terça-feira, 31 de março de 2009

Galinhos, RN:
a cidade (2.000 habitantes),
o istmo, o mar, o riomar

Foto: autoria não-conhecida


BALAIO PORRETA 1986
n° 2614
Natal, 31 de março de 2009

João Agripino Maia? Pobre Rio Grande do Norte!
Micarla de Sousa? Pobre Natal!
(Moacy Cirne)


ANKITO E A CHANCHADA

Faleceu ontem no Rio, aos 85 anos, o popular Ankito (Anchizes Pinto), um dos nomes mais representativos da nossa chanchada cinematográfica, ao lado de Oscarito e Grande Otelo. Entre outros filmes, Ankito destacou-se em É fogo na roupa (1952), Metido a bacana (1957), Garota enxuta (1959) e Vai que é mole (1960).


POEMA
Aroeira
[ in Olivrão ]

Hoje eu procurei o seu cheiro
nos meus lençois.
Encontrei a lembrança.


HUMMM
Mercedes Lorenzo
[ in Cosmunicando ]

nosso beijo é bilíngue
mas eu toda
onomatopeia


POEMA
Martha Galrão
[ in Maria Muadiê ]

Do coração
à boca
o rastro
é curto

Engulo palavra
cuspo fogo
Engulo fogo
palavra, eu cuspo


DOIS TEXTÍCULOS
Dalton Trevisan
[ in 111ais, 2000 ]

- Esse desenho tão bonito, minha filha, o que é?
- Ai, mãezinha. Você não vê? É o barulho do sol acordando.

[][][]

- Maria, como é que você dobrou o João, esse flagelo das mulheres?
- Não dobrei o João - eu dobrei os joelhos.


O RETRATO DE UM CÃO FURIOSO
Theo G. Alves
[ in Museu de Tudo ]

O cão furioso finalmente pesa-lhe sob as patas, atira-o ao chão. A mandíbula voraz enche-lhe o focinho irascível e faz jorrar sangue sobre si, sobre sua vítima. As patas pesam como o corpo de um elefante em mármore, esmagam-lhe a ossatura frágil, sua musculatura cede como de espuma. A boca infernal morde-lhe, arranca-lhe os membros, chafurda entre seus intestinos. O cão furioso devora-lhe centímetro após centímetro, ao avesso, de dentro para fora.


RECOMENDAMOS
Lula e os banqueiros de olhos azuis
por Argemiro Ferreira
[ in Carta Maior ]

segunda-feira, 30 de março de 2009

Imagem redimensionada
a partir do
RetroAtelier


BALAIO PORRETA 1986
n° 2613
Natal, 30 de março de 2009

... não estou defendendo de um modo dogmático que não existe nenhum Deus. O que estou defendendo
é que não sabemos que existe.

(Bertrand RUSSELL. Porque não sou cristão, 1948)


O LIVRO DOS LIVROS
(17a)

Texto estabelecido por
Moatidatotatýne, o Escriba

A plenária sobre os Dez Mandamentos

Como Moysés Sesyom do Sertão demorasse sete dias e sete noites na Serra do Lima, que para muitos pareceram longos 40 dias, o povo - indócil e cansado - pensou em fazer um bezerro de ouro, para adorá-lo como se fora um Deus das Arábias. Moysés Sesyom do Sertão, ao descer da serra, ficou indignado. E indignado também ficou o Senhor das Alturas. Mas o patriarca e profeta tentou aplacar a ira do Todo Poderoso e lhe fez a seguinte proposta: "Muita gente não entenderá o alcance dos Dez Mandamentos. Convocarei uma assembleia para discutir o assunto. Decerto, os infieis abandonarão a ideia do ídolo de ouro".

Mas o Senhor das Alturas não se deu por satisfeito: "Quebrarei os altares dos falsos deuses, pois sou ciumento pra burro. Fui bonzinho em minha proposta dos Mandamentos; não me façam mudar de ideia. Senão, quando se prostituirem com os deuses de barro, serei novamente demoníaco e vingativo. Não tolerarei pedanga(¹) nenhuma. Darei cada pilorada(²) nos ateus, que só vendo!". E o patriarca pediu-lhe que esperasse mais um pouco, 13 ou 14 dias apenas, para que os seridoenses assimilassem os seus Mandamentos. E o Senhor das Alturas, mesmo contrariado, concordou com Moysés Sesyom do Sertão.

E a assembleia foi convocada. E compareceram à assembleia os seguintes interessados: Romério Romário, Sheyla Shayla, Wellington Novaes, Jens Colorado, Carito Ivo Ivo, Frei Leandro, Mercedes Mariana Coelho, Sandra Sandrix, Mirse Mirze, Sinval Leão, e mais 69 membros da comunidade seridoense. Moysés Sesyom do Sertão distribuiu cópias para todos, nomeou-se presidente da assembleia e indicou Sinval Leão para secretariá-lo. Em seguida, leu a pauta da reunião: "1. O alcance astrofísico e estrambólico(³) dos Dez Mandamentos; 2. Suas consequências históricas e epistemológicas; 3. Seu significado bíblico diante do dadaísmo, do neoconcretismo e do zenbudismo". E completou: "Cada um terá direito a três minutos em sua intervenção, prorrogáveis por dois minutos, segundo o meu entendimento".

E Romério Romário interveio: "Questão de ordem! Questão de ordem! É preciso mudar a pauta. Não podemos cair numa discussão bizantina. Sua pauta é por demais abstrata e incompreensível, senhor presidente. Sejamos mais específicos e menos metafísicos. Outra coisa: tem pouquíssima gente presente em nossa reunião. É preciso definir: somos uma democracia popular ou uma democracia representativa? Tem mais: e se formos agnósticos? E se formos dominados pela paixão, em todos os níveis? Além do mais, se posso envernizar minha paixão, posso dar-lhe uma nesga de brilho, não é mesmo? E agora? Serei eu um poeta do futuro?".

Próximo capítulo:
continuação de
A plenária sobre Os dez mandamentos

Nota dos Editores:
(¹) Pedanga : Teimosia; impertinência.
(²) Pilorada : Cacetada.
(³) Estrambólico : Exótico.

domingo, 29 de março de 2009

o sol
assombra
esconderijos

Foto e poema:
Carito
in
Os Poetas Elétricos


BALAIO PORRETA 1986
n° 2612
Natal, 29 de março de 2009

Toda escrita tem uma história.
(Maria Conceição de GÓES. Mulheres do sertão, 2001)


A SELEÇÃO BRASILEIRA DE TODOS OS TEMPOS
segundo
o historiador e pesquisador de futebol
Raul Milliet Filho
(levando em conta os jogadores que viu atuar)

Júlio César;
Carlos Alberto Torres, Djalma Dias, Nilton Santos e Marinho Chagas;
Gerson, Didi e Zico;
Garrincha, Pelé e Totão.
Técnico:
João Saldanha.

Nota:
Os interessados em participar da nossa enquete,
podem escrever para
balaio86@oi.com.br


BREVIÁRIO
Betina Moraes
[ in Versos & Ideias ]

Tempo é curto, amor é longo
Amar é filosodia sem relógio.


V(ESTUÁRIO)
Carlos Gurgel

daqui de cima
parece tudo tão simples

o problema
é a descida

somos todos tão indiferentes
e a velocidade não espera.


GESTAÇÃO
Adrianna Coelho
[ in Metamorfraseando ]

tenho um lirismo

dentro de mim


o que me dói

é não parir

poemas



PLATAFORMA

Mariza Lourenço

[ in Proseando com Mariza ]


Só havia um velho na plataforma vazia.

Velho, ela disse, aqui tinha um trem?
Acabou de sair. Vá embora, vá.
Espero pelo próximo, então.
Deixa de teima. Outro, só amanhã. Aqui você morre de frio.
Já estou morta, velho. Eu fico.

Ficou.

Na manhã do dia seguinte, o velho arrastou o corpo cansado para fora da estação. Nunca conseguira evitar certas tragédias.

Na noite do segundo dia só havia um velho na plataforma vazia.


sábado, 28 de março de 2009

OS FILMES QUE MARCARAM
ÉPOCA
NA CAICÓ DOS ANOS 50
Clique na imagem
para verouvir
mais de 9 minutos do filme
Velhas lendas tchecas
(Jiri Trnka, 1953)


BALAIO PORRETA 1986
n° 2611
Natal, 28 de março de 2009

Exibido em Caicó em 1959, tendo como "atores" marionetes dirigidas com indiscutível habilidade, Velhas lendas tchecas é um marco do cinema de animação. Sua temática, em tom épico, é a história da formação do povo tcheco, a partir de uma perspectiva socialista. Curiosamente, o filme foi vaiado na cidade seridoense de forma brutal, ou quase, o que me deixou indignado, então. Mas o incluí aqui por dois motivos básicos: 1. por se tratar de uma obra-prima; 2. por ter marcado, mesmo negativamente, a história do Cinema Pax. Há um terceiro motivo, acrescente-se: a sua inclusão, neste espaço, em sendo um filme de conteúdo hitórico, em sendo um filme de proposta socialista, repesenta uma homenagem do Balaio ao historiador Moacyr de Góes.
[Nota: Velhas lendas tchecas foi exibido em Natal, no Rex, em 1961. Será que o Prof. Moacyr de Góes chegou a vê-lo?]


A MORTE DE UMA GRANDE FIGURA HUMANA

"Se Natal não existisse, seria preciso inventá-la"
(Moacyr de Góes, no Rio, em finais dos anos 60)

Encantou-se ontem, no Rio, uma das maiores figuras humanas que já conheci: provavelmente, o último socialista cristão - em sua concretude existencial - de todo o Brasil. Ou um dos últimos. Encantou-se ontem o historiador, o educador, o romancista, o contista, o humanista Moacyr de Góes, um homem que amava profundamente a cidade de Natal. Mas que daqui foi expulso (depois de preso) pela ditadura militar. No Rio, a partir de 1965, Moacyr reconstruiu com dignidade, coerência e sabedoria a sua vida e a sua História. E a sua esperança no Brasil. Sempre ao lado da companheira Conceição e dos filhos Leon, Clara, Dadá [Maria Idália], Zé Roberto e Moacyr. A partir de hoje, o idealizador e coordenador da campanha De pé no chão também se aprende a ler será parte da memória viva de toda uma cidade.


POEMA
Paulo de Tarso Correia de Melo
[ in Talhe rupestre; poesia reunida e inéditos, 2009 ]

Consciência, nem tristeza ainda,
de que algum dia irei embora
e deixarei aquele minuto da madrugada,
não de casual escolha,
quando a última estrela, como uma lágrima,
treme sobre a face da aurora
e a casa do vizinho se ilumina
e o filho adolescente, chegando agora,
canta com força e beleza, misturadas
como aquele minuto da madrugada
e a aurora.

Nota:
Poema lido pelo Autor, ontem à noite, no lançamento de seu belo livro, no auditório da Reitoria da UFRN, em homenagem a
Moacyr de Góes.


sexta-feira, 27 de março de 2009

Para Moatidatotatýne, o Escriba,
a Serra do Lima, em Patu,
seria o Monte Sinai da Bíblia hebraica

Foto:
Alexandro Gurgel


BALAIO PORRETA 1986
n° 2610
Natal, 27 de março de 2009

O nome de Moisés ficará para sempre ligado à grande herança ética mundial dos Dez Mandamentos que Deus lhe confiou e que há séculos regem o comportamento da humanidade. Mandamentos que até agora ninguém foi capaz de superar nem substituir. É a grande herança judaica para a humanidade, e ela mais tarde seria recolhida também pelo mundo cristão
em seus códigos de moral.

(Juan ARIAS. A Bíblia e seus segredos, 2004)


O LIVRO DOS LIVROS
(16)

Texto estabelecido por
Moatidatotatýne, o Escriba

Os Dez Mandamentos

E Moysés Sesyom do Sertão chegou à cidade de Patu, no Ryo Grande, com sua gente e sua bravura. E o Senhor das Alturas apareceu-lhe em sonho. E em sonho lhe disse: "Subas sozinho à Serra do Lima, pois se faz a hora de uma aliança dos seridoenses com Nossa Senhora de Sant'Ana e Comigo, o Supremo. Levas contigo um baú dos bons e duas tábuas de madeira de lei, formão e tinta vermelha para inscreveres, como se fora xilogravura de cordel, os Dez Mandamentos que farão de teu povo um povo forte e cumpridor da lei". E assim foi feito. E assim se fez.

No alto da Serra do Lima, no meio de raios e trovoadas arrepiantes, sob a direção de Cecil B. De Mille, enviado especial de Hollywood(ª), o Senhor das Alturas ditou:

I) Respeitarás todas as diferenças sociais e culturais, por mais estranhos que possam parecer certos usos e costumes.

II) Respeitarás todas as diferenças religiosas e metafísicas, por mais absurdas que possam ser as igrejas universais e as academias de letras.

III) Respeitarás todas as diferenças clubísticas e políticas, por mais sectárias que possam ser as torcidas organizadas.

IV) Respeitarás toda e qualquer opção sexual, mesmo as mais bizarras, com exceção apenas para a prática da pedofilia.

V) Honrarás pai e mãe, filho e filha, primo e prima, sobrinho e sobrinha, quengo e quenga(ªª), sogro e sogra, e o seu clube de coração no futebol.

VI) Não beberás coca-cola e outros refrigerantes(ªªª).

VII) Não brincarás com a perseguida(¹) e o fi-o-fó(²) da mulher do próximo, por mais que seja tentadora e gostosa a mulher.

VIII ) Não farás a guerra, farás o amor(ªªªª).

IX) Não ouvirás bundaxé music, forró reeira(³) e música breganeja.

X) Honrarás o Senhor das Alturas, a música antiga, a música barroca, a música clássica, o baião, o xaxado, a ciranda, o choro, o maxixe, o samba, o frevo, o jazz, o blues, o tango e outras manifestações artísticas e culturais.

E o Senhor das Alturas, depois das trovoadas, completou: "E agora, durante sete dias e sete noites, permaneças no alto da serra, orando, jejuando e jogando bola de gude. Aproveitas para ler Canto de muro, de Luís da Câmara Cascudo"(ªªªªª).

Próximo capítulo:
Plenária sobre Os Dez Mandamentos

Notas dos Editores:

(ª) Mais uma passagem polêmica d'O Livro: segundo o teólogo Humphrey Bogarth, de Casablanca, trata-se simplesmente de uma referência simbólico-freudiana ao filme No tempo das diligências, ficção-científica estrelada pelo cearense John Wayne e produzida no século XX da Era Comum.
(ªª) Quengo e quenga : esperto [sujeito sabido] e rapariga.
(ªªª) Há uma versão apócrifa d'O Livro que assinala o seguinte acréscimo no Sexto mandamento: "Com exceção para a 'vaca preta caicoense': coca-cola batida com sorvetes de chocolate e ameixa".
(ªªªª) No século XX da Era Comum, os jovens da contracultura lançariam uma famosa palavra-de-ordem inspirada no preceito bíblico: "Não faça guerra, faça amor".
(ªªªªª) Mais uma passagem enigmática d'O livro. Por que não Uns fesceninos, de Oswaldo Lamartine, ou a edição dos poemas de Bocage, já que o patriarca e profeta Moysés Sesyom do Sertão tinha veleidades poético-fesceninas?
(¹) Perseguida : Buceta, xota, xoxota, xereca, perereca.
(²) Fi-o-fó : Ânus, furico, boga, foba.
(³) Reeira : Algo de baixa qualidade, em geral apelativo; forró reeira - o contrário de forró pé-de-serra.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Igreja de São Francisco / Lagoa Nova, RN
Foto de
Pedro Morgan


BALAIO PORRETA 1986
n° 2609
Natal, 26 de março de 2009

a palavra tem modos de pássaro
(Mario Cezar, in Coivara)


BACANTE
Iracema Macedo
[ in Lance de dardos, 2000 ]

Em meu ninho longínquo
início ventos
invento cios
canto e danço em volta do fogo
transformo meu leite em vinho
e ofereço meu corpo para os lobos


ODISSÉIA
Hildeberto Barbosa Filho
[ in Eros no Aquário, 2002 ]

Só um poeta
é capaz de atravessar
desertos
em busca de um oásis
de palavras.


POEMA
Mariana Botelho
[ in Suave Coisa ]

ventos
insistem
nas portas

aqui
nenhuma dor
é breve


A SELEÇÃO BRASILEIRA DE TODOS OS TEMPOS
segundo o escritor
Francisco Sobreira

Castilho;
Djalma Santos, Domingos da Guia, Mauro e Nilton Santos;
Danilo, Zizinho e Didi;
Garrincha, Pelé e Ademir Menezes.
Técnico:
Ênio Andrade.


HUMOR 2002

Num ônibus, um padre senta ao lado de um sujeito completamente bêbado, que tenta, com muita dificuldade, ler o jornal.
Logo, com voz empastada, o bebum pergunta ao padre:
- O senhor sabe o que é artrite?
Irritado, o pároco responde:
- É uma doença provocada pela vida pecaminosa e desregrada: mulheres, promiscuidade, farras, excesso do consumo de álcool, drogas e outras coisas!
O bêbado cala-se e continua com os olhos fixos no jornal. Alguns minutos depois, achando que tinha sido muito duro com o sujeito, o padre tenta amenizar:
- Há quanto tempo o senhor está com artrite?
- Eu? Eu não tenho isso não, Ave Maria!!! Segundo esse jornal aqui, quem tem é o Papa!!!

quarta-feira, 25 de março de 2009

Serra da Bicuda, em Cruzeta - RN
Foto de
Hugo Macedo


BALAIO PORRETA 1986
n° 2608
Natal, 25 de março de 2008

Eu fui louca o suficiente para construir castelos.
E fui santa o bastante para destruí-los.
(
Jeanne Araújo)


UMA PEQUENA HISTÓRIA COM ARIANO SUASSUNA

O relato a seguir foi "costurado", oralmente, como palestrante, pelo escritor paulista Ignácio de Loyla Brandão, no ENE 2006, em Natal:

"... nas última Jornada de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, o Ariano Suassuna foi chamado para receber um título de Doutor Honoris Causa e ele deu uma aula-magna. Claro, uma aula-magna à moda do Ariano, que é uma pessoa de vasta cultura e vasto humor e vasto mau humor e tudo. Mas fascinante. E Ariano estava falando exatamente dessas pessoas com nomes às vezes complicados e que nos deixam suando nas noites de autógrafos, porque você não sabe bem como se chamam e pensa que não ouviu.

Ele estava na mesa [depois da aula], estava sentado, e a fila vinha vindo, e ele escrevendo. Aí veio o primeiro e falou o nome: Roulrouldrown. 'Como, meu filho?' Roulrouldrown. 'Soletra, por favor'. O cara soletrou, ele escreveu. Veio o segundo: Roultronn. 'Por favor, soletra'. O cara soletrou e aí Ariano ouviu alguém, para o terceiro, atrás na fila: 'Chegando lá, soletra o nome porque o homem é analfabeto'. O cara chegou e disse: 'O meu nome é Hugo - H, U, G, O'. Ariano escreveu."


OBSCUROS
Renata Nassif
[ in Fênix em Verso e Prosa ]

de tão perto e por tanto
que agora vivo em flerte
- encantados eu e ele

e não sei do meu desejo:
se é abismo, se é espelho


UFF: Memória Departamental 1985
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
INSTITUTO DE ARTES E COMUNICAÇÃO SOCIAL
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
Niterói, GCO, em 18.11.85

JE VOUS SALUE, LIBERTÉ

Os professores e alunos de Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense e de seu Curso de Cinema, em Reunião Departamental, resolvem denunciar a postura reacionária de certas pessoas da área religiosa que têm estimulado o veto, em território nacional, do filme Je vous salue, Marie, do cineasta francês Jean-Luc Godard.

Nós, do Departamento de Comunicação Social e do Curso de Cinema, repudiamos o fato em si pelo que ele encerra de censura e obscurantismo. E outra não poderia ser a nossa posição, comunicadores sociais que somos.

Não queremos discutir aqui a importância de Godard para a história do cinema europeu e/ou mundial. Para muitos, estamos diante de uma obra da maior significação e da maior dimensão, gostemos ou não de seus filmes, gostemos ou não de suas propostas.

Queremos discutir - e questionar - o primado da censura sobre a arte, que se manifesta de maneira tão retrógrada no presente episódio. Sabemos o que vem a ser para um país a censura à imprensa, à música, ao teatro, às artes, ao cinema, e assim por diante. Pois, em última instância, a censura é um atentado contra a dignidade e a inteligência do Homem.

Queremos também questionar o poder da Igreja Católica, ou de seus representantes legais, que se arvora de Censora-Mor da sociedade brasileira. Que poder é este, que não leva em consideração a diversidade de opiniões religiosas, morais e estéticas? Que poder é este, que pretende assumir a censura de forma tão descarada? Que poder é este, que se revela tão insensível à liberdade de expressão?

Não, não podemos ficar calados. Não, não podemos aceitar que um Governo [o de José Sarney] que pretende ser democrático e soberano possa compactuar com tal absurdo, próprio dos fascismos e das intolerâncias.

O possível veto ao filme de Godard - ou a qualquer outra manifestação artística, nacional ou estrangeira -, se se concretizar, será o veto da ignorância. E do terror cultural.

Moacy Cirne
Chefia GCO [IACS]


DOIS SENTIDOS
Vais

minhas mãos se ocupam de outros afazeres
e os olhos continuam vendo e lendo


Memória 2002
A SELEÇÃO BRASILEIRA DE TODOS OS TEMPOS
segundo o poeta
Joaquim Branco
[ in Balaio n° 1490, de 4/6/2002 ]

Barbosa;
Djalma Santos, Domingos da Guia, Bellini e Nilton Santos;
Danilo, Zizinho e Pelé;
Garrincha, Ademir Menezes e Romário.
Técnico:
Gentil Cardoso.

Nota:
Os leitores/amigos que quiserem participar da presente "pesquisa", cuja primeira edição data de 2002, e que aqui será parcialmente reproduzida em números não-consecutivos, poderão fazê-lo enviando a "sua" seleção para o seguinte endereço eletrônico: balaio86@oi.com.br

terça-feira, 24 de março de 2009

Cartão postal
do início do século passado
in
Canta Piriquito Canta


BALAIO PORRETA 1986
n° 2607
Natal, 24 de março de 2009


O intelecto humano não é luz pura, pois recebe influência da vontade e dos afetos, donde se poder gerar a ciência que se quer. Pois o homem se inclina a ter por verdade o que prefere. Em vista disso, rejeita as dificuldades, levado pela impaciência da investigação; a sobriedade, porque sofreia a esperança; os princípios supremos da natureza, em favor da superstição; a luz da experiência, em favor da arrogância e do orgulho, evitando parecer se ocupar de coisas vis e efêmeras; paradoxos, por respeito à opinião do vulgo. Enfim, inúmeras são as fórmulas pelas quais o sentimento, quase sempre imperceptível, se insinua e afeta o intelecto.
(Francis BACON. Novo organum, 1620)


CUMAÉQUIÉMESMO?

Há certos curiosos, no mundo da internet, que surpreendem os menos avisados. Pois é, dessa vez sapecaram no Google a seguinte pesquisa metafísico-jupiteriano-aristotélica: mulher que nasce em dezembro tem a buceta profunda. E o mais engraçado é que o Google, em 2.060 "entradas" possíveis, apontou uma postagem do nosso Balaio em 10º lugar: a postagem do dia 17 de abril de 2008. Motivo: um artigo humorístico de Rafael Maia sobre Educação sexual, e que já fora publicado por nós em 2006, se não nos falha a memória. [Clique aqui para vê-lo ou revê-lo.] Quanto à duvida em si do internauta, sinceramente, não temos como respondê-la.


NA SALA DO ROYAL CINEMA
Lívio Oliveira
[ in Cineclube, cd, com músicas de Babal, 2009 ]

Sempre carreguei comigo
Um velho dilema:
De nunca ter-te encontrado
Na sala do Royal Cinema.

E hoje um certo olhar me toma,
Te assisto na janela,
E vejo em cada rosto nu
A menina mais bela.

Dou passos cada vez mais lentos
Nas ruas da cidade
E encontro no esquecimento
O teu colar de jade.

Nem Gilda, Rita ou qualquer outra
Vai me tomar de ti.
Eu quero tua boca afoita
Pro meu amor se consumir
Verei de novo no teu rosto,
A sombra antiga de um desejo
Provarei o mesmo gosto
Daquele eterno beijo.

Nota:
o cd Cineclube será lançado na Funcarte, em Natal,
no dia 23 do próximo mês.


POEMA
Sandra Camurça
[ in O Refúgio ]

não vem de fora
vem de dentro
esse fogo que me come
assim, tão lento


CANDANGA
Mario Cezar
[ in Coivara ]

simplesmente afagou, no ventre, a postura da flor.


TEMPO
Bosco Sobreira
[ in A Pedra e a Fala ]

Não estou só
não me sinto só
neste deserto coalhado
de edifícios asfaltos
carros buzinas
neons

Não estou só
não me sinto só

Tenho o tempo como companhia
esse tigre sonolento
que me segue os passos
enquanto não lhe desperte a fome
e seus olhos
até agora compassivos
me reconheçam caça

segunda-feira, 23 de março de 2009

Ponta Negra, em Natal
Foto de
Alex Uchoa
via
Ailton Medeiros


BALAIO PORRETA 1986
n° 2606
Natal, 23 de março de 2008

A vida inteligente em um planeta torna-se amadurecida quando pela primeira vez compreende a razão de sua própria existência. Se criaturas superiores provindas do espaço algum dia visitarem a Terra, a primeira pergunta que farão a fim de avaliar o nível de nossa civilização será:
"Eles já descobriram a evolução?"

(Richard DAWKINS. O gene egoísta, 1976)


O LIVRO DOS LIVROS
(15)

Texto estabelecido por Ludovico Orth Mesters das Vozes

A travessia do Rio do Chico

O Senhor das Alturas disse a Moysés Sesyom do Sertão: "Por que clamas a mim por socorro? Pensas, por ventura, que enviei uma seca braba às terras baianas apenas para que o coronel MiCarlos Agripinnius ficasse furioso com teu povo? Se eu quissese, teria enviado trovões e chuvas de pedras. Não o fiz. Terei culpa Eu se ele não gosta de Nossa Senhora de Sant'Ana?" E mais disse: "Dize aos seridoenses que se ponham de novo em marcha. Quanto a ti, amola a tua lambedeira(¹) para usá-la, se preciso for, e conduzas a tua gente para as margens do Rio do Chico, nas proximidades de Juazeiro, 10 léguas ao norte da cidade". E assim foi feito. E assim aconteceu.

E o rio São Francisco parecia um mar, com suas águas-correntezas. E o rio São Francisco parecia um mar, com suas águas-azulbelezas. E o rio São Francisco parecia um mar, com suas águas, na boca da noite(²), refletindo crepúsculos ensanguentados - um verdadeiro mar vermelho. E Moysés Sesyom do Sertão aproximou-se do rio na hora da viração. Mais de 20 embarcações de porte médio, alugadas a preço de banana pelo Senhor das Alturas, já se encontravam a postos. E a travessia se deu, sem maiores problemas, embora durasse toda a noite.

Nas primeiras horas do dia, quando os últimos seridoenses acabavam de atravessar o rio, os jagunços do coronel MiCarlos Agripinnius chegavam ao local, na margem oposta, e mais de 60 barcos foram tomados. No sufragante(³), o Senhor das Alturas valeu-se de caprichada mundrunga(4) e lançou terrível olhar sobre as tropas baianas, no meio da travessia, pondo-as em pânico. Soprou um vento forte do noroeste e o Rio do Chico virou bicho. As águas em ondas se transformaram e as embarcações naufragaram. Não escapou um só jagunço. Em verdade, em verdade, é necessário que se diga: biblica e hoolywoodianamente,um espetáculo digno de Cecil B. DeMille.

Então, em plena clara claridade da manhã, Moysés Sesyom do Sertão e os seridoenses cantaram ao Senhor das Alturas este cântico:

Cantemos ao Senhor porque estupenda foi a vitória,
Ele é nosso Catimbozeiro e bela é a sua glória.
O Senhor das Alturas é um guerreiro,
é um caba macho, é um feiticeiro.
Precipitou ao rio os barcos do coronel
e seu exército, sem farinha e sem mel.
Vagalhões os encobriram tal qual feras
e mergulharam nas profundas como pedras.
Ao sopro de tua ira elevaram-se as águas
e as ondas ergueram-se como onças e éguas.
Senhor triunfante que inunda nossos corações(ª),
Senhor fascinante que alimenta nossas paixões,
o nosso destino, agora, é a terra-canaã,
lugar sagrado da esperança e do amanhã:
de Acari Currais Novos Cruzeta São José e Caicó
a Parelhas Timbaúba São João e Jardim do Seridó.
Cantemos, pois, ao Senhor porque grande foi a vitória,
Ele é nosso Deus Supremo e magnifica é a sua glória.

E Moysés Sesyom do Sertão e sua gente atravessaram Pernambuco e a Parahyba e ao Ryo Grande chegaram a partir do Ceará, depois de se livrarem, em andanças fugidias, dos cangaceiros de Jesuíno Brilhante, Antônio Silvino e Lampião. E o povo, cansado, e esquecido, queixou-se do profeta e patriarca. Eles diziam: "Por que nos fizeste sair da Bahia? Para que a gente morra de sede, fome ou morte matada". Houve novas provações. E eles diziam: "O Senhor das Alturas está do nosso lado - ou não?"

Próximo capítulo:
Os dez mandamentos

Notas:

(¹) Lambedeira : Faca de ponta.
(²) Boca da noite : Noitinha, logo após o luscofusco.
(³) No sufragante : Incontinente.
(4) Mundrunga : Feitiço; catimbó.
(ª) Verso recriado por Harold B.D. Rosemberg, com apovação metafísico-aristotélico-jardinense de Moatidatotatýne, o Escriba.

domingo, 22 de março de 2009

Foto:
Pascal Renoux


BALAIO PORRETA 1986
n° 2605
Natal, 22 de março de 2009

Sou macho.
Eu também já broxei.
Sou macho.
Eu também já levei porrada.
Sou macho.
Eu também já dancei tango em Caruaru.
(Chico Doido de Caicó)


ESTAÇÕES
Cacaso
[ in Beijo na boca, 1975 ]

Do corpo do meu amor
exala um cheiro bem forte.

Será a primavera nascendo?


BAIÃO DE DOIS
Liria Porto
[ in Putas Resolutas ]

o desejo acabou
e assim - sem fome
a comida fica
insuportável.


CONSELHO
Vivi Fernandes
[ in Chalé da Vivi ]

Não espere muito de mim
porque sou muito pouco
Pouco para o que você sente
Pouco para o que você merece

Não espere nem se apresse
porque, além de ser muito pouco,
sou menos do que imagina
Anjo barroco sem ouro
sujeito a qualquer sina,
baião de Edu Lobo sem rapina,
instrumento que não se afina

Não espere muito de mim
porque sou muito pouco
Não espere muito nem pouco, amor.

(Poema musicado por Leandro Braga)


UM POEMA, O ORIGINAL E UMA TRADUÇÃO

ÉPIGRAMME
La Fontaine

Aimons, foutons, ce sont plaisirs
Qu'il ne faut pas que l'on sépare;
La jouissance et les désirs
Sont ce que l'âme a de plus rare.
D'un vit, d'un con, et de deux coeurs,
Naît un accord plein de douceurs,
Que les dévots blâment sans cause.
Amarillis, pensez-y bien:
Aimer sas foutre est peu de chose
Foutre sans aimer ce n'est rien.

EPIGRAMA
Trad.
José Paulo Paes

Amar, foder: uma união
De prazeres que não separo.
A volúpia e os desejos são
O que a alma possui de mais raro.
Caralho, cona e corações
Juntam-se em doces efusões
Que os crentes censuram, os loucos.
Reflete nisto, oh minha amada.
Amar sem foder é bem pouco,
Foder sem amar não é nada.

[ in Poesia erótica em tradução.
São Paulo : Companhia das Letras, 1990, p. 98-99 ]

sábado, 21 de março de 2009

OS FILMES QUE MARCARAM ÉPOCA
NA CAICÓ DOS ANOS 50
Clique na imagem
para verouvir
a sequência final de
French Cancan
(Jean Renoir, 1954)


BALAIO PORRETA 1986
n° 2604
Natal, 21 de março de 2009

Exibido em Caicó em 1959 - o meu último ano na cidade seridoense, antes de minha família se mudar para Natal -, French Cancan encantou muita gente por sua leveza, por seu colorido, por seu brilho temático centrado na Paris da 'belle époque'. Na ocasião, eu já sabia da importância de Renoir para a história do cinema mundial. Aliás, era o primeiro filme que eu via do cineasta francês. Não é preciso dizer que fiquei maravilhado com seu estilo.


CINEMA 1959
- Os filmes que vi (sem ordem preferencial) -

Em Caicó:
Velhas lendas tchecas (Trnka, 1953), animação
French Cancan (Renoir, 1954)
Maldição (Lang, 1949)
Desejo humano (Lang, 1954)
Osso, amor e papagaios (C. Memolo, 1957)
Absolutamente certo (Anselmo Duarte, 1957)
Winchester 73 (Mann, 1950)
A batalha do Rio da Prata (Powell & Pressburger, 1956)
A ponte da esperança (Kautner, 1953)
A nave da revolta (Dmytryk, 1954)
O homem do terno branco (Mackendrick, 1951)
Os vencidos (Antonioni, 1952)

Em Campina Grande, em julho:
Rififi (Dassin, 1955)
Morte sem glória (Aldrich, 1956)
Quinteto da morte (Mackendrick, 1955)
Nunca fui santa (Logan, 1956)
Meias de seda (Mamoulian, 1957)
Estigma da crueldade (King, 1958)
O último ato (Pabst, 1955)
Cárcere sem grades (Zinnemann, 1957)


Em Natal, em dezembro:
O ferroviário (Germi, 1956)

Em São Paulo, em dezembro:
O garoto (Chaplin, 1921)


O VENDEDOR DE CAVACO CHINÊS
Nivaldete Ferreira
[ in Lápis Virtual ]

Tili-lim, tili-lim... Corre, é o vendedor de cavaco chinês. Ele abre o tambor de zinco ou de lata e puxa um pacote de cavaco. Quanto?... Um conto. Um real. Toma lá. Ele fecha a lata e segue, tili-lim, tili-lim, tocando o triângulo rua afora, sua maneira de se anunciar.

Sempre achei o cavaco chinês parecido com uma hóstia gigante, com o perdão do sagrado. O sabor é suave, a textura é a de uma seda de trigo.

O 'homem do cavaco chinês' ainda existe, ainda sobrevive, neste mundo de fast-food, de entrega de pizza em casa, de vendedores de sorvete com seus carrinhos de grife.

Em Natal há uma família que produz, por gerações seguidas, essa pequena graça alimentícia. Na verdade, não chega a ser deliciosa nem é tão alimentícia. A delícia é outra. É o ritual, é o quase-não-existe-mais-cavaco, é o pressentimento de que ele desaparecerá e que aquele que acabamos de comprar pode ser o último que comemos.

O vendedor de cavaco deveria ser tombado como patrimônio cultural de Natal. Antes que o último tombe com seu cilindro de zinco ou de lata, por uma rua dessas...

Natal tem coisas assim, maravilhosas e (quase) despercebidas.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Patu e a Serra do Lima,
no interior do Rio Grande do Norte

Foto de
Alexandro Gurgel
in
Chão Potiguar


BALAIO PORRETA 1986
n° 2603
Natal, 20 de março de 2009

Para mim, em se tratando de questões políticas, o nível de credibilidade da veja e da fesp (folha escrota de são paulo), numa escala de 0 [zero] a 10 [dez], oscila entre 0,1 [zero vírgula um] e 0,4 [zero vírgula quatro]. E se já tiveram seus bons momentos jornalísticos (embora a fesp, nos anos de chumbo da ditaDURA, não passasse de um sustentáculo materialmente imoral da repressão), hoje representam o lixo do lixo da história política do país.
(Moacy Cirne)


SAPIENS
Mercedes Lorenzo
[ in Cosmunicando ]

bichos, nascemos sábios
dúbios, morremos lixo

em nichos se escondem
trágicos
medos e vícios
com poderes
mágicos


A TEOLOGIA DA LIBERDADE,
APESAR DO VATICANO
Leonardo Boff
[ in Carta Maior ]

Desde seu início, ao final dos anos 60, a Teologia da Libertação adotou uma perspectiva global, focada na condição dos pobres e oprimidos no mundo inteiro, vítimas de um sistema que vive da exploração do trabalho e da depredação da natureza. Esse sistema explora as classes trabalhadoras e as nações mais fracas. Além disso, reprime aqueles que oprimem e, portanto, contrariam seus próprios sentimentos humanitários. Em uma palavra, todos devem ser libertados de um sistema que perdura há pelo menos três séculos e foi imposto a todo o planeta.

A Teologia da Libertação é a primeira teologia moderna que assumiu este objetivo global: pensar o destino da humanidade desde a condição das vítimas. Em consequência, sua primeira opção é comprometer-se com os pobres, a vida e a liberdade para todos. Surgiu na periferia das Igrejas centrais, não nos centros metropolitanos do pensamento consagrado. Por essa origem, sempre foi considera como suspeita pelos teólogos acadêmicos e principalmente pelas burocracias eclesiásticas e especialmente pela da Igreja mais importante, a católica-romana.

[Clique aqui para ler o artigo na íntegra]


RELACIONADO
Betina Moraes
[ in Versos & Ideias ]

Você soletra
Eu nome

Você corteja
Eu contente

Você deseja
Eu derreto

Você beija
Eu tufão

Você escapa
Eu em vão

Você peca
Eu perdão

Você zíper
Eu camisa

Você sorri
Eu brisa

Você dez
Eu onze

Você dorme
Eu bronze

Você fome
Eu fruto

Você soma
Eu tudo.


PARA UMA DANÇA
Adrianna Coelho
[ in Metamorfraseando ]

gostaria de um homem verde
menino ainda
ou um homem verde e rosa

de alma mangueira


um homem que me tirasse
para as danças da chuva e do sol
e que gostasse de natureza


[mas tanto o sol como a chuva
mesmo sem esse homem
chegam a mim com tamanha beleza]


gostaria de um homem
para dançar
apenas


OBRA COMPLETA DE PAULO DE TARSO


Será na próxima semana, dia 27, a partir de 19h, na Reitoria da UFRN, o lançamento da obra completa, em volume único, do poeta Paulo de Tarso Correia de Melo: Talhe rupestre & poesia inédita. Sem dúvida, um dos grandes acontecimentos literários do corrente ano. Só não entendi uma coisa: é preciso confirmar a presença? Como assim? Será que poderei ir de bermudas? Afinal, trata-se de um lançamento de livro ou de uma festa para convidados? Ainda bem que Paulo de Tarso e sua poesia são maiores do que essas frescuras pseudo-acadêmicas...


quinta-feira, 19 de março de 2009

Foto de
Niko Guido


BALAIO PORRETA 1986
n° 2602
Natal, 19 de março de 2009


O problema das diferentes traduções da Bíblia não se firma somente no estilo puramente literário. Há, sem dúvida, algumas traduções melhores que outras, com linguagem brilhante ou mais tradicional. Porém, o maior problema se encontra no conteúdo: o sentido do texto pode mudar radicalmente dependendo da tradução que se utilize. E estes problemas se mantêm inclusive quando as traduções se realizam a partir dos textos originais, já que o hebraico foi evoluindo com o tempo.
(Juan ARIAS. A Bíblia e seus segredos, 2004)


O LIVRO DOS LIVROS
(14)

Texto estabelecido por
Moatidatotatýne, o Escriba

O surgimento de Moysés Sesyom do Sertão

E apareceu no interior da Bahia um novo manda-chuva, MiCarlos Agripinnius nomeado, que não conhecia a história de Zé do Ouro e o valor dos seridoenses, que naquelas terras além do Rio do Chico se encontravam e lá trabalhavam. E nova seca se abateu sobre todos. E a fome mais uma vez deixou os sertanejos agoniados. E o dono das terras, o sr. MiCarlos Agripinnius, culpou os seridoenses, devotos que eram de Nossa Senhora de Sant'Ana. E resolveu persegui-los. E resolveu condenar à morte centenas de crianças. E ordenou às parteiras: "Lançai no Rio do Chico todo aquele que nascer macho, e só poupai as fêmeas".

Mas as parteiras, religiosas em sua maioria, não obedeceram às ordens do coronel baiano. E o Senhor das Alturas, depois da crise existencial, voltou a se interessar pela humanidade. E pensou em suas palavras, antes pronunciadas: "Nascerá uma criança que não poderá falhar na condução de seu povo, caso contrário destruirei todos os seres humanos, sem a menor piedade". E a criança nasceu; abandonada na margem do rio, já que seus pais temiam as ordens do manda-chuva da região, foi encontrada e criada por uma filha de MiCarlos Agripinnius, que desconhecia a sua origem. E era uma criança sabida. E era uma criança alegre.

E Moysés Sesyom do Sertão passou a ser o nome da criança. E Moysés Sesyom do Sertão cresceu e se tornou bastante popular, com seus versos fesceninos(ª), sua fibra de homem-macho e sua admiração pelo forró pé-de-serra. E Moysés Sesyom do Sertão era um homem trabalhador e pesquisador. E Moysés Sesyom do Sertão, alertado em sonho pelo Senhor das Alturas, identificou a sua verdadeira gente e as doze tribos que formavam a grande família seridoense: os Dantas, os Araújos, os Nóbregas, os Batistas, os Marizes, os Gurgeis, os Medeiros, os Vales, os Costas, os Azevedos, os Martinianos e os Pereiras.

E Moysés Sesyom do Sertão, sob o olhar atento do Senhor das Alturas, reuniu todas as tribos, com seus 6.666 viventes, e resolveu partir para o Seridó, na fronteira do Ryo Grande com a Parahyba - a terra prometida pelos deuses da ancestralidade, berço da humanidade. Mas o coronel MiCarlos Agripinnius enfureceu-se e tentou impedir a fuga dos potiguares das ribeiras do Acauã, Piranhas e Seridó. E o Senhor das Alturas, mais compenetrado do que nunca, disse a Moysés Sesyom das Alturas: "O coração do coronel endureceu e ele não quer deixar o teu povo partir. Mas és o meu novo Patriarca e Profeta e como tal agirás. Sejas forte como um Charlton Heston, comediante do futuro, que serei mais prodigioso do que o observador Cecil DeMille, igualmente do futuro".

E Moysés Sesyom do Sertão, quando a cruviana(¹) chegou sob o céu estrelado, partiu com o seu povo, ziguezagueando entre a Bahia mais profunda e as fronteiras de Pernambuco e do Ceará, com os jagunços e bandoleiros do coronel a perseguir todos eles, armados de peixeiras, facões e parabelos na mão. 222 e mais 222 dias já durava a perseguição. E Moysés Sesyom do Sertão, cansado e pra lá de destabocado(²), clamava por socorro ao Senhor das Alturas. E o Senhor das Alturas, momentaneamente chumbado, depois de umas e outras na Meladinha do árabe Nasi, na Cidade dos Reys, preferiu ficar entupigaitado(³). Até que, mesmo de ressaca, indicou-lhe um caminho seguro pelas veredas do grande sertão.

Próximos capítulos:
15. A travessia do Rio do Chico
16. Os dez mandamentos

Notas:
(ª) Qualquer semelhança com o poeta fescenino Moysés Sesyom, nascido em Caicó no séc. XIX da Era Comum, e falecido em Açu no séc. XX da Era Comum, não passa de mera coincidência bíblica.
(¹) Cruviana : friagem da madrugada.
(²) Destabocado : franco, aquele que é muito franco nas conversações.
(³) Entupigaitado : calado, caladão.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Foto de
Amanda Com
in
Olhares


BALAIO PORRETA 1986
n° 2601
Natal, 18 de março de 2009

Os que julgam sem regras uma obra estão em relação aos outros como os que não têm relógios em relação aos demais.
(Blaise PASCAL. Pensamentos, 1670)


OFERENDA
Paulo Celso Pucciarelli
[ in Germina Literatura ]

para Júlia

Batizei o reino da infância com o nome das coisas:
água pedra chão vento estrela
Fiz garatujas azuis
Pintei de verde o canto dos grilos
Havia um arco-íris em mim
e eu carregava a tarde e as chuvas do quintal
Uma princesa sem nome prometeu-se o corpo
por causa de um segredo que selei nos lábios
Palavras sufocadas ficaram-me ao peito,
desastres que não pude evitar por mais que evitasse.
O resto do corpo é um brinquedo de inventos
Fruto que se abre em gomos, mel de carícias.
Dádivas que e entrego sem saber o nome.


ANOTAÇÕES DE INUTILIDADE PÚB(L)ICA
Carito
[ in Os Poetas Elétricos ]

***

um movimento em fosso
e tudo logicamente
cai por água abaixo.

***

molho por molho
prefiro al dente.

***

o bigode ar parado
de filme noir.

***

não sei porque
quando morro
vivo

assim

cultivo
desertos
dentro de mim.

***

só na lua
eu piso filme.

***

essa menina
me ganha na manha
passou a noite
virada no truque.

***

tu me ensina a fazer fenda:
tu me ensina a namorar...

***

divagar...



...e sempre!


POEMAS de
Lúcia Nobre
[ in O bom trepador, 2000 ]

Bom trepador
menage à trois
quatro cinco seis seis sete oito nove dez

Bom trepador
sexo oral vaginal anal
tudo é carnaval

Bom trepador
segreda coisas obscenas
como poemas


POEMA de
Chico Doido de Caicó

Gosto de mulher de tudo que é jeito
Até das muito bonitas
Que não sabem foder muito bem
E até mesmo daquelas
Que nunca deram o xibiu
Para o meu consumo