quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

O homem, durante milênios, permaneceu o que era para Aristóteles: um animal vivo e, além disso, capaz de existência política; o homem moderno é um animal, em cuja política, sua vida de ser vivo está em questão. (Michel FOUCAULT. História da sexualidade; I. A vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 1977, p.134)


BALAIO PORRETA 1986

n° 1944

Rio, 1 de fevereiro de 2007

Poema/Processo, 40 anos

Contato: balaio86@oi.com.br


METÁFORA FAUSTÍNICA

Poema de ARTUR GOMES (RJ)

o mundo que venci deu-me uma flor

de lótus

que desfio incontinente de malícias

faíscas na linguagem relâmpagos no meu falo

por cima de qualquer sonho grego

por dentro de qualquer fosso complexo

o mundo que venci deu-me uma flor

de cactus

troféu perigoso esse vassalo

em chão de céus infernos meus cavalos

amando a fátria que fariu língua senhora

[ in A Cigarra, nº 33. Santo André, SP, agosto 1998 ]

Relendo o Balaio Vermelho

Quinta-feira, 5 de fevereiro, 2004


BALAIO PORRET@ 402
Rio, 5 de fevereiro de 2004
Total de assinantes: 620


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"Não basta saber; é igualmente necessário aplicar. Não basta querer;
é também necessário fazer". (Goethe)
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A SANGRIA DO ITANS

Segundo o médico e amigo Oberdan Damásio, o açude Itans poderá sangrar a qualquer momento. Milhares de pessoas já se encontram em sua parede para ver o espetáculo das águas. Será uma festa em Caicó; o Itans não sangra desde 1995. Caicoenses que residem em Natal, Recife, Fortaleza, João Pessoa e Campina Grande já se preparam para comemorar o fato, viajando para o Seridó. Se pudéssemos, também tomaríamos o primeiro avião rumo a Natal; em seguida, partiríamos para Caicó. A última vez que vimos o Itans pegar água pra valer, sangrando por todos os seus sangradouros, foi na primeira metade dos anos 50.
Só esperamos que os bairros da cidade que ficam à beira do Rio Barra Nova, 5km além do açude, não sejam inundados pela fúria das águas.


Via Internet
UMA SENTENÇA JUDICIAL DE 1833


Reprodução de documento autêntico de sentença, proferida pelo Juiz
Manoel Fernandes dos Santos, em Vila de Porto da Folha, Sergipe,
em 15 de outubro de 1833, portanto há 171 anos atrás.

SENTENÇA JUDICIAL

"O adjunto de promotor público, representando contra o cabra Manoel Duda, porque no dia 11 do mês de Nossa Senhora Sant'Ana quando a mulher do Xico Bento ia para a fonte, já perto dela, o supracitado cabra que estava de tocaia em uma moita de mato, sahiu della de supetão e fez proposta a dita mulher, por quem queria para coisa que não se pode trazer a lume, e como ella se recuzasse, o dito cabra abrafolou-se dela, deitou-a no chão, deixando as encomendas della de fora e ao Deus dará. Elle não conseguiu matrimônio porque ella gritou e veio em assucare della Nocreto Correia e Norberto Barbosa, que prenderam o cujo em flagrante. Dizem as leises que duas testemunhas que assistam a qualquer naufrágio do sucesso faz prova.

CONSIDERO:

QUE o cabra Manoel Duda agrediu a mulher de Xico Bento para conxambrar com ella e fazer chumbregâncias, coisas que só marido della competia conxambrar, porque casados pelo regime da Santa Igreja Cathólica Romana;

QUE o cabra Manoel Duda é um suplicante deboxado que nunca soube respeitar as famílias de suas vizinhas, tanto que quiz também fazer conxambranas com a Quitéria e Clarinha, moças donzellas;

QUE Manoel Duda é um sujeito perigoso e que não tiver uma cousa que atenue a perigança dele, amanhan está metendo medo até nos homens.

CONDENO o cabra Manoel Duda, pelo malifício que fez à mulher do Xico
Bento, a ser CAPADO, capadura que deverá ser feita a MACETE. A execução desta peça deverá ser feita na cadeia desta Villa. Nomeio carrasco o carcereiro.

Cumpra-se e apregue-se editais nos lugares públicos.

Manoel Fernandes dos Santos
Juiz de Direito Vila de Porto da Folha (Sergipe), 15 de outubro de 1833"

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Balaio produzido ao som de Quartetos russos, op. 33, n. 5, de Joseph Haydn, por Kodály Quartet [ Naxos, 1993 ]
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UM DISCO PORRETA

Altri canti ; Madrigaux extraits des VII et VIII Livres,

de Cláudio Monteverdi (1567-1643),

por William Christie / Les Arts Florissants

[ Harmonia Mundi HMA 1901068 (grav. 1980) ]

Aceitar a prostituição televisiva da imagem é empobrecer o olhar e o saber do público. Aceitar o mercado ocupado pelo lixo que vem de fora, é romper com sonhos, revoltas e utopias. Ora, o que sabem as companhias estrangeiras da nossa história ou das nossas necessidades? Claro, que nossos empobrecidos noveleiros indiferentes a toda e qualquer linguagem mais profunda, não medem esforços para vender um Brasil colorido e feliz tipo coca-cola, onde a emoção em si é ser o outro. Ser o outro como extensão dos baixos interesses econômicos. (...) Antes de mais nada, é preciso frear essa dominação autoritária que vem de fora. O saber não é uma mercadoria como o papel higiênico. São coisas diferentes. (Luiz ROSEMBERG Filho & Sindoval AGUIAR, Cinema & o Mercado Brasil, in Via Política)

BALAIO PORRETA 1986
n° 1943
Rio, 31 de janeiro de 2007
Poema/Processo, 40 anos
Contato: balaio86@oi.com.br


Cinco momentos
de NEI LEANDRO DE CASTRO (RN)

1.
Mulher. Doce mistério.
Fauna. Enigma. Flora.
Não a decifro,
ela me devora.

2.
Úmida faísca, o beijo
acende os raios
do desejo.

3.
Prendam, detenham o pudor.
Ele vive para inibir
as mais doces loucuras do amor.

4.
Amar sem limites, de joelhos,
à beira do abismo,
como um ateu num surto
de misticismo.

5.
Por que a mulher seduz?
Porque é dança, contradança,
luz e contraluz.


POESIA NO BISTRÔ DO ARTEPLEX
Afonso Henriques Neto, um dos nossos melhores poetas, autor de Ossos do paraíso (1981), Tudo nenhum (1985), Avenida Eros (1992), Piano mudo (1992), Abismo com violinos (1995), entre outros, estará se apresentando hoje no Bistrô dos Cinemas Arteplex (Praia de Botafogo, 316), numa promoção Verdes Trigos, a partir de 20:30h. Para quem gosta de boa poesia, a noite promete ser excepcional.


Relendo o Balaio Vermelho
Segunda-feira, 8 dezembro, 2003
Memória
BALAIO 1474
Rio, 20/2/2002

AS TRÊS CIDADES DOS NOSSOS DELÍRIOS TROPICAIS

R i o d e J a n e i r o
Cidade às margens azuis do Rio São Francisco, ao sul do Ceará. Na Barra da Tijuca, tradicional bairro italiano, o inglês só é falado por marginais, banqueiros e piniqueiras sem califon; a população, em sua grande maioria, prefere se expressar em tupi-guarani e baianês. No Pacaembu, aos domingos, três clássicos, de maneira alternada, movimentam o futebol carioca: ABC x Cruzeiro, América/RN x Grêmio e Galo do Seridó x Corínthians. Do alto do Corcovado, na zona oeste da cidade, é possível vislumbrar os edifícios e o fumaréu de São Paulo, em Minas Gerais. Às sextas, Woden Madruga, Dácio Galvão, Tácito Costa e Chiquita Bacana (estudiosos do cotidiano) costumam freqüentar chopps e as sessões vespertinas do Estação Botafogo.
N a t a l
Cidade sertaneja, no Alto Xingu, cercada de auroras, cajus, mangas, mangabas e crepúsculos. Alguns de seus bairros (Mossoró, Ceará-Mirim, Acari, Currais Novos, Lapa, Catete e Lagoa Nova) são famosos por suas belas mulheres e seus bravos toureiros violetas, que sempre despertaram paixões enlouquecedoras na pernambucana Ava Gardner, irmã de Maria Bonita e Leila Diniz. A Fortaleza dos Reis Magos, na Praia de Pirangi, é o seu principal ponto turístico, sobretudo a partir de 22:22h. A Festa de Santana é famosa em toda a região, do Amapá a São Saruê. As sábados, Juca Kfouri, Carlos Zéfiro, Chico Doido de Caicó e Marieta Severo costumam passear pelo Pasquim21 e pela Praia do Leblon.
C a i c ó
Fundada em 1313, a bela Caicó (terra de Mário de Andrade e Luís da Câmara Cascudo) sempre se destacou por seus monumentos históricos: o Rio Nilo, o Maracanã, as chuvas de abril, a Catedral da Sé, o Pão de Açúcar. Paulinho da Viola, seu mais ilustre romancista, uma vez declarou: Caicó é mais animada do que Paris, é mais surpreendente do que Londres, é mais cosmopolita do que Nova York. Aos domingos, Nei Leandro, Danilo Bessa, Tarcísio Gurgel e Lúcia Nobre costumam viajar por vinhos e poemas de seus rios e riachos.
[ Texto incluído em A invenção de Caicó, de nossa autoria, livro editado pelo Sebo Vermelho, de Natal, em 2004 ]

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Balaio Porreta 1986

O Balaio Incomun, lançado em 1986, através da Chefia do Departamento de Comunicação Social da UFF, em Niterói, e que durante três anos foi veiculado pelo blogue Balaio Vermelho, inicia, aqui, uma nova fase. E o faz resgatando um de seus nomes mais populares, já que, na UFF, depois de alguns anos de existência xerográfica quase diária, era conhecido por Balaio Porreta.

Na medida do possível, editaremos postagens antigas do Balaio Incomun/Balaio Vermelho e daremos prosseguimento às séries já iniciadas. É preciso acrescentar, ainda, que continuaremos com nosso lema oswaldiano: Ver com olhos livres. E completamos: a partir de uma leitura crítico-afetivo-libertinária.

De resto, agradecemos publicamente ao escritor e blogueiro Bosco Sobreira, do Ceará, que nos ajudou, por meio de indicações preciosas, a (re)criar o Balaio.

RECOMENDAMOS ESPECIALMENTE: Calder no Brasil, exposição no Paço Imperial (Rio), até 11 de fevereiro. Um dos maiores artistas do séc. XX, Alexander Calder (1898-1976), com seus móbiles e suas pinturas, manteve uma forte relação com o nosso país. A presente exposição, com obras que, em sua quase totalidade, pertencem a museus paulistanos, é bastante significativa. Em cartaz, a excepcional Viúva negra, móbile de 1948.


BALAIO PORRETA 1986

nº 1942
Rio, 28 de janeiro de 2007
Poema/Processo, 40 anos
Contato: balaio86@oi.com.br


Uma viagem sentimental pela
BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS
:
600 livros indispensáveis (3/100)

Seridó
, de José Augusto. Rio de Janeiro: Borsoi, 1954, 288p. [] Um clássico dos estudos potiguares, incluindo A região do Seridó, Limites do Seridó com o Estado da Paraíba, Famílias seridoenses, Grandes figuras seridoenses, A cadeira de Gramática Latina na Vila do Príncipe e A imprensa do Seridó. O que seria do Rio Grande do Norte sem o Seridó? O que seria do Nordeste sem o Rio Grande do Norte? Para nós, um livro fundamental.

Antologia poética, de Cecília Meireles. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1963, 256p. [] “Hoje acabou-se-me a palavra,/ e nenhuma lágrima vem./ Ai, se a vida se me acabara/ também.// A profusão do mundo, imensa,/ tem tudo, tudo – e nada tem./ Onde repousar a cabeça?/ No além?// Fala-se com os homens, com os santos,/ consigo, com Deus... E ninguém/ entende o que se está contando/ e a quem... [...]” (Amém, p.40-41).

O pirotécnico Zacarias, de Murilo Rubião. São Paulo: Ática, 1974, 64p. [Com dedicatória, em Belo Horizonte, novembro 74.] A literatura fantástica em sua voltagem criativa mais apurada através de contos como O ex-mágico da Taberna Minhota, Os dragões, A flor de vidro, A cidade e O pirotécnico Zacarias. “A literatura é sempre uma transformação da realidade” (Murilo Rubião, em auto-apresentação, p.4).

Concepção dialética da história, de Antonio Gramsci. Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966, 342p. [Adquirido em Natal, na Liv. Universitária, em 1966.] “Digamos, portanto, que o homem é um processo, precisamente o processo de seus atos. Observando ainda melhor, a própria pergunta ‘o que é o homem’ não é uma pergunta abstrata ou ‘objetiva’” (p.38). Um de meus primeiros contatos com a obra gramsciana.

História social do jazz, de Eric Hobsbawm. Pref. Luís Fernando Veríssimo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991, 316p. [] “O jazz não é simplesmente música improvisada ou não escrita. Porém, em última análise, deve basear-se na individualidade dos músicos, e muito provavelmente em suas improvisações efetivas – e é preciso que haja espaço para improvisações” (p.46). Um livro brilhante escrito por um grande historiador.

A mi no me grite, de Quino. Buenos Aires: Siglo Veintiuono, 1973. [Adquirido no Rio, na Leonardo Da Vinci, em 1973.] Quino não é apenas o criador da ótima Mafalda, é também um cartunista excepcional. Neste volume, há vários cartuns antológicos. O mais conhecido: diante de Carlitos jantando um simples bota (cena do filme Em busca do ouro), os pobres praticamente choram, a classe média ri com moderação e os ricaços dão verdadeiras gaitadas.


UM FILME PORRETA

The gold rush / Em busca do ouro (USA, 1925),
de Charles Chaplin,
com Charles Chaplin, Mack Swain, Tom Murray, Georgia Hale.
Chaplin/Carlitos numa das maiores comédias de todos os tempos: provavelmente, o ponto mais alto de uma carreira marcada por filmes que fazem do humanismo seu bem cultural mais valioso. Imperdível.


UM DISCO PORRETA

The ballad of the fallen,
de Charlie Haden, com Don Cherry, Sharon Freeman, Carla Bley e outros.
[ ECM 1248 (1983) ]

Principais faixas: The ballad of the fallen, If you want to write me, Grandola Vila Morena, Introduction to people, Silence, La Pasionaria, La Santa Espina, The people united will never be defeated. Um disco revolucionário: o Potemkin do jazz.