terça-feira, 30 de junho de 2009

Galope

Meu coração
é um cavalo louco

sangrando como o sol
atrás das colinas.

Foto & Poema:
Sônia Brandão
(in Pássaro Impossível)


BALAIO PORRETA 1986
n° 2708
Rio, 20 de junho de 2009


Ah, que coisa insuportável, a lucidez das pessoas fatigadas! Mil vezes a obtusidade dos que amam, dos que cegam de ciúmes,
dos que sentem falta e saudade.

(Antônio MARIA, 12/9/1959, in O jornal de Antônio Maria, 1968)


UNIVERSO
Juan Ramón Jiménez
Trad. Manuel Bandeira
[ in Poemas traduzidos, 1956 ]

Teu corpo: ciúmes do céu.
Minhalma: ciúmes do mar.
(Pensa minhalma outro céu.
Teu corpo sonha outro mar.)


SEM CERIMÔNIA
Líria Porto
[ in Tanto Mar ]

ele me quis - entreguei-me
ofereci-me em bandeja

cheirou-me lambeu-me
partiu-me em mil pedaços
e sem usar guardanapo
comeu-me

deixou o resto
às baratas

: os ratos tiram proveito


MUDA
Ada Lima
[ in Menina Gauche ]

Não sei falar, por isso ecrevo.
Mas estou desaprendendo a escrever.


TEXTO
Mario Cezar
[ in Coivara ]

a verdade
é o olho âmbar

que te abriga

AURORAS DE TEMPOS ANTIGOS
Assim eram os cartões eróticos



ENQUANTO ISSO, em Honduras, o golpismo militaresco tomou conta do país. E a democracia foi para o brejo, ou para coisa pior. Aqueles que viveram (e sentiram no corpo, no coração e na cabeça) o terror de 1964 no Brasil sabem muito bem o que significa na carne um golpe contra as instituições. Por mais burguesas que elas possam ser.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Imagem de
Nossa Senhora da Esperança de Triana
(Sevilha, Espanha)
Padroeira dos ciganos e dos homossexuais

Foto:
Javier Tortosa


BALAIO PORRETA 1986
n° 2707
Rio, 29 de junho de 2009


Não sabemos quem escreveu os evangelhos. Quando apareceram, eles circularam anonimamente, e só mais tarde foram atribuídos a figuras importantes da Igreja primitiva. Os autores eram cristãos judeus, que ... redatores competentes, editaram materiais
anteriores.

(Karen ARMSTRONG. A Bíblia - uma biografia, 2007)


O LIVRO DOS LIVROS

SEGUNDO TESTAMENTO

1.
O livro de Maria Maria

E o Coral do Seridó,
constituído por Lucas, Mateus, João e Marcos,
em ritmo de xote marroquino,
cantou para os povos da madrugada:

Em São José, no sítio Caatinga Grande,
há um casal humilde e trabalhador -
Joaquim Branco, o marido; Santana de Santana, a mulher.
Os dois teem uma filha mui formosa;
Maria Maria é o seu nome.
E se Joaquim é vaqueiro e Santana doceira é,
Maria Maria, aos 16 anos, já é bordadeira das boas,
com seus jasmins, girassois e querubins,
com seus cajás, bogaris e maracujás.
E Maria Maria, morenice moreneza,
foi prometida em casamento a Zé da Carpintaria,
cara honesto, esforçado e caladão,
um verdadeiro galado(¹) do sertão.
Mas a jovem, donzela e recatada,
depois de suas tarefas domésticas,
gostava de caminhar. E caminhava.
E numa dessas caminhadas pelo sítio,
na direção da Passagem das Traíras,
sozinha, com seus sonhos e sua morenitude,
um rapaz esbelto e boa pinta encontrou.
Ligeiramente agalegado, com roupas brancas e douradas,
logo se apresentou:
"Ave, cheia de graça! Eu sou Gabriel Trovador".
Sua cara de anjo tanta confiança inspirava
que a jovem Maria Maria segui-lo resolveu.
E por duas horas os dois juntos ficaram.
E os dois riam e os dois se olhavam.
E os dois se doçuravam.
E Gabriel Trovador, por fim, lhe disse:
"És uma jovem tão maravilhosa e tão envolvente
que dentro de nove meses serás mãe de um ser especial".
"Como assim?", espantou-se Maria Maria,
"Ainda não me casei".
"Não importa", falou Gabriel Trovador,
"o pai da criança é um espírito também especial".
"Preciso voltar para casa, posso vê-lo de novo?",
suspirou a filha de São José, com tristeza no olhar.
"Não, sou um viajante das estrelas
e para outros mundos preciso partir".
E Gabriel Trovador partiu.
E Maria Maria, em clima de raro alumbramento,
voltou para casa. A noite já se anoitecia.
E Maria Maria de repente sentiu-se tocada pela poesia.
E cantou para si mesma,
num misto de apreensão e felicidade:
"Eu me celebro como os ramos de jurema
que se deitam sobre as águas.
Ai, meu doce anjo trovador,
de boas novas anunciador,
só a mulher é trigo,
só seu ventre multiplica,
e por isso é eterna,
e por isso é terra"(²).

Naquela noite Maria Maria começou a tecer
o mais belo bordado de sua vida.

Próximo capítulo:
O nascimento de Aijesus da Cruz

Notas:

(¹) Galado : Sortudo (no presente caso). Dependendo do contexto, há outros significados para galado, em geral depreciativos.
(²) Os dois primeiros e mais o quinto, o sexto e o sétimo versos, milagrosamente, seriam redimensionados por uma poeta seridoense do séc. XXI da Era Comum, a curraisnovense Maria José Gomes, através de dois poemas.

domingo, 28 de junho de 2009

OBRAS-PRIMAS DO CINEMA
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o trêiler de
O processo
(Orson Welles, 1962)


BALAIO PORRETA 1986
n° 2706
Rio, 28 de junho de 2009

1. Como pensar a relação cinema/literatura dentro de uma perspectiva crítica moderna capaz de contemplar mediações culturais pertinentes aos bens simbólicos que constituem as duas linguagens?; 2. Como entender a passagem de um discurso seco, sem maiores arroubos formais, de tessitura apolínea, para um discurso neo-expressionista formalmente arrebatado(r), de tessitura dionisíaca?; 3. Como relacionar o universo de Orson Welles com o de Franz Kafka?
(Moacy Cirne, in O Processo, o livro)


Repeteco
O CONTO
de Moacy Cirne


Diante do computador, depois de alguns minutos sem nada fazer, começo a escrever, enquanto um calor sufocante toma conta do meu quarto e dos meus sentidos:

Este conto, o texto que agora se apresenta, será mínimo, de pouquíssimas palavras, e terá apenas um personagem, alegre e raparigueiro, a repetir o tempo todo: um conto é um conto é um conto. Não, convenhamos, não é um bom começo para um conto, mesmo para um conto que se pretende um nadinha de nada. E que teria apenas mais um ou dois parágrafos. Resolvo mudar, portanto:

Este conto será pequeno, pequeno como uma pequena praça de uma vila do interior, e terá dois personagens – um homem e sua amante. Será que um conto é um conto é um conto? Ainda não está me agradando. Falta-lhe mais concretude, mais sustança, mais sentimento. Digamos que seja assim:

Este conto, naturalmente pequeno como uma pequena praça do interior, terá dois personagens – um homem jovem e jocoso e sua amante velha e vistosa, leitores de Murilo Mendes, Carlos Zéfiro e Affonso Ávila. Não, nada disso. Mudemo-lo mais uma vez:

Este conto, íntimo como uma pequena praça, como em Lorca, em sendo curto, apresentará dois personagens e uma aurora bronzeada. Melhor, melhorando:

Este conto, em sendo curto, apresentará um crepúsculo e um personagem em conflito, um personagem chamado Gregório. Ou Samuel, tanto faz. Não sei, não sei, um conto – ao que me consta – tem que ser impactante já em seu início. Impactante ou não, impactante ou sim, precisa envolver o leitor desde o princípio. E se for curto, como pretendo que seja, é necessário que, em sendo pura síntese, pura concreção, termine por se fazer tenso e denso. Tensão e contensão, não como um poema concreto, mas como um poema minimalista. Posso começar, mais uma vez, mais uma vez: Um dia, depois de um sono agitado e inquieto, Gregório acordou, e caminhou, e caminhou, e caminhou à espera do crepúsculo. À espera de um crepúsculo que se fazia aurora abismada, como no poeta popular. Que se fazia desespero, como no escritor angustiado. Não, não convém uma aurora desesperada, ou abismada, ou menos ainda um crepúsculo fatigado. De novo, diante do computador, ouvindo velhos cancioneiros medievais, sufocado pelo calor, recomeço, o conto está começando a se definir na minha cabeça, transfigurando seu rumo, transfigurando seu norte: Um dia, depois de um sono agitado e inquieto, entre crepúsculos metafísicos e auroras arrepiantes, Gregório acordou e viu que não passava de uma enorme barata. Agora sim, agora sim: trata-se, sem dúvida, de uma idéia bastante original. Por que será que, num século de tantos e tantos absurdos como o XX, ninguém a teve antes? Seria considerado um conto fantástico, tenho certeza. É preciso insistir, claro, dando-lhe nova forma: Um dia, depois de uma noite de sono agitado e crepúsculos anoitecidos, Gregório acordou e se sentiu como um monstruoso inseto. Não, ainda não. É possível mudar, mais uma vez, quero um conto que seja a essência máxima da construção mínima. Assim, talvez assim: Quando certa manhã Gregório acordou de sonhos intranqüilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso. Perfeito, o máximo de concisão. Será que devo aumentá-lo? Como Gregório se comportaria, ou se comportará, a partir daí? Vou pensar no assunto. Vou pensar no assunto. Preciso também pensar no título. Algo como A demanda judicial. Não, Transformação parece-me mais adequado. Ou não? Enquanto isso, o ideal seria providenciar uma possível tradução para outra língua, talvez o alemão. Será que o professor paulista Modesto Carone gostaria de traduzi-lo? Não deixa de ser uma idéia interessante.




sábado, 27 de junho de 2009

FILMES QUE MARCARAM ÉPOCA
NA CAICÓ DOS ANOS 50
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duas cenas de
Joana d'Arc
(Victor Fleming, 1948)


BALAIO PORRETA 1986
n° 2705
Rio, 27 de junho de 2009


Estrelado por Ingrid Bergman, Joana d'Arc foi exibido no cinema de 'seu' Clóvis por volta de 1952/53. Confesso: o drama da jovem francesa que, injustamente, seria condenada a morrer na fogueira, impressionou-me bastante. Como aquela doce e ao mesmo tempo forte donzela, depois de vitoriosa numa guerra para mim incompreensível, poderia ter sido executada de forma tão bárbara? Mas o filme fez um tremendo sucesso em Caicó: a história e a beleza da atriz calaram fundo na alma dos caicoenses.


CAMINHANTE, TUAS PEGADAS
Antonio Machado (Sevilha, 1875 - Collioure, 1939)
Trad. Wilton José Marques
[ in Transverso, 1988 ]

Caminhante, tuas pegadas
são o caminho e nada mais;
caminhante, não há caminho,
se faz caminho ao andar.
Ao andar se faz caminho,
e quando se olha para trás
se vê a vereda que nunca
se voltará a palmilhar.
Caminhante, não há caminho,
apenas estrelas no mar.


VÉUS, GRINALDAS E GRILHÕES
Santa Maria
[ in Escritoras Suicidas ]

I

A noiva, prometida e enamorada,
deixou todos esperando na igreja,
e fugiu com a cunhada.


II

Quando o noivo chegou ao altar,
olhou para a desconhecida ao lado
e gritou sim sem gaguejar.


III

Repletos de encantamento,
depois da lua-de-mel,
cada um voltou ao seu casamento.



CURSO DE INGLÊS AVEXADO
Alex Gurgel
[ in Grande Ponto ]

Is we in the tape! = É nóis na fita.

Tea with me that I book your face = 'Xá comigo
que eu livro sua cara.

I am more I = Eu sou mais eu.

Do you want a good-good? = Você quer um bom-bom?

Not even come that it doesn’t have! = Nem vem que não tem!

She is full of nine o’clock = Ela é cheia de nove horas.

I am completely bald of knowing it = Tô careca de saber.

Ooh! I burned my movie! = Oh! Queimei meu filme!

I will wash the mare = Vou lavar a égua.

Go catch little coconuts! = Vai catar coquinho!

If you run, the beast catches, if you stay the beast eats!
= Se correr, o bicho pega, se ficar o bicho come!

Before afternoon than never = Antes tarde do que nunca.

Take out the little horse from the rain = Tire o cavalinho da chuva.

The cow went to the swamp = A vaca foi pro brejo!

To give one of John the Armless = Dar uma de João-sem-Braço.

UMA OBRA-PRIMA DA ARTE NARRATIVA
Ao contrário do que imagina José Serra e outros políticos de segunda categoria (cf. o recente caso das biblotecas escolares de Porto Alegre e São Paulo), Um contrato com Deus é uma obra-prima. E tem mais: seu autor - Will Eisner - é um dos maiores nomes da arte narrativa norte-americana, merecendo figurar na galeria dos grandes criadores da grafia sequencial do século XX na terra do bangue-bangue: Orson Welles, John Ford, Stanley Kubrick, Buster Keaton, Howard Hawks, Winsor McCay, Jules Feiffer, Robert Crumb, Frank Miller, Nicholas Ray, John Huston. Ousamos dizer: são 12 dos maiores gênios das linguagens cinematográfica e quadrinhográfica.

sexta-feira, 26 de junho de 2009


1. Imagem superior: Foto de Zen Sen
2. Imagem inferior: Cartão postal do início do séc. XX


BALAIO PORRETA 1986
n° 2704
Natal, 26 de junho de 2009

Juca Kfouri, Fernando Monteiro, Samarone Lima, José Roberto Torero, Carlos Magno Araújo, Elianne Diz de Abreu, Gustavo de Castro, Klecius Henrique, Rubens Lemos Filho, Selma Medeiros, Humberto Werneck, Enrique Vila-Matas, José Castello e outros: pessoalmente e/ou literariamente, todos eles marcarão presença hoje à noite no lançamento de A cabeça do futebol, na Siciliano do Miduei Xópim, em Natal.


DOIS POEMAS de
Chico Doido de Caicó

Rio de Janeiro! Rio de Janeiro!
Só de pensar no meu Botafogo
Me dá uma vontade danada
De fazer poesia
Rio de Janeiro! Rio de Janeiro!
Só de pensar em suas mulheres
Me dá uma vontade danada
De ficar com a língua dura.

[][][]

Incrível Fantástico Extraordinário
Já champrei caicoenses e espanholas
Natalenses, portuguesas e cariocas
Paulistas, mineiras e cearenses
Gaúchas, argelinas e até uma americana
Mas nunca champrei uma pernambucana... andou muitas léguas ao longo do cio
as águas corriam lépidas paralelas

o corpo que tinha as curvas tão certas
perdeu-se das regras por estes caminhos

De MARCONI LEAL
[ in 10 conceitos-chave do conservador moderno ]

|| Todos os problemas do universo, a começar pelas supernovas e a extinção do sol daqui a bilhões de anos, são culpa da esquerda, a quem se devem também alguns desastres naturais como o furacão Katrina.

|| Os problemas do Brasil começaram quando, em vez de ensinar os índios a serem escravizados e torturados de acordo com as leis do mercado, Pedro Álvares Cabral, notório esquerdista, preferiu distribuir Bolsas Pau-Brasil entre eles, acabando com a vontade trabalhar dos selvagens e transformando-os em alcoólatras, vagabundos e hippies.


O PENSAMENTO VIVO DO VIVO STANISLAW PONTE PRETA
[ Pif Paf nº 1, 21 de maio de 1964,
in Pif Paf - 40 anos depois. Rio: Ed. Argumento, 2005 ]

ACHADO
Todo homem que considera a mulher o sexo perdido é porque não é muito dado a procurá-lo.

CULINÁRIA
Nem sempre o dono dos temperos faz o melhor refogado.

MORTAIS
As três coisas mais perigosas que eu conheço são: limpar arma de fogo, mulher do vizinho e croquete de botequim.

OPORTUNIDADE
O sol nasce para todos e a sombra para quem é vivo.

PROPAGANDA
Tirante a mulher, a gente deve sempre recomendar aquilo que experimentou e gostou.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Matriz de São João,
em Açu,
região central do Rio Grande do Norte

Foto de
Jean Lopes


BALAIO PORRETA 1986
n° 2703
Natal, 25 de junho de 2009


Antes de escrever, eu olho, assustado,
para a página branca de susto.

(Mario QUINTANA. O terrível instante, in Caderno H)



PÁREO
Nel Meirelles
[ in Fala Poética ]

meu cavalo
serpenteia
pelas campinas
do teu ventre

o galope
germina
o trote
denso
do gozo


BARULHO
Lau Siqueira
[ in Poesia Sim ]

palavra
por palavra
minha úlcera
de verbos
tece aos poucos
a membrana
do silêncio

[ do livro O comício das veias ]


ÊXODO
Gilberto Mendonça Teles
[ in Plural de Nuvens, 2006 ]

Chegamos à planície, onde teus olhos
inventarão o azul dos horizontes
escandidos nas unhas, como os versos
na fábula dos dias impossíveis.
Aqui o tempo enrola seus casulos
de terras e de mares estrangeiros.
E o mito desenrola-se nas sedas
da longa solidão que desfazemos.
Nestes campos noturnos nosso povo
construirá seu reino na linguagem
da Terra Prometida, que buscávamos
neste êxodo sem fim, que agora finda.


Recomendamos
Conversas de um velho safado
SEMPRE NO MEU CORAÇÃO
Jens
[ in Palimpnoia ]

Talvez um dos maiores mistérios da humanidade jamais seja desvendado: as razões que determinam a paixão clubística. Refiro-me, claro, ao rude esporte bretão. O que faz com que, em não poucos casos, o sujeito desafie a lógica familiar e torça por um clube diferente daquele preferido pela maioria do seu clã? Quando era meninote, por exemplo, o Glorioso Esquadrão Alvi-Rubro dos Pampas era o time do coração dos Silvas, à exceção da mana Rosa que deixou-se encantar pelo tradicional adversário, o Tricolor da Azenha (para quem não é afeito às coisas do mundo da bola, o primeiro é o Internacional e o segundo o Grêmio Porto Alegrense). Não tenho a mínima idéia do que motivou nossas escolhas – quando dei por mim já era colorado; o mesmo aconteceu com ela.

Como toda paixão intensa, o futebol é fonte de grandes alegrias. Poucas coisas dão tanta satisfação ao aficionado como comemorar um título de campeão (pessoalmente, desconheço orgasmo que se iguale ao prazer que o Inter me proporcionou quando conquistou o Campeonato Mundial de Interclubes em cima do Barcelona). [ Clique aqui para ler o texto completo. ]


O SUBPENSAMENTO VIVO DE
MARCONI LEAL

/Dois fragmentos/

A história é sempre contada pelos vencedores. Vejam, por exemplo,
o diabo como foi injustiçado.

Durante décadas tentei manter um diálogo com deus. Desisti faz alguns anos. Não dá. Ele se acha muito superior.


BODEGA DO CHICO DOIDO DE CAICÓ

Bebes & comes:

* Guaraná Doidão:
Guaraná em pó batido durante 69 segundos com 200ml de cachaça (Topázio ou Samanaú, preferencialmente), uma barra de chocolate amargo, uma colher de sopa de gengibre, dois cálices de licor de amendoim e o leite da mulher amada, à vontade.
Parede: Ovo de codorna. Cru. Com casca e tudo o mais.

* Açaí Porreta:
Suco de açaí batido durante 55 segundos com três cálices de licor de chocolate, um pouco de mel e uma colher de sopa de proteinato, temperado com o sorriso da mulher amada.
Parede: Queijo de coalho. Assado.

* Goiaba Escandalosa:
Uma taça de vinho do porto, sorvete de chocolate (duas bolas caprichadas) e uma goiaba. Mistura para ser batida durante 43 segundos. Sob o olhar da mulher amada.
Parede: Queijo do sertão. Derretido.

* Caju Diabólico:
300ml de cachaça. Da boa. Topázio, Seleta, Samanaú, Rainha, Ferreira, Germana, tanto faz. Não precisa bater. Pode-se beber aos poucos, em três ou quatro talagadas.
Parede: Caju. Bastante caju.

E na entrada principal da Bodega,
um poema de Chico Doido de Caicó:

Reconheço: sou mentiroso dos bons
Mas uma coisa é tiro e queda
Queda e tiro sem talvez
Mulher comigo sempre terá vez.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Maracanã,
antes de ser tomado pelas multidões,
em foto distribuída pela
UNERJ


BALAIO PORRETA 1986
n° 2702
Natal, 24 de junho de 2009


Minha paixão pelo Fluminense é uma "paixão literária". Ela não surgiu de uma grande exibição, de um título histórico, ou de um gol inesquecível, mas de uma crônica [de Nelson Rodrigues]. Surgiu através da palavra. Do mesmo modo, e desde então, minha paixão pela literatura é, de certa forma, "futebolística".
(José CASTELLO. Uma paixão de letra, in A cabeça do futebol)


A CABEÇA DO FUTEBOL, O FUTEBOL NA CABEÇA

Há o futebol e há o Fluminense. Há o futebol e há o Fla-Flu. Há o futebol e há o Maracanã. Outros dirão: há o futebol e há o Pacaembu; há o futebol e há o Mineirão; há o futebol e há o Morumbi; há o futebol e há o GreNal; há o futebol e há o ABC-América; há o futebol e há o Santa Cruz. E há outras paixões, de norte a sul. E há o jogo bem disputado. E há o drible embriagador. E há a defesa milagrosa do goleiro. E há a folha seca. E há o gol antológico. E há a explosão dionisíaca da torcida. E há livros como A cabeça do futebol(*).

Um livro com algumas crônicas memorialísticas marcadas pela mais pura emoção, pela emoção mais genuína: 'O dia em que virei santista', de José Roberto Torero; 'A ditadura não é mais forte do que o amor de um pai', de Juca Kfouri. Ou marcadas pela emoção em busca de um sentido para a literatura: 'Uma paixão de letra', de José Castello. Ou, ainda, marcadas pela emoção - e também pelo humor: 'Um escritor no pasto', de Raimundo Carrero. Poder-se-á dizer, entre outras coisas, tudo é encantamento, tudo é futebol.

Mas não ficamos por aqui: há crônicas que, jornalísticas ou não, realizam-se com vigor através do esmero documental e da memória afetiva: 'Camilo Cela, o torcedor do Íbis' [sim, é verdade, o pior time do mundo tem um torcedor ilustre], de Fernando Monteiro; 'O menino', de Samarone Lima; 'Souza Futebol Clube', de Gustavo de Castro; "No tempo de Jacaré e Pablito Calvo', de Carlos Magno Araújo. Há inclusive um delírio semificcional, escrito com paixão: 'O dia em que a Fiel invadiu o Rio de Janeiro', de Josmar Jozino.

E há a ficção propriamente dita através do erotismo muito bem realizado que se cristaliza na escrita de Elianne Diz de Abreu em 'O pênalti', assim como há um texto com toques metalinguísticos em 'Bola, gingado e prazer', de Selma Medeiros. E se a poesia não me encantou ('A bola', de Fabrício Carpinejar; 'Futebol da vida', de Abel Meneze), se Daniel Piza ('Bola de meia') me frustrou, e se senti a ausência do futebol gaúcho e do futebol do Norte, outros textos - ficcionais ou não, memorialístcos ou não - me interessaram: textos de Xico Sá ('O crime da mesa redonda'), Luiz Martins da Silva ('O homem que queria superar Didi'), Klecius Henrique ('A bola era eu'), Humberto Werneck ('Foi córner ou escanteio'), Rubens Lemos Filho ('Ele sempre será'), Enrique Vila-Matas ('Coração tão tricolor'). Há outros autores, outros textos. Enfim, é bom ressaltar, trata-se de uma coletânea que embarca num "jogo que é puramente afetivo" (os organizadores). E que jogo!

(*) A cabeça do futebol
Orgs.: Carlos Magno Araújo, Samarone Lima, Gustavo de Castro
Brasília: Casa das Musas, 2009, 166p.
/ Lançamento em Natal: próxima sexta, dia 26, às 19h, na Siciliano do Midueu Xópim /


Metaficção
A HISTÓRIA DE UM JOGO
ATRAVÉS DAS MANCHETES DOS JORNAIS

NO DECORRER DO TEMPO
Moacy Cirne

155 mil torcedores foram ao Maraca para ver Flu-Coringão, em 1976

1976: 50 a 60 mil corinthianos invadiram o Rio
1996: 70 mil corinthianos invadiram o Rio, em 1976
2006: 80 mil corinthianos invadiram o Rio, em 1976
2016: 120 mil corinthianos invadiram o Rio, no século passado
2036: 150 mil corinthianos invadiram o Rio, no ano de 1976
2076: 220 mil corinthianos invadiram o Maracanã, 100 anos atrás
2096: 400 mil corinthianos invadiram o Rio e o Maracanã, em 1976 dC
2976: 666 mil corinthianos no Rio para ver o Coringão, no século XX


MANHÃZINHA
Wescley J. Gama (Currais Novos, RN)
[ in A Taberna ]

toda vez que a lenha estalava no fogo
o cheiro do café gritava,
acordando todo mundo


GERMINAL
Ada Lima (Natal, RN)
[ in Menina Gauche ]

Apenas deságüe em mim
e faça surgir
um coração
em meu ventre.


SERIA MARILYN MONROE
UMA LEITORA DE JOYCE?

Aqui, em foto de 1955,
por
Eve Arnold,
a atriz americana
Marilyn Monroe
aparece concentrada

nas últimas páginas de Ulisses
(cf. blogue de Milton Ribeiro).

terça-feira, 23 de junho de 2009

Foto:
Gerhard Grasinger


BALAIO PORRETA 1985
n° 2701
Natal, 23 de junho de 2009


Uma cidade é uma casa. Necessita ser cuidada, acariciada. Ter suas paredes, seu teto e chão limpos. Sem zelo, não há cidade. Uma cidade deseja ser amada, descoberta, revelada. Ao oferecer um claro céu azul, uma cidade quer ser olhada, admirada por homens e mulheres, sejam seus moradores, sejam seus visitantes.
(Marize CASTRO, in Perigo Iminente. Natal, 2009)


POEMAS de
Zemaria Pinto
[ in Fragmentos de silêncio. Manaus, 1995 ]

garçom, traga-me uma navalha

e um chope espumando nuvens

[][][]

o pouso silente
da borboleta de seda
celebra a manhã

[][][]

paixão

a nona sinfonia explode
tua lâmina me rompe o ventre
e faz jorrar o sangue da minha carne
plantando-me tua semente

a paixão violenta - o grito
a lágrima sufocada - ah, a alegria
língua que lambe o mundo

o beijo a dentada
contigo, eu pelo espaço:
Beethoven & boleros

sou uma égua de fogo

Da série
ALFARRÁBIO
de Cássio Amaral (MG)
[ in Enten Katsudatsu ]

1
a palavra
sangra vogais
nas nuvens

2
a palavra brinca
com o silêncio
onde urra o ovo da fábula


DOIS POEMAS de
Márcia Carrano
[ in Vento Leve.
Juiz de Fora, 2007 ]

minha cabeça
virou um grande
texto
totalmente fora
do contexto.

[]

afasta esta poesia doida
pousando incômoda
em meus dias:

preciso viver
de pão-sal-e-dor.


ALGUNS NORDESTINISMOS PORRETAS

[] Tomando a bença a cachorro e chamando gato de meu tio
= Quando a pessoa está muito embriagada.

[] Um roçado de xibiu
= Um bocado de mulheres no mesmo ambiente.

[] Comer na frente que nem enxada
= Diz-se do casal que mantém relações sexuais antes do casamento.

[] Quebra-cu
= Ônibus desconfortável.

[] Afoimosiou
= Ficou linda.

[] Puetera
= Poetisa.

[] Vá prantar galinha enquanto os pintos não nascem
= Vá pra puta que o pariu.

[ in Nem Kombi, nem Ford, nem sai de Sinca (PB, 2005),
de Myriam Gurgel Maia ]

segunda-feira, 22 de junho de 2009


Mona Lisa Desnuda:
versões realizadas por autores anônimos;
algumas delas (como a da imagem inferior)

atribuídas ao próprio Da Vinci,
ou por ele supervisionadas, segundo os pesquisadores
(cf. Museo Ideale Leonardo Da Vinci)



BALAIO PORRETA 1986
n° 2700
Natal, 22 de junho de 2009

O gato é preguiçoso como uma segunda-feira.
(Mario QUINTANA. Imagem, in Caderno H, 1973)


ABERTURA, 1
Romério Rômulo
[ do livro Per Augusto & Machina, a sair ]

1. é louco ser solene.
é lúcido ser louco!

2. se tenho, como última morada
o som caleidoscópico da vida
carrego matrizes, almas sombreadas.

3. meu coração de cavalo, meu ato de terra
surrado dos demônios, ímpio em desvario.

4. quando surgi de mim, fiquei varrido.
e meu estado de coisa correu solto!

5. qualquer ambigüidade tem um tônus
que corta toda a alma pelo avesso!

6. a dor fecunda das hostes:
vou retomar meus laços com a vida.


CELEBRAÇÃO
Nydia Bonetti
[ in Longitudes ]

peço silêncio:
há uma flor
se abrindo no jardim


ELAS
Líria Porto
[ in Tanto Mar ]

a vida é a puta
que em mim se esfrega
e espera que eu resista
às suas curvas

a vida é a santa
que me recusa
e assim me arrasta
para suas pernas

a morte é mulher
sem intenções escusas


POEMA EM DÓ MENOR
Sheyla Azevedo
[ in Bicho Esquisito, em 24/10/2007 ]

Para que te convidar para entrar
Se sequer bates à porta

De que adiantaria todo alvoroço
Rosas no cabelo
Saia rodada
Calcinhas na gaveta
Se me despes apenas com silêncio e indiferença


Para que te convidar a beber
Da minha saliva

Se sequer sentes sede
E de que adiantaria colocar um blues na vitrola
Vinho em taças
Cubanos equilibrando-se no fino cristal
Se teus olhos se mantêm ávidos por outras esquinas


Não, senhor, não entrarás mais em minha casa.
Para chegar até esse lugar é preciso atravessar uma rua
Dois rios, alguns vendavais, poças de sangue
Quiçá um continente inteiro
E dois ou três versos desperdiçados

Mas de que adiantaria
Se sequer soubestes ler nas entrelinhas


O LIVRO DOS LIVROS
Segundo Testamento
1. O Livro de Maria Maria
A partir da próxima segunda-feira

domingo, 21 de junho de 2009

OBRAS-PRIMAS DO CINEMA
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o trêiler
de
Bamako
(Abderrahmane Sissako, 2006)


BALAIO PORRETA 1986
n° 2699
Natal, 21 de junho de 2009

Como se constrói a africanidade de um filme marcado pela cor, pelo olhar, pelo som de uma terra ao mesmo tempo próxima e distante de todos nós? Como se constrói a politicidade de um filme africano que critica o imperialismo colonial sem cair nos vícios da panfletagem pura e simples? Como se constrói a plasticidade de um filme que respira vida, suor e lágrimas através de imagens belas e envolventes? Bamako (coprodução franco-maliense) é mais do que um filme político: é uma obra que investe no Homem, e seu estar-no-mundo, a partir de um mosaico de situações dramáticas vivenciadas no mesmo espaço cenográfico trabalhado pelo diretor e pelos atores/personagens.


DE SILÊNCIOS E AUSÊNCIAS
Míriam Monteiro
[ in Meu Porto ]

Um rio
ciciante de poemas
me atravessa,
e eu transbordo
silêncios.

À margem
brinco de não ser,
esperando
o que me desconstrua,
o que rompa algemas.

Inebriada de silêncios,
nem percebo
que o amanhecer tarda
e a poesia
já não vem.


MEU HOMEM
Luiza Viana
[ in O céu do lençol, 1996 ]

Anjo meu
cheiro de mel
puro bordel
de poesia

Olho nos seus olhos:
viro doce
de ambrosia


OFERENDA
Laura Amélia Damous
[ in A poesia maranhense no século XX, de Assis Brasil ]

Venho te oferecer meu coração
como o cansaço se oferece aos amantes
o suor aos corpos exaustos
depois de definitivo abraço
Venho te oferecer meu coração
como a lua se oferece à noite
e o vento à tempestade
Venho te oferecer meu coração
como o peixe se oferece à captura
no engano do anzol


URBANA II
Suzana Vargas
[ in
Caderno de outuno e outros poemas, 1998 ]

Que sentimento me empurra
por janeiro e o ano inteiro?
Que cavalos, que forças indizíveis
me lançam para a frente e para a frente?

De tão apressada engulo,
não mastigo minha sorte.
Não sei se é sede de vida
ou avidez pela morte.


FICÇAO
Líria Porto
[ in Tanto Mar ]

adoro o mar
seu balanceio
as suas ondas

vejo as colinas
invento em minas
o mar que sonho

vem numa concha
molha meu olho
depois se esconde

quisera um dia
morar no mar
ser uma ilha

levar comigo
a minha serra
no tombadilho


Memória 1924
DECÁLOGO DA ESPOSA
[ in Revista Feminina, SP, out./1924 ]

I - Ama teu esposo acima de tudo na terra e ama o teu próximo da melhor forma que puderes; mas lembra-te de que a tua casa é de teu esposo e não do teu próximo;

II - Trata teu esposo como um precioso amigo; como a um hóspede de grande consideração e nunca como uma amiga a quem te contam as pequenas contrariedades da vida;

III - Espera teu esposo com teu lar sempre em ordem e o semblante risonho; mas não te aflijas excessivamente se alguma vez
ele não reparar nisso;

IV - Não lhe peças o supérfluo para o teu lar; pede-lhe, caso possas, uma casa alegre e um pouco de espaço tranqüilo para as crianças;

V - Que teus filhos sejam sempre bem arranjados e limpos; que ele ao vê-los assim possa sorrir satisfeito e que essa satisfação o faça sorrir quando se lembre dos seus, em estando ausente;

VI - Lembra-te sempre que te casaste para partilhar com teu esposo as alegrias e as tristezas da existência. Quando todos o abandonarem fica tu a seu lado e diz-lhe: Aqui me tens!
Sou sempre a mesma;

VII - Se teu esposo possuir a ventura de ter sua mãe viva, seja boa para com ela pensando em todas as noites de aflição que terá passado para protegê-lo na infância, formando o coração que um dia havia de ser teu;

VIII - Não peças à vida o que ela nunca deu para ninguém. Pensa antes que se fores útil poderás ser feliz;

IX - Quando as mágoas chegarem não te acovardes: luta! Luta e espera na certeza de que os dias de sol voltarão;

X - Se teu esposo se afastar de ti, espera-o. Se tarda em voltar, espera-o; ainda mesmo que te abandone, espera-o. Porque tu não és somente a sua esposa; és ainda a honra do seu nome. E quando um dia ele voltar, há de abençoar-te.

[ Republicado em: História da vida privada no Brasil/3, p.394-6)

Nota do Balaio:
Publicada em São Paulo, na ocasião com cerca de 600 mil habitantes, a Revista Feminina é um valioso documento histórico para se entender a prática e o pensamento masculinos que, durante décadas e décadas, nortearam - da forma a mais preconceituosa possível - a relação homem/mulher entre nós. É verdade que as mulheres, embora timidamente (para os padrões atuais), já começavam a reagir. Resta-nos saber se o Decálogo em pauta foi levado a sério pela leitoras das grandes cidades. Não temos dados sobre a sua tiragem e se, de fato, atingia o público feminino de forma expressiva.

sábado, 20 de junho de 2009

FILMES QUE MARCARAM ÉPOCA
NA CAICÓ DOS ANOS 50
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o trêiler de
Absolutamente certo
(Anselmo Duarte, 1957)

[Atenção: o trêiler apresentado aqui contém
adendos coloridos que não são do original.]


BALAIO PORRETA 1986
n° 2698
Natal, 20 de maio de 2009

Vimos Absolutamente certo em Caicó em 1959: ignorávamos, então, que o bom ator Anselmo Duarte fosse capaz de dirigir um filme com "pretensões sérias". A obra, entre o drama e a comédia, revelava-se bastante madura para os nossos olhos de cinéfilo iniciante. Inspirado, em sua motivação temática central, no programa televisivo 'O céu é o limite' - que fazia bastante sucesso na época - Absolutamente certo talvez seja o melhor filme de Anselmo Duarte: a história de um "Rapaz, funcionário de uma gráfica, que, com a lista telefônica memorizada, se inscreve num programa de tevê de perguntas e respostas. As trapalhadas começam pois, sem ele saber, uma pequena quadrilha que controla as apostas tenta se aproveitar de sua ingenuidade" (sinopse).


Tesourapress / Repeteco
OS HOMENS QUE ME DESCULPEM...
MAS SER FEMININA É FUNDAMENTAL
[ in Blogue da Kakiz, desativado ]

Somos o máximo...
Nós, Mulheres...
* Não broxamos...
* Não ficamos carecas...
* Não sofremos de fimose...
* Temos um dia internacional...
* Sentar de pernas fechadas não dói...
* Podemos usar tanto rosa quanto azul...
* Sempre sabemos que o filho é nosso...
* Temos prioridade em botes salva-vidas...
* Não pagamos a conta. No máximo rachamos...
* A programação da TV é 90% voltada pra nós...
* Somos os primeiros reféns a serem libertados...
* A idade não atrapalha nosso desempenho sexual...
* Podemos ficar excitadas sem que ninguém perceba...
* Podemos fazer sexo quantas vezes por dia quisermos...
* Se somos traídas somos vítimas; se traímos, eles são cornos...
* Mulher de embaixador é embaixatriz; marido de embaixatriz não é nada...
* Somos monogâmicas (embora precisemos testar vários homens pra achar um que valha a pena)...
* Se resolvemos exercer profissões predominantemente masculina somos pioneiras, mas se um homem resolve exercer uma profissão tipicamente feminina, é bicha...
* E por último: fazemos tudo o que um homem faz, e de... SALTO ALTO!


RESGUARDO
Lisbeth Lima
[ in Flor de Craibeira]

Na noite de me parir
minha mãe lavou uma bacia de roupas.
Depois que voltou comigo nos braços,
cozinhou para meu pai e meu irmão.
No seu resguardo, aprendeu sozinha a maternidade.
Juntas choramos os quarenta dias.


MINICONTO I
Jeanne Araújo

Nascera menino. Compraram-lhe sapatos, bonés e uma corrente de homem. Mas a sensibilidade estava nele como uma espinha atravancada na garganta. Gostava de, às escondidas, vestir os vestidos das irmãs, pintar a boca com o batom da mãe. Brincava de casinha com as meninas da rua. Várias vezes foi agredido pelos colegas. Várias vezes apanhou do pai. Um dia, cansado de tudo, trancou-se no banheiro com gilette na mão
e menstruou pela primeira vez.


Humor involuntário / 2004
AS REGRAS DO SEXO NOS ESTADOS UNIDOS

A revista Istoé, em número de julho de 2004, publicou uma curiosa e engraçada matéria sobre As absurdas regras do sexo no país de W.C. Bushit, o maior e mais completo bunda-mole escrotonojentofeladaputosobostaico do mundo, hoje. Vale a pena conferir três delas, dignas da babaquice americana, recorrendo ao próprio semanário paulistano:

[] Em Nevada, "É ilegal a qualquer membro da legislatura conduzir negócios oficiais fantasiado de pênis, quando o Legislativo estiver em sessão", segundo a Lei. Mas, conforme a Istoé, "Não explica ... se o ilustre representante público pode ostentar o traje viril caso o plenário esteja em recesso".

[] Em Minnesota, por exemplo, "está totalmente proibido a um homem manter relações sexuais com um peixe vivo. No Brasil, o povão teria apelidado de Lei JK, em homenagem ao ex-presidente Juscelino Kubitschek e sua canção predileta. A lei, porém, é omissa no trato de peixes mortos".

[] Em Nova York, a sodomia não é proibida: "É perfeitamente legal até mesmo o chamado fist sex - o ato de introduzir toda a mão ou braço no esfíncter de alguém. A exigência que se faz é que o consentimento para a perfomance seja dado na frente de testemunhas ou em documento autenticado por notário. Imagina-se que os possuidores de sangue frio suficiente para se engajar numa manobra sexual destas não terão constrangimento em levar mais dois dedinhos de prosa no cartório para oficializar o contrato".


CITAÇÕES DE NELSON RODRIGUES

[] Meu sentimento clubístico é anterior ao sexo,
anterior à memória.


[] A morte não exime ninguém
dos seus deveres clubísticos.


[] Um time pode jogar descalço, jogar de pé no chão.
Só não pode jogar sem alma.


[] Assim é o ser humano: na hora do palpite errado,
não lhe ocorre uma vaga dúvida metafísica.


[] O vídeo-tape, por ser burro,
não tem a imaginação do olho humano.


[] O que nós procuramos no futebol é o sofrimento.
As partidas que ficam, que se tornam históricas,
são as que mais doem na carne, na alma.

[ Citações extraídas do livro O profeta tricolor ]

sexta-feira, 19 de junho de 2009


Cartão postal
do início do século XX
(Autoria desconhecida)


BALAIO PORRETA 1986
n° 2697
Natal, 19 de junho de 2009

Só se aprende o que se precisa saber.
(Murilo MENDES. O discípulo de Emaús, 1945)


Poema/processo
DADÁ PRA CÁ, DADÁ PRA LÁ

Moacy Cirne

[ Projeto inaugural: 1992, in Balaio n° 431 ]

leia JOYCE como se estivesse lendo KAFKA
veja FELLINI como se estivesse vendo MIZOGUCHI
ouça MOZART como se estivesse ouvindo COLTRANE
use REMBRANDT como se estivesse usando DUCHAMP
leia JOYCE como se estivesse ouvindo COLTRANE
ouça MOZART como se estivesse vendo MIZOGUCHI
veja ZILA MAMEDE como se estivesse usando KAFKA
use REMBRANDT como se estivesse sonhando com BACHELARD
ouça JOYCE como se estivesse ouvindo ANTONIONI
assuma JOSÉ BEZERRA GOMES como se estivesse
como se estivesse
metaplagiando FALVES SILVA
e JOTA MEDEIROS
e AVELINO DE ARAÚJO
e ANCHIETA FERNANDES
e DAILOR VARELA
e JORGE FERNANDES

ao som de PEDRO OSMAR e HERMETO PASCOAL
e CLAUDIO MONTEVERDI


POEMA de
CHICO DOIDO DE CAICÓ
[RN]
[Dedicado a José Limeira]

Prezada Dona Chica de Igapó:
Venho, de novo respeitosamente,
Com a minha filosopotia pai d'égua,
Solicitar a tua quente goiabinha
Para o meu particular uso e abuso.
Prometo que saberei borogodeá-la
Sem mais, sem menos, sem talvez
Pelo menos uma vez por mês
Limeirando uma, duas ou três.
Do teu Chico que nasceu em Caicó
País de cabra macho e de jumentos
Que adoram apreciar o luscofusco
De tangerinas e lobisomens. Arre égua,
Acabo de me lembrar agora: o Peru
Ganhou a guerra da Coréia
Com a força de sua idéia.
Passa, passa, passatempo,
Tempo, tempo, passa lento,
Jesus Cristo nasceu em Caicó
E morreu em Jardim do Seridó
Assim diz o Novo Testamento.


OS 65 ANOS DO TRICOLOR CHICO BUARQUE
Chico Buarque
- no Maraca -
in
Bola de Meia

No dia 26 de abril de 1975, diante de 110 mil torcedores, Fluminense e América disputaram a decisão da Taça Guanabara daquele ano. Vitória tricolor, no finalzinho, por um 1 a 0, gol de Rivelino. Na preliminar, um amistoso entre Artistas Tricolores e Artistas Americanos & Simpatizantes. Entre os artistas defendendo as cores do Fluminense, o compositor Chico Buarque, que hoje está aniversariando. (Eu estava lá, num Maraca em festa). A homenagem do Balaio ao autor de Construção dá-se a seguir:
Clique na imagem
(cf. Legião Tricolor)
para ver o
mosaico tricolor
- no vídeo, a partir do 2° minuto de apresentação -
no recente Fluminense x Corínthians.
Eu também estava lá,
emocionadíssimo,
fazendo parte do belíssimo mosaico.


CÂNTICO
Márcia Maia
[ in Tábua de Marés ]

eu canto ao avesso teu verso em meu canto
e canto meu verso em teu canto ao avesso
não canto no verso esse canto ao avesso
nem canto ao avesso esse verso em meu canto
se canto o avesso arde o verso que canto
avesso ao meu canto o teu canto faz verso
e avesso ao teu canto o meu canto ousa um verso
um verso de um canto que avesso ao teu canto
no verso e no canto e no avesso do canto
avesso o meu canto ao teu canto une em verso

se avesso arde o canto no canto sem verso
e o verso sem canto no avesso do canto
em verso ousa um canto ao avesso no canto
que avesso esse canto em seu canto quer verso
no avesso do canto teu canto diz verso
sem canto ou avesso o meu verso diz canto
teu canto urde avesso outro verso em meu canto
um canto sem verso sem canto ou avesso
que em canto unge o verso num canto ex-avesso
se eu canto ao avesso teu verso em meu canto

Repeteco
DOIS SERTANEJOS E UM AVIÃO


Aconteceu por volta de 1951-52, no interior do
Maranhão. A história é contada pelo potiguar
Oswaldo Lamartine de Faria. Num campo de pouso
dois sertanejos observavam, "desconfiados e curiosos",
um avião bi-motor, com 10 lugares e bastante espaço
para coisas e mais coisas, pronto para levantar vôo,
depois que o piloto e os passageiros voltassem a seus
lugares. Mas vamos ao relato de Oswaldo:
"O comandante voltou à cabine, subiram os passageiros,
aeronave na cabeça da pista, aceleração, corrida e decolagem.
Aí um disse para o outro:
- Cumpadre, cuma é que aquele condenado assobe cum todo
aquele peso?!!!
- E você não viu? Ele toma carreira desembestada inté faltá
terra nos pés...".

[ in Em alpendres d'Acauã; conversa com Oswaldo Lamartine de Faria.
Natal: Imprensa Universitária: Fundação José Augusto, 2001, p.43 ]