domingo, 30 de novembro de 2008


Clique na imagem
(Paula Morelenbaum, in Notas Musicais)
para verouvir
a parte inicial da aula-show
com José Wisnik, Arthur Nestrovski e
Paula Morelenbaum,
na Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio,
e que foi reapresentada, com absoluto sucesso,
ontem, no encerramento do
Encontro Natalense de Escritores


BALAIO PORRETA 1986
n° 2494
Natal, 30 de novembro de 2008


Os artistas, poetas, professores e ficionistas do Estado esperam que o ENE (não, não se trata de um hipotético Encontro de Nudistas Esperançosos) continue sua aventura criativa pelos caminhos do saber e do fazer. E que o próximo ENE (não, não se trata de um hipotético Encontro de Nadadores Extraordinários) seja mais rico do que os anteriores.


ENE: LIVROS E MAIS LIVROS

Entre os livros lançados pela Capitania das Artes, durante o ENE, destacamos especialmente três: as reedições de Uns fesceninos (Oswaldo Lamartine de Faria) e Panorama da poesia norte-rio-grandense (Rômulo Wanderley) e o lançamento de Além do nome (Marize Castro). Ainda esta semana o primeiro e o terceiro serão comentados neste Balaio.


DICIONÁRIO CRÍTICO

Será na terça-feira, dia 2 de dezembro, na Potylivros da Salgado Filho, ao lado do Natal Xópim, a partir das 19h, o lançamento de Dicionário crítico Nelson Werneck Sodré, coletânea de artigos sob a responsabilidade editorial do historiador Marcos Silva. Há vários norte-rio-grandenses entre os colaboradores da obra; Homero Costa, João da Mata Costa e o próprio Marcos Silva são alguns deles.


RECADO PARA DEUS
Liria Porto

tonico morreu

joca
completamente bêbado
beijou-lhe a testa e lhe disse
vai meu irmão
o céu é perto
mas fala com o chefe
só irei lá pra cima
se nalguma esquina
tiver boteco


BALAIO 2500

Em 1 de novembro de 1993, no Balaio 562

Pesquisa DataBalaio
OS 30 MOMENTOS CAPITAIS DA HISTÓRIA DAS ARTES
segundo Sebastião Nunes (MG),
poeta e desbravador de linguagens

1. O castelo (Kafka)
2. O mito de Sísifo (Camus)
3. Nova antologia pessoal (Borges)
4. Ulysses (Joyce)
5. Deus e o diabo na terra do sol (Glauber Rocha)
6. Eu e outros poemas (Augusto dos Anjos)
7. O guardador de rebanhos (Pessoa/Caieiro)
8. Limite (Mário Peixoto)
9. Ano passado em Marienbad (Resnais)
10. O anjo exterminador (Buñuel)
11. Paixão dos fortes (Ford)
12. Cantaria barroca (Affonso Ávila)
13. Week-end (Godard)
14. Justine (Sade)
15. A República (Platão)
16. O castigo (Carlos Zéfiro)
17. Morte em Veneza (Thomas Mann)
18. Vidas secas (Graciliano Ramos)
19. Dom Quixote (Cervantes)
20. Amazona (Sérgio Sant'Anna)
21. As quatro estações (Vivaldi)
22. Mapa (Uatki)
23. Ou não (Walter Franco)
24. Concerto de Brandenburgo n° 1 (Bach)
25. Serenata para 13 instrumentos de sopro (Mozart)
26. O jardim das delícias (Bosch)
27. Cristo morto (Andrea Mantegna)
28. Corrida de touros (Miró)
29. Ad parnassum (Paul Klee)
30. A noite estrelada (Van Gogh)

sexta-feira, 28 de novembro de 2008


Praia do Madeiro, em Pipa (RN)

Foto de
Renato Costa
in
Olhares


BALAIO PORRETA 1986
n° 2493
Natal, 28 de novembro de 2008


O melhor livro sobre cinema escrito até o presente continua inédito no Brasil. Trata-se de Esthétique et psychologie du cinéma, de Jean Mitry (Paris, Éd. Universitaires, 1963-65, 2v., 892p.). Mas, entre nacionais e traduzidos, já é possível formar uma boa biblioteca sobre a linguagem cinematográfica.
(Moacy Cirne, in Balaio n° 783, de 16 de novembro de 1995)


ENE: ONTEM, HOJE E AMANHÃ

Ontem, em pleno Encontro Natalense de Escritores, foi o dia de Arnaldo Antunes, Carlos Fialho e da nova edição de Panorama da poesia norte-rio-grandense, de Rômulo Wanderley.

Hoje será o dia de Abel Silva, Nivaldete Ferreira e do lançamento de Além do nome, entrevistas por Marize Castro.

E amanhã, último dia de ENE? Teremos Cristóvão Tezza, Humberto Hermenegildo de Araújo e a reedição fac-similar de Uns fesceninos, de Oswaldo Lamartine de Faria. Para completar: uma aula-show com José Miguel Wisnik, Arthur Nestrovski e Paula Morelenbaum.


O AUSENTE
Márcia Maia
[ in Tábua de Marés ]

trazia sob a pele
o sol nascente

e tiritava de frio


BELO HORIZONTE
José Bezerra Gomes

Pardais
cantam
dentro da madrugada

Amanhecendo
todos
vão de encontro à vida


POEMA de
CHICO DOIDO DE CAICÓ

Minas Gerais gerais
De lugares comuns alterosos
Onde viveu Zé Bezerra Gomes
Escrevendo romances
Queimando versos
E trepando feito um doido
Minas, o povo de Minas,
Nunca vi um povo tão mineiro

BALAIO 2500

Em 20 de março de 2002, no Balaio 1481

Diretamente do Além
NOVA ENTREVISTA COM CHICO DOIDO DE CAICÓ

P - E aí, Chico Véio, como vão as coisas no seu Plano Astral, o 6969/69AZ?
R - Seu mininim, continuam indo bem... A saudade de xoxotas e rapaduras ainda é forte, às vezes, mas nada é perfeito, nem mesmo no Além...

P - Tem visto o São Francisco de Assis?
R - Chiquim de Assis? Claro, grande figura, um quengo fabuloso! Ele, Maria Bonita, Maria Boa, Lampião, Moysés Sesyom, Zila Mamede, Cascudinho e Luís Carlos Guimarães são amigos maravilhosos, se é que a gente pode falar nestes termos, aqui no Além.

P - Maria Boa, a dona do cabaré mais porreta de Natal?
R - Sim, ela mesma...

P - Mudando de assunto, o que você acha da candidatura de Paulo Coelho para a Academia Brasileira de Letras?
R - E ele é escritor, sem bichim? Pensei que só os escritores pudessem ser imortais. É verdade que um tal de José Sarney se passa por escritor e também é acadêmico. Aliás, são poucos os escritores de verdade na ABL. Sei bem disso, já fui imortal, não se esqueça.

P - E para que a ABL volte a ser uma instituição de respeito (se é que algum dia já foi), quem você gostaria de ver nela?
R - Entre nove ou 10 nomes que poderiam dar sustança literária àquela porra, no momento eu citaria três: Glauco Mattoso, Sebastião Nunes e Nei Leandro de Castro.

P - Mas você, um bucetólogo juramentado na época de sua vida terrena, faria campanha para um antiliterário e homossexual assumido como o Glauco Mattoso?
R - Não confunda riacho com machado: uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Aprenda: qualidade literária não tem sexo. Glauco Mattoso é um grande poeteiro.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008


Serra Verde, entre o Trairi e o Seridó
- interior do Rio Grande do Norte -

Foto de
Canindé Soares


BALAIO PORRETA 1986
n° 2492
Natal, 27 de novembro de 2008

As mãos que dizem adeus são pássaros
Que vão morrendo lentamente
(Mário Quintana, Anotação para um poema)


ENE, III EDIÇÃO

Começa hoje, na Ribeira (Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão, Praça Augusto Severo), a partir de 16h, a terceira edição do Encontro Natalense de Escritores, promoção da Capitania das Artes, com várias - e importantes - atrações literárias e musicais. Há que destacar também, como parte do ENE, entre vários lançamentos, o de uma primorosa edição fac-similar de Uns fesceninos (1970), obra de um dos maiores autores potiguares de todos os tempos: Oswaldo Lamartine de Faria. O Encontro encerrarr-se-á no próximo sábado.


POEMA de
Sanderson Negreiros (RN)
[ in 50 poemas escolhidos pelo autor, 2008 ]

Aves ardem
portos barcos muros.
O sol
cancioneiro
veleja em hábil azul.
Jaz.
E, baixo, desliza
o pomo do seu gasto sossego

BALAIO 2500

Em 13 de novembro de 1993, no Balaio 567

HORÓSCOPO PARA A PRÓXIMA SEMANA

Áries
Procure o ar das montanhas. Estude javanês. Leia Glauco Mattoso.
Sonhe sonhos eróticos. Beba bastante suco de mangaba.
Xingue Edir Macedo e João Alves & Cia.
Touro
Reveja Godard. Assuama a bissexualidade que existe em você.
Deslumbre-se com a aurora abismada, lendo Manoel Camilo.
Ouça Vivaldi. Leia Bachelard. Ouça Bach.
Gêmeos
Evite passar diante de uma Igreja Universdal do Reino de Deus,
mas se o fizer, vá correndo pra casa para ler ou reler Aretino,
Bocage, Chico Doido de Caicó e a Bíblia. Faça amor.
Câncer
Visite Paraty. Reveja Fellini. Prestigie a Poetança (dia 13/18h/IACS).
Beba uma boa cachaça. Pense amorosamente em Glauber Rocha,
Hélio Oiticica, Pagu, Oswald de Andrade.
Leão
Passeie pelo Leblon, às 5 horas da tarde. Leia Garcia Lorca.
Não beba coca-cola. Nem pepsi. Previna-se contra as mentiras de
Paulo Maluf, Paulo Francis e Paulo Coelho.
Virgem
Ouça Caetano. Ouça Wagner Tiso. Veja "O livro de Jó",
no Teatro Glória. Leia mais poesia. Que tal Fernando Pessoa?
Que tal Baudelaire? Construa um sonho barroco. E nada mais.
Libra
Seja onça, seja tigre, seja pantera. Seja você.
Leia Lovecraft. Vá ao Museu de Arte Moderna e ao Centro Cultural
Banco do Brasil. Leia Bradbury. Ouça Mozart e Pixinguinha.
Escorpião
Dê uma volta de roda gigante. Bela a-q-u-e-l-a caipirinha.
Tome sorvete dse baunilha. Mande Eugênio Sales ao inferno.
Não se esqueça da Poetança, na próxima semana.
Sagitário
Já leu Guimarães Rosa? E ClariceLispector? E Lima Barreto?
Evite televisão, a máquina de fazer idiotas. Faça amor,
faça poesia: use camisinha. Leia Sebastião Nunes.
Capricórnio
Visitando Campos, não se esqueça de procurar Artur Gomes.
Visitando Cataguases, não se esqueça de procurar Joaquim Branco.
Veja "O piano". Leia Manara, leia Crepax, leia Shimamoto.
Aquário
Dance um xaxado, completamente nu(a), diante do
Palácio São Joaquim, no Rio. Não veja televisão, com exceção de
Jô Soares e Bia Bedran. Leia Rosa Luxemburgo. E Balzac.
Peixes
Nade contra a correnteza global. Leia Affonso Henriques Neto.
E Nei Leandro de Castro. Procure conhecer a produção de
Affonso Ávila e José Paulo Paes. Ouça Noel e Elomar.
Serpente
Beba Bohemia em Petrópolis. Tome banho em águas cristalinas,
em Mauá. Ouça Ludwig; reveja Kubrick. Saiba viver a vida
e o amor. Veja com olhos livres, como em Oswald.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008



Jangada potiguar
redimensionada
por
Moacy Cirne
a partir
de foto (acima) de
Hugo Macedo


BALAIO PORRETA 1986
n° 2491
Rio, 26 de novembro de 2008

A chegada a Natal, para quem vinha do sertão, era absolutamente inesquecível. Atravessava-se o vale de Ceará-Mirim, que comportava todas as tonalidades de verde, e chegava-se a Igapó (antiga Vila Velha) ... De um lado, o rio [Potengi] continuava seguindo rumo à cidade de Macaíba; do outro, o rio se perdia na imensidão do mar. Por isso, conta-se na cidade [Natal] que um poeta nostálgico e bêbado teve de ser segurado porque queria nadar até a África.
(Maria Conceição Pinto de GÓES.
A aposta de Luiz Ignácio Maranhão Filho, 1999)


O POETA, O MAR E A ÁFRICA

Carrego na imaginação: nos anos 20 ou 30 do século passado, quem, em Natal, poeta ou não, pensou em chegar à África enfrentando as ondas dionisíacas do Atlântico? Garanto que não fui eu: só conheci a fúria amorosa do mar em dezembro de 1952. Se não fui eu, quem terá sido? Camões? Não, não foi. Shakespeare? Também não. Câmara Cascudo? Othoniel Menezes? Jorge Fernandes? Bocage? Aretino?


QUADRINHAS POPULARES DO RIO GRANDE DO SUL
[ Fonte: Sílvio Romero, 1883 ]

Não te encostes na parede,
Que a parede larga pó;
Encosta-te nos meus braços,
Que esta noite dormi só.

Menina dos olhos grandes,
Olhos grandes como o mar,
Não me olhes com teus olhos
Para eu não me afogar.

Adeus, querida das flores,
Adeus das flores querida,
Não quero dizer teu nome
Pra não seres conhecida.

BALAIO 2500

Em 30 de julho de 1992, no Balaio 393

Considerando que
o presidente collor de mello está promovendo
uma recessão econômica de custo social extremamente perverso,

considerando que
o presidente collor de mello está destruindo
a universidade pública brasileira,

considerando que
o presidente collor de mello está destruindo
a pesquisa científica e tecnológica do país,

considerando que
o presidente collor de mello está acabando
com a saúde pública do país,

considerando que
o presidente collor de mello procurou
destruir a produção cultural brasileira,

considerando que
o presidente collor de mello está promovendo
a privatização indevida de estatais potencialmente lucrativas
---
considerando, enfim, que
o presidente collor de mello não tem mais condições
políticas e e morais para governar o país,

o Balaio,

no uso de suas atribuições mágico-esporrento-delirantes,
com base legal nas decisões revolucionárias
do Tribunal Popular de Causas Mirabolantes dos Municípios de Caicó
e Jardim do Seridó, Rio Grande do Norte Maravilha,
República Utópica do Nordeste Brasileiro,

decreta

o IMPEACHMENT alegórico-metafórico-simbólico-fabulário
do sr. fernando collor de mello da presidência da República Brasileira,
para alegria de todos nós, passando o mesmo a ser tratado
por este jornalzind da gota serena, a partir de agora,
simplesmente como ex-presidente;

Pelo Balaio,

com firma oniricamente reconhecida nas cidades de Caicó, Jardim do Seridó, Natal, São Saruê, Olinda, Camila dos Encantos Proibidos, Caiçara do Rio dos Ventos, Campina Grande, Santa Priquita da Bunda Rasgada, Niterói, Brasília do Crepúsculo Arretado de Bonito
e Rio de Janeiro,

Moacy Cirne,
nordestino e cangaceiro,
poemista e cabra da peste,
em 30 de julho de 1992,
ano 25 do poema/processo.

Nota 2008

O processo de abertura do "impedimento" do então presidente collor de mello foi votado pela Câmara dos Deputados, em Brasília, no dia 29 de setembro de 1992. Na ocasião, o Balaio lançou duas edições extras comemorando o fato: a primeira (n° 414), no IACS, a partir de 18:48h, segundos após o voto decisivo a favor da instauração do processo; a segunda (n° 415), no Bar da Sogra, na mesma rua do IACS, a partir de 19:33h. A primeira destacava: Começou a cair o governo da crapulice e da pseudo-modernidade. A segunda apontava: Caiu o reino da podridão escrotonojentosa!

segunda-feira, 24 de novembro de 2008


Pedra do Cruzeiro, em Currais Novos (RN)

Foto de
Alexandro Gurgel


BALAIO PORRETA 1986
n° 2490
Natal, 25 de novembro de 2008


Para o Balaio, laboratório criativo dos experimentalismos conseqüentes, a poesia, o socialismo e a aventura lbertária são essenciais à natureza e à inteligência humanas. Para o Balaio, território livre de nossas dúvidas existenciais, todo e qualquer fascismo não passa de uma aberração e de uma agressão à humanidade.
(Moacy Cirne, in Balaio n° 710, de 13/03/1995)


A SITUAÇÃO ATUAL DA POESIA NO BRASIL
Carlito Azevedo
[ in Collapsus linguae. Rio, 1991 ]

Não é cosa mentale
é cosa nostra


POEMA de
Chico Doido de Caicó

Margarete, Margarete
O que foi que aconteceu?
O meu pau é muito grande?
Sua xoxota encolheu?
Eu fiquei cheio de dedos
Tu ficou com medo deu?
Se a gente se gosta tanto
Se a gente diz que se ama
Por que então não deu certo
O nosso encontro na cama?


BALAIO 2500

Em 23 de junho de 1988, no Balaio 95

PARA COMPREENDER O BRASIL: OS LIVROS CAPITAIS
segundo 24 professores da Comunicação da UFF

1. Casa grande & senzala (GIlberto Freyre, 1933)
2. Grande sertão: veredas (Guimarães Rosa, 1956)
3. Os sertões (Euclides da Cunha, 1902)
e Macunaíma (Mário de Andrade, 1928)
5. Memórias póstumas de Brás Cubas (Machado de Assis, 1880)
6. Raízes do Brasil (Sérgio Buarque de Holanda, 1936)
7. Vidas secas (Graciliano Ramos, 1938)
8. Pequena história da formação social brasileira
(Manoel Maurício de Albuquerque, 1981)
e Recordações do escrivão Isaías Caminha (Lima Barreto, 1909)
10. Formação do Brasil contemporâneo (Caio Prado Jr., 1942)


Praia de Zumbi, em Rio do Fogo (RN),
ao norte de Natal

Foto de
Alex Uchoa


BALAIO PORRETA 1986
n° 2489
Natal, 24 de novembro de 2008


Quando o poema/processo surgiu, em fins de 1967, no Rio de Janeiro e em Natal, o que estava em questão, para nós, era uma intervenção semiótica no interior da antiliteratura então vigente, seja a brasileira, seja a internacional. O impulso criativo da poesia concreta chegara ao fim; depois da limpeza sígnica proporcionada pelo concretismo (e, posteriormente, pelo neoconcretismo), vivíamos um verdadeiro marasmo na área experimental.

(Moacy Cirne, in Balaio n° 821, de 14/05/1996)


ANÁFORAS DE MINHA CARTOLA
Altino Caixeta de Castro, MG / 1980
[ in Palimpsesto, n° 65. João Pessoa, 30/10/1996 ]

Você tirou o pombo de meu adejo
Você tirou a face de minha aurora
Você tirou a ganga de minha lavra
Você tirou o umbigo de meu beijo
Você tirou o gume de minha espora
Você tirou a boca de minha palavra

Você tirou o punho de meu ensejo
Você tirou a face de minha estória
Você tirou o galo de minha garganta
Você tirou o trigo de meu despejo
Você tirou o lume de minha glória
Você tirou a boca de meu espanto.

BALAIO 2500

Em 17 de dezembro de 1992, no Balaio 445

O 'RECADO AMOROSO' MAIS CRIATIVO

Os profs. Ana Maria Lopes. José Maurício Alvarez e Rosa Maria Vilela, ontem no IACS, apontaram o 'Recado Amoroso' mais inteligente e/ou criativo publicado pelo Balaio nas últimas semanas. O vencedor foi Ranieri Brito, pseudônimo de um aluno do 4° período de Jornalismo, que mandou o seguinte "recado" para 'Grace' Bel:

"E se então se vencem as fraquezas; embarco numa montanha russa de seios e ventres, e te rumino cada olhar e gemido. Devoro tua boca, te chamo de amada e me maravilho com o mistério de tuas entranhas sedentas. E quando vem o descanso, um descuido e teus olhos me incendeiam num fogo que me queima entre as pernas. E tudo começa de novo".

Solicitamos a Ranieri Brito que nos procure de imediato para que possamos providenciar com a máxima urgência a entrega dos 69 brindes: muitos livros, algumas revistas de HQ, muitas camisinhas...".

Nota 2008:

O Balaio promovia, periodicamente, concursos para os alunos do IACS, sempre com boa participação. Em tempo: não temos mais a menor idéia de quem possa ter sido Ranieri Brito.

domingo, 23 de novembro de 2008


Natal:
Ponta Negra
redimensionada
por
Moacy Cirne
a partir de foto de
Pedro Morgan


BALAIO PORRETA 1986
n° 2488
Rio, 23 de novembro de 2008

Natal, Natal: o vento, as dunas, o sol, o caju, a tapioca, a ginga, o rio, as praias, a carne-de-sol, a ribeira, o alecrim, a redinha, o forró, o frasqueirão, o grande ponto, a capitania das artes (por enquanto), a Fortaleza dos Reis Magos.


MERGULHO
Janice Caiafa
[ in SupLeMGnto. BH, março de 1995 ]

quando caio
nada vinga além do nado
caio entre e me salvo
pelo meio

guelras ganhas, estou só
absoluta no líquido

quase aquática
nem amo de tão perfeita


DEBUTANTE
Laís Corrêa de Araújo
[ in Pé de página. BH, 1995 ]

a estatura
a miopia
a magreza

être
minimalista
avant la lettre


organdi branco
babados e rendas
onde ocultar-me

BALAIO 2500

Em : um dia qualquer de outubro, no Balaio 898

BALAIO 900 VAI BOTAR PRA FUDER

Incrível! Fantástico! Extraordinário!
O número 900 do Balaio, a sair na próxima semana,
vai sacudir o IACS e o Grande Rio.
Os moralistas tremerão de pavor. E de ódio.
Os reacionários espumarão de espanto. E de raiva.
Algumas personalidades - que já o receberam em primeira mão -
se pronunciaram a respeito:
"Um insulto à família brasileira" (Eugênio Sales);
"Um verdadeiro atentado à tradição, à igreja e ao paulista" (Maluf);
"Um horror! Isso é coisa do diabo" (César Maia);
"Balaio 900? Que porra é essa?" (D. Lucas Neves);
"Adorei!!!!!!!!" (Madonna);
"Amei! Amei! Quero mais!" (Sharon Stone);
"Um verdadeiro atentado à tradição, à igreja e à Bahia" (ACM);
"Um insulto à família brasileira" (Edir Macedo).

Nota 2008:
O número 900 constava de gravuras eróticas do século XIX,
com um texto contra a fome e as injustiças sociais.

sábado, 22 de novembro de 2008


Clique na imagem
para verouvir
os planos finais de
Deus o diabo na terra do sol
(Glauber Rocha, 1964)


BALAIO PORRETA 1986
n° 2487
Rio, 22 de novembro de 2008


O Verbo é ideológico e hoje em dia não existem mais fronteiras geográficas. ... Insisto num "cinema de guerrilhas" como a única forma de combater a ditadura estética e econômica do cinema imperialista ocidental ou do cinema demagógico socialista.
(Glauber ROCHA, in Tricontinental, 1967)


POEMA
Danielle Mariam
[ in O Fingidor, Manacaparu, AM, n° 5/6, 1994 ]

não quero o sermão da montanha
nem o sermão do pastor
quero um gole de cachaça
e um homem que me faça gozar
quero transar na mata
curtindo o luar

não preciso de rimas
pois a puta da minha prima
quebrou o ventilador
e aqui tá o maior calor

pô - aqui tá o maior calor!


POEMA
Bruno Barret
[ in Espaço em Des(Construção) ]

toda a vez
que tento ver
a vida
me passa uma
nuvem
nos olhos.

BALAIO 2500

Em 12 de junho de 1988, no Balaio 104

CINEMA BRASILEIRO: OS MELHORES FILMES
segundo 19 professores da Comunicação / UFF, entre os quais nove diretamente ligados ao Curso de Cinema:

1. Deus e o diabo na terra do sol (Glauber Rocha, 1964)
2. Vidas secas (Nelson Pereira dos Santos, 1963)
3. O bandido da luz vermelha (Rogério Sganzerla, 1968)
4. Limite (Mário Peixoto, 1931)
5. Terra em transe (Glauber Rocha, 1967)
6. Macunaíma (Joaquim Pedro de Andrade, 1969)
7. A hora e vez de Augusto Matraga (Roberto Santos, 1966) e
São Bernardo (Leon Hirszman, 1972)
9. Rio, 40 graus (Nelson Pereira dos Santos, 1955) e
Cabra marcado para morrer (Eduardo Coutinho, 1984)
11. Memórias do cárcere (Nelson Pereira dos Santos, 1984)
12. Os fuzis (Ruy Guerra, 1965)

Em 8 de agosto de 1999, no Balaio 1180

O MELHOR DO CINEMA BRASILEIRO
segundo 70 cinéfilos, incluindo alunos e professores do IACS / UFF:

1. Deus e o diabo na terrra do sol (Glauber Rocha, 1964)
2. Terra em transe (Glauber Rocha, 1967)
3. Vidas secas (Nelson Pereira dos Santos, 1963)
4. Limite (Mário Peixoto, 1931)
5. Os fuzis (Ruy Guerra, 1965)
6. Macunaíma (Joaquim Pedro de Andrade, 1969)
7. O bandido da luz vermelha (Rogério Sganzerla, 1968)
8. A hora e vez de Augusto Matraga (Roberto Santos, 1966)
9. Ganga bruta (Humberto Mauro, 1932)
10. São Bernardo (Leon Hirszman, 1982)
11. Tudo bem (Arnaldo Jabor, 1978)
12. Rio, 40 graus (Nelson Pereira dos Santos, 1955)

sexta-feira, 21 de novembro de 2008


Clique na imagem
(xilogravura de Ciro Fernandes)
para verouvir,
na voz de Francisco Aafa,
Arrumação,
uma das obras-primas de
Elomar :
jóia rara da música brasileira
de todos os tempos


BALAIO PORRETA 1986
n° 2486
Rio, 21 de novembro de 2008
Desde o raiar da aurora, o sertão tonteia.
(Guimarães ROSA. Grande sertão: veredas, 1956)


POEMA-SERTÃO
José Nêumanne Pinto

para Elba e Zé Ramalho,
Ciro Fernandes, Chico César e Chico Salles,
sertanejos

Fomos gerados do mesmo barro duro,
fomos paridos no mesmo porão escuro.

Estamos chegando
ávidos e feridos,
áridos encardidos,
pálidos e papudos,
impávidos e cascudos,
perdidos em grutas,
retidos no chão.
O sol que tudo alumia
nos tocaia, torra e mata
em quebradas de grotão.
O luar, que, à noite, guia,
dispara balas de prata
nas veredas da ilusão.

Somos sementes de pedra
jogadas na paixão:
viemos tangidos por ventos parados
e tocados em tristes refrões
Fomos nutridos no planeta fome,
atraídos para o universo medo,
acolhidos no castelo papão,
devolvidos à galáxia solidão.

Cabritos sem berro ou cheiro,
reses a esmo sem vaqueiro,
pirralhos sem choro ou cloro,
coalhada que não tem soro,
chocalhos que não têm som
- os 12 trabalhos de Cristo
em secas amargas
de nossas almas vãs.

Viramos borregos desgarrados,
tropa de burros sem tropeiro,
cangalhas com cargas turvas,
ancoretas sem aspas curvas,
canoas sem salva-vidas,
feridas curando males,
remédios fazendo mal
e aboios que não entoam,
perdidos na amplidão:
ora somos o sim,
ora somos o não,
na certa ficamos talvez.

Entramos por cancelas que fecham,
saímos por janelas com trave,
plantamos feijão, milho e canto,
tecemos um nada,
que é feito de quanto,
bebemos o parco do alto
e colhemos o broto do chão
em cachos de banana podre,
mangas com aroma doce
e alvos capuchos de algodão
- reflexos do espelho opaco
da lança do capitão.

Choramos do olho cego de Deus,
cruzamos o passo coxo do Cão.
Estamos da boca pra mão.

A vida passada a luto,
a morte jamais por susto,
velada com cera mole
trocada por dois talentos
só para comprar sal e pão.

Desde em breve seremos pó:
chegados tarde,
partimos cedo
nos oito pés quebrados
deste poema-sertão.

BALAIO 2500

Em 17 de novembro de 1986, no Balaio 14

JE VOUS SALUE, GODARD

Insistiremos até o final dos tempos: a intolerância religiosa que levantou a bandeira da imoral proibição ao Jevú godardiano não passa de uma intolerância escrotálida, podrefétida e feladaputâmega. Seus mentores ideológicos são todos uns nojentócritos vomitórios. Haja merdabostalância!

Em 8 de setembro de 1992, no Balaio 406

UMA SIMPLES RADIOGRAFIA:
Definição

Balaio: 1. Jornalzine que se realiza como guerrilha anticultural, lançado em Niterói, no interior do IACS [Instituto de Arte e Comunicação Social / UFF], em 8/9/86.; 2. Folha porreta de vertente oswaldiana, ligeiramente marxista, ligeiramente nordestina, ligeiramente anarquista, totalmente esporrenta (quando necessário); 3. Produção anti-acadêmica aberta à poesia, à política, à crítica, ao debate de idéias, ao poema/processo; 4. Publicação alternativa, que investe no cangaceirismo cultural em ocasiões específicas de pura indignação política ou existencial; 5. Folhetim doidão à margem dos sistemas culturais; 6. Obra-em-progresso: contraliteratura da gota serena.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Sely, modelo:
a beleza da mulher africana

por Claudynius
in
Foto Sensível

Veja no
Poema/Processo
a nossa homenagem a
Thaís Araújo


BALAIO PORRETA 1986
n° 2485
Rio, 20 de novembro de 2008

O quilombo foi ... um acontecimento singular na vida nacional, seja qual for o ângulo por que o encaremos. Como forma de luta contra a escravidão, como estabelecimento humano, como organização social, como reafirmação dos valores das culturas africanas, sob todos estes aspectos o quilombo revela-se como um fato novo, único, peculiar, uma síntese dialética. Movimento contra o estilo de vida
que os brancos lhe queriam impor ...

(Edison CARNEIRO. O quilombo dos Palmares, 1958)


BACANTE
Iracema Macedo
[ in Lance de dardos, 2000 ]

Em meu ninho longínquo
inicio ventos
invento cios
canto e danço em volta do fogo
transformo meu leite em vinho
e ofereço meu corpo para os lobos


POEMA
Carito
[ in Os Poetas Elétricos ]

o sol
já experimentou
de tudo

nada mais
no ar
sombra


POEMA
Mariana
[ in Suave Coisa ]

minha boca quer silêncio
Alain Bisgodofu


Quero comer o verso
que tremula na
língua

e nunca mais falar de
poesia

EPICENTRO
Padmaya
[ in Cosmunicando ]

caladas
há palavras morando em minhas mãos
onde um gráfico sísmico
se desenha tradução

BOM DIA
Vivi Fernandes de Lima
[ in Atos da folia, inédito ]

Não há bom dia mais perfeito
do que a minha cara de bem comida
refletida no espelho.


BALAIO 2500

Em 13 de setembro de 1994, no Balaio 657

POEMA DE ZÉ LIMEIRA (PB)

Um dia Nossa Senhora
Se encontrou com Ruy Barbosa.
Tiraro um dedo de prosa
Voltaro e foram-se embora.
Judas se enforcou na hora
Numa corda de cimento.
Botou os filhos pra dentro
Foi pra barca de Noé,
Viva a Princesa Isabé
Diz o Novo Testamento.

POEMA DE CHICO DOIDO DE CAICÓ (RN)

Um dia encontrei Zé Limeira
Às margens do Bodocongó
Eu perguntei por Campina
Ele perguntou por Caicó.
Perto de Guarabira
Lá pras bandas de Sapé
Cristo dançava xaxado
Com a Princesa Isabé.
Eu também já fui jumento
Diz o Novo Testamento.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008


Postal francês dos anos 20
do século passado
via
Canta Piriquito Canta


BALAIO PORRETA 1986
n° 2484
Rio, 19 de novembro de 2008


As palavras preferem os poetas tristonhos.
(Ada Lima. Menina guache, 2008)


SEU METALÉXICO
José Paulo Paes
[ in Meia palavra. São Paulo, 1973 ]

economiopia
desenvolvimentir
utopiada
consumidoidos
patriotários
suicidadãos


PEDRA
Francisco Marcelo Cabral
[ in Livro dos poemas. Cataguases, 1003 ]

Escrevemos
porque sabemos
que vamos morrer.

Escrevemos
porque não sabemos
por quê.


TRÊS POEMAS de
Vivi Fernandes de Lima
[ in Atos da folia. Rio, inédito ]

Filme antigo

O amor da gente é tão antigo,
mas tão antigo
que ontem,
ao sonhar com você,
sonhei em preto e branco.

Patetice

Descobri que não sou poeta
quando me apaixonei por você.
O que eu sou mesmo
é uma pateta.

Expectativa

A criança, o ônibus,
o jornal, o banco,
o olhar, o mendigo,
a pipoca, o carro,
a tristeza, o orelhão,
o poste, o desânimo,
a árvore, o pombo,
o papel, a caneta,
a lágrima, o lenço,
a rua, a casa,
a saudade, a foto.
Enquanto te espero, nada rima.

BALAIO 2500

Em 9 de abril de 1996, no Balaio 810

Informação cultural
DE COMO O POPULAR FURICO É CONHECIDO
PELA BRAVA GENTE BRASILEIRA
- Alguns exemplos

Arroto choco [] Ás de copas [] Arroz queimado
Almanaque [] Boga [] Bebê chorão [] Bainha de bosta
Bode rouco [] Bufante [] Bassoura [] Ceguinho [] Curioso
Demagogo [] Deputado [] Dólar furado [] Decente [] Digníssimo
Drácula [] Excomungado [] Excelência [] Foba [] Fi-o-fó
Frinfa [] Fedegoso [] Foreba [] Fogoió [] Fim de linha
Furiba [] Farinha azeda [] Fole gemedor [] Furioso
Flozardo [] Graduado [] Impaciente [] Inté logo
Janeiro [] Lamparina de cego [] Merdante
Oião [] Oritombó [] Plim-plim [] Sibazó
Trololó [] Tribufu [] Triscado [] Usina
Viajante [] Zeguedegue [] Zefini

( Fonte: Oxente, nous avons buchê,
de Orlando Caboré. Natal, 1996 )

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Clique na imagem
(Foto de Antônio Montenegro)
para verouvir
Beth Carvalho
interpretando
As rosas não falam, de Cartola,
uma das mais belas músicas do nosso cancioneiro


BALAIO PORRETA 1986
n° 2483
Rio, 18 de novembro de 2008


dentro do amor tudo é possível,
até abrir uma janela para o indizível.
(Wescley J. Gama, in A Taberna)



EIS O POEMa aloprado
para melhor vesti-lo
é preciso devorar
o país de são saruê
o romance do pavão misterioso
para melhor bebê-lo
é preciso conhecer
um crepúsculo de caicó
um poema de chico doido
para melhor sonhá-lo
é preciso desenhar
a palavra bangalafumenga
a madrugada cruviana
para melhor rasgá-lo
é preciso alvorecer
um poema possesso
com o poema/processo

[ Moacy Cirne, in Balaio n° 1407, de 30/06/2001 ]


POEMA

Ada Lima

[ in
Menina gauche. Natal, 2008 ]

Aquele verso

deflorou minha alma,

e eu chorei

pela primeira vez.



RELENDO GASTON BACHELARD


A verdadeira poesia é uma função de despertar.

(
A água e os sonhos)
O passado de nossa alma é uma água profunda.

(
A água e os sonhos)
Os poetas sempre imaginarão mais rápido que aqueles que os observam imaginar.

(A poética do devaneio)
Há idéias que sonham. Certas teorias que se acreditam científicas, são vastos devaneios, devaneios sem limite.
(A poética do espaço)


BALAIO 2500

Em julho de 1997, o
Balaio 988
- formado por uma única imagem, a que segue


segunda-feira, 17 de novembro de 2008


Homenagem do cinema
a Rodin
Poemacolagem de
LUIZ ROSEMBERG FILHO
(2002)


BALAIO PORRETA 1986
n° 2482
Rio, 17 de novembro de 2008


a colagem se abre
para a poesia
como a mulher se abre
para a fantasia
o poema se refaz
na homenagem
como a foto se transforma
em linguagem
tudo é texto tudo é textura
caicó cinema e escultura
(Moacy Cirne)


GUIMARÃES ROSA E A GEOGRAFIA DO SERTÃO

Mia Couto, o ótimo escritor moçambicano, em entrevista para o caderno Cultura, do Estadão, ontem, perguntado sobre "as diferenças e semelhanças entre o sertão de Guimarães Rosa e o interior descrito" em seus livros, responsdeu com propriedade:

O espaço de Guimarães Rosa não é um espaço físico, é o espaço de uma linguagem que ele criou. Ele criou uma literatura, não uma geografia. O sertão que ele constrói nos livros não é de ordem geográfica. É um sertão que ele inventa para reinventar um Brasil que vivia uma condição que é muito próxima da nossa aqui.


RASANTE
Nel Meirelles
[ in Fala Poética, em 1/6/2005 ]

poemou
hoje cedinho

e foi tanta luz
sobre a praia
distante
que meu poema
virou passarinho
e voou distante

BALAIO 2500

Em 26 de maio de 1995, no Balaio 737

SONHAR E LUTAR, EIS A QUESTÃO

Não é fácil sonhar, acreditar no sonho, lutar pelo sonho. Sobretudo, não é fácil adequar o sonho à realidade possível. Trata-se de um processo tristemente doloroso, para não dizer tristemente cruel. A realidade, sempre dura, sempre concreta, sempre imprevisível, termina sendo maior do que o sonho. Só que a nossa capacidade de sonhar é inesgotável, pois enquanto houver humanidade haverá sonho, haverá devaneio, haverá poesia.

Nenhum sonho é inútil, assim como nenhuma paixão é fútil. E são os sonhos que alimentam as paixões, são os sonhos - como pequenas chamas - que movem a humanidade. Inclusive, aprendemos com Bachelard que "A chama, dentre os objetos do mundo que nos fazem sonhar, é um dos maiores operadores de imagens. Ela nos força a imaginar. Diante dela, desde que se sonhe, o que se percebe não é nada, comparado com o que se imagina" (A chama de uma vela).

E o que imaginamos nem sempre agrada ao poder constituído, nem sempre agrada ao governo das classes dominantes. Mas sonhamos, mas lutamos, mas deliramos. No meio de tantas derrotas e de tantas dificuldades, o que seria de nós sem o sonho, sem a utopia, sem a esperança? O que seria de nós sem as grandes paixões e as grandes descobertas? O que seria de nós se não soubéssemos olhar com olhos livres (cf. Oswald de Andrade)?

Nestes últimos quatro anos (assim como nos anos anteriores), sonhamos e lutamos, lutamos e sonhamos. Muitas foram as dúvidas - e ainda bem que é imensa a nossa capacidade de duvidar -, muitos foram os imprevistos, muitos foram os problemas [que enfrentamos na vice-direção do IACS, ao lado do diretor José Maurício]. Na questão puramente particular, por exemplo, reconstruir o Casarão a partir de seus escombros; na questão mais geral, enfrentar os desmantelos e o aventureirismo barato do governo collor de melleca, a besta de bosta. Nas duas questões, pensar a Universidade de forma absolutamente produtiva.

Resistimos. Combatemos. Com ardor e destemor, mesmo quando errávamos. Mesmo quando nos equivocávamos. Mas nunca nos faltou vontade política, nunca nos faltou vontade acadêmica. É verdade: a hora continua grávida de incertezas. De mil dificuldades. Portanto, é neste momento de águas turvas e turbulências no horizontem que assumem a Direção do IACS Ana Maria Lopes e Alceste Pinheiro. O momento exige esforço, união, trabalho e competência. A UFF, o IACS e Ana Maria Lopes e Alceste Pinheiro merecem - e precisam - que estejamos ao lado deles. Agora e nos próximos anos. Pelo Brasil, pela Universidade, pela Democracia. E pelo direito de sonhar e lutar.

domingo, 16 de novembro de 2008


Clique na imagem
(Gonzagão, por IQUE)
para verouvir
um vídeo sobre
Asa branca,
provavelmente uma das três maiores
músicas do cancioneiro popular brasileiro


BALAIO PORRETA 1986
n° 2481
Rio, 16 de novembro de 2008

Pela milésima vez, ontem, pude sentir toda a magia do Maraca. Digo mais: conhecer o Rio sem ir ao velho estádio, em dia de jogo importante, não é conhecer o Rio. A empolgação da torcida, com seus cantos e suas bandeiras, é um espetáculo memorável. Que o digam tricolores, rubro-negros,
alvi-negros e cruz-maltinos.

(Moacy Cirne)


APREÇO
Pavitra
[ in Metamorfraseando ]

tem sido um esforço caro
libertar a poesia:
da minha própria essência
torno-me cativa


DRUMMOND REVISITADO
Francisco Sobreira
[ in Luzes da Cidade, em 5/5/2006 ]

Ah, este choro de Pixinguinha,
esta cerveja mofada de gelo,
me deixam comovido como o diabo.
E eu nem preciso olhar a lua.


Repeteco
ERUDIÇÃO BURRA

Nada mais irritante, no mundo da literatura, do que a erudição burra, a erudição pela erudição, pura e tolamente, sem qualquer relação com o saber e o fazer. E o que é um erudito burro? É o sujeito que muito lê, de forma quase compulsiva, e nada apreende, nada assimila, nada (re)cria, alimentando-se, muitas vezes, de reflexões (no melhor dos casos) e citações descontextualizadas.

É verdade que certos livros, certos textos, certos filmes, certos quadrinhos, levam inevitavelmente a conhecimentos inócuos ou mesmo a nenhuma espécie de consciência crítica e/ou criativa. São obras descartáveis, dignas, por exemplo, de um Big Bosta Brazil. Já outras, por melhores que sejam, quando atraem leitores preguiçosos, meros colecionadores de palavras vazias, implicam - sempre e sempre - simples leituras inertes (cf. Bachelard). E da leitura inerte à erudição burra o passo é muito pequeno.

Armazenar informação não significa necessariamente produzir cultura. Escrever difícil, isto é, hermeticamente, não significa escrever em profundidade. Ao contrário. Marx e Nietzsche, e outros, já nos disseram. Citar por citar também não quer dizer nada. A verdade é que, por mais que nos interessemos por filosofia, antropologia, história, política, psicanálise e/ou criação literária, honestamente ou não, a leitura de um só livro, dependendo do livro, dependendo do autor, pode ser mais importante do que o consumo (desvairado?) de 100 ou mais livros, mesmo que alguns deles sejam expressivos. Ou interessantes.

Decerto, um só livro, quando pretendemos aprofundar determinados assuntos, dificilmente será suficiente para nossas descobertas e necessidades intelectuais e/ou vivenciais. Mas uma bagagem (multi)cultural não se constrói da noite para o dia. Pode levar anos de leituras e reflexões consistentes. Só assim será produtiva. Na medida do possível. E do impossível.
(MC)


BALAIO 2500

Em 19 de dezembro de 1988, no Balaio 133

OS GRANDES CLÁSSICOS DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA

Dezessete professores da Comunicação [da Universidade Federal Fluminense, em Niterói] apontaram, levados por motivos críticos e/ou puramente emocionais, os maiores clássicos da nossa música popular de consumo. O resultado final ficou sendo:

1. Com oito citações:
Asa branca (Luiz Gonzaga/Humbberto teixeira, 1947)

2. Seis citações:
Carinhoso (Pixinguinha, 1928)
Três apitos (Noel Rosa, anos 30)
Alegria, alegria (Caetano Veloso, 1967)
As rosas não falam (Cartola, 1976)

3. Cinco citações:
Travessia (Milton Nascimento/Fernando Brant, 1967)
Tropicália (Caetano Veloso, 1968)
Foi um rio que passsou em minha vida (Paulinho da Viola, 1970)
Águas de março (Tom Jobim, 1972)
O mundo é um moinho (Cartola, 1976)
Sampa (Caetano Veloso, 1978)

4. Quatro citações:
Serra da boa esperança (Lamartine Babo, 1937)
Chão de estrelas (Orestes Barbosa/Sílvio Caldas, 1937)
Últiimo desejo (Noel Rosa, 1938)
Vingança (Lupicínio Rodrigues, 1951)
Manhã de carnaval (Luís Bonfá/Antônio Maria, 1959)
A noite de meu bem (Dolores Duran, 1950)
Ronda (Paulo Vanzolini, 1967)
Caminhando/Pra não dizer que não falei de flores
(Geraldo Vandré, 1968)
Aquele abraço (Gilberto Gil, 1969)


Em 13 de abril de 2000, no Balaio 1268

330 leitores e/ou amigos do nosso jornalzine, entre os quais professores, estudantes, poetas e profissionais liberais, apontam

O MELHOR DA MÚSICA BRASILEIRA DO SÉCULO XX

1. Asa branca
(Luiz Gonzaga & Humberto Teixeira, 1947), 139 votos
2. Carinhoso
(Pixinguinha, 1928), 138
3. As ro
sas não falam
(Cartola, 1976), 102
4. Eu sei que vou te amar
(Tom Jobim & Vinicius de Moraes, 1959), 81
5. Construção
(Chico Buarque, 1971), 77
6. Águas de março
(Tom Jobim, 1972), 74
7. Aquarela do Brasil (Ary Barroso, 1939), 73
8. Chega de saudade (Tom Jobim & V. de Moraes, 1958), 65
9. Travessia (Milton Nascimento & Fernando Brant, 1967), 63
10. Lamentos (Pixinguinha, 1928),
Trem das onze (Adoniran Barbosa, 1965),
Foi um rio que passou em minha vida
(Paulinho da Viola, 1970), 60 citações
E mais:
O mundo é um moinho (Cartola, 1976), 59 votos
Brasileirinho (Waldir Azevedo, 1944), 58
Nervos de aço (Lupicínio Rodrigues, 1947), 55
Rosa (Pixinguinha, 1917), 54
Feitio de oração (Noel Rosa & Vadico, 1933), 53
Luar do sertão (João Pernambucano
& Catulo da Paixão Cearense, 1914), 52
Sampa (Caetano Veloso, 1978), 49
Odeon (Ernesto Nazareth, 1910)
e Domingo no parque (Gilberto Gil, 1967), 47 citações