terça-feira, 30 de setembro de 2008


Clique na imagem
para ver o trêiler de
A viagem do balão vermelho
(Hou Hsiao-hsien, 2007),
inspirado em Albert Lamorisse,
com Juliette Binoche,
no Festival do Rio
(Espaço de Cinema 1: 16:30 e 20:45h)


BALAIO PORRETA 1986
n° 2440
Rio, 30 de setembro de 1986

O que um ser literário como eu tem a ver com Paulo Freire? A resposta é: acho que tenho muito a ver com a poeticidade de Paulo Freire. ... Quando falo em poeticidade de Paulo Freire me refiro a um conjunto de exemplos que ele deixou. A poeticidade das suas convicções inabaláveis em torno da justiça social. A poeticidade de sua ação transformadora e democrática. A poeticidade de fazer o povo entender os conceitos de natureza e de cultura. A poeticidade da rebeldia amorosa.
(Marcius CORTEZ, autor de O golpe na alma,
in A poeticidade de Paulo Freire. São Paulo, 19/09/08)


A crise do capitalismo
Parte final de uma
ENTREVISTA COM O HISTORIADOR ERIC HOBSBAWM
[ in Carta Maior ]

Marcello Musto: Para terminar, uma pergunta final. Por que é importante ler Marx hoje?

Eric Hobsbawm: Para qualquer interessado nas idéias, seja um estudante universitário ou não, é patentemente claro que Marx é e permanecerá sendo uma das grandes mentes filosóficas, um dos grandes analistas econômicos do século XIX e, em sua máxima expressão, um mestre de uma prosa apaixonada. Também é importante ler Marx porque o mundo no qual vivemos hoje não pode ser entendido sem levar em conta a influência que os escritos deste homem tiveram sobre o século XX. E, finalmente, deveria ser lido porque, como ele mesmo escreveu, o mundo não pode ser transformado de maneira efetiva se não for entendido. Marx permanece sendo um soberbo pensador para a compreensão do mundo e dos problemas que devemos enfrentar.

Tradução para Carta Maior (espanhol-português): Marco Aurélio Weissheimer

segunda-feira, 29 de setembro de 2008


Clique na imagem
para verouvir
Nara Leão
interpretando
Dorival Caymmi


BALAIO PORRETA 1986
n° 2439
Rio, 29 de setembro de 2008


A melhor teoria sobre o poema é o poema.
(Paulo de Tarso Correia de MELO, II ENE, 2007)


POEMA
Ada Lima
[ in Flor do Sal ]

Quero a leveza
das mãos invisíveis
que suspendem os pássaros.


PEDRAS DE TOQUE DA POESIA BRASILEIRA
[ org. José Lino Grunewald, 1996 ]

é régua que calcula a
linguagem e lhe engenha
modelos de medula
(Nelson Ascher, Definição de poesia)

E vestes a parábola noturna
do alfabeto das últimas folhagens
(Abgar Renault, Claro e escuro)

Entrego aos ventos a esperança errante
(Cláudio Manuel da Costa,
A cada instante, Amor, a cada instante)

Eu desenhava na praia a curva de teu seio
E continuava voando entre o farol e o mar
(Ledo Ivo, Esmeralda)

Não tem altura o silêncio das pedras
(Manoel de Barros, Uma didática da invenção - X)

domingo, 28 de setembro de 2008


Paul Newman & Elizabeth Taylor
em
Gata em teto de zinco quente
(Brooks, 1958)


BALAIO PORRETA 1986
n° 2438
Rio, 28 de setembro de 2008

A morte de um ator carismático - sobretudo quando não se deixava prender aos mecanismos insensatos da indústria cinematográfica - nos leva a lamentar toda e qualquer Morte. Principalmente aquelas causadas pelo aparato bélico norte-americano e/ou pela avareza das elites econômicas dominantes. Mas, no mundo da arte, há nomes que dignificam a condição humana: terá sido Paul Newman um deles?
(Moacy CIRNE, Balaio Porreta)


PRINCIPAIS FILMES
de
PAUL NEWMAN (1925-2008)

Marcado pela sarjeta (Wise, 1956)
Um de nós morrerá (Penn, 1958)
Gata em teto de zinco quente (Brooks, 1958)
The hustler / Desafio à corrupção (Rossen, 1961), o melhor deles
Butch Cassidy (Hill, 1969)
Roy Bean, o homem da lei (Huston, 1972)
Golpe de mestre (Hill, 1973)
O veredicto (Lumet, 1982)
VÔO
Adelaide Amorim
[ in Inscrições ]

abri a janela
e o pequeno silêncio
voou
diluído em luz


UM POEMA É UM POEMA É UM POEMA VISUAL

GRAFIA 2008
Moacy Cirne

Cf. Poema/Processo

sábado, 27 de setembro de 2008


Clique na imagem
para ver uma das cenas
mais famosas do cinedramalhão
O ébrio
(Gilda de Abreu, 1946),
com Vicente Celestino


BALAIO PORRETA 1986
n° 2437
Rio, 27 de setembro de 2008
Atualização: 20:12h

Podemos não gostar de O ébrio, por questões estéticas, mas não podemos ignorá-lo, por questões culturais. Quando de sua exibição em Caicó (RN), por exemplo, em 1950/51, quase toda a cidade, com seus gloriosos 5 mil habitantes, chorou com o drama do personagem vivido por Vicente Celestino: choravam mulheres, homens e crianças, choravam vivos e mortos, os que foram ver o filme e os que não puderam vê-lo. E até o dono do Cine Pax, o 'Seu' Clóvis, chorava durante as sesssões do maior dramalhão da história do cinema brasileiro. Por que não incluí-lo, pois, nem que seja tardiamente, em minh'A cinemateca imaginária?
(Moacy Cirne, Balaio Porreta)


Cinema
OS MELHORES FILMES DOS ANOS 40
[ segundo A cinemateca imaginária ]

1. Cidadão Kane (Welles, 1941)
2. Dia de ira (Dreyer, 1943)
3. A terra treme (Visconti, 1948)
4. My darling Clementine (Ford, 1946)
5. O boulevard do crime (Carné, 1945)
6. Desencanto (Lean, 1945)
7. O terceiro homem (Reed, 1949)
8. Alemanha, ano zero (Rossellini, 1947)
9. O tesouro de Sierra Madre (Huston, 1948)
10. Soberba (Welles, 1942)
11. Roma, cidade aberta (Rossellini, 1945)
12. Ivan, o terrível, 1 & 2 (Eisenstein, 1944 & 1946)
13. Rio Vermelho (Hawks, 1949)
14. Pai e filha (Ozu, 1949)
15. Carta de uma desconhecida (Ophuls, 1948)
16. Laura (Preminger, 1944)
17. Jour de fête (Tati, 1947)
18. As vinhas da ira (Ford, 1940)
19. Adúltera (Autant-Lara, 1947)
20. Ladrões de bicicicleta (De Sica, 1948)
21. A dama de Shangai (Welles, 1948)
22. O grande ditador (Chaplin, 1940)
23. O diabo disse não (Lubitsch, 1942)
24. Consciências mortas (Wellman, 19943)
25. Louisiana story (Flaherty, 1949)
26. A costela de Adão (Cukor, 1949)
27. As oito vítimas (Hamer, 1949)
28. Punhos de campeão (Wise, 1949)
29. As damas do Bosque de Bolougne (Bresson, 1945)
30. Pacto de sangue (Wilder, 1945)
31. Casablanca (Curtiz, 1942)
32. Os melhores anos de nossas vidas (Wyler, 1946)
33. Os visitantes da noite (Carné, 1942)
34. Este mundo é um hospício (Capra, 1944)
35. Macbeth (Welles, 1948)
36. O ébrio (Gilda de Abreu, 1946) /agora incluído/

Principais curtas:
Sangue das bestas (Franju, 1948)
Gente del Pò (Antonioni, 1942-47)
Meshes of the afternoon (Daren, 1943)
Begone dull care (McLaren, 1948)
[que pode ser re/visto no Poema/Processo,
postagem do dia 21 de setembro]

UMA IMAGEM, UMA REFLEXÃO
via
Isto Tem Dias
(autoria não-identificada)

sexta-feira, 26 de setembro de 2008


Clique na imagem
para ver o trêiler de
La frontière de l'aube
(Garrel, 2008),
que deverei ver amanhã,
dentro da programação
do Festival do Rio 2008


BALAIO PORRETA 1986
n° 2436
Rio, 26 de setembro de 2008

La frontière de l’aube é, como era de se esperar, um desdobramento a mais do universo garreliano. A magnífica fotografia em P&B de William Lubtchansky, cujo altíssimo contraste opõe o preto e o branco (a ausência e a presença absoluta da cor) como se buscasse fixar a essência que paira na superfície dos corpos ou a aura que a fotografia “sugaria” dos seres, de acordo com as crenças dos antigos, a serviço de uma história de amores “revolucionários” – porque desesperados, intensos e utópicos. No campo do emocional, um desolamento sem fim, um sentido de frustração inescapável, de impotência de realização plena, que impregna mesmo as cenas de amor mais doces.
(Tatiana MONASSA, in Contracampo)


Cinema
FESTIVAL DO RIO & ORIENTE DESCONHECIDO

Uma bela coincidência: ao mesmo tempo, entre nós, em vários cinemas, durante duas semanas (e possivelmente mais uma para a tradicional "repescagem"), o Festival do Rio, com 350 filmes - até o momento só me defini por nove deles -, e a mostra Oriente Desconhecido, no CCBB, já iniciada, que inclui algumas preciosidades de Hou Hsiao-hsien e Apichatpong Weerasethakul, entre outros. Por enquanto, vi duas delas: Tropical malady (Weerasethakul, 2004) e Millennium Mambo (Hou, 2001). Hoje pretendo ver Blissfully yours (Weerasethakul, 2002). Na próxima semana - recomendado especialmente por Marcelo Ikeda - verei Three times (Hou, 2005). O problema maior vai ser conciliar os horários das duas programações. De qualquer modo, excetuando-se quatro títulos do Festival (um deles é o de Garrel; os demais são os de Rohmer [Les amours d'Astrée et de Céladon], Wajda [Katyn] e do próprio Huo [A viagem do balão vermelho], cujos ingressos já estão garantidos, além de Liverpool [Alesandro Alonso], El castillo de la pureza [Arturo Ripstein] e Blue [Darek Jarman], e mais dois ou três), a minha prioridade volta-se para o Oriente Desconhecido.


CERIMÔNIA DE POSSE
Ana de Santana (Caicó, RN)
[ in Em nome da pele, 2008 ]

Sobre o lençol,
o corpo estendido
cedilha-se ao toque
das folhas da benzedeira
Pelos vasos frêmitos
entranham ungüentos
e escapam perfumes
De rezas, beijos e ais
a boca não se desafaz
No limite dos atabaques
etéreas veias explodem
lactealagando-se de curas
a carne adoecida de amar

OURINÁRIO NUMBER ONE
Muirakytan Macedo (Caicó, RN)
[ in Partícula elementar, inédito ]

Posto que exausto,
Senhor saiba:
- Festim de bula e bíblia,
malamanha pasto!

Você, funcionário,
Ledo galo de bronha:
Deserto das pérolas,
Debulhando rinhas.

Igual a você, o outro,
Pústula de ofício
Injetas corante nas veias
Pulhando alma em ócio.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008


Foto de
Lorne Resnick
via
Sentimentos e Momentos


BALAIO PORRETA 1986
n° 2435
Rio, 25 de setembro de 2008

Da
vida
não se espera resposta.
(Orides FONTELA. Carta, in Teia, 1996)


TRÊS POEMAS de
Orides Fontela (1940-1998)
[ in Teia. São Paulo, 1996 ]


Adivinha

O que é impalpável
mas
pesa

O que é invisível
mas
fere

O que é invisível
mas
dói


Ver

Ver
o avesso
do sol o
ventre
do caos os
ossos.

Ver. Ver-se.
Não dizer nada.


Teologia

Não sou un deus, Graças a todos
os deuses!
Sou carne viva e
sal. Posso morrer.


POEMA de
J. Brito Costa

As deusas
quando se vestem de auroras ensangüentadas
espantam as tristezas dos animais.

As deusas
quando se aninham em palavras despudoradas
fazem a alegria de muitos carnavais.

As deusas
quando são deusas e vivem paixões desesperadas
tornam-se humanas - e nada mais.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008


Clique na imagem
para ver o
ótimo curta/animação
Surogat
(Dusan Vukotic [Iugoslávia], 1961),
a partir de uma dica do
Homo Luddens

Atenção:
no blogue do
Poema/Processo
uma pequena obra-prima de McLaren:
Begone dull care


BALAIO PORRETA 1986
n° 2434
Rio, 24 de setembro de 2008


Tem duas coisas que eu não gosto:
mulher gelada e cerveja quente.
(Pára-choque de caminhão)


"FILOSOFIA" DE CAMINHÃO

As mulheres perdidas são as mais procuradas.

Deus é a resposta. Mas qual é a pergunta?

Gosto das rosas, mas prefiro as trepadeiras.

Na calada da noite, a população se multiplica.

Não sou sapo, masa gosto de perereca.

Nas curvas do teu corpo capotei meu coração.

Os últimos serão desclassificados.

Quando tenho razão, a culpa é minha.

Antes eu sonhava. Agora nem durmo mais!

Quem muito escolhe pouco come.

[ in Dualibi das citações, 2000 ]


TEXTO
Marcelo F. Carvalho
[ in Resumo da Chuva ]

Queria alcançar o instante que nunca aconteceu, aquele que ensaiamos e que ventos mais fortes carregaram pro quando. Queria, neste momento, dizer o que nunca foi dito, a palavra descoberta, úmida, ainda por gritar, carregada de regionalismo. Queria a música tocada há dez anos, quando eu não era um covarde acomodado, quando ainda acreditava no amor, no peito aberto, no olhar carregado de clichês e sonhos.
Queria a sensibilidade do meu próximo de ontem, quando ele ainda não pensava em dinheiro, dinheiro e sexo, dinheiro e dinheiro.
Queria parar esse tempo tanto.
Queria tirar essa tristeza sem como.
Queria estancar esse querer tanta coisa.

[][][][][]

"Vocês sabem que eu fico pouco à vontade na televisão. É porque, ao contrário dos profissionais de TV, eu sou meio tímida, não sei fingir. Sei apresentar meu trabalho, minhas propostas e sei que vocês têm consciência do mais importante: uma prefeita precisa mais do que saber falar. Ela precisa saber fazer."
(FÁTIMA 13, em Natal )

terça-feira, 23 de setembro de 2008


Foto original de
Jailson James
in
Olhares
redimensionada digitalmente por
Moacy Cirne


BALAIO PORRETA 1986
n° 2433
Rio, 23 de setembro de 2008


O significado da metáfora erótica é ambíguo. Melhor dizendo, é plural. Diz muitas coisas, todas diferentes, mas em todas elas aparecem duas palavras: prazer e morte.
(Octavio PAZ. A dupla chama, 1993)


PEDRAS DE TOQUE DA POESIA BRASILEIRA
(Org. José Lino Grunewald, 1996)

Ah, comércio milenar de palavras & coisas
sempre recomeçando como ondas
sobre o marumano de calçadas e portas!
(Adriano Espínola,
Metrô)

Amor total e falho... Puro e impuro...
Amor de velho adolescente... E tão
Sabendo a cinza e pêssego maduro...
(Manuel Bandeira,
Peregrinação)

Aquele pressentimento de luar
lá longe no horizonte grávido
(Abgar Renault,
Noite em Curral d'El Rey)

Bebo horizontes de amor
na curva do último abraço
(Marly de Oliveira
, Albas)

Chove chuva choverando
Que a cidade de meu bem
Está-se toda se lavando
(Oswald de Andrade,
Soidão)

[A] chuva é a música de um poema de Verlaine
(Cecília Meireles,
A chuva chove...)

Dentro de ti medita um
sol mediterrâneo
(Cláudia Roquette-Pinto
, tomatl)

O NAVIO
Cefas Carvalho

Leu o que havia escrito. Não gostou. Ou gostou de forma estranha, um gostar sem realmente apreciar. Na verdade, nunca amava o que escrevia. Ou talvez amasse, mas de forma inusitada, como deve ser o amor. Escrevera daquela vez sobre um navio, que, colhido em alto mar por uma tempestade, começava a afundar no oceano. Nunca estivera em um navio, antes, pelo menos não que se lembrasse. Teria feito uma analogia? Que seria o navio? Sua vida? O amor que poderia se afogar no oceano do dia a dia? Ou, seriam apenas suas leituras passadas, remotas – Moby Dick, Odisséia – que vinham brincar em sua mente e o induzir a escrever. O navio afundou, pois então. Havia um barco salva-vidas, mas apenas um e todos os quinze tripulantes fizeram um pacto para, juntos, morrerem no navio sagrado que construíram e com o qual sonharam em conquistar o mundo, ou pelo menos, um mundo, como o famigerado Cortés. Era o fim da história, então. Releu o que havia escrito. Sorriu para si mesmo e pensou se queria realmente ter escrito sobre um navio que afundava e um pacto de morte. Acendeu um isqueiro e queimou a folha de papel no cinzeiro...


FESTIVAL RIO 2008
Minhas prioridades

1. La frontière d l'aube (Garrel, 2008)
2. Les amours d'Astrée et de Céladon (Rohmer, 2007)
3. Le voyage du ballon rouge (Hou, 2007)

segunda-feira, 22 de setembro de 2008


Cidades potiguares:
Martins
Foto de
AG Sued
in
Grande Ponto


BALAIO PORRETA 1986
n° 2432
Rio, 22 de setembro de 2008

... a inteligência tem pouco a ver com a poesia. A poesia brota de algo mais profundo; está além da inteligência. Pode até mesmo estar ligada à sabedoria. É algo próprio; tem uma natureza própria. Indefinível.
(Jorge Luis BORGES, in Os escritores, julho 1966)


DESERTO
Simone Oliveira
[ in Letras e Tempestades ]

A saudade
do teu corpo
silencia
minhas mãos
e minha boca.



TEXTO DE PEDRA
Romério Rômulo

uma poesia brasa candente. cozer tudo,
ato do verso, dure tanto ou nada.


BEBA-ME, E EU ANDAREI SOBRE ESTRELAS
Mário Ivo
[ in Cidade dos Reis ]

Beba-me, e engoliremos a noite.
Beba-me, e as nuvens deixarão fiapos soltos entre dentes nossos.
Beba-me, enquanto minha boca busca tua mordida. Enquanto tua boca ronda meu pescoço.
Enquanto tua mão colhe plantas e flores no calor do meu sexo. Transplantados ao teu. Haste úmida, respiro aquático.
Beba-me, enquanto dançamos à beira do abismo, princípio nosso de cada fuga que fazemos antes do amanhecer.
Beba-me, mate-me.
Beba-me enquanto me comes.
Só não me abandones.


EXIGÊNCIA
Lisbeth Lima
[ in Felice. Natal: Sebo Vermelho, 2004 ]

Quero um colo que me cale;
que me fale enquanto calo.


A PROSA DE MARIZA LOURENÇO

De Bruxas

Toda mulher tem caldeirão e colher de pau pra mexer suas panelas.

Toda mulher invoca a lua quando menstrua. E amarga o pão que o diabo amassou.

Toda mulher tem um gato dentro do ventre (que mia).

Toda mulher tem lá seus desejos de vingança (daqueles bem secretos). E, um dia, haverá de querer saber da própria sorte.

Toda mulher é bruxa... Mesmo que não admita.

[ in Proseando com Mariza ]


DIVAGAÇÕES & PROVOCAÇÕES

O "bezerrão" do inglês Damien Hirst não é vanguarda, não é experimentação, não é arte. É picaretagem e/ou oportunismo, pura e simplesmente.

A vanguarda como tal teria (se) acabado nos anos 70? Eis uma pergunta sem o menor sentido. A questão foi e é outra: como uma possível arte experimental pode se transformar em arte experimentária?

O que é arte experimentária?

FILMES QUE INCOMODAM
quer pela forma, quer pela narrativa, quer pelo conteúdo

1. Ano passado em Marienbad (Resnais, 1961)
2. Hitler, um filme da Alemanha (Syberberg, 1977)
3. Salò (Pasolini, 1975)
4. Dogville (Von Trier, 2003)
5. One plus one (Godard, 1968)
6. A comilança (Ferreri, 1973)
7. A bela intrigante (Rivette, 1991)
8. Um condenado à morte escapou (Bresson, 1956)
9. Crônica de Anna Madalena Bach (Straub, 1967)
10. Assuntina das Amérikas (Luiz Rosemberg Filho, 1975)
11.
Jeanne Dielman... (Akerman, 1975)
12. Diaries, notes and sketches (Mekas, 1969)
13. Velvet underground & Nico (Warhol, 1967)

|||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
EM NATAL,
estamos com
FÁTIMA 13

domingo, 21 de setembro de 2008


Xilogravura de
J. Borges
- um dos expoentes da arte nordestina -


BALAIO PORRETA 1986
n° 2431
Rio, 21 de setembro de 2008

O sertão não é só paisagem. O sertão é um modo de viver.
(Jeanne ARAÚJO, in Carta poética..., 2/9/2008)


NUDEZ
Maria Maria
[ in Espartilho de Eme ]

Tirei tudo de mim
nessa madrugada:
os brincos, os anéis,
as vestes de santa,
os terços, a calcinha
branca.


McLAREN & OSCAR PETERSON
no blogue do
POEMA/PROCESSO:
vale a pena conferir.


Arquivos balaiográficos
BALAIO INCOMUN n° 1685
Uma folha porreta desde 1986
Natal, 23 de fevereiro de 2006


MÁXIMAS E MÍNIMAS DO BARÃO DE ITARARÉ
[ Extraídas do Almanhaque 1955 ]

# Este mundo é redondo, mas está ficando chato.
# Quando o ruim fica bom está pior do que nunca.
# Os bancos das praças estão sempre o ocupados por desocupados.
# Trigonometria é a arte de plantar trigo de metro em metro.
# Comer até adoecer, beber até sarar!
# Desgraça é junho frio sem cachaça.
# O uísque é uma cachaça metida a besta.

REESCREVENDO RANCIÈRE, EM A NOITE DOS PROLETÁRIOS

Não é mais possível suportar o insuportável.

Memória 1993
NOSSOS CONTOS PREFERIDOS

1. Em memória de Paulina (Casares)
2. O jardim do tempo (Ballard)
3. A biblioteca de Babel (Borges)
4. A obra-prima ignorada (Balzac)
5. A casa tomada (Cortazar)
6. A terceira margem do rio (Guimarães Rosa)
7. Olhos mortos de sono (Tchecov)
8. William Wilson (Poe)
9. Uma ocorrência na ponte sobre o Rio Owl (Bierce)
10. Não tenho boca e preciso gritar (Ellison)

[ in Balaio n° 462, de 15 fev 1993 ]

sábado, 20 de setembro de 2008


Clique na imagem
para ver quase cinco minutos
da obra-prima
Uma mulher sob influência
(Cassavetes, 1974),
com Gena Rowlands


BALAIO PORRETA 1976
n° 2430
Rio, 20 de setembro de 2008

quero inquietar montanhas
dar vazão à vazante
hipnotizar multidões
e dissolver o instante
(Iara Maria CARVALHO, in Mulher na Janela, 19/09/2008)


JORDI SAVALL, HOJE NO RIO

Para aqueles que amam a música antiga (é o meu caso), teremos, hoje (Sala Cecília Meireles, 20h), um programa imperdível: o catalão Jordi Savall e o conjunto Hespèrion XXI nos brindarão com obras do Martin Codax (cancioneiro da lírica galego-portuguesa, de origem medieval), entre outras. Para que se tenha uma idéia da importância (criadora) de Savall, basta dizer que - para mim, pelo menos - o mais belo disco do século XX é a sua versão das Vésperas da Virgem (Monteverdi, 1610), gravada em 1989.


RESPOSTA À REVISTA veja

A revista veja, da Editora Abril, mais uma vez extrapolou. Faz tempo que não a leio: lixo jornalístico não me interessa. Mas li o que escreveram sobre uma incrível matéria dedicada à educação brasileira assinada pelas jornalistas Monica Weinberg & Camila Pereira. Particularmente, o artigo de Marcelo Coelho (cf. Substantivo Plural, editado ontem). Coelho enumera as muitas atrocidades cometidas pela matéria: são terríveis, para dizer o mínimo. Nem mesmo Paulo Freire escapou da fúria "assassina" das duas jornalistas.


Cinema
OS MELHORES FILMES DOS ANOS 70
[ segundo as indicações do meu A cinemateca imaginária ]

1. Jeanne Dielman... (Akerman, 1975)
2. Barry Lyndon (Kubrick, 1975)
3. Laranja mecânica (Kubrick, 1971)
4. Santo Agostinho (Rossellini, 1972)
5. Carta para Jane (Godard & Gorin, 1972)
6. Hitler, um filme da Alemanha (Syberberg, 1977)
7. Uma mulher sob influência (Cassavetes, 1974)
8. O poderoso Chefão (Coppola, 1972)
9. O passageiro (Antonioni, 1975)
10. Gritos e sussurros (Bergman, 1972)
11. Apocalypse now (Coppola, 1979)
12. Salò (Pasdolini, 1975)
13. Um dia muito especial (Scola, 1977)
14. Ludwig (Visconti, 1973)
15. O último tango em Paris (Bertolucci, 1972)
16. Aqui e lá (Godard & Miéville, 1977)
17. Taxi driver (Scorsese, 1976)
18. Verdades e mentiras (Welles, 1974)
19. Moses und Aaron (Straub & Huillet, 1974)
20. O desgosto e a piedade (Ophuls, 1971)
21. A súbita riqueza da gente pobre de Kombach
(Schloendorff, 1971)

22. Amor à tarde (Rohmer, 1972)
23. Trabalhos ocasionais de uma escrava (Kluge, 1973)
24. Morte em Veneza (Visconti, 1971)
25. O espelho (Tarkóvski, 1974)
26. Effi Briest (Fassbinder, 1974)
27. Terra prometida (Wajda, 1974)
28. A viagem dos comediantes (Angelopoulos, 1975)
29. A revolta do Chile (Guzman, 1975-79)
30. China (Antonioni, 1972)
31. Annie Hall (Allen, 1977)
32. Lições de história (Straub & Huillet, 1972)

sexta-feira, 19 de setembro de 2008


A modelo Sely
em foto
de Tuta
(cf. Olhares)
redimensionada por
Moacy Cirne


BALAIO PORRETA 1986
n° 2429
Rio, 19 de setembro de 2008

Escrever não é apenas uma operação da inteligência.
É uma necessidade do coração.
(Hildeberto BARBOSA Filho. O escritor e seus intervalos, 2008)


CONCEITUAL
Nel Meirelles
[ in Fala Poética ]

o que é um poema
se não um pedaço
de sonho incrustado
entre palavras?


HUMOR DATADO,
ligeiramente autogozativo

[ Repassado pelo ator e prof. José Marinho,
em nossos tempos de UFF ]

Em 1939, o bravo semanário do interior pernambucano
A Folha de Caruaru
,
com a força de seus 300 exemplares,
bradava em manchete:
HITLER,
ATENDA AO NOSSO APELO, NÃO INVADA A POLÔNIA!

Em 1945, finda a guerra, o mesmo jornal lembrava a todos:
HITLER,
BEM QUE NÓS AVISAMOS...


NOMES, ESTRANHOS NOMES
(sejam poéticos ou não...)
[ Cf. Panorama da poesia norte-rio-grandense, 1965 ]

Zênia Maruza (1963-)
Walma de Azevedo Dantas (1948-)
Ytterbio de Siqueira (1932-)
Walflan de Queiroz (1930-1995)
Benilde Dantas (1912-1952)

Genar Wanderley (1910-?)
Elêusipo Oscar de Oliveira (1908-?)
Elyssosio Guimarães (1898-1964)
Olda Pinheiro Avelino (? - ?)
Junquilho Lourival (1894-?)
Nizário Gurgel (1888-1955)
Antídio de Azevedo (1887-?)
Uldarico Cavalcanti (?-1955)
Abner de Brito (1890-1951)

TODA NUA
Abner de Brito
(Caicó, 1890 - Curitiba, 1951)

Vim pensar, hoje, no teu corpo amado,
Princesa! A escultural forma de neve
Do teu corpo tem sido o meu pecado,
Dentre todos que tenho, que é o mais leve.

Vejo, a pulsar, teu seio, que descreve
Linha estuante de escândalo, marcado
Pela eclosão do incêndio propagado
Na febre de meu sonho ardente e breve.

Abaixo, o ventre, no regaço, aonde
Corro a sorver o gozo alto e infinito
Do inferno bom que tua carne esconde...

- Nua! Reflete em mim teus membros lassos
Nesta volúpia que me torna aflito
De nunca os ter sentido nos meus braços!

quinta-feira, 18 de setembro de 2008


Arte digital
de autoria desconhecida


BALAIO PORRETA 1986
n° 2428
Rio, 18 de setembro de 2008


Vieram, então [em Natal], Osvaldo Garcia, Luiz Almir, Jota Gomes, Aquino Neto, Salatiel de Souza, Paulo Wagner, Gilson Moura e Micarla de Souza [candidata à Prefeitura da capital potiguar]. Todos, incultos e despreparados.
Alguns, vulgares e grosseiros.

(Tácito COSTA, in Substantivo Plural, 17/09/2008)


Tesourapress
OS DESLIZES DA REPÓRTER TAMBORINDEGUY
Artur Xexéo
[ in O Globo, 2° Caderno, 17/09/2008 ]

Não sei se vocês têm visto o "Superpop" ultimamente... Isso não é jeito de começar uma nota. Percebi que estou ofendendo os leitores. Então, esqueça o começo desastrado, vamos tentar outra vez. Ultimamente, o "Superpop" tem experimentado Narcisa Tamborindeguy como repórter. É um espanto. Outro dia, numa festa, ela encontrou Paulinho Jobim [filho de Tom Jobim, falecido em 1994]. Não quis perder a oportunidade de dar um furo:
- E aí, Paulinho, me conta uma novidade sobre o Tom.
O entrevistado nem teve que pensar muito.
- Já faz algum tempo que não tenho novidades sobre ele.
Em seguida, na mesma festa - era um casamento -, Narcisa entrevista a noiva.
- E aí, querida, onde vai ser a lua-de-mel?
- Vou para as Ilhas Seyschelles.
- Que maravilha! Vai com o maridão?
Essa repórter promete.

(Artur Xexéo)

Repeteco
BIOGRAFIA DE ANTÔNIO SILVINO

Moacy Cirne não é Moacy Cirne, não escreve sobre poemas, crepúsculos, azulências e histórias-em-quadrinhos, não gosta de cinema, nem de música medieval ou de literatura de cordel, não é o autor de A invenção de Caicó, e muito menos do Almanaque do Balaio, não é apreciador de uma boa cachaça mineira. E não é torcedor do ABC. Segundo o horóscopo chinês da República Sertaneja do Seridó, Moacy Cirne é um caba da peste amigo de Lampião, Maria Bonita, Antônio Silvino, Moysés Sesyom, Diadorim, Riobaldo, Dom Quixote, Henfil e Glauber Rocha. Sua trajetória de vida, como poeta e cangaceiro, passa pelos gols do Fluminense no velho Maraca Maracanã de todas as torcidas, por uma viagem a São Saruê das Belas Auroras Abismadas em companhia da mulher amada, por um encontro com Marx, Gramsci, Ernesto Martins e Rosa Luxemburgo nas planícies vermelhas de Marte, com desdobramentos em Júpiter e Jardim do Seridó. Consta, segundo seus amigos e suas amigas, que conheceu o poema/processo no carnaval de Olinda, antes do suposto descobrimento do Brasil. E que, ao lado dos tapuia, lutou contra os nazistas da Patagônia Abestalhada. E os fascistas da Flórida Americanalhada. Alguns antigos freqüentadores do Pax, na Praça da Liberdade, em Caicó, garantem que ele amou Ava Gardner por trás da parede do Itans, em noite de lua azulavermelhada, ao som de Luiz Gonzaga, Pixinguinha, Monteverdi e Beethoven. Em Natal, nos antigamentes, admirava Maria Boa e Luís da Câmara Cascudo, o Iara Bar e o Palácio do Governo, o Beco da Quarentena e as residências burguesas do Tirol, a Feira do Alecrim e o comércio da Cidade Alta, o Arpège e a Igreja do Galo. Sobretudo admirava o Grande Ponto e a distante Ponta Negra. Contudo Moacy Cirne, o paraibano, não é Moacy Cirne, o cearense: Moacy Cirne, o pernambucano, é um seridoense da gota serena que, hoje, reside na queridíssima República Tricolor de Laranjeiras, antenado com o poema/processo, o bairro de Lagoa Nova e o Sebo Vermelho, na capital potiguar. E, de igual modo, ligado nas águas cantantes do Seridó.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008


A imagem acima é da
Patagônia, Argentina
.
Como assim?
Era o que nos garantia, até ontem, o saite
Wallpapers PixxP.
Sinceramente, fazíamos outra idéia
- bastante diferente - da
Patagônia.
Assim sendo,
mudemos para uma imagem menos ilusória,
sem identificação aparente:

a de Gisele Bundchen,
por nós redimensionada cromaticamente -

E por que não o
SONETO PARA A MULHER AMADA,
poema/processo
de nossa autoria?



BALAIO PORRETA 1986
n° 2427
Rio, 17 de novembro de 2008


Fora os que algarismam as manhãs!
(Mário de ANDRADE, in Ode ao burguês)


ESCRITO A SANGUE
Ademir Assunção
[ in Zumbi Escutando Blues ]

ruas escuras
atravessado
eu atravesso
reviro o avesso
nele me meço
olho de lince
encaro a face da fera
espelhos se estilhaçam
rasgam minha cara
cai a neblina do vazio
frio na barriga
pago o preço
erva bola cogumelo
volto ao começo
escapo com vida
desconverso
verso escrito a sangue
desapareço
quanto mais
menos
me pareço
eco de bicho homem

Política natalense
NOSSA OPÇÃO

Se votássemos em Natal, não teríamos a menor dúvida:
Fátima Bezerra, n° 13, seria a nossa opção para a Prefeitura.
A candidata que a ela se opõe (Micarla) é de uma fraqueza absoluta.
Ou quase. Ou quase.

terça-feira, 16 de setembro de 2008


Mapa do Rio de de Janeiro,
elaborado por volta de 1700


BALAIO PORRETA 1986
n° 2426
Rio, 16 de setembro de 2008

Os livros de Cascudo não se esfumam no ar, mesmo à primeira leitura, como tantos outros. Alguma coisa ficará para sempre.
(Deífilo GURGEL, in Cascudo - Guardião das nossas tradições, 2004)


CÂMARA CASCUDO - UMA BREVE LEITURA (1)
Moacy Cirne

1.

Revisitar Natal é revisitar o universo de Luís da Câmara Cascudo¹. Poucos escritores, na história da vida literária brasileira, e mesmo mundial, tiveram uma relação amorosa e intelectual tão forte com a sua cidade quanto o autor de Vaqueiros e cantadores (1939). Natal é Cascudo. Cascudo é Natal.

Seu fascínio - como escritor e figura humana - é inegável. Suas qualidades como folclorista e etnógrafo (leia-se também: como pesquisador incurável) são mais do que admiráveis². Louve-se de igual modo a sua vertente criativa. Haja vista Canto de muro (1959) e Prelúdio e fuga do real (1974).

Muitos são os livros importantes³ do Mestre Cascudo, além dos três citados: História da alimentação no Brasil (1967-68) e História dos nossos gestos (1976) são dois deles. Outros e outros poderiam ser citados, claro. Aqui, aliás, temos o melhor do Câmara Cascudo historiador.

Curiosamente, a parte menos significativa de sua obra - se deixarmos de lado o provinciano e apenas razoável Alma patrícia (1921) - é a que diz respeito ao historiador oficial. Não é preciso ser um estudioso da matéria para perceber as fragilidades críticas de sua abordagem oficialesca.

Mas por que destacar, neste momento, justamente o Cascudo menos interessante? O menos expressivo?

2.

Por que destacar, neste momento, o Cascudo menos interessante, o menos expressivo? Ora, vasto é o seu mundo, vasta é a sua cultura. E embora ele não tenha nenhum livro com a importância sociológico-literária, por exemplo, de Casa grande & senzala (1933), sua obra, como um "todo cultural", é mais estimulante do que a de Gilberto Freyre.

Por que então se voltar para o historiador factual que se encontra nas suas "histórias oficiais"? Basicamente, por dois motivos pontuais: 1. apontar o verdadeiro Cascudo Historiador, que se constrói sobretudo através de suas pesquisas etnográficas e de seu mapeamento dos "pequenos simbolismos"; 2. questionar o oba-oba dos cascudólogos natalenses.

Há um terceiro motivo, derivado do segundo: não se prender às leituras fáceis (poderíamos dizer: às leituras inertes, cf. Gaston Bachelard) daqueles que endeusam o autor do Dicionário do folclore brasileiro (1954). Decerto, particularmente no meio universitário, temos estudiosos da maior categoria. É o caso de um Humberto Hermenegildo de Araújo.

Uma pergunta se impõe, deve-se explicitar: o que era a História para Cascudo? Por certo, não era só a história de fatos & acontecimentos construídos historicamente pelos donos do poder. E se é verdade que, muitas vezes, Cascudo a eles se sujeitou, também é verdade que os caminhos & veredas da(s) cultura(s) popular(es) lhe deixaram profundas marcas.

E são essas marcas que alimentam sua produção folclórica, seu saber etnográfico, seu conhecimento literário, e mesmo sua boemia intelectual. Como Bachelard, Cascudo era um grande leitor de poesia; como em Bachelard, o espírito crítico de Cascudo em relação à poesia, por ser demasiadamente generoso, perdia-se, aqui-acolá, no elogio equivocado.

Termina aqui, acrescente-se, a relação Cascudo/Bachelard. Mas não nos esqueçamos: o contato cascudiano com a realidade das manifestações populares - seus mitos, seus emblemas, suas crendices - e com o mundo pluridimensional da poesia (ele mesmo, quando jovem, poeta) fazem o escritor Luís da Câmara Cascudo: sua grandeza, sua brasilidade.

Mas por que, afinal, as suas obras menos enriquecedoras também despertam a nossa atenção? O nosso olhar crítico?

[ Continua na próxima semana ]

Notas:
¹ Assim como revisitar o Seridó é revisitar o mundo de Oswaldo Lamartine.
² Uma boa introdução ao seu universo literário é o livro Dicionário crítico Câmara Cascudo, organizado por Marcos Silva (São Paulo: Perspectiva, FFLCH/USP, Fapesp ; Natal: Fund. José Augusto, EDUFRN, 2003, 332p.)
³ Cascudo escreveu, a partir de 1921, aproximadamente 150 livros, dos quais pelo menos uns 40 são relevantes.

domingo, 14 de setembro de 2008



O Seridó
e o chão & as águas de Currais Novos
em fotos de
Maria Elza Bezerra Cirne


BALAIO PORRETA 1986
n° 2425
Natal, 14 de setembro de 2008


Um poema
é o coração
a pulsar fora do corpo
(Ada LIMA, in Menina Gauche, 08//09/08)


ANOTAÇÕES DE HILDEBERTO BARBOSA FILHO
[ in O escritor e seus intervalos. João Pessoa, 2008 ]

Em alguns casos não se deve criticar o excesso. Sobretudo quando o excesso incorpora uma certa harmonia. (p.105)

A vida é uma experiência selvagem e não há extravagância que eu não tenha sonhado. (p.105)

Um simples verso pode carregar todos os desastres e todos os milagres! (p.116)

Se "cada palavra é uma obra poética", conforme pondera Jorge Luis Borges, quanto não há de poesia em palavras como neblina, alguidar, candelabro, alfazema... (p.116)

Escrever é uma maldição, afirma Clarice Lispector em um de seus registros de A descoberta do mundo. Às vezes também penso assim. Às vezes, no entanto, penso exatamente o contrário: escrever é a salvação! (p.122)


OS MELHORES FILMES DOS ANOS 60
Moacy Cirne
[ segundo indicações de A cinemateca imaginária ]

1. A aventura (Antonioni, 1960)
2. Persona (Bergman, 1966)
3. Ano passado em Marienbad (Resnais, 1961)
4. Crônica de Ana Madalena Bach (Straub & Huillet, 1967)
5. Eclipse (Antonioni, 1962)
6. Viver a vida (Godard, 1962)
7. 2001: uma odisséia no espaço (Kubrick, 1968)
8. Andrei Rublev (Tarkóvski, 1966)
9. Deus e o diabo na terra do sol (Glauber Rocha, 1964)
10. Madre Joana dos Anjos (Kawalerowicz, 1961)
11. O leopardo (Visconti, 1963)
12. Era uma vez no Oeste (Leone, 1968)
13. Oito e meio (Fellini, 1963)
14. Rocco e seus irmãos (Visconti, 1960)
15. Simão do Deserto (Buñuel, 1965)
16. Falstaff (Welles, 1966)
17. O evangelho segundo São Mateus (Pasolini, 1964)
18. Blow-up (Antonioni, 1966)
19. Terra em transe (Glauber Rocha, 1964)
20. Memórias do subdesenvolvimento (Alea, 1968)
21. Othon (Straub & Huillet, 1969)
22. Faces (Cassavetes, 1968)
23. La hora de los hornos (Solanas, 1968)
24. Jules et Jim (Truffaut, 1962)
25. O anjo exterminador (Buñuel, 1962)
26. O deserto vermelho (Antonioni, 1964)
27. Gertrud (Dreyer, 1964)
28. A grande testemunha (Bresson, 1966)
29. Pierrot le fou (Godard, 1965)
30. Vidas secas (Nelson Pereira dos Santos, 1963)
31. One plus one (Godard, 1968)
32. O homem que matou o facínora (Ford, 1962)
33. A noite (Antonioni, 1961)
34. O processo (Welles, 1962)
35. Vagas estrelas da Ursa (Visconti, 1963)
36. O desprezo (Godard, 1963)
37. Por alguns dólares a mais (Leone, 1965)
38. Três homens em conflito (Leone, 1966)
39. O silêncio (Bergman, 1963)
40. Dr. Fantástico (Kubrick, 1964)
41. O criado (Losey, 1963)
43. West side story (Wise & Robbins, 1961)
44. Porto das Caixas (Paulo César Saraceni, 1962)

Nota:
Seleção sujeita a revisões, chuvas, cajás e maracujás.
Nota2:
Resolvemos acrescentar seis filmes nos Melhores dos Anos 50.