segunda-feira, 30 de julho de 2007


Grandes momentos do cinema [Extra]:
Persona (Ingmar Bergman, 1966).
"Puro iluminamento: o mais colorido filme preto-e-branco da história do cinema, em minha opinião. Imagens, luzes e sombras: a mais perfeita harmonia. Sensibilidade, delicadeza e apuro formal: o cinema que procura se fazer cinema, como se estivéssemos saboreando o manjar dos deuses. Ao meu ver, um dos quatro melhores filmes de toda a história dos discursos cinematográficos" (Moacy Cirne: Luzes, sombras e magias, 2005, p.113). Com Bibi Andersson e Liv Ullmann. Fotografia (excepcional) de Sven Nykvist.


BALAIO PORRETA 1986
nº 2077
Rio, 30 de julho de 2007



INGMAR BERGMAN (1918-2007)

Autor de pelo menos cinco obras-primas (O sétimo selo, 1956; Morangos silvestres, 1957; O silêncio, 1962; Persona, 1966; Gritos e sussurros, 1973) e de vários outros grandes filmes (Noites de circo, 1953; Sorrisos de uma noite de amor, 1955; O rosto, 1959; A paixão de Ana, 1970; O ovo da serpente, 1979; Fanny e Alexander, 1982), faleceu Ingmar Bergman, o cineasta sueco por excelência. Muito já se escreveu sobre a sua obra. Muito ainda se escreverá. Sobre O sétimo selo, por exemplo, a poeta norte-rio-grandense Carmen Vasconcelos escreveu: "Eis um filme para despertar. Despertar medos, pavores. É um rememorar, um vir à tona de símbolos esquecidos. Para onde foi nosso atavismo, nosso inconsciente coletivo? Para os símbolos, que são caminhos até o conhecimento. Não respostas à angústia primordial, pois elas não existem, mas caminhos ao conhecimento possível.// O sétimo selo é também um despertar do melhor de nós, ele convoca a nossa imaginação, nossa fantasia, aquilo que está dentro de nós e não nos deixa perecer na secura social das repetições" (in Clarões na tela, org. Marcos Silva e Bené Chaves, 2006, p.193). Todos nós choramos a sua morte. Quando o vi pela primeira vez (Sorrisos de uma noite de amor, em janeiro de 1960, em São Paulo, no cinema Olido), senti que estava diante de um gênio do cinema. Decerto, já ouvira falar dele, sobretudo através do cineasta paulistano Walter Hugo Khoury, que, então, considerava Juventude (1950) um dos maiores filmes que já vira.

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Em O silêncio, Sven Nykvist e eu decidimos ser absolutamente tudo menos castos. Este filme tem uma lascívia cinematográfica que ainda hoje me dá prazer. Foi muito divertido realizá-lo. (Ingmar BERGMAN. Imagens. São Paulo: Martins Fontes, 1996, p.112)

domingo, 29 de julho de 2007


Luz mágica, luz encantatória, luz envolvente.
Luz para sonhar e sonhar.
Foto de Marc Adamus
[in PhotoNet ]


BALAIO PORRETA 1986
nº 2076
Rio, 29 de julho de 2007



TELEVISÃO TELEVISÃO
por JAAB (Portugal)
[ in
Treze pragas do século XX. Rio, 1976 ]

|| Após a embriaguez do sucesso, a ressaca do ostracismo.

|| É bom saber o que está por trás da televisão. Nem sempre é a parede.

|| Televisão é um veículo que engarrafa o trânsito das idéias.

|| O pior cego é aquele que quer ver televisão.

|| Televisão: nem contra nem a favor, muito pelo clic.

|| Por que a televisão é a cores se a vida é a preto e branco?


POESIA
de José Lucas de Barros (RN)
[ in Caminhada. Natal, 1958]

Mote:
Não posso vencer a morte,
mas irei de má vontade.

Glosa:
Mesmo que eu pareça forte
como touro premiado,
serei um dia enterrado,
não posso vencer a morte;
do Rio Grande do Norte
levarei muita saudade...
Promessas de eternidade
me fazem crer noutra luz.
Eu sei que é pra ver Jesus,
mas irei de má vontade.


UM BLOGUE PORRETA

O Incrível Exército Blogoleone
.
Apesar do nome, não é um blogue humorístico.
Mesmo assim: "Blogo, blogo, blogo! Leone, Leone, Leone!"
Um blogue-colagem feito por inúmeros blogueiros independentes
contra a fúria da mídia golpista.

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O humanismo não é nossa religião; é nossa razão de viver. (Otto Maria CARPEAUX. A cinza do purgatório)

sexta-feira, 27 de julho de 2007


Grandes momentos do cinema:
Sunset Boulevard / Crepúsculo dos deuses (Billy Wilder, 1950).
Com atuação magistral de Gloria Swanson, no papel de uma atriz decadente, ao lado de William Holden e Erich von Stroheim - o extraordinário diretor de Greed / Ouro e maldição (1924) -, o filme de Wilder é uma crítica feroz à "desumanidade" imposta por Hollywood àqueles que não conseguem se manter na crista da onda comercial. Fotografia consagradora de John F. Seitz. Música de Frank Waxman. Como figurantes, Cecil B. DeMille e Buster Keaton, o maior comediante da história do cinema.


BALAIO PORRETA 1986
nº 2075
Rio, 28 de julho de 2007


LETRAS BRANCAS SOBRE UM FUNDO NEGRO
de Antônio Mariano
[ in Poesia e outras bobagens, de Paulo de Toledo ]

para Sérgio Mattos

Hermético, me abro.
As palavras, leitor,
acendem todas as chaves.

As trancas são os não-ditos
que fazem.

Às vezes, me fecho
quando sou claro.


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS
666 livros indispensáveis (26a / 111 )

A experiência do cinema, de Ismail Xavier, org. Rio de Janeiro : Graal, 1983, 476p. [] Importante coletânea reunindo ensaios da maior significação crítica e/ou téorica. Ensaios (ou capítulos de livros) assinados por Pudóvkin, Balázs, Merleau-Ponty, Bazin, Eisenstein, Vertov, Baudry, Metz e outros. Ensaios como Prazer visual e cinema narrativo (por Laura Mulvey), O sonho e o cinema (Robert Desnos), O cinema do diabo (Jean Epstein), Nascimento do cine-olho (Dziga Vertov). Uma leitura complementar, igualmente significativa: Cinema - théorie, lectures (Revue d'Esthétique, 2-3-4, Paris, 1973, 406p.), com textos de Amengual, Balázs, Barthes, Bellour, Jakobson, Metz, Mitry, Panofsky, Pasolini e outros.

Cinema e verdade, de Francisco Luiz de Almeida Salles. Org. Flora C. Bender e Ilka Brunhilde Laurito. São Paulo : Companhia das Letras; Cinemateca Brassileira, 1988, 348p. [] Primorosa seleção de artigos, com algumas análises brilhantes de A aventura (Antonioni), Um condenado à morte escapou (Bresson), Vagas estrelas da Ursa (Visconti), Os sete samurais (Kurosawa), O encouraçado Potemkin (Eisenstein), Depois do vendaval (Ford), Agulha no palheiro (Alex Viany), Rio, 40 graus (Nelson Pereira dos Santos), O desafio (Paulo César Saraceni) e vários outros. Almeida Salles não foi apenas um grande crítico de cinema; com apurada formação humanística, foi um estilista da escrita. No caso, da boa escrita.

Um filme é um filme, de José Lino Grunewald. Org. Ruy Castro. São Paulo : Companhia das Letras, 2001, 288. [Em Natal, na primeira metade dos anos 60, através das páginas do Jornal de Letras, JLG foi um nome marcante para a nossa formação de leitorativo cinematográfico] São muitos os artigos que não perderam sua atualidade e importância. Por exemplo: Deus e o diabo na terra do sol, Cinema-forma, Marienbad - inauguração de uma linguagem, A aventura de Antonioni, Hiroshima meu amor - um filme-revolução, Acossado - um filme de vanguarda, Jeanne Moreau - o mito da liberdade responsável, Vidas secas, A noite de Antonioni, Viver a vida - síntese telegráfica de uma obra radical.


UM BLOGUE PORRETA

Kino Crazy
, de Sérgio Andrade.
A nova crítica cinematográfica paulistana
através de leituras instigantes e, às vezes, provocadoras.
Análises de filmes clássicos e "alternativos".
Informações sobre lançamentos (em dvd).

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O presente existe, é nosso. E o passado também existe, em forma de memória, durando dentro de nós, enquanto durarmos. No passado fizemos escolhas que, mesmo precoces e inconseqüentes, determinaram quem somos. Sim, mas seria cruel constatar que as grandes escolhas da vida são feitas na imaturidade, se o ser humano não pudesse renovar suas escolhas. Porém, enquanto houver presente - e coragem - escolha haverá. (Carmen VASCONCELOS. Como se não houvesse amanhã, in Substantivo Plural)


Paz. Tranquilidade. Sentimento. Névoa.
Sonhar é preciso,
como já diziam no início do século passado.
Sonhemos, hoje, com a imagem de
Yuri Bonder
[ in PhotoNet ]


BALAIO PORRETA 1986
nº 2074
Rio, 27 de julho de 2007



QUERERES
de Acantha
[ in La Vie Bohème ]

Sigo tua letra em minha carne
riscando lentamente
histórias de desejo e desespero
abandono e sedução.


ORAÇÃO DA BIBLIOTECA CENTRAL
de Anderson Henrique Sousa
[ in Manufatura ]

acender as velas
e ir além:

guiai-me
São Leminski
cheio de álcool
e São Baudelaire
cheio de pólvora

amém


TEMPO BOM
de Raiça Bomfim
[ in Maínha me deu lápis ]

sinuca cerveja revanche
dancinha tropeço cochicho
risada silêncio barulho
um olhar sapeca
e um beijinho distraído

Ser feliz é corriqueiro e tão bonito...


UM BLOGUE PORRETA

Politicamente Incorreto, de Bosco Sobreira.
Poemas politicamente corretos.
Crônicas literariamente bem realizadas.
Memórias politicamente substanciosas.

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...
A poesia está para o poeta
assim como a ânsia está para o estômago:
cada um vomita o que quiser.
(Fernanda Passos, in Poesia na Veia, 19/07/07)

quinta-feira, 26 de julho de 2007


Av. Atlântica, em Copacabana, ao amanhecer:
um novo dia, uma nova esperança, um novo alvorecer
na foto extraída do blogue
Avenida Copacabana


BALAIO PORRETA 1986
nº 2073
Rio, 26 de julho de 2007


AS SETE MARAVILHAS DO RIO DE JANEIRO
segundo o Balaio

1. Maracanã
2. Arcos da Lapa
3. Igreja da Ordem Terceira
de São Francisco da Penitência
4. Jardim Botânico
5. Aterro do Flamengo
6. Real Gabinete Português
7. Avenida Atântica

Menção Honrosa:
Mosteiro de São Bento
Museu de Arte Moderna
Centro Cultural Banco do Brasil
Rua Pires de Almeida
Palácio da Cultura
Cristo Redentor
Cinema Odeon
Paço Imperial
Parque Lage
Palácio do Catete
Pão de Açúcar
Paço Imperial
Engenhão


GLOSSÁRIO CARIOCA DOS ANOS 40 DO SÉCULO PASSADO
[ Cf. Raul Pederneiras, 1946,
in O Rio de Janeiro em prosa e verso, 1965 ]

Abarbado : Embaraçado. Atrapalhado. Atordoado.
Afinfar : Bater. Espancar.
Almoço-de-assovio : Café com leite, pão e manteiga.
Arame : Dinheiro.
Azeiteiro : Namorador. Conquistador.
Bachicha [no submundo] : Estrangeiro.
Baile : Conflito.
Barata : Automóvel pequeno.
Chupar uma barata : Ficar furioso.
Caganinfância : De baixa estatura. Tipo sem valia.
Catedrático : Chope duplo.
Disga : Penúria. Má sorte. Desgraça.
Doutor : Urinol.
Engolideira : Garganta.
Chamar nas engolideiras : Surrupiar.
Entupigaitado : Embaraçado. Complicado. Atrapalhado.
Esbórnia : Orgia. Má vida. Devassidão.
Estácio [no submundo] : Vítima de furto.
Falar francês : Ter dinheiro. Cheio da grana.

[ Continua na próxima semana ]


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS
666 livros indispensáveis (25c / 111 )

Um passeio pela Cidade do Rio de Janeiro [1862 e 1863], de Joaquim Manuel de Macedo. Rio de Janeiro ; Belo Horizonte : Livraria Garnier, 1991, 362p. /Ilustrado/ [] Do autor de A moreninha e O moço loiro, um dos livros fundamentais para se conhecer a história do Rio até 1860. Em estilo agradável, simples e objetivo, com preciosos toques jornalísticos que levam em consideração informações históricas, geográficas, sociais e humanas, trata-se de um livro valioso - e não só para os cariocas. O capítulo sobre o Palácio Imperial, por exemplo, é excelente.

Memórias da Cidade do Rio de Janeiro [1955], de Vivaldo Coaracy. Rio de Janeiro : José Olympio, 1965, 558p. /Ilustrado/ [] Igualmente fundamental, igualmente gostoso de se ler. Os capítulos, sempre bem documentados, já dizem de seu valor: A Praça Quinze, O Rossio (a atual Praça Tiradentes, onde ficavam os cabarés de antigamente), o Largo da Carioca (em destaque: a Ordem Terceira da Penitência e sua Igreja), A Praça da República, as Velhas Ermidas, as Igrejas Antigas, As procissões, Os escravos, A Baía. E uma relação de ruas [cf. o livro de Brasil Gerson].

O Rio antigo do fotógrafo Marc Ferrez; paisagens e tipos humanos do Rio de Janeiro, 1865-1918, de Gilberto Ferrez. Pref. Pedro Nava. São Paulo : Ex Libris, 1985, 222p. [] Dizer que se trata de uma obra maravilhosa, com suas dezenas de fotografias quase sempre antológicas, é pouco. "Mas adianta explicá-la? Que vale a palavra descolorida diante dessas coisas prodigiosas que são a luz e a forma? ... Que cada um folheie com atenção este álbum precioso - relíquia do gênio de um fotógrafo que soube ser pintor e escultor como os seus maiores" (Pedro Nava).


UM BLOGUE PORRETA

CopacabAna de Toledo
.
Uma viagem lírica e sentimental
à procura da Copacabana mitológica
dos velhos carnavais, monumentos, ruas
e seus reclames, seus tipos, suas surpresas.

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Oh! sim, as ruas têm alma! Há ruas honestas, ruas ambíguas, ruas sinistras, ruas nobres, delicadas, trágicas, depravadas, puras, infames, ruas sem história, ruas tão velhas que bastam para contar a evolução de uma cidade inteira, ruas guerreiras, revoltosas, medrosas, esplinéticas, esnobes, ruas aristocráticas, ruas amorosas, ruas covardes que ficam sem pinga de sangue... (João do RIO /Paulo Barreto/, Alma das ruas cariocas [1908], in O Rio de Janeiro em prosa e verso, de Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, orgs. Rio de Janeiro : José Olympio, 1965, p.147)

quarta-feira, 25 de julho de 2007


"Cultive o amor como cultivas uma rosa. É preciso paixão e maestria, paciência e ousadia. A rotina morna mata lentamente e minhas queixas virarão prosa" (Carolina Salcides, in Lunati-ka)


BALAIO PORRETA 1986
nº 2072
Rio, 25 de julho de 2007



ODISSÉIA
de Hildeberto Barbosa Filho (PB)
[ in Eros no Aquário, 2002 ]

Só um poeta
é capaz de atravessar
desertos
em busca de um oásis
de palavras.


DECL/AR/AÇÃO
de Moacy Cirne (RN)
[ in Balaio, em 1992 ]

Declaro,
para os devidos fins,
que
este
poema
contém apenas
algumas palavras cansadas
um crepúsculo doidão
e várias bucetas prateadas


Repeteco
UMA PEQUENA HISTÓRIA CASCUDIANA

Cascudo é convidado por um amigo, velho mestre de fandango, para assistir a um ensaio [em Natal]. Estão compostas as duas alas de marujos e, ao som de instrumentos de cordas, marinheiros e oficiais começam a cantar:

- Nas ôndias do mar...

- Pára, pára! - ordena o mestre. - Respeitem o professor Cascudo. Eu já disse mais de mil vezes que a palavra não é ôndias. A palavra certa é ôndegas!

[ in Câmara Cascudo, um brasileiro feliz,
de Diógenes da Cunha Lima ]


UM BLOGUE PORRETA

Toca do Jens.
Política & humor.
Humor & angústia.
Angústia & papos em mesas de bar.
Papos em mesas de bar & críticas à mídia golpista.

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O patriota é um fanático e, muito freqüentemente, um farsante e um covarde. (O homem perfeito [1923], in O livro dos insultos de H.L. Mencken. Org., trad. & pref. Ruy Castro. São Paulo : Companhia das Letras, 1988, p.35)

terça-feira, 24 de julho de 2007


Uma explosão de luzes e cores:
devaneios que se fazem poesia
na foto de Telmo Freitas.
[ in Olhares ]


BALAIO PORRETA 1986
nº 2071
Rio, 24 de julho de 2007


POEMA
de Carlos Pena Filho (PE)
[ in Livro geral, 1959 ]

Senhora de muito espanto,
vestindo coisas longínquas
e alguns farrapos de sono,

eu vim para te dizer
que inutilmente contemplo
na planície de teus olhos
o incêndio do meu orgulho.

Senhora de muito espanto,
sentada além do crepúsculo
e perfeitamente alheia
a realejos e manhãs.

Eu vim, para te mostrar
que se inaugurou um abismo
vertical e indefinido
que vai do meu lábio arguto
ao chumbo do teu vestido.

Senhora de muito espanto
e alguns farrapos de sono,
onde o céu é coisa gasta
que ao meu gesto se confunde.

Um dia perdi teu corpo
nas cores do mapa-mundi.


UM POUCO DO GLOSSÁRIO NORDESTINO
[ in Dicionário do Nordeste, de Fred Navarro ]

Biloura (RN, PB) : Síncope, ataque
Caxarenga (AL, SE) : Faca velha
Corno de biqueira (PB) : Corno manso
Fianga (CE) : Rede velha [e rasgada]
Funhenha (PI) : Tesão/arrepio
Homeopatia (PE) : Cachaça
Ispilicute (CE) : Dondoca, perua, ricaça
Jegue-manso (BA) : Amante discreto, come-quieto
Labrocheira (CE) : Mulher sem requinte ou desclassificada
Mal-de-amores (CE) : Doenças venéreas, em geral
Mangangão (BA) : Poderoso, ricaço, "autoridade"
Mangar (RN & outros Estados) : Zombar
Manicaca (RN) : Sujeito que só faz o que a mulher permite
Rabichola (PB) : Bunda, nádegas, rabo, traseiro
Torar (RN & outros Estados) : Decepar, cortar
Xiringada (RN, AL) : O mesmo que esguichada, jato d'água


A IMPERATRIZ DE MIZOGUCHI

Desde sábado, só tenho olhos para A imperatriz Yang Kwei-Fei (Mizoguchi, 1955), decididamente um dos maiores filmes que já vi, até hoje. Desde sábado, vejo e revejo A imperatriz Yang Kwei-Fei sem parar. Com sua delicadeza, sua elegância e seu colorido inigualável, é uma obra como poucas. Uma jóia rara do cinema japonês e mundial. Como jóia rara, do mesmo Kenji Mizoguchi, é Contos da lua vaga (1953).


UM BLOGUE PORRETA

O Refúgio, de Sandra Camurça.
Tapeçarias verbais e grafiteiras.
Pernambucanálias variadas.
As dimensões salvadoras da Poesia.

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Na verdade só sabemos quão pouco sabemos - com o saber cresce a dúvida. (Johann Wolfgang GOETHE. Arte e antiguidade [1826], in Máximas e reflexões. Lisboa : Guimarães Editores, 1987, p.79)

segunda-feira, 23 de julho de 2007



Um pouco de humor:
Corrreio sentimental lusitano,
mas poderia ser brasileiro,
por que não?

[ in revista Maria, de Portugal,
segundo o blogue Viva la Revolucción ]


BALAIO PORRETA 1986
nº 2070
Rio, 23 de julho de 2007



A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS
666 livros indispensáveis (25b / 111)

Os 100 melhores contos de humor da literatura universal, de Flávio Moreira da Costa, org. Rio de Janeiro : Ediouro, 2001, 546p. [] Uma verdadeira antologia do que existe de melhor no humor literário: A obra de arte (Tchecov), A pílula (Leacock), De cima para baixo (Artur Azevedo). E mais. E mais: Deitado na cama (Chesterton), O macaco que quis ser escritor satírico (Monterroso), Um acidente chocante (Greene). Continuemos. Continuemos: Os sexos (Parker), O homem que sabia javanês (Lima Barreto), Miss Corisco (Antônio de Alcântara Machado). São muitos os textos selecionados, como, por exemplo, Metamorfose (Luís Fernando Veríssimo) e O dia em que matamos James Cagney (Moacyr Scliar). Ou, ainda, A coroa de orquídeas (Nelson Rodrigues) e Manual de instruções (Cortázar). Ou mesmo as impagáveis cartas de Groucho Marx para a Warner Brothers. Claro que há mais autores selecionados, de Boccaccio ao Marquês de Sade, de Voltaire a Mark Twain, de Machado de Assis a Maupassant, de O. Henry a João do Rio, de Aníbal Machado a Machado de Assis. E Millôr Fernandes.


O DIARIM DE MARIA BUNITA - XIII

Meu diarim
quirido,

Ando muito arretada pur esses dias, tanto qui nem tive coragem de lhe contar. Apois num é qui Virgulino achou de levar a cabroêra toda pro cabaré de Inácia, lá pras banda de Poço Seco? E olha qui isso dá um dia e meio de caminhada! Levantou os hômi logo cedim e danou-se mato adentro, tudo cantando, feliz da vida! Só fiquemo eu, as muié e uns dois cabra novato pra tomar conta do acampamento. Mais a minha raiva maior é qui ele fez questão de levar o Diabo Lôro, se ao meno ele tivesse ficado, as coisa por aqui tinha ficado mais animado, eu quiria mermo era vê a paia da cana avoá. Dadá vei se queixar cum eu, mandei qui ela ficasse no canto dela, eu lá sô muié de ficar escutano lenga-lenga de ninguém? Adimais, o homi dela tombem é meu, em alguns momentos, num me interessa saber nada deles dois... Mais derna qui meus dois amor foram simbora raparigar qui tô aqui morreno de sordade de uma noitinha cum eles na bêra do rio, tô sim, ai, ai...


FEIRA DE CITAÇÕES ESPORRENTAS
[ in O livro dos insultos de H.L Mencken,
editado pela Companhia das Letras, de São Paulo
]

|| Digam o que quiserem sobre os Dez Mandamentos, devemos nos dar por felizes por eles não passarem de dez.

|| Mostre-me um puritano e eu lhe mostrarei um filho da puta.

|| O principal conhecimento que se adquire lendo livros é o de que poucos livros merecem ser lidos.

|| O adultério é a democracia aplicada ao amor.

|| Imoralidade é a moralidade daqueles
que se divertem mais do que nós.


UM BLOGUE PORRETA

Marconi Leal.
Humor cáustico. Humor ferino.
Blogue que é uma porta aberta para boas gargalhadas.
E para um bom texto, com boa dose de crítica.

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O humorismo é a quintessência da seriedade. (Millôr FERNANDES. Millôr definitivo: a Bíblia do Caos. Porto Alegre: L&PM, 2002, p.278)

domingo, 22 de julho de 2007


"Aquilo que o fogo iluminou conserva uma cor indelével. Aquilo que o fogo acariciou, amou, adorou, adquiriu recordações e perdeu a inocência. ... Com o fogo tudo se modifica. Quando queremos que tudo se modifique apelamos para o fogo". (Gaston Bachelard: A psicanálise do fogo)

[ Foto de José Lopes, in Teia de Palavras ]


BALAIO PORRETA 1986
nº 2069
Rio, 22 de julho de 2007



COLECCIÓN
de Lado B

Eu coleciono palavras
mas elas me escapam


EPÍGRAFE
de Adelaide Amorim
[ in Inscrições ]

cinzas do tempo
pousam
em todas as histórias


TÁCTIL
de Márcia Maia
[ in Tábua de Máres ]

Num ponto impreciso entre
seda veludo
pêssego e vinho
a (in)exata palavra
que tange sugere
seduz


UM BLOGUE PORRETA

Tábua de Marés, de Márcia Maia.
Poesia e produtividade:
a produção de poemas que primam pela qualidade.
Poesia = Nordestinidade.

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Antes de ser filho da madeira, o fogo é filho do homem. (Gaston BACHELARD. A psicanálise do fogo [1938]. Lisboa: Estúdio Cor, 1972, p.53)

sábado, 21 de julho de 2007


Grandes momentos do cinema:
M, o vampiro de Dusseldorf (Fritz Lang, 1931).
Com interpretação magistral de Peter Lorre,
fotografado por Fritz Arno Wagner
e tema musical [assobiado] de Edward Grieg (Peer Gynt).
"O roteiro de M, o vampiro de Dusseldorf inspirou-se na crônica policial: uma série de assassinatos praticados contra crianças na cidade de Dusseldorf. Nas mãos de um diretor qualquer, esse material poderia resultar, no máximo, num thriller interessante feito com correção, se apoiado num bom roteiro. Servido pelo talento cinematográfico de Lang, sua sensibilidade artística e a visão crítica da sociedade, transformou-se num dos maiores filmes da história do cinema e, certamente, a obra-prima do cinema sonoro alemão durante muitos anos". (Francisco SOBREIRA, in Clarões da tela; o cinema dentro de nós, de Marcos Silva e Bené Chaves, orgs. Natal: EDUFRN, 2006, p.59-60).


BALAIO PORRETA 1986
nº 2068
Rio, 21 de julho de 2007
105 anos do Fluminense Futebol Clube



POEMA
de Sandra Camurça (PE)
[ in O Refúgio ]

num mergulho quente-úmido
você afunda
dentro de mim
em direção ao centro da Terra


MARACUJÁ
de Napoleão de Paiva Sousa (RN)
[ in Substantivo Plural ]

de tão redondo e belo
estabelece a dúvida:
fruta ou bibelô?
se da fruteira sai, ponche é.
se fica, bruxuleia em rugas
na atrofia lenta, seca
do enfeite que envelhece
quieto.


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS
666 livros indispensáveis (25a / 666)

A Cidade de Deus [413-426], de Santo Agostinho. Trad. Oscar Paes Leme. Intr. Padre Riolando Azzi. São Paulo: Editora das Américas, 1961, 446p. [Livro adquirido em Natal, na Universitária, por volta de 1962-63] "A Cidade de Deus exerceu sobre a história das doutrinas uma das mais diversas e duráveis influências. Ela fascinou a Idade Média cristã" (Michel Fédou, in Dicionário das obras políticas, 1993, p.19). Como já se disse inúmeras vezes, trata-se, a rigor, da primeira e mais consistente tentativa de uma fundante leitura teológica da História, ou seja, neste caso particular, de uma leitura de base cristã. Uma das obras fundamentais do pensamento religioso-político-filosófico ocidental, entenda-se A Cidade de Deus - com todo o seu fulgor teológico - como a abertura ontológica para um Platão cristianizado. Aliás, esse é o entendimento de Riolando Azzi, na Introdução. Um livro absolutamente indispensável. Para ser lido e relido com a devida atenção.

Manifesto do Partido Comunista [1848], de Karl Marx & Friedrich Engels. Trad. Marco Aurélio Nogueira e Leandro Konder. Petrópolis: Vozes, 1988, 152p. [São muitas as traduções em língua portuguesa do Manifesto; escolhemos esta entre outras, sem nenhum motivo especial para fazê-lo, a não ser pela tradução confiável] Até hoje, em termos de propaganda política tecida com rigor e vigor, o Manifesto de Marx & Engels continua sendo um documento cultural de rara importância para a história social do pensamento humano. E se o socialismo real, pretensamente construído em nome do marxismo, faliu em várias frentes de prática política, a Teoria Marxista - em suas premissas políticas e econômicas - está mais viva do que nunca. Decerto, é preciso saber estudá-la e apreendê-la, sem os vícios revisionistas e pseudo-socialistas que a deturparam durante anos e anos, décadas e décadas. Faz-se necessário, pois, que voltemos ao Marxismo, numa releitura criadora de Marx e Engels.


UM BLOGUE PORRETA

Luzes da Cidade
, de Francisco Sobreira.
Cinema e literatura:
contos, análises de filmes
e curiosidades cinematográficas.
Escrita segura, escrita madura.

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Deplorar a religião é tão inútil quanto celebrá-la. Onde encontrar a transcendência? Temos as artes: Shakespeare, Bach e Michelangelo ainda bastam para a elite, mas não bastam para o povo. (Harold BLOOM. Jesus e Javé; os nomes divinos. Rio de Janeiro: Objetiva, 2006, p.271)

sexta-feira, 20 de julho de 2007


Há mistérios e mistérios.
Há poesia e poemas.
Há o tudo e o nada.

Há a dor da tragédia,
uma tragédia que veio do espaço
e explodiu em solo paulistano.
E há a foto de Larissa Lasemn
[in Meu Porto ]


BALAIO PORRETA 1986
nº 2067

Rio, 20 de julho de 2007



POEMA
de
Marcelo Dolabela
[ in
A Cigarra, nº 35. SP, jun/2000 ]

sobra
sombra

em

minha
estrada



esta

palavra
é minha
pegada



COMEÇOU A FESTA DE SANT'ANA DE CAICÓ. A foto de Suerda Medeiros, com a "furiosa" (de uniforme azul) ao fundo, registra o momento, ontem à tarde, da chegada da Procissão na Praça da Matriz. Confesso que vi este e outros retratos, ouvindo o Hino de Sant'Ana, com inegável emoção: a emoção de um materialista militante que nunca deixou de lado suas raízes seridoenses. No meu escritório, aqui em casa, lado a lado, uma foto ampliada de Karl Marx e uma imagem de Nossa Senhora de Sant'Ana, presente do amigo caicoense Oberdan Damásio dos Santos.


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS
666 livros indispensáveis (24c / 666)

História do marxismo, 1: O marxismo no tempo de Marx, de Eric Hobsbawm & outros. Trad. Carlos Nelson Coutinho & Nemésio Salles. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979, 444p. [] Excelente coletânea de textos de uma História que inclui vários volumes. Destaquemos, em particular, os capítulos assinados por Hobsbawm (Marx, Engels e o socialismo pré-marxiano; Aspectos políticos da transição do capitalismo ao socialismo; A fortuna das edições de Marx e Engels) e Nicola Badaloni (Marx e a busca da liberdade comunista).


UM BLOGUE PORRETA

Proseando com Mariza
, de Mariza Lourenço.
Literatura. Sensibilidade. Poesia.
Poesia. Emoção. Literatura.

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Uma nação se enfraquece quando o sentimento religioso se corrompe e se altera. (Ibn KHALDÛN. Prolegômenos, 1377)

quinta-feira, 19 de julho de 2007


São João do Sabugi e a Serra do Mulungu:
o Seridó, sempre o Seridó
em nossos sonhos mais repousantes.


( Foto de Anchieta França, in Sabugi by JQ )


BALAIO PORRETA 1986
nº 2066
Rio, 19 de julho de 2007



AS SETE MARAVILHAS NATURAIS DO RIO GRANDE DO NORTE

1. O Rio Potengi, entre Macaíba e Natal
2. As serras & os serrotes que formam Gargalheiras, em Acari
3. A Serra de Mulungu, em São João do Sabugi
4. As dunas e lagoas de Genipabu, em Natal
5. O mar interior de Galinhos, em Galo e Galinhos
6. A Praia de Pipa, em Tibau do Sul
7. O Rio Seridó, no inverno

Menção honrosa:
Baía Formosa, em Baía Formosa
Casa de Pedra, em Martins
Barra de Tabatinga, em Nísia Floresta
Ponta do Mel, em Areia Branca


UM BLOGUE PORRETA

Sela de Prata, de Marcos Felipe.
Filmes & filmes: a força do cinedocumentário.
A crítica a partir de um olhar histórico-antropológico.
As admirações: Win Wenders, Eduardo Coutinho,
Luchino Visconti, Michelangelo Antonioni,
David Lynch. E outros. E outros.
Críticas pertinentes, análises sedutoras.

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Para um ser consciente, existir consiste em mudar, mudar para amadurecer, amadurecer para criar a si mesmo indefinidamente. (Henri BERGSON. A evolução criadora, 1907)

quarta-feira, 18 de julho de 2007


O céu em chamas:
poesialuscofusco
o fogo que vem das imagens
de Fátima Joaquim
[ in Olhares ]


BALAIO PORRETA 1986
nº 2065
Rio, 18 de julho de 2007



CAICÓ
de Moacy Cirne
[ in Cinema Pax, 1983 ]

a cidade, de sol a sol,
principia pelo fim
no poço que, santana, a protege

a cidade, de açude em açude,
afoga os minerais
nas pescarias noturnas transparências

a cidade, de sábado a sábado
completa o sertão
com seus horizontes mágicos cordéis

a cidade, de rua em rua,
transborda de amor
nos becos bêbados botequins

a cidade, de ponte a ponte,
margeia os rios
da memória fluvial seridó

a cidade, de pedra em pedra,
constrói o branco
de seu silêncio limpo fugidio

a cidade, de festa a festa,
recolhe os frutos
da noite que, santana, se faz julho


FESTA DE SANT'ANA

A partir de amanhã, e durante 10 dias, acontecerá a Festa de Sant'Ana, padroeira de Caicó, comemorada pelos seridoenses desde 1748. Trata-se de um momento único na vida da cidade: um momento, sobretudo, de reencontro mágico-afetivo de amigos e parentes. E, para muitos e muitos, de profunda e inabalável fé.
Na Humanidade, no Sertanejo, no Cristianismo.



UM BLOGUE PORRETA

Lambuja
, de Regina Pouchain.
Uma explosão de cores:
releituras cromático-semiótico-dionisíacas,
sempre criativas,
de poemas visuais e poemas/processo.

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O homem é uma criação do desejo, não uma criação da necessidade. (Gaston BACHELARD. A psicanálise do fogo [1938]. Lisboa: Estúdios Cor, 1972, p.36-37)

terça-feira, 17 de julho de 2007


Águas paradas, águas cristalinas.
E a vida continua.
Para os inquietos. Para os curiosos.
Para os que lutam.
Para os que vivenciam a Arte e a Poesia.

( Foto de Filipa Scarpa, in Olhares ]


BALAIO PORRETA 1986
nº 2064
Rio, 17 de julho de 2007



ÍNDIA AINDA
de José Carlos Capinan (BA)
[in A Cigarra, nº 35, SP, junho de 2000]

Brasil, Brasil
1500
Em pleno 2000
Em tempo ainda
De sermos a Índia
Que Cabral não viu


ÓRFÃ
de Maria Maria (RN)
[ in Espartilho de Eme ]

Sou órfã
de tua boca e músculos

Muito!
de teu músculo generoso

Sou órfã
de tudo que lembra

o teu olhar fogoso

Sou órfã de tua mão,
que feito cão,
me morde o pescoço

Órfã de teu cheiro doce.
Muito, de teu calor

Órfã do teu amor.


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS
666 livros indispensáveis (24b / 111)

História da Filosofia; idéias, doutrinas, sob a direção de François Châtelet. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1974, 8vol. [] Excelente introdução aos estudos filosóficos, da Grécia Clássica aos tempos modernos, com uma equipe de ótimos historiadores/pensadores. Alguns dos capítulos: Teologia e filosofia na Idade Média (por Jean Pépin, vol.2), O pensamento chinês (Bednedykt Grynpas, vol.2), Galileu e a nova concepção da natureza (Jean-Toussaint Desanti, vol.3), Spinoza ou Uma filosofia política de Galileu (Marianne Schaub, vol.3), Hume (Gilles Deleuze, vol.4), Karl Marx e F. Engels (Nicos Poulantzas, vol.5), A genealogia nietzschiana (Jean-Michel Rey, vol.6), A geografia (Yves Lacoste, vol.7), A epistemologia na França (Michel Fichant, vol.8).


AS SETE MARAVILHAS NATURAIS DO RIO GRANDE DO NORTE

Ainda esta semana, no Balaio.


UM BLOGUE PORRETA

Antigas Ternuras, de Marco Santos.
Lembranças. Relembranças.
Crônicas que são verdadeiras viagens literárias
em busca de tempos & espaços perdidos.
Com trilha sonora: ternuras antigas.

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A arte é feita para perturbar. A ciência tranqüiliza. (Georges BRAQUE. Cadernos, in Dicionário filosófico de citações. São Paulo: Martins Fontes, 2004, p.8)

domingo, 15 de julho de 2007


Fortaleza dos Reis Magos,
entre o Potengi e o mar, em Natal,
que começou a ser edificada no dia 6/1/1598
(Foto de autoria desconhecida)


BALAIO PORRETA 1986
nº 2063
Rio, 15-16 de janeiro de 2007


SURPRESA
de José Bezerra Gomes (RN)
[ in Antologia poética, 1974 ]

Vi minha
casa

Olhei-a
olhando

Olhei olhando
para mim


Com a participação/intervenção do Homem,
e segundo o Balaio Porreta,
eis
AS SETE MARAVILHAS DO RIO GRANDE DO NORTE

1. A Fortaleza dos Reis Magos, em Natal
2. O Açude Gargalheiras, em Acari
3. A Praça da Matriz, em Caicó
4. O Mirante da Carranca, em Martins
5. O Santuário do Sagrado Coração de Jesus, em Jardim do Seridó
6. O Bosque dos Namorados, em Natal
7. O Açude Itans, em Caicó
Menção honrosa:
Barragem Passagem das Traíras, em São José do Seridó
Ponte Velha de Igapó, em Natal
Estádio Machadão, em Natal
Salinas de Galinhos

Eis, ainda segundo o Balaio,
AS SETE MARAVILHAS DA CULTURA LITERÁRIA POTIGUAR

1. História da Fortaleza da Barra do Rio Grande (1979),
de Helio Galvão

2. Canto de muro (1959),
de Luís da Câmara Cascudo

3. A biblioteca e seus habitantes (1970),
de Américo de Oliveira Costa

4. A penúltima versão do Seridó (2005),
de Muirakytan Macedo

5. Antologia poética (1974),
de José Bezerra Gomes

6. Livro de poemas (1927),
de Jorge Fernandes

7. As pelejas de Ojuara (1986),
de Nei Leandro de Castro

Menção honrosa:
Sertões do Seridó (1980),
de Oswaldo Lamartine de Faria
Prelúdio e fuga do real (1974),
de Luís da Câmara Cascudo
O arado (1959),
de Zila Mamede
Currais Novos: Imagem / tempo / espaço (2005),
de Francisco Ivan

UM BLOGUE PORRETA

Grande Ponto
, de Alexandro Gurgel:
Informações culturais sobre Natal e o nosso Rio Grande.
Poemas e fotografias. E literatura.

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Três velhos canhões em cima e dois na Praça Nobre, deixados em desordem, é tudo quanto resta da artilharia. Nada identifica a origem ou a data: recomidos da ferrugem, são testemunhas silenciadas. O passado ficou sem voz: por isto tantos erros se acumularam sobre o Castelo de Mascarenhas Homem. (Hélio GALVÃO. História da Fortaleza da Barra do Rio Grande [1979]. Natal: Fundação Hélio Galvão; Scriptorim Candinha Bezerra, 1999, p.65).

sábado, 14 de julho de 2007


Grandes momentos do cinema:
Blow-up (Michelangelo Antonioni, 1966).
Mais uma vez o cinema do Mestre italiano com suas conotações formalmente apolíneas, mesmo quando embriagadoras, como aqui. Não haverá em Blow-up um duplo olhar que revela o não-revelado, que revela aquilo que não é para ser revelado? Quando o vi pela primeira vez, ainda nos anos 60, havia nele qualquer coisa que me dilacerava, que me queimava, como se a tangível Londres não fosse uma Londres intangível. Ao mesmo tempo, sua modernidade nos angustiava: o filme estava dentro de nosso sangue, de nossas entranhas, de nossos desejos, de nossas desilusões. Visceralmente. Até hoje. Até hoje. (Moacy CIRNE. Luzes, sombras e magias. Natal: Sebo Vermelho, 2005, p.114)


BALAIO PORRETA 1986
nº 2062
Rio, 14 de julho de 2007



OFERENDA
de Laura Amélia Damous
[ in A poesia maranhense no século XX, de Assis Brasil ]

Venho te oferecer meu coração
como o cansaço se oferece aos amantes
o suor aos corpos exaustos
depois de definitivo abraço
Venho te oferecer meu coração
como a lua se oferece à noite
e o vento à tempestade
Venho te oferecer meu coração
como o peixe se oferece à captura
no engano do anzol


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS
666 livros indispensáveis (24a / 111)

Livro de poemas de Jorge Fernandes [1927]. Natal: Fundação José Augusto, 1997, 96p. [] Edição facsimilar: a primeira explosão modernista do Rio Grande do Norte. Manuel Bandeira, Luís da Câmara Cascudo e Mário de Andrade, entre outros, tinham em alta conta os versos regionalistas e, às vezes, onomatopaicos (além do caligramático Rede "suspensa") do poeta potiguar. Jorge Fernandes, com esse único livro, e José Bezerra Gomes, igualmente com a solitária Antologia poética, tornaram-se referência obrigatória para as vanguardas (anti/contra)literárias de Natal, a partir de 1966/67.

O Eu profundo e os outros Eus, seleção poética de Fernando Pessoa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1975, 288p. [Nossa edição dos anos 60, que considerávamos uma verdadeira Bíblia da Poesia, ficou para sempre nas mãos de uma jovem morena carioca, por volta de 1968.] Basta dizer que se trata do maior poeta de língua portuguesa, depois de Camões. É preciso dizer mais alguma coisa? Fernando Pessoa, Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos: quatro pessoas numa só - eis aqui o Santíssimo Quarteto da Poesia Universal. Em se tratando de Pessoa, tudo vale a pena, já que a sua poeticidade não é pequena.

O casamento [1966], de Nelson Rodrigues. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, 260p. [] Um romance arrasador, que atinge, com furiosa agressividade, os padrões morais e amorais da classe média suburbana das grandes cidades brasileiras, particularmente o Rio de Janeiro. Ninguém se salva da sujeira lancinante que envolve todos os personagens. Não há compaixão, não há salvação. Mas há a obra-prima: a literatura que, com suas imperfeições, consegue ser perfeita. Como já foi dito, aliás. Não é um livro qualquer - é um livro de Nelson Rodrigues, é a obra de um "anjo pornográfico" (cf. Ruy Castro).

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Não nos desculpemos de amar com a imaginação. Tudo é imaginação. O amor é imaginação concentrada; a poesia, imaginação difusa. (Joaquim NABUCO. Pensamentos soltos. Brasília: AN Editora, s/d, p.305)

sexta-feira, 13 de julho de 2007


Será a Eternidade tranqüila como uma foto
de Tomás Kaspar
in Light Harmony?
É possível pensar na Eternidade
como uma rebuscada fantasia barroca
grávida de anoiteceres e azulências?
Ou, para todo o sempre,
existirá apenas através das obras de
Bach, Monteverdi, Charpentier,
Beethoven, Pixinguinha,
Luiz Gonzaga, Dante,
Cervantes, Camões,
Shakespeare,
Van Gogh,
Bosch, Gaudí,
Antonioni, Welles, Godard,
Eisner, Moebius, McCay,
Coltrane, Davis, Parker?


BALAIO PORRETA 1986
nº 2061
Rio, 13 de junho de 2007


"DESENCANTO"
de
Iracema Macedo (RN)
[ in
Lance de dardos, 2000 ]
a Manuel Bandeira

Sou uma mulher vulgar
e faço versos como quem fode
sentindo prazer e dores
Eu faço versos como quem cospe
no bicho morto no meio-fio
sentindo nojo sentindo encanto
Eu rezo terços
e chupo lâminas
E faço versos como quem goza
e gozo como quem glosa


SEBO VERMELHO / CARTACAPITAL

Não é segredo para ninguém: consideramos a CartaCapital a melhor revista semanal brasileira. Pois bem, com indesculpável atraso, informamos com alegria que o número que (ainda) se encontra nas bancas, com data de 11 de julho, tem uma ampla matéria de duas páginas inteiras com Abimael Silva, o editor e sebista natalense do Sebo Vermelho. Um livreiro aventuroso (p.52-53) é o título da matéria.

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Desejamos ser compreendidos, porque desejamos ser amados, e desejamos ser amados porque amamos. (Marcel PROUST. Em busca do tempo perdido: A fugitiva. Trad. Carlos Drummond de Andrade)

quinta-feira, 12 de julho de 2007


Tímida ou não, incompleta ou não, "guilhotinada" ou não,
no campo fértil da plasticidade amorosa
uma mulher se faz bela, e bela, e bela,

entre muitos e muitos e muitos outros,
através das fotografias de um Jan Saudek, artista tcheco,
que "giram em torno da sexualidade e da relação
entre homens e mulheres, velhice e juventude, vestuário e nudez".
Quase sempre, Saudek "adota uma abordagem antagônica para
alcançar poderosos efeitos pictóricos" (in Fotografia do século
XX; coletânea do Museum Ludwig de Colônia, p.578).


BALAIO PORRETA 1986
nº 2060
Rio, 12 de julho de 2060


POEMA
de João Victor
[ in Tangerinas incendiárias ]

Quase-poema e/ou Quase uma sombra
e/ou Mais um breve vislumbre do quase
e não podia esperar
tinha que acabar no antes
tinha que acabar nu
tinha que


MEU HOMEM
de Luiza Viana
[ in O céu do lençol, 1996 ]

Anjo meu
cheiro de mel
puro bordel
de poesia

Olho nos seus olhos:
viro doce
de ambrosia


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS
666 libros indispensáveis (22c / 111)

Manual dos inquisidores, escrito por Nicolau Eymerich [1376], revisto e ampliado por Francisco de La Peña [1578]. Pref. Leonardo Boff. Rio de Janeiro: Globo, 1993, 256p. [] Horror dos horrores: em tom frio, calculista, nada cristão, o autor revela, em pormenores, entre outros pontos, como se deve torturar (sobretudo psicologicamente) para se obter uma confissão de supostos hereges, apenas porque eram dissidentes do pensamento bitolado da Igreja Católica. Tudo começou no século XIV: o nazismo antes do nazismo, o inferno antes do inferno, a morte antes da morte - eis os ingredientes da "Santa" Inquisição.

Fotografia do século XX; coleção do Museum Ludwig de Colônia, por Reinhold MiBelbeck. Köln; London; Madrid; New York; Paris; Tokio: Taschen, 1996, 760p. [] Excelente mapeamento do acervo fotográfico do MLC, incluindo material, em boa quantidade, de Jan Saudek - um dos mais representativos da fotografia contemporânea -, Man Ray - um gênio da fotografia experimental -, Ansel Adams - um nome histórico. E tais e quais: Richard Avedon (inluindo uma maravilhosa foto de Brigitte Bardot, p.33), Cecil Beaton, Robert Capa, o incomparável Cartier-Bresson, Robert Doisneau, Alexander Rodchenko, Moholy-Nagy. E mais.

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A perfeição de Buda é mais bela do que a do cristianismo, porque é mais desinteressada. (VIGNY [1797-1863]. Diário de um poeta)

quarta-feira, 11 de julho de 2007


A foto digital de Dmitry Chebotarev, a partir do Meu Porto,
leva-nos a sonhar: estaríamos dentro de uma película
de ficção científica, à procura de um planeta com
duas belas luas: duas luas e muitos devaneios,
muitos devaneios e muitas surpresas???


BALAIO PORRETA 1986
nº 2059
Rio, 11 de julho de 2007



DE SILÊNCIOS E AUSÊNCIAS
Míriam Monteiro
[ in Meu Porto ]

Um rio
ciciante de poemas
me atravessa,
e eu transbordo
silêncios.

À margem
brinco de não ser,
esperando
o que me desconstrua,
o que rompa algemas.

Inebriada de silêncios,
nem percebo
que o amanhecer tarda
e a poesia
já não vem.


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS
666 livros indispensáveis (23b / 111)

Cartas a um jovem poeta & A canção de amor e morte do porta-estandarte Cristóvão Rilke. Trad. Paulo Rónai & Cecília Meireles. Porto Alegre: Globo, 1966, 110p. [] Se A canção de amor, recriada por Cecília Meisreles, é a prosa poética de Rilke em sua delicadeza mais acentuada, as Cartas, traduzidas por Paulo Rónai, e escritas entre 1903 e 1908, são uma lição de vida e literatura, de sinceridade e espaço intelectual. São Cartas importantes, que representam, para o jovem escritor/poeta, o que existe de verdade e de mais puro em suas palavras.

De poesia e poetas, de T.S Eliot. Trad. Ivan Junqueira. São Paulo: Brasiliense, 1991, 362p. [] Coletânea de 16 ensaios luminosos, quase todos escritos nos anos 40 e 50 do século passado. Ensaios que nos falam da função social da poesia, de sua musicalidade, das fronteiras da crítica. Que se voltam para Virgílio, Milton, Johnson, Byron, Goethe, Kipling, Yeats. "Podemos dizer que a tarefa do poeta, como poeta, é apenas indireta com relação ao seu povo: sua tarefa direta é com sua língua, primeiro para preservá-la, segundo para distendê-la e aperfeiçoá-la" (p.31), escrevia Eliot em 1945.

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Uma obra de arte é boa quando nasceu por necessidade. Neste caráter de origem está o seu critério, - o único existente. (Rainer Maria RILKE. Cartas a um jovem poeta. Trad. Paulo Rónai. Porto Alegre: Globo, 1966,p.25)