quarta-feira, 31 de outubro de 2007


A turma do Pererê (1959-64), de Ziraldo:
personagens que fizeram do quadrinho brasileiro
uma plataforma cultural para o imaginário popular
construído nos principais centros urbanos do país.


BALAIO PORRETA 1986
n° 2152
Rio, 31 de outubro de 2007


ADIVINHAÇÕES POPULARES
[ in Cantadores, de Leonardo Mota ]

1. - O que é, o que é?:
A carne da moça é dura,
Mais dura é quem a furou:
Meteu o duro no mole,
O duro dependurou.

2. - O que é, o que é?:
Nágua nasci,
Nágua me criei;
Se nágua me botarem,
Nágua morrerei.

3. - O que é, o que é?
A mãe é verde,
A filha é encarnada;
A mãe é mansa,
A filha é danada.

(Respostas no final da postagem.)


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

Dicionário do folclore brasileiro [1954], de Luís da Câmara Cascudo. Brasília : INL/MEC, 1972, 2v., 912p. [] Obra de referência obrigatória, indispensável para os estudos da multiplicidade cultural brasileira no campo das manifestações folclóricas e/ou populares. Apesar das críticas dos "acadêmicos de gabinete" - o Dicionário seria uma obra irregular e assistemática -, trata-se, a rigor, de um empreendimento ímpar pelo volume de informações históricas, antropológicas, etnográficas e propriamente folclóricas obtidas pelo Autor, ao longo de anos e anos. Com a palavra o próprio Cascudo: "As três fases do estudo folclórico - colheita, confronto e pesquisa de origem - reuni-as quase sempre como forma normativa dos verbetes. Procurei registrar bibliografia e também assinalar a possível fonte criadora. Não haverá nada de mais discutível que este debate erudito de origem, mas era indispensável mencionar sua existência, para que a fixação passasse além do pitoresco e do matutismo regional" (p.XV).


RESPOSTAS DAS ADIVINHAÇÕES

1. É brinco de orelha.
2. É sal.
3. É pimenta.


terça-feira, 30 de outubro de 2007


Jazz,
de
Henri Matisse
(1869-1954)


BALAIO PORRETA 1986
nº 2151
Rio, 30 de outubro de 2007


MEU HOMEM
de Luiza Viana
[ in O céu do lençol, 1996 ]


Anjo meu
cheiro de mel
puro bordel
de poesia

Olho nos seus olhos
viro doce
de ambrosia.


Memória 1997
DEZ LIVROS FUNDAMENTAIS DA POESIA BRASILEIRA
segundo
Nei Leandro de Castro
[ in Balaio Incomun, nº 987, 14 de julho de 1997 ]

1. Libertinagem (Manuel Bandeira)
2. Sentimento do mundo (Carlos Drummond de Andrade)
3. O visionário (Murilo Mendes)
4. O cristal refratário (Abgar Renault)
5. Romanceiro da Inconfidência (Cecília Meireles)
6. A educação pela pedra (João Cabral de Melo Neto)
7. O domingo azul do mar (Paulo Mendes Campos)
8. Arranjos para assobio (Manoel de Barros)
9. Navegos (Zila Mamede)
10. Hora aberta (Gilberto Mendonça Teles)


JAZZ QUE TE QUERO JAZZ (1)

Hot Fives & Sevens, 1-4, de Louis Armstrong [ JSP, 1925-31 ]
The Pacific Jazz Years, de Chet Baker [ Pacific Jazz, 1952-57 ]
The essencial Count Basie, 1, de Count Basie [ Columbia, 1936-39 ]
The legendary Sidney Bechet, de Sidney Bechet
[ RCA Bluebird, 1932-41 ]
Free for all, de Art Blakey [ Blue Note, 1964 ]
Escalator over the Hill, de Carla Bley [ JCOA, 1968-71 ]
Memorial album, de Clifford Brown [ Blue Note, 1953 ]
Time out, de Dave Brubeck [ Columbia, 1959 ]
Cosmopolite, de Benny Carter [ Verve, 1952-54 ]
Big Band Cole, de Nat King Cole [ Capitol, 1950-58 ]

Nota:
Não temos a menor pretensão de apresentar uma seleção discográfica do melhor que já foi feito em jazz. Trata-se simplesmente de uma seleção que, em momentos diferentes de nossa vida, nos deu bastante prazer. E, eventualmente, ainda nos dá. Ao lado das mais diferentes manifestações musicais:
a medieval, a renascentista, a barroca, a clássica,
o choro, o frevo, o samba, o baião.

||||||||||||||||||||||||||||

O jazz não é simplesmente música improvisada ou não escrita. Porém, em última análise, deve basear-se na individualidade dos músicos, e muito provavelmente em suas improvisações efetivas - e é preciso que haja espaço para improvisações. (Eric J. HOBSBAWN. História social do jazz. Trad. Angela Noronha. Pref. Luís Fernando Veríssimo. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1991, p.46)

segunda-feira, 29 de outubro de 2007


Bebamos o vinho doado pela mulher amada...

[ Foto de Chema Madoz, in Escalextric ]


BALAIO PORRETA 1986
nº 2150
Rio, 29 de outubro de 2007



O VINHO DOS AMANTES
de Charles Baudelaire
[ in As flores do mal ]
Trad. Ivan Junqueira

O espaço hoje esplende de vida!
Livres de esporas, freio ou brida,
Cavalguemos no vinho: adiante
Se abre um céu puro e fulgurante.

Como dois anjos que tortura
Uma implacável calentura,
No límpido azul da paisagem
Sigamos a fugaz miragem!

Embalados no íntimo anelo
De um lúcido e febril afã,
Qual num delírio paralelo,

Lado a lado nadando, irmã,
Chegaremos, enfim, risonhos,
Ao paraíso de meus sonhos!

[ 1857-2007: 150 anos de As flores do mal ]


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

Rede de dormir, de Luís da Câmara Cascudo. Rio de Janeiro : MEC, 1959, 242p. /Il./ [] Riquíssima pesquisa etnográfica, nos domínios da antropologia cultural: um livro saboroso, quer pelo estilo, quer pelas informações, quer pelo folclorismo, quer pelas sugestões. Dividido em duas partes: a primeira contém o ensaio propriamente dito; a segunda, uma antologia (sobretudo poética) centrada na rede. Aliás, no 4º capítulo, Cascudo afirmará: "Uma condição essencial para antropologistas e etnógrafos é ser um bom poeta. Mesmo que não faça versos" (p.79). Durante a sua fase de elaboração do livro, o autor potiguar solicitará a Carlos Drummond de Andrade, com um toque de poesia: "Venho pedir-lhe versos sobre a REDE DE DORMIR, brasileira desde 1500, ... Creio que a rede se enche mais de lirismo do que de carne humana". [Carta recebida por CDA em 4/8/1957; cf. acervo da Fundação Casa Rui Barbosa, no Rio.] O poema enviado por Drummond seria Iniciação amorosa, que se encontra em Alguma poesia, de 1930. Enfim, Rede de dormir é um clássico da literatura etnográfica nacional. Um clássico onde Cascudo - o Cascudinho da boemia natalense - se revela por inteiro: "A Ciência não existe fora da valorização humana" (p.80).

domingo, 28 de outubro de 2007


No cartaz soviético de 1920, por Victor Deni,
Leon Trotsky é São Jorge,
montado em seu cavalo branco,
em luta contra o dragão
do imperialismo contra-revolucionário:
a religiosidade mística da Mãe Rússia
continuava presente no imaginário popular
de operários, artistas e camponeses.


BALAIO PORRETA 1986
nº 2149
Rio, 28 de outubro de 2007
Atualização - 13:10h


Cinema
O MELHOR DO CINEMA POLÍTICO
segundo a nossa leitura crítico-político-libertinária

1. Carta para Jane (Godard & Gorin, 1972)
2. A terra treme (Visconti, 1948)
3. Memórias do subdesenvolvimento (Alea, 1968)
4. Deus e o diabo na terra do sol (Glauber Rocha, 1964)
5. O homem da câmera (Vertov, 1929)
6. O encouraçado Potemkin (Eisenstein, 1925)
7. Terra em transe (Glauber Rocha, 1967)
8. Outubro (Eisenstein, 1927)
9. La hora de los hornos (Solanas, 1968)
10. Noite e neblina (Resnais, 1955), curta
11. Tempestade sobre a Ásia (Pudóvkin, 1928)
12. O fim de São Petersburgo (Pudóvkin, 1927)
13. A revolta do Chile (Guzman, 1975-79)
14. A batalha de Argel (Pontecorvo, 1965)
15. One plus one (Godard, 1968)
16. Blábláblá (André Tonacci, 1968), curta
17. Terra sem pão (Buñuel, 1932), curta
18. Três cantos sobre Lênin (Vertov, 1934)
19. Salvatore Giuliano (Rosi, 1961)
20. Hitler, um filme da Alemanha (Syberberg, 1977)
21. A grande ilusão (Renoir, 1937)
22. Dr. Fantástico (Kubrick, 1964)

Nota:
Os 22 filmes selecionados não obedecem propriamente a uma ordem estético-qualitativa, e sim político-informacional a partir de parâmetros semiológicos que alimentam a linguagem do cinema, dentro de uma perspectiva social e cultural. De resto, como sempre, a cada nova revisão poderá haver mudanças neste particular conjunto de obras.


DUAS OU TRÊS COISAS SOBRE O CINEMA POLÍTICO

Aprendemos com o cineasta Jean-Luc Godard e os teóricos materialistas dos anos 60 e 70: mais importante do que um filme político em sua aparência temática - em última análise, um filme sobre política -, é um filme politicamente político. O primeiro seria uma obra conjuntural, em alguns casos com implicações formais discutíveis. O segundo seria uma obra estrutural, com implicações necessariamente produtivas , isto é, políticas, isto é, revolucionárias.

Neste sentido, vale a pena recorrer ao poeta Vladimir Maiakóvski: "Sem forma revolucionária não existe arte revolucionária", que, por sua vez, parafraseara Lênin: "Sem teoria revolucionária não existe prática revolucionária". Mais tarde, nos anos 60, Louis Althusser retomará a máxima leninista para construir o alicerce teórico de sua leitura marxista. Que, em grande parte, apesar de tudo, permanece válida. Assim como permanecem válidas as idéias centrais de Marx.

Mas, voltando a um cinema politicamente político, e sem discutir, no momento, a questão da arte panfletária (sempre conjuntural, embora filmes como o Potemkin eisensteiniano extrapolem o conteudismo vulgar do simples panfletarismo de corte sociológico), repensemos Lênin. Sempre Lênin. Ou seja: Sem apontar para o saber militante não existe cinema político. Em outras palavras: Sem forma radical dificilmente existirá cinema revolucionário.


EISENSTEINIANA
de Moacy Cirne
[ in Cinema Pax, 1983 ]

a revolução
(sangue, suor e carne)
é violenta como o vermelho
dos crepúsculos de
outubro
e doce como o cheiro de
terra molhada


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

A história da revolução russa, de Leon Trotsky. Trad. E. Huggins. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1977, 3v. [] Para comemorar os 90 anos da revolução soviética - que infelizmente não levou adiante os sonhos de um verdadeiro socialismo -, nada melhor do que a (re)leitura de um clássico da literatura marxista, escrita (com espírito crítico, mas também com paixão) por um dos principais líderes da própria revolução russa: Leon Trotsky. Suas 1080 páginas, ao todo, são bastante esclarecedoras, particularmente sob o ponto de vista histórico. "A Revolução de Outubro lançou as bases de uma nova cultura, concebida para servir a todos, e foi por isso mesmo que assumiu, imediatamente, importância internacional" (p.984).

sábado, 27 de outubro de 2007


Melancolia
de Adolfo Valente
in Photo Net


BALAIO PORRETA 1986
nº 2148
Rio, 27 de outubro de 2007



Cinema
O MELHOR DO CURTA
segundo a nossa leitura crítico-afetivo-libertinária

1. Noite e neblina (Resnais, 1955)
2. Um cão andaluz (Buñuel, 1928)
3. O olhar de Michelangelo (Antonioni, 2004)
4. La jetée (Marker, 1962)
5. O sangue das bestas (Franju, 1948)
6. Uma semana (Keaton & Cline, 1920)
7. Dois homens e um armário (Polanski, 1958)
8. Gente del Pò (Antonioni, 1943-47)
9. 69 primaveras (Alvarez, 1969)
10. Arraial do Cabo (Paulo César Saraceni
& Mário Carneiro, 1959)
11. Terra sem pão (Buñuel, 1932)
12. Aruanda (Linduarte Noronha, 1960)
13. Entr'acte (Clair, 1924)
14. Blábláblá (André Tonacci, 1968)
15. Guernica (Resnais, 1950)
16. Film (Beckett & Schneider, 1965)
17. Lot in Sodom (Watson, 1933)
18. Di (Glauber Rocha, 1976)
19. Zuiderzee (Ivens, 1933)
20. Chuva (Ivens, 1929)

Notas:
a. Embora, para muitos técnicos e estudiosos, os curtas não devam ultrapassar 22 minutos de projeção, levamos em conta realizações até 36-38 minutos.
b. Preferimos não levar em consideração curtas de animação (como o excelente Labirinto [1962], de Lenica), e episódios isolados de obras ficcionais, incluindo, aqui, títulos de Fellini, Visconti e Pasolini.


BREVES CONSIDERAÇÕES
SOBRE ALGUMAS PEQUENAS OBRAS-PRIMAS

Entre os curtas que já vimos - e mais de 60 poderiam ser destacados, ou mais de 140, se incluíssemos os filmes de animação - quatro deles merecem o nossos especial interesse, embora não sejam necessariamente os quatro melhores da história do curta-metragem: Noite e neblina, Um cão andaluz, O olhar de Michelangelo e La jetée. Amá-los, segundo o nosso entendimento, significa amar uma vertente importante do cinema: a vertente que extrapola qualquer espécie de espetacularização, seja ficcional seja documental.

Vejamos o caso de Noite e neblina. O tema é doloroso, terrivelmente doloroso. Ao mesmo tempo, cruel e melancólico, preciso e neblinante, Resnais antecipa, aqui, a sua preocupação ontológica com a memória. Como esquecer o horror dos campos de concentração da Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial? Se o filme se realiza como documentário, também se realiza como a possibilidade de pensar a imagem do presente e do passado. Assim é, assim parece: da imagem-memória à imagem-história.

E o que dizer de Um cão andaluz, depois de tantos e tantos anos de leituras semiológicas, materialistas e psicanalíticas? A partir do famoso plano do olho/lua sendo cortado por uma navalha, tem-se o surrealismo como emblema que se quer significante cinematográfico. Não seria toda a obra de Buñuel - com algumas poucas exceções (haja vista o exemplo maior de Terra sem pão) - uma resposta ao que já está contido neste "cão andaluz" de mil e uma leituras? Decerto, essa resposta implicará novas cenografias e novos roteiros.

O comovente O olhar de Michelangelo, em sendo pura cinepoesia dos sentidos, é o próprio olhar de (Michelangelo) Antonioni: um olhar construído como "a" ficção das aparências entre o não-documentário e a não-simbologia de uma certa ficcionalidade. O uso da computação gráfica, em última instância, faz Antonioni, personagem e criador, criador e personagem, locomover-se no espaço do "tempo sagrado: cinema/catedral", e de forma tão delicada e sensível que os seus efeitos passam a ser mais um elemento estético dentro do filme.

Já o curta de Marker é um filmefotonovela, um filmefotopoesia: suas referências principais são a ficção científica, o ensaio poético e a a arte das impossibilidades textuais em busca de um "significante/significado fantástico". Através de imagens fixas - o único movimento "real" é um piscar de olhos femininos, que dura menos de um segundo -, Marker repensa a narrativa como o lugar da descontrução do espetáculo ficcional. E como nos outros curtas citados, "é preciso ver com olhos livres" (Oswald de Andrade).

sexta-feira, 26 de outubro de 2007


Foto de Fátima Silveira
in 1000 Imagens


BALAIO PORRETA 1986
nº 2147
Rio, 26 de outubro de 2007



PECADOS INTERIORANOS
4º - Ira
de Paulo de Tarso Correia de Melo (RN)
[ in Rio dos homens, 2002 ]

Ah, minha filha,
eu sou assim:
quando tenho raiva de uma pessoa,

tenho raiva da pessoa,
da menina da pessoa
e da boneca da menina da pessoa.


UM POEMA CANTADO NA NOITE: IV
de Tanussi Cardoso (RJ)
[ in Exercício do olhar, 2006 ]

é no osso das nuvens
no ar das flautas doces
na noite que nada espera
que o poema desespera


MANCHETES QUE ABALARAM O MUNDO
de Max Nunes (RJ)
[ in Uma pulga na camisola, 1996 ]

Tarado come maçã e ataca donzela no Paraíso.

Desfalcada a seleção da Grécia.
Acertaram o calcanhar de Aquiles.

Ainda não foram encontrados os restos mortais
do chinês que inventou a pólvora.

Navegador português sem radar descobre o Brasil.

Luís XV ganha o primeiro lugar
na categoria luxo do Baile de Sodoma.


DE GOETHE
[ dos Arquivos de Macária, 1829. ]
Os enigmas dos caminhos da vida não se deve nem se pode revelá-los. Há pedras de escândalo nas quais um viajante poderia tropeçar. O poeta porém alude a esses lugares.
[in Máximas e reflexões. Lisboa : Guimarães editores, 1987, p.159 ]

quinta-feira, 25 de outubro de 2007


Niko Guido
in
Photo Net


BALAIO PORRETA 1986
nº 2146
Rio, 25 de outubro de 2007



UM LIVRO, UM FILME, UMA CORRENTE

A atual biblioteca dos meus sonhos começou a se formar em junho de 1958, quando a minha família ainda residia em Caicó. Conservo comigo até o hoje o seu livro inaugural: Antologia do folclore brasileiro, de Luís da Câmara Cascudo, presente de Neide Pereira Cirne, a segunda mulher de meu pai. Depois, em Natal, até 1967, os livros se multiplicaram. O problema maior deu-se a seguir: como trazê-los para o Rio? Felizmente, meu irmão Milton e Fátima Campos, após o casamento, souberam guardá-los com o carinho e o cuidado necessários. Como acontecera antes, acrescente-se. Aos poucos, touxe para o Rio o que me era mais precioso. Em várias e várias viagens, às vezes semestrais, às vezes anuais, às vezes mais espaçadamente. Mas alguns títulos se perderam. É natural. Alguns amigos o levavam, de empréstimo. Um desses amigos, de uma só vez, levou mais de 100 volumes. Todo o Sartre, de 20 a 25 títulos. Todo o Camus, de 25 a 30 obras. Alguma coisa da Simone de Beauvoir. Do Dostoiévski e Faulkner, também. A coleção de José Lins do Rego, essa sim por mim presenteada. Decerto, bom uso o amigo deve ter feito de todos eles. Assim espero.

Aliás, um dos meus prazeres atuais, no Rio, é procurar em sebos alguns daqueles livros perdidos. Refiro-me não aos mesmos exemplares, por total impossibilidade, mas às mesmas edições, claro, adquiridas sobretudo na Livraria Universitária, em plena Av. Rio Branco, nas proximidades do Grande Ponto. Foi o que aconteceu antes de ontem: no simpático Luzes da Cidade, em Botafogo, no Espaço de Cinema, encontrei a edição de 1961, pela Difusão Européia do Livro, de uma obra que me fora importante, então, na cidade Natal que tanto me marcou: Memórias de uma moça bem comportada, de Simone de Beauvoir. Bem conservado e por um preço razoável, não tive a menor dúvida. A mesma edição voltou a fazer parte da minha biblioteca - a Biblioteca das Águas Seridoenses. Ontem mesmo comecei a folhear algumas de suas páginas.

O livro, adquirido em março de 1963 (o meu primeiro exemplar provavelmente foi comprado na já citada Universitária em 1962), pertencera a uma tal Suzana Moraes Ribeiro. E agora vem o primeiro dado curioso da história: no dia 15 de setembro daquele ano, um domingo, no Cinema Palácio, Suzana Ribeiro (ou alguém que estava com esse "particular" exemplar nas mãos) viu um filme muito aplaudido na época: Cleópatra, com Elizabeth Taylor e Richard Burton. E o viu na 1ª sessão. E sentou-se na poltrona 14 da fila V. O ingresso, em bom estado de conservação, com essas informações, encontrava-se no interior do livro. Não me canso de perguntar: será que Suzana (feia? bonita? gorda? magra? recatada? indisciplinada? existencialista? marxista?) gostou do filme? Como terá sido a sua vida? Será que ela foi ou é uma pessoa feliz? Gostava ou gosta de futebol? De crepúsculos? De Bossa Nova? Das águas de março? Será que ela conheceu Natal?

Mas o mais curioso veio a seguir: o o ingresso encontrava-se entre as páginas 160 e 161. Acontece que corre pela internet, neste momento, uma "estranha" corrente que nos faz ler a 5ª linha (se não me falha a memória) da página 161 do livro mais próximo do internauta levado a participar da "brincadeira". Já fui convocado com essa finalidade. Saí pela tangente. Minhas leituras nunca são casuais. E por que exatamente a página 161? Não, não acredito em espiritismo ou algo similar. Não, não acredito em ocultismo ou algo do gênero. Neste sentido, sou materialista, embora marcado pelos deuses e pela Nossa Senhora de Sant'Ana do meu Seridó. Contudo, não resisto à tentação e leio, segundo as indicações da corrente: "Há muito prometera a mim mesma fugir à horrível vulgaridade quotidiana".

Na verdade, esta frase poderia ter sido destacada por mim naqueles anos natalenses. Terei eu a sublinhado? Pensando bem, não seria nada absurdo ou improvável se o tivesse feito. Afinal, em Natal, a capital do tédio, eu e meus amigos procurávamos fugir da vulgaridade cotidiana como Deus e o Diabo fogem da terra em transe. Vendo bons filmes. Amando muitas mulheres (geralmente, à distância). Fazendo política (na medida do possível). E lendo bons livros.


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

Memórias de uma moça bem comportada, de Simone de Beauvoir. Trad. Sérgio Milliet. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1961, 318p. [] Quando lido em Natal, em 1962/3, causou-me ótima impressão: eu vivia o meu marxismo-existencialista (aparentemente uma contradição em si) de forma intensa. E inquieta. Bastante inquieta. E agora? Será que o livro resistiu ao tempo? Continuará sendo uma escrita capaz de emocionar por sua cristalina simplicidade e por sua agudeza de pensamento, fortemente feminista?

quarta-feira, 24 de outubro de 2007


Primado da matéria sobre o pensamento (1932)
Foto de Man Ray
[ incluída no álbum publicado pela Taschen ]


BALAIO PORRETA 1986
nº 2145
Rio, 24 de outubro de 2007



OFÍCIO
de Antônio Morais de Carvalho (PB)
[ in Jogo de sentidos, 1986 ]

Não quero o poema-perfeito:
O fastio dos Deuses,
A bondade do Diabo,
O Verbo,
A Bomba!

Não quero o poema-perfeito:
Eu sei que o ultrapasso
Ao tocar o seu mistério.

Não quero o poema-perfeito,
O último-poema:
A poesia
É meu ofício cotidiano.


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

Man Ray, de Manfred Heiting (ed.). Köln London Los Angeles Madrid Paris Tokyo : Taschen, 2004, 224p. [] O norte-americano Man Ray, nascido em 1890 e falecido em 1976, tornar-se-ia, ao se aproximar dos dadaístas e surrealistas, o maior nome da vanguarda fotográfica do século XX. As fotos do presente livro/álbum são a prova documental de tal afirmativa. Há também ótimos textos de Katherine Ware e Emmanuelle d'Ecotais. Além de oportunas citações do próprio Ray, tais como: "Tudo pode ser transformado, deformado e eliminado pela luz. Ela é exatamente tão flexível quanto o pincel" (p.170); "Para mim não existe diferença entre o sonho e a realidade. Eu não sei nunca se o que faço é produto do sonho ou do estado despertado" (p.186). São citações programáticas, pode-se dizer. A obra de Man Ray - que de igual modo realizou (nos anos 20) filmes que primam pela pesquisa no campo da linguagem - é um desafio para todos nós.

terça-feira, 23 de outubro de 2007


Pintura de
Henri Fantin-Latour
(1836-1904)


BALAIO PORRETA 1986
n° 2144
Rio, 23 de outubro de 2007


DOIS POEMAS
de
CHICO DOIDO DE CAICÓ
(1922-1991)

Sou macho
Eu também já broxei.
Sou macho
Eu também já levei porrada.
Sou macho
Eu também já dancei tango em Caruaru.

[]

Sou doido por mulher
Sou doido por cachaça
Sou doido pra gastar dinheiro
Sou doido por uma bunda
Sou doido por Caicó
Sou doido pelo mar
Sou doido por violão e lua cheia
Sou doido por uma conversa de bar
Sou doido por arribaçã
E sou doido propriamente dito.


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

A origem das espécies [1859], de Charles Darwin. Trad. Eduardo Fonseca. Rio de Janeiro : 2004, 518p. Ilust. [] Um dos livros capitais da história da humanidade, a partir das considerações científicas de Lamarck, que "Defende nas suas obras a doutrina de que todas as espécies, compreendendo o próprio homem, originam-se de outras espécies. Foi ele o primeiro a prestar à ciência o grande serviço de declarar que toda alteração no mundo orgânico, bem como no mundo inorgânico, é o resultado de uma lei, e não uma intervenção miraculosa" (p.7-8). Quase no final de sua obra, absolutamente indispensável em qualquer boa biblioteca, Darwin dirá: "Creio que todos os animais se originam de quatro ou cinco formas primitivas, no máximo, e todas as plantas, de um número igual ou mesmo menor" (p.504).


FEIRA DE CITAÇÕES ESPORRENTAS

O primeiro ser revolucionário foi Eva. Ela inventou o orgasmo.
(Darcy Ribeiro)
Os homens mentiriam muito menos se as mulheres fizessem menos perguntas.
(Max Nunes)
Se os fatos contradizem os profetas, pior para os fatos.
(Nelson Rodrigues)
Não se preocupe em entender. Viver ultrapassa todo o entendimento. Mergulhe no que você não conhece.
(Clarice Lispector)
Para um autor, é um verdadeiro desastre ser compreendido.
(E.M. Cioran)

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Memória 1995

BALAIO INCOMUN
Folha Porreta
Moacy Cirne
IX / 704
Rio, 16 jan 95

METAPÓSTRADUÇÃO: TEORIA E PRÁTICA

Depois de 7 anos, 7 meses e 7 dias, concluímos, com satisfação, uma tarefa hercúlea, das maiores já realizadas no mundo literário brasileiro: a metapóstradução, absolutamente criativa, do título e dos quatro primeiros versos da obra-prima Le bateau ivre, o imortal poema de Arthur Rimbaud. Foi, sem dúvida, um trabalho ímpar, que, decerto, ficará nos anais acadêmicos da excelência transcriadora.

Não foi fácil. Ao contrário. Tivemos que incorporar a carne e a alma francesas do século passado [séc. XIX], e mais - muito mais -, na medida que descobríamos certas particularidades sânscrito-croatas embutidas no cerne vocabular do poema. Neste sentido, as belas traduções de Augusto de Campos e Ivo Barroso, por nós consultadas, foram valiosas, sobretudo na descoberta semântica de determinados efeitos conteudísticos [...].

Para que os leitores tenham uma idéia concreta de nossas soluções criativo-epistemológicas, publicamos o original em questão, as traduções de Augusto de Campos e Ivo Barroso, e por fim, pela primeira vez no Brasil, a nossa metapóstradução:

LE BATEAU IVRE (Rimbaud)
Comme je descendais des Fleuves impassibles,
Je ne me sentis plus guidés par les haleurs:
Des Peaux-Rouges criards les avaient pris pour cibles,
Les ayant cloués nus aux poteaux de couleurs.

O BARCO BÊBADO (Augusto de Campos)
Quando eu atravessava os Rios impassíveis,
Senti-me libertar dos meus rebocadores.
Cruéis peles-vermelhas com uivos terríveis
Os espetaram nus em postes multicores.

O BARCO ÉBRIO (Ivo Barroso)
Como descesse ao léu nos Rios impassíveis,
Não me sentia mais atado ao sirgadores.
Tomaram-nos por alvo os Índios irascíveis,
Depois de atá-los nus em postes multicores.

O BARCO LIVRE (Moacy Cirne)
Como descendia das Flúvias impassíveis
Já não me sentia um plug guiado pelas sirigaitas:
Padres russos criados com aveias possíveis
Antes tocavam nus em siris, gatos e gaitas.

Claro, nossas pesquisas fenomenológicas foram extensas; consultamos tratados semiológicos e pirotécnico-semanticistas sobre as mais diversas e surpreendentes temáticas rimbaldianas, inclusive as de ordem sexual. Mantivemos uma longa e intensa correspondência com as bibliotecas de Alexandria, Paris, Londres, Nova York, Chicago, Nova Orleans, Moscou e Caicó, assim como com especialistas em sânscrito-croata e outras línguas vivas, mortas e neutras. O resultado pareceu-nos excelente, sem falsa modéstia. Nos próximos sete anos esperamos traduzir os quatro versos seguintes do poema, para a glória da Novíssima Metapóstradução.

domingo, 21 de outubro de 2007


Foto de
Sascha Hüttenhain
[ in Photo Net ]


BALAIO PORRETA 1986
nº 2143
Rio, 21 de outubro de 2007



MAIS UMA OBRA-PRIMA DE URBANO MEDEIROS

O último cd do seridoense (de São João do Sabugi) Urbano Medeiros, que hoje reside no interior de Minas, é mais uma prova sonora de sua genialidade múltipla como saxofonista e músico de extrema sensibilidade: Choros, valsas & etc.... (2007) traz a marca do artista inquieto que ele é. Inquieto mas apurado/depurado esteticamente: um som cristalino e límpido como as águas do seu sertão em pleno inverno. A sua religiosidade quase mística, presente em outros discos (haja vista o admirável Da Palestina ao Seridó), apresenta-se aqui com mediações "choronas" e "valseiras" que lembram a pureza das cidades do interior, em tempos idos, com suas furiosas e seus dobrados arrebatadores/sonhadores. Há, nesta obra-prima, um clima de encantalamento musical que somente os grandes artistas sabem proporcionar: ouvintes felizes, sentimos a doce sonoridade/musicalidade de Urbano Medeiros em faixas como Choro do Cascão, Lágrimas de namorado, Corinthiano, Paraquedista, Nair, Sinos de Santa Cecília, Teresa Grillo Michel, Cruzeta do bem, Menino de Dalvacy (as três últimas, do próprio autor) e, em versão renovada, a conhecida Amapola. O melhor disco brasileiro do ano, até o momento.


GLOSSÁRIO SERIDOENSE: MAIS EXEMPLOS (3)
[ Pesquisa de Max Antonio Azevedo de Medeiros,
in Palavreado cá de nós. Caicó, 2007 ]

Caba : Indíviduo; Sujeito; Homem.
Cabaço : A virgindade da mulher.
Cabido : Enxerido; Metido; Oportunista.
Cabrita : Menina-moça.
Cabroeira : Pessoa desqualificada.
Cabueta : Dedo-duro; Delator; Espião da polícia.
Caçuá : Cesto grande feito de taquara de carnaúba.
Cai-Pedaço : Cabaré; Puteiro; Zona do meretrício.
Caixa-prego : Lugar muito longe.
Califon : Sutiã.
Caningar : Provocar; Irritar; Abusar.
Canjubrina : Cachaça; Aguardente.
Capucho : Algodão doce.
Carioca : Assobio agudo dirigido às moças como sinal de paquera.
Cascabulho : Coisa velha, muito usada.
Catraia : Meretriz de ínfima classe; Pessoa inferior.
Chalerar : Adular; Bajular.
Chamego : Namoro; Excitação para atos libidinosos.
Champrar : Manter relações sexuais.
Confeito : Bombom; Bala.
Cu-de-burro : Encrenca; Desordem; Confusão.
Cu-de-Mãe-Joana : Coisa sobre a qual todos se metem; Bagunça.


DAS CARÍCIAS
de Iara Maria Carvalho
(Currais Novos, RN)
[ in Mulher na Janela, desativado ]

nas flores do mais
o menos cheira a espinho

fica a sobra que murchou
daquilo que foi carinho

sábado, 20 de outubro de 2007


Cidadão Kane,
de Orson Welles:
o ícone dos ícones?
O filme dos filmes?


BALAIO PORRETA 1986
nº 2142
Rio, 20 de outubro de 2007


OS ÍCONES CINEMATOGRÁFICOS

A idéia de ícone implica emblematização. Não significa necessariamente qualidade, embora possa figurar, no caso da arte, num determinado patamar estético capaz de resistir ao tempo. Quando pensamos no cinema, por exemplo, alguns ícones são evidentes. Outros são discutíveis. Sim, também aqui, é possível estabelecer divergências. Às vezes, um certo neblinamento pode sublinhar nossas opiniões. Mas fiquemos nos ícones mais claros.

Tomemos os musicais de Hollywood. Decerto, Cantando na chuva (Kelly & Donen, 1952) será lembrado pela maioria como o ícone por excelência. Seria o melhor musical realizado até hoje? Possivelmente, sim. Contudo alguns poderão preferir A roda da fortuna (Minnelli, 1953) em termos qualitativos. Ou Sinfonia de Paris (Minnelli, 1951). Ou Amor, sublime amor (Wise & Robbins, 1961). Por que não? Afinal, são quatro grandes filmes.

E no caso do bangue-bangue? Aqui, apontaríamos nomes: John Ford como diretor e John Wayne como ator. A reunião dos dois resulta em obras-primas como No tempo das diligências (1939) e Rastros de ódio (1956). Mas não há como esquecer Howard Hawks, igualmente com John Wayne em Rio Vermelho (1948) e Rio Bravo (1959). Ultimamente, a partir de várias revisões, Sergio Leone, sobretudo com Era uma vez no oeste (1968), tem-se destacado. Acreditamos que ele é mais do que um ícone do faroestespaguete.

Na comédia, claro, há que apontar Charlie Chaplin (Em busca do ouro, 1925; Luzes da cidade, 1931; Tempos modernos, 1936). Como realizador, preferimos Buster Keaton (Sherlock Jr., 1924; Seven chances, 1925; A General, 1927). Porém não devemos confundir as coisas. Não se trata de optar por um por outro; há espaço para os dois entre os "gênios do cinema". Além do mais, há outros grandes nomes no solo fértil da comicidade cinematográfica: O Gordo e O Magro, Jacques Tati, Billy Wilder (na comédia romântica).

E se falamos em comédia romântica, falemos em drama romântico. O grande ícone será Casablanca (Curtiz, 1942). Quem ousará discordar de? Todavia, segundo a nossa leitura crítico-afetivo-libertinária (com suas implicações ora semiológicas, ora seridoenses), Desencanto (Lean, 1945) continua sendo um filme insuperável. Um dos maiores da história do cinema. Ou, pelo menos, um dos maiores dos anos 40.

Um dos maiores ícones do cinema? E o maior de todos os filmes? Seria ele o ícone dos ícones em se tratando de estética cinematográfica? Talvez sim. Embora não seja o maior título da "sétima arte" - capaz de problematizar questões produtivas e culturais -, só um filme conseguirá se impor neste quesito: Cidadão Kane (Welles, 1941). Mas, afinal, qual seria o maior filme da história do cinema? Impossível apontar um título. De nossa parte, há muito que indicamos A aventura (Antonioni, 1960) como o melhor entre os melhores. E daí? Trata-se de uma escolha bastante pessoal, carregada, em nosso caso particular, de substância estética à beira da existencialidade e de um verdadeiro desnudamento ontológico. Afinal, "cada cabeça, uma sentença". Ou melhor: cada cabeça, uma emoção.

Outros ícones? O do cinema político (Eisenstein, Vertov, Godard, Glauber Rocha)? O do film noir (Preminger, Wilder)? Do cinema documentário (Flaherty, Eduardo Coutinho, Vladimir Carvalho)? Há mais ícones: Mário Carneiro, símbolo da fotografia em nosso cinema. Visconti e Rossellini, emblemas do neo-realismo italiano; 2001: uma odisséia no espaço (Kubrick, 1968), o representante mais completo da ficção científica; Oscarito, símbolo da chanchada carioca. E o que dizer de um Fellini? Ícone de um cinema-bailarino (reportando-nos a Welles, em A ricota, curta de Pasolini)? E o que dizer do cinema Boca-do-Lixo - qual o seu ícone? Qual o seu nome mais legítimo?

A verdade é que sempre haverá discussões a respeito. Como assinalar, por exemplo, o ícone da beleza/sensualidade feminina nas telas do cinema mundial. Ingrid Bergman? Rita Hayworth? Maria Félix? Sophia Loren? Marilyn Monroe? Brigitte Bardot? Ava Gardner? Atrizes mais recentes? Brasileiras? Argentinas? Chilenas? De qualquer maneira, mais vale a mulher amada do nosso lado, olhando para os nossos olhos, do que duas ou três na imaginação a mais delirante. Mesmo que sejam belíssimas. Afinal, de forma concreta, e próxima, a mulher amada também será belíssima. Ou mais.

Não nos esqueçamos que, fora do campo cinematográfico, são muitos os ícones do século XX: Einstein, em ciência; Picasso, em pintura; Che Guevera, em rebeldia revolucionária; Gaudí, em arquitetura; Sartre, em existencialismo; Bachelard, em epistemologia; Fla-Flu (e/ou Pelé, e/ou o Maracanã), em futebol; Cartier-Bresson, em fotografia; Brecht, em teatro; Maiakóvski (e/ou Fernando Pessoa), em poesia; Guimarães Rosa (e/ou Joyce, e/ou Kafka), em literatura ficcional; Stravinsky, em música; Câmara Cascudo, em folclore; Freud, em psicanálise; Joãozinho XXIII, em religiosidade católica; Lênin, em política revolucionária. E há aqueles símbolos alimentados pela indústria capitalista: a Parker 51, o cadilaque, a coca-cola (essa última não nos interessa, a bem da verdade). Seriam símbolos inúteis? Não, não existem símbolos inúteis ou, mais precisamente, leituras inocentes (cf. Louis Althusser).

Há, ainda, uma pergunta final a ser formulada: o ser humano necessita de ícones? Quer nos parecer que sim. Assim como necessita de mitos religiosos que requerem a criação histórico-ficcional de um Deus judaico-cristão-muçulmano.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007


Foto de ABrito
[ in Olhares ]


BALAIO PORRETA 1986
nº 2141
Rio, 19 de outubro de 2007



DOIS POEMAS
de
Márcia Carrano
[ in Vento Leve.
Juiz de Fora, 2007 ]

minha cabeça
virou um grande
texto
totalmente fora
do contexto.

[]

afasta esta poesia doida
pousando incômoda
em meus dias:

preciso viver
de pão-sal-e-dor.


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

Macbeth [1606], de William Shakespeare. Trad. Manuel Bandeira. Rio de Janeiro : José Olympio, 1961, 110p. /Coleção Rubáiyát/ [] Talvez não seja a melhor tradução do Macbeth; há outras mais instigantes, ou mais provocadoras. Mas um Shakespeare recriado por Manuel Bandeira, um dos nossos maiores poetas, tem tudo para ser uma experiência literária em alto estilo. "Macbeth é, senão a mais profunda (...), a mais sinistra e sanguinária tragédia do autor: basta dizer que dos protagonistas só dois sobrevivem - Macduff e Malcolm" (MB).


DE ZILA MAMEDE

Essa pobre memória que te estendo
vem lavada por águas milenárias
que a depuram de lodos e cansaços
para o descobrimento do teu nome.
(...)
[ Soneto da iniciação, in Salinas, 1958 ]

quinta-feira, 18 de outubro de 2007


A magia do Maracanã, sobretudo em jogos interclubes,
é insuperável. Aqui, antes da reforma do estádio,
vemos a vibração da torcida vascaína num jogo
contra o Botafogo. Ontem, ao contrário, ao ver
o jogo da seleção brasileira pela televisão,
apesar de bonita, a galera pareceu-me
muito padronizada, muito "globalizada".
Sábado passado, por exemplo, os 40 mil tricolores
presentes no jogo contra o São Paulo fomos
muito mais vibrantes e contagiantes:
passamos mais de 90 minutos cantando,
pulando e tremulando as nossas bandeiras
sem parar um só minuto, de forma incansável.


BALAIO INCOMUN 1986
nº 2140
Rio, 18 de outubro de 2007


Cinema
TÍTULOS DE FILMES NO BRASIL E EM PORTUGAL

Título original: To have and have not (Hawks, 1944)
No Brasil: Uma aventura na Martinica
Em Portugal: Ter e não ter

Título original: Double indemnity (Wilder, 1944)
No Brasil: Pacto de sangue
Em Portugal: Pagos a dobrar

Título original: Spellbound (Hitchcock, 1945)
No Brasil: Quando fala o coração
Em Portugal: A casa encantada

Título original: Les enfants du paradis (Carné, 1945)
No Brasil: O boulevard do crime
Em Portugal: Os rapazes da geral

Título original: It's a wonderful life (Capra, 1946)
No Brasil: A felicidade não se compra
Em Portugal: Do céu caiu uma estrela

Título original: The asphalt jungle (Huston, 1950)
No Brasil: O segredo das jóias
Em Portugal: Quando a cidade dorme


FEIRA DE CITAÇÕES ESPORRENTAS

A única anomalia é a incapacidade de amar
(Anais Nin)

Quando a gente pensa que sabe todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas.
(Anônimo)

Vou-me embora à procura de um grande talvez.
(François Rabelais)

Duvidemos inclusive da dúvida.
(Anatole France)

O melhor amigo do homem é o uísque. O uísque é o cachorro engarrafado.
(Vinícius de Morais)

A única alegria no mundo é começar.
(Cesare Pavese)

quarta-feira, 17 de outubro de 2007


Foto de
Luís Lobo Henriques
[ in 1000 imagens ]


BALAIO PORRETA 1986
nº 2139
Rio, 17 de outubro de 2007


de Mário Cezar (CE)
[ in Coivara ]

QUE O POEMA
tenha a arquitetura de coisas esquecidas


de Sandra Camurça (PE)
[ in O Refúgio ]

NOSSO AMOR
dê-me uma lua cheia
que eu te dou o sol mais quente
e ninguém verá eclipse mais obsceno que o nosso


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

Os lusíadas [1572], de Luís de Camões. Lisboa : Imprensa Nacional / Casa da Moeda, 1982, 774p. [] Reprodução paralela, em fac-símile, das duas edições de 1572 do maior poema em língua portuguesa até hoje produzido: a epopéia das epopéias. A rigor, uma edição para estudiosos e pesquisadores. Para os pobres mortais, como nós, indicamos a edição organizada por António José Saraiva, com notas, resumos e vocabulário (Porto : Figueirinhas ; Rio de Janeiro : Padrão, 1979, 558p.). Também vale a pena recomendar a anotada por Antônio Soares Amora, autor da Introdução, e Massaud Moisés, entre outros (Belo Horizonte : Itatiaia ; São Paulo : EDUSP, 1980, 404p.). Além, claro, da edição com prefácio e notas de Hernâni Cidade (Lisboa : Livraria Sá da Costa, 1947, 2v.), a nossa preferida. Registre-se que, até 1978, as várias publicações d'Os lusíadas já atingiam o número de 274 edições. Nem todas confiáveis, evidentemente.

terça-feira, 16 de outubro de 2007


Marilyn Monroe
em foto de Bert Stern para a revista Vogue (1962),
incluída no álbum Marilyn, de Norman Mailer


BALAIO PORRETA 1986
nº 2138
Rio, 16 de outubro de 2007



(IN)COERÊNCIAS
de Sheyla Azevedo (RN)
[ in Bicho Esquisito ]

eu te amo
porque não te amo mais
e porquê não te amo mais
te amo tanto assim


COMO REALMENTE ACONTECERAM AS COISAS
de Marinella Grosa (Itália, 1996)
Tradução: Mário Ivo D. Cavalcanti
[ in Cidade dos Reis ]

A serpente
da inocência
encontrou o pecado
e o comeu.


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

Marilyn, de Norman Mailer. Trad. Fernando de Castro Ferro. São Paulo : Círculo do Livro, 1974, 124p. /Com fotos de Bert Stern & outros/ [] Provavelmente, o mais belo ensaio poético, em forma de biografia, já escrito sobre uma atriz de cinema, deslumbrante em filmes como O pecado mora ao lado e Quanto mais quente melhor, ambos dos anos 50 e ambos dirigidos por Billy Wilder. Jornalismo-poesia-verdade sobre aquela que "Era o nosso anjo, o carinhoso anjo do sexo - e o açúcar do sexo vinha dela como a ressonância do mais puro acorde de um violino" (p.1). Na página seguinte, com perfeição: "Marilyn Monroe era o último dos mitos a florescer na longa noite do sonho americano".

segunda-feira, 15 de outubro de 2007


Grandes momentos dos quadrinhos:
Batman: Asilo Arkham,
de Grant Morrison & Dave McKean (1990)

[Ilustração: metade superior de uma das páginas da HQ]


BALAIO PORRETA 1986
nº 2137
Rio, 15 de outubro de 2007


O ADEUS DOS POETAS
de Maria Maria (RN)
[ in Espartilho de Eme ]

No dia em que os poetas
se disserem adeus,
a alma humana se perderá
no escuro da palavra.


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

Batman: Asilo Arkham, de Grant Morrison & Dave McKean. São Paulo : Abril Jovem, dezembro de 1990. [] Seria Batman mais esquizofrênico do que Coringa? É possível. Não seria o Cavaleiro das Trevas a "máscara visível" de um gênio da loucura, o citado Coringa? É possível. Daí o seu medo não-revelado: enfrentar a rebelião no interior do Asilo Arkham, liderada exatamente por Coringa, seu suposto inimigo e seu provável amigo mais íntimo, cujas conseqüências neuróticas e sexuais poderão ser devastadoras. Afinal, ao entrar no Asilo, Batman terá, em princípio, ou aparentemente, a estranha sensação de que ele é o mais louco de todos. A história de Morrison é ótima e os desenhos & pinturas de McKean, em tons sombrios e neogóticos, fazem desta novela gráfica mais do que uma obra-prima dos quadrinhos - a fazem uma obra-prima da arte seqüencial do século XX.

domingo, 14 de outubro de 2007


Lanterns,
de Dmitry Chebotarev
[ in Meu Porto ]


BALAIO PORRETA 1986
nº 2136
Rio, 14 de outubro de 2007


DOIS POEMAS
de Adelaide do Julinho (MG)
[ in Controversos ]

Aurora

de quatro
papaimamãe
chupeta
oh! que saudades que tenho
da minha infância querida

Esperando Godot

Pela última vez, filhinha: quem é o pai?
Não sei, mãe, tava escuro


GLOSSÁRIO SERIDOENSE: MAIS ALGUNS EXEMPLOS (2)
de Max Antonio Azevedo de Medeiros (RN)
[ in Palavreado cá de nós. Caicó, 2007 ]

Apiolado : Doido; Desmiolado.
Apocado : Acanhado; Envergonhado.
Apragatado : Achatado; Esmagado.
Aprochegado : Chegado; Aproximado; Amigo íntimo.
Arataca : [Armadilha para capturar pequenos animais]
Arengar : Brigar; Discutir.
Arenzê : Barulho; Zoada; Alarido.
Arisia : Conversa fiada; Mentira; Papo furado.
Aritica : Coisa nenhuma.
Arretado : Legal; Bacana; Bonito; Elegante.
Arromba-peito : [Cigarro de palha, feito com fumo forte]
Arroz-de-festa : [Indivíduo assíduo freqüentador de festas]
Arrudião : [No futebol, o drible da vaca]
Atochar : Fazer entrar de qualquer maneira; Apertar.
Atubibar : Perseguir; Aporrinhar; Importunar.
Azucrinar : Atananazar; Aborrecer; Aperrear.
Baixa-da-Égua : Lugar indeterminado.
Baixio : Terras de boa qualidade no sertão.
Bate-saco : O ato sexual; Cópula; Coito.
Beradeiro : Matuto; Simplório; Otário; Caipira.
Bife-do-oião : Ovo estrelado.
Bode : Confusão; Complicação [Indivíduo namorador]
Bololô ; Desordem; Briga; Confusão; Arruaça.
Brechar : Espiar; Olhar escondido; Olhar pelas brechas.
Bucho-furado : [Indivíduo que não guarda segredos]
Buchuda : Grávida.
Bunda-cagada : [Indivíduo insignificante, sem importância]
Buceta : Bacurinha; Bandeirinha; banguela; Barbuda; Beloncha; Buçanha; Cara-preta; Florzinha; Gaveta; Giribel; Gloriosa; Passarinha; Perseguida; Porta-jóia; Prexeca; Priquita; Priquito; Tabaca; Tabaco; Talhada; Tareco; Xana; Xaranha; Xereca; Xiba; Xibiu; Xota; Xoxota.

Três expressões porretas:

Bambolê de otário : Aliança de casamento.
Beleza de Creuza : Tudo bem; Tudo legal; Numa boa.
Besta de cagar rodando : Indivíduo inconveniente; Bobo; Babaca.


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

Interpretação do Brasil, de Gilberto Freyre. Int. & trad. Olívio Montenegro. Rio de Janeiro : José Olympio, 1947, 324p. [] Reunião das conferências pronunciadas na Universidade de Indiana, Estados Unidos, em 1944. Trata-se de um livro curioso, com a marca antropológica de GF. Algumas opiniões chamam a atenção. Por exemplo: José Lins do Rego é considerado uma espécie de Faulkner brasileiro (p. 293). Já Getúlio Vargas ora seria o Dr. Jekyll, ora seria Mr. Hide; ora seria jesuíta, ora seria índio (p.170). Enfim, embora pareça superficial em algumas passagens menos brilhantes, deve ser contextualizado levando em consideração o público-alvo: o norte-americano dos anos 40. Um público que, supostamente, já conhecia o cinema de Orson Welles, John Ford e Howard Hawks e, claro, a literatura de William Faulkner.

sábado, 13 de outubro de 2007


O Maracanã. O nascer do sol. O Fluminense.
A Folha Seca. A Mangueira. A Berinjela.
O Odeon. O Estação Botafogo. O Art-UFF.
O Catete. Vila Isabel. A Lapa.
O CCBB. O Paço Imperial. O MAM.
O Choro da Feira. O Bar Serafim. A Feira de São Cristóvão.
A Biblioteca Nacional. A Rua do Ouvidor. O Theatro Municipal.
O Rio de Janeiro. O Rio de Fevereiro. O Rio das Águas de Março.


BALAIO PORRETA 1986
n° 2135
Rio, 13 de outubro de 2007


NATAL, NATAL
de Moacy Cirne

O que fizeram com o Grande Ponto?
Com o Grande Ponto o que fizeram?
Cadê o Alberto Maranhão dos velhos tempos?
Conseguiram desfigurá-lo, desfigurá-lo conseguiram.
O que fizeram com as mangueiras e as vacarias?
Em nome do progresso, o passado virou poeira e calor.
E se ontem tínhamos um Arpège com putas respeitosas,
hoje temos uma Ponta Negra com putas raparigosas.
E se ontem tínhamos um Rio Grande com Hawks e Hithcocks,
hoje temos cinemarks com pipocas e filmecos.
E se ontem tínhamos a Ponte de Igapó,
com sua beleza férrea e fluvial,
hoje temos uma ponte que amortece
a foz e a voz do Pontengi.
Contudo, apesar de tudo e do pós-tudo,
Natal resiste:
Com o Parque das Dunas.
E o Bosque dos Namorados.
Com a Capitania das Artes.
E a sempre nova Fortaleza dos Reis Magos.
Com seu povo, sua gente, seus poetas.
E a Poty Livros, a Feira do Alecrim, as manhãs de abril.
E resiste, doce e bravamente,
com o Sebo Vermelho e suas figuras mitológicas.


CINEMA RIO 2007

Os melhores filmes em cartaz, no meu retorno ao Rio, talvez sejam títulos lançados antes do Festival de Cinema: Medos privados em lugares públicos (Resnais) e Santiago (João Moreira Sales). Mas pretendo conferir alguns outros em exibição. Na medida do possível.


UMA RECOMENDAÇÃO LITERÁRIA

Ficção; histórias para o prazer da leitura, de Miguel Sanches Neto (org.). Belo Horizonte : Leitura, 2007528p. [] Primorosa seleção de vários dos contos nacionais que marcaram a revista Ficção - editada por Cícero Sandroni, Fausto Cunha e outros - nos anos 70 do século passado. Contos assinados por Ignácio de Loyola Brandão, Autran Dourado, Luiz Vilela, Moacyr Scliar, Caio Fernando Abreu, João Silvério Trevisan, Sérgio Sant'Anna, José J. Veiga, Salim Miguel, Edfla van Steen, Victor Giudice, João Gilberto Noll, Marina Colasanti, Nélida Piñon, Luiz Fernando Emediato E outros. E outros.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Como
era
mesmo
o
nome
daquela
rapariga
que me anoitecia de carnes e espantos?

[ Moacy Cirne, in Rio Vermelho, 1998 ]




BALAIO PORRETA 1986
nº 2134
Natal, 10 de outubro de 2007


GLOSSÁRIO SERIDOENSE: ALGUNS EXEMPLOS (1)
[ in Palavreado cá de nós. Caicó, 2007,
de Max Antonio Azevedo de Medeiros ]

Ababacado - Desatinado; Sem rumo; Bobo; Tolo.
Abalufado - Cheio de si; Metido.
Abancado - Sentado; Acomodado.
Abudegado - Afobado; Nervoso; Colérico.
Abuticado - Arregalado; Saliente.
Acatrozado - Diz-se do indivíduo sem iniciativa.
Acatruzar - Aborrecer; Apoquentar; Importunar.
Achuvalhada - Roupa levemente amarrotada, ou um pouco úmida.
Adoidaiado - Desatinado; Sem rumo; Bobo; Tolo.
Afolozado - Frouxo demais; Rasgado; Estragado; Roto.
Afrescaiar - Enfeitar; Adornar; Ornamentar.
Afuleimado - Briguento; Velentão; Inflamado.
Afulibar - Alisar; Ficar sem dinheiro; Perder até o saco da bufa.
Agarramento - Contato voluptuoso; Esfregação; Sarro.
Aguar - Irrigar; Regar; Molhar.
Aleruado - Doido; Besta; Idiota.
Aloprar - Agitar; Reagir com violência.
Aluado - Doido; Distraído; Amalucado; Bobo.
Amigado - Que vive maritalmente; Amancebado.
Amoquecar - Fraquejar; Acovardar-se; Fugir da luta.
Amunhecar - Cair; Fraquejar; Fugir da luta.
Amorrinhado - Deprimido; Enfraquecido; Alquebrado.
Ânus - Anel de couro; Anel de péia; Ás de copas; Bicho preto; Boca de ninho; Boga; Bosteiro; Bufante; Buzanfan; Copo de sola; Enrugadinho; Farinheiro; Fedegoso; Fiofó; Flozô; Foba; Fogareiro; Fogoió; Fonfom; Foroboscoite; Forobosquito; Franzido; Frezado; Frinfa; Frosquete; Fruta rara; Fuamba; Furiboca; Glorioso; Gobilha; Lata de doce; Quinca; Rodela; Roseira; Taioba; Zereguedé.


Algumas expressões:
A cobra vai fumar - A situação vai piorar.
A dar com pau - Em grande quantidade.
A merda virou boné - Deu tudo errado.
Acabar na peia - Levar uma surra.
Acabar no caritó - Ficar solteirona.
Acabar-se na mão - Masturbar-se.