraná em pó e dois poemas de Carlos Pena Filho), o de abacaxi volúvel (abacaxi, hortelã, cupuaçu e um crepúsculo barroco). Como opção, caldo-de-cana com pão doce. Colocar-se-á à venda, de igual modo, uma discreta máquina de filmar sonhos, através de Paulo Bruscky, em Recife, às margens do Rio Amazonas, entre Caicó e São José da Bonita, pertolongeporto de Jardim do Seridó. Jomard Muniz de Britto, cadê você? Cadê você, Dailor Varela?

terça-feira, 15 de janeiro de 2008


Currais Novos, RN

Foto de
Assis Silva
in
Picasaweb.Google


BALAIO PORRETA 1986
n° 2205
Rio, 15 de janeiro de 2008


CURRAIS NOVOS (1890-1976)
Luís Carlos Guimarães
[ in Ponto de Fuga. Natal, 1979 ]

No ciclo da pastorícia,
os currais novos e bem acabados
(construídos numa elevação
pelo Coronel Cipriano Lopes Galvão,
pernambucano de Igaraçu,
no sítio de sua propriedade)
deram nome à fazenda,
depois à capela,
ao povoado,
à vila,
ao município,
à comarca
e à cidade.
Currais Novos
por sorte não teve outro nome,
numa homenagem ao que,
pelo gado,
foi depositado entre as cercas,
adubo futuro das várzeas ribeirinhas
aos rios Totoró e Maxinaré.


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

Sobre a prática & Sobre a contradição [1937], de Mao Tse-tung, in Mao Tse-tung - Política, org. Emir Sader. São Paulo : 1982, p.79-125 /Grandes Cientistas Sociais, v.30/ [] Sei, sei: hoje se questiona o "revolucionarismo" de Mao, mas Sobre a prática e Sobre a contradição permanecem como textos fundamentais para a compreensão filosófica do marxismo no decorrer do século XX: "O conhecimento humano depende essencialmente da atividade do homem na produção material" (p.79), dizia Mao. E mais dizia: "Se se quer conhecer o sabor de uma pera, há que transformá-la, há que comê-la. ... Se se quer conhecer a teoria e os métodos da revolução, há que participar dela. Todo conhecimento autêntico nasce da experiência direta" (p.84). E dizia mais: "Qualquer processo, natural ou social, avança e se desenvolve em razão de suas contradições e lutas internas" (p.90), o que, aliás, faria com que eu investisse mais ainda no aprofundamento prático e teórico do poema/processo - matrizes e projetos de uma luta (anti)literária e (contra)ideológica no calor das emoções políticas vividas por todos nós. Viajante de cinematecas imaginárias e de sonhos impublicáveis, no lugar de Bense, Moles, Peirce e McLuhan, endeusados pelos poetas concretos da paulicéia tresvairada, eu investia, no campo da poética, em Macherey, Badiou, Althusser, Lênin, Marx e Mao. Há, ainda, para completar, um fato de ordem pessoal que me liga visceralmente a esses dois textos: em 1968, militante do POC - Partido Operário Comunista, fui incumbido de traduzi-los para distribuição clandestina no circuito universitário do Rio. Cumpri a tarefa com entusiasmo juvenil, revelo publicamente pela primeira vez, 40 anos depois, a partir das edições francesas da Maspero. Infelizmente, depois do AI5, fui obrigado a me desfazer da cópia (mimeografada) da tradução e de vários livros da Maspero, cujos títulos, até então, eram vendidos abertamente na Leonardo Da Vinci, ponto de encontro de intelectuais de todas as tendências políticas e culturais em terras cariocas: um espaço democrático por excelência. Até hoje. Até sempre.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008


Foto de
Bruno Souto
in
1000 Imagens


BALAIO PORRETA 1986
nº 2204
Rio, 14 de janeiro de 2008


POEMA
Wescley J. Gama (RN)]
[ in A Taberna ]

mulheres lavavam roupa
no olho d'água
cantando a brancura que renascia.


À LUTA, À LUTA
Moacy Cirne (RN/RJ, 1980)
[ Republicado in Balaio, n° 158, de 23/05/1989 ]

à luta, à luta,
companheiro,
que a hora é de lutar e sonhar,
de sonhar e lutar.

à luta, à luta,
doce amiga,
que a hora é de lutar e amar,
de amar e lutar.

à luta, à luta,
trabalhador,
que a hora é de lutar e avançar,
de avançar e lutar.

à luta, à luta,
caro poeta,
que a hora é de
que a hora é de
que a hora é de construir
e trans/formar.


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

The great comic book heroes, compiled, introduced and annotated by Jules Feiffer. New York : Bonanza Books, 1965, 190p. [Adquirido em São Paulo, na Livraria Gibi, em 1971] As aventuras iniciais (na maioria das vezes) de alguns dos mais famosos heróis e super-heróis americanos, do período 1938-42, incluindo Super-Homem, Batman, Capitão Marvel, Tocha Humana, Flash, Lanterna Verde, Mulher Maravilha, Namor - o Príncipe Submarino, Capitão América, Homem de Borracha, The Spirit. Registre-se que Feiffer é um grande autor (cartunista e quadrinhista), cuja obra oscila entre o político e o existencial. Na verdade, o presente álbum é uma preciosidade - um dos favoritos da minha biblioteca.

domingo, 13 de janeiro de 2008


Vaqueiros seridoenses
ao pôr-do-sol,
em Parelhas, RN

Foto
de
Hugo Macedo


BALAIO PORRETA 1986
n° 2204
Rio, 13 de janeiro de 2008


LEMBRETE
Carito (Natal, RN)
[ in Os Poetas Elétricos ]

o distante
existe


POEMA
Sandra Camurça (Recife, PE)
[ in O Refúgio ]

no seu olhar
o meu olhar (di)vaga-
lumes!


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

Bodas em Tipasa [Bodas, 1938, e O verão, 1954], de Albert Camus. Trad. Sérgio Milliet. São Paulo : Difusão Européia do Livro, 1964, 124p. [Adquirido por volta de 1964-65, na Livraria Universitária, em Natal]. Um (duplo) livro extremamente amoroso: um hino à vida, mesmo levando em conta o seu absurdo e as suas perplexidades. Parecia-me uma obra tão apaixonante, e ao mesmo tempo tão "natalense", que, na ocasião de seu lançamento entre nós, a presenteei a vários de meus amigos e amigas potiguares. Era preciso compartilhar a beleza de suas páginas com o maior número possível de pessoas. Era preciso que também saboreassem, com prazer, as palavras do autor franco-argelino, que nos daria O estrangeiro (1942) e A peste (1947): "Compreendo aqui [seja a Argélia, seja o Rio Grande do Norte] aquilo que se chama glória: o direito de amar sem medida" (p.10); "Quando fico algum tempo longe dessa terra [para ele, a Argélia; para mim, o Seridó], sonho com seus crepúsculos como promessas de felicidade" (p.26). Ou, de igual modo, palavras como: "... a esperança, ao contrário do que se imagina, equivale à resignação. E viver não é resignar-se" (p.33); "Não há mais desertos. Não há mais ilhas. Há, entretanto, necessidade de desertos e de ilhas. Para compreender o mundo, é preciso por vezes afastar-se dele; para melhor servir os homens, mantê-los durante um momento a distância" (p.51). Continuemos, continuemos: "Os mitos não têm vida por si mesmos. Aguardam que os encarnemos" (p.82). Uma cidade se mede pela leitura de seus poetas, de seus artistas, de seus professores, de seus estudiosos, pela preservação viva de sua memória e pela paixão que alimenta seus clubes de futebol, dos mais simples aos mais poderosos, dos mais fuleiros aos mais aguerridos. Aliás, é bom registrar, Albert Camus era um verdadeiro entusiasta do futebol. Chegou, inclusive, a praticá-lo.