quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Seja no Paraíso, seja no Inferno,
uma paixão é uma paixão é uma paixão:
para sempre eterna, eterna para sempre.

[ Foto : blogues tricolores ]


BALAIO PORRETA 1986
n° 2886
Rio, 31 de dezembro de 2009

segura.
ela vem com a força de trinta pesadelos.
(Mariana BOTELHO, in Suave Coisa)


36 GRANDES DIRETORES, 36 GRANDES FILMES
segundo a leitura - sempre provisória - de
Moacy Cirne

Antonioni : A aventura (1960)
Bergman : Persona (1966)
Bresson : O diário de um pároco de aldeia (1951)
Buñuel : Simão do Deserto (1965)
Cassavetes : Uma mulher sob influência (1974)
Dreyer : Dia de ira (1943)
Eisenstein : O encouraçado Potemkin (1925)
Flaherty : O homem de Aran (1934)
Ford : Rastros de ódio (1956)
Godard : Viver a vida (1962)
Hawks : Rio Bravo (1959)
Huston : O tesouro de Sierra Madre (1948)
Keaton : Sherlock Jr. (1924)
Kubrick : 2001: uma odisséia no espaço (1968)
Lang : M, o vampiro de Dusseldorf (1931)
Leone : Era uma vez no Oeste (1968)
Lynch : Veludo azul (1986)
Mizoguchi : Contos da lua vaga (1953)
Murnau : Aurora (1927)
Ozu : A rotina tem seu encanto (1962)
Pasolini : O evangelho segundo Mateus (1964)
Ray : Johnny Guitar (1954)
Ray [S.] : O salão de música (1958)
Renoir : Um dia no campo (1936)
Resnais : Ano passado em Marienbad (1961)
Rivette : A bela intrigante (1991)
Rocha, Glauber : Deus e o diabo na terra do sol (1964)
Rohmer : Conto de outuno (1998)
Rossellini : Santo Agostinho (1972)
Straub & Huillet : Crônica de Ana Madalena Bach (1967)
Tarkóvski : Nostalgia (1983)
Tarr : Danação (1988)
Tati : As férias do Sr. Hulot (1953)
Vertov : O homem da câmera (1929)
Visconti : O leopardo (1963)
Welles : Cidadão Kane (1941)

Mais 18 diretores que merecem ser lembrados: Akerman, Andrade (Joaquim Pedro de), Bertolucci, Carné, Chaplin, Coppola, Dovjenko, Fellini, Fuller, Hitchcock, Huo, Kurosawa, Pudóvkin, Scorsese, Sokúrov, Wajda, Wenders e Wilder.


OS LÁBIOS CORTADOS
Samih Al Qassim
[ in Poesia palestina de combate ]

Eu poderia ter contado
a história do rouxinol assassinado
Poderia ter contado
a história...
se não me tivessem cortado os lábios.


ÍMPAR
Líria Porto
[ in Putas Resolutas ]

ideal é sermos três
o muso o amante e eu

um para sofrer sonhar e gerar versos
outro para dar-me mutíssimo prazer

como diz o amigo carlos roberto
a felicidade é burra


BALADA PRA REVOLUÇÃO
Nina Rizzi
[ in Ellenismos ]

minha revolução não tem
cravo, guerrilha, sovietes.

minha sierra maestra
é uma ponte poética
entre o meu e o teu olhar.

(arcos da lapa)


ODE PARA MEUS OLHOS
Assis Freitas
[ in Mil e Um Poemas ]

Às vezes uma chuva fina molha a minha alma
Embala de lágrimas este peito tonto e febril
Que guarda o adeus e o visgo do teu espanto


VENENO FEMININO
Barão de Itararé
[ in Almanhaque para 1955 ]

Uma atriz de rádio felicitou vivamente a atriz Ilka Chase pelo seu livro Past imperfect.

- Gostei muito, adorei mesmo essa obra; disse a atriz. E, em seguida, confidencialmente, perguntou: - Quem foi mesmo quem o escreveu para você?

- Ah! meu bem, como estou contente por você ter gostado de meu livro! Que imenso prazer você me dá! - respondeu a escritora. E, em voz baixa, com muita doçura na voz, indagou: - E quem foi mesmo quem o leu para você?



POEMA de
Chico Doido de Caicó

Tenho um segredo pra contar:
Muita gente pensa que eu comi
Maria Antonieta Pons,
A devassa do Cinema Pax,
Na Festa de Santana do ano passado.
Não é verdade:
Champrar mesmo pra valer
Eu champrei a pretinha Jurema
Em noites de muitas águas
Em águas de muitos sonhos
E em sonhos de muitas sombras
Às margens do Seridó, rio e mar
Do sertão do meu Caicó.
Arre, me lembrei agora.
Sesyom era poeta dos bons
Peidava como ninguém (1)
Lá pra bandas de Açu
Seu traque era tão forte
Que se escutava em Jaquerucu (2).
O ano passado eu morri
Mas esse ano eu não morro (3)
Nem que Zé Limeira me faça
Plagiá-lo como um zé-ninguém.
Tenho um segredo pra contar
Mas esse ano eu não conto.


Notas:
(1) Referência a uma das glosas mais famosas de Moysés Sesyom.
(2) Possível referência à cidade de Jucurutu, entre Caicó e Açu.
(3) Apropriação de conhecidos versos do poeta popular Zé Limeira.



POEMA de
Mariano Coelho (1899-1985),
a partir de conhecido tema
[ in Uns fesceninos, de Oswaldo Lamartine de Faria, org. ]

Mote:
Botar o por onde mijo
no por onde vós mijais.

Glosa:
Perdão, se o pudor alijo:
Eu vos peço, consintais,
Botar o por onde mijo
No por onde vós mijais.

Esta petição redijo,
Sem instintos bestiais!
Botar o por onde mijo
No por onde vós mijais.

É natural, não me aflijo;
Também não vos aflijais,
Se boto o por onde mijo
No por onde vós mijais.

Meus feios modos corrijo;
Porque, pois, me censurais
Se boto o por onde mijo
No por onde vós mijais.


Memória
PARA COMPREENDER O BRASIL: OS LIVROS CAPITAIS
segundo 24 professores da Comunicação da UFF
[ in Balaio, n° 95, de 23 de junho de 1988 ]

1. Casa grande & senzala (GIlberto Freyre, 1933)
2. Grande sertão: veredas (Guimarães Rosa, 1956)
3. Os sertões (Euclides da Cunha, 1902)
e Macunaíma (Mário de Andrade, 1928)
5. Memórias póstumas de Brás Cubas (Machado de Assis, 1880)
6. Raízes do Brasil (Sérgio Buarque de Holanda, 1936)
7. Vidas secas (Graciliano Ramos, 1938)
8. Pequena história da formação social brasileira
(Manoel Maurício de Albuquerque, 1981)
e Recordações do escrivão Isaías Caminha (Lima Barreto, 1909)
10. Formação do Brasil contemporâneo (Caio Prado Jr., 1942)



E QUE 2010
SEJA UM ANO ILUMINADO
PARA TODOS NÓS

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Cântico
Valentim
(Angola)


AD INITIUM
Namibiano Ferreira
[in Ondjira Sul ]

O vento soprava pelo simples prazer de soprar...

.............................................................................

Era no tempo em que não tinhamos tribo.
Andávamos na nudez aurora do tempo
recolhendo bagas doces de vento e rocio
caçando e pescando o pão nosso quotidiano
no espreguiçar matinal de cada dia de sol
partilhando os bens e os alimentos e nada era meu
porque essa foi a última palavra a ser inventada.

Era o tempo em que dávamos o nome primeiro
a todas as coisas e cada nome era um poema maduro
de símbolos e perfumado de metáforas luzidias.
Era, na verdade, o tempo sem os fardos preocupados
das filogéneses e ontogéneses, sem conceitos e preconceitos.
Era o tempo em que andávamos nus pintando
símbolos e riscando gravuras sobre as paredes
pedra útero das cavernas pelo mágico prazer de criar
sem estéticas e as frias racionalidades
simplesmente pintar riscar poetar e nada mais...


BALAIO PORRETA 1986
n° 2885
Rio, 30 de dezembro de 2009

Por mais raro que seja um verdadeiro amor, é ainda muito mais rara a verdeira amizade.
(La ROCHEFOUCAULD. Reflexões e máximas morais, 1664)


POEMA
Romério Rômulo
[ in Matéria bruta, 2006 ]

as putas ferem a noite com um olhar de luz.
vermelhos, sabem quando a cama resvalada
pode ser vista dos ângulos.
sabem-se frutas tão nascidas quando
ressecadas
e a prenhez de suas valas cabem, de mãos,
toda a terra.
o homem furtivo lhes deriva a noite
como canto, quando o estalar da terra
fala, um novelo contém o corpo.
há que tocar o novelo, feri-lo e resguardar
seus montes.
(íntima, sua luz refrega a substância.)

A MULHER DISTANTE
Lourenço Medeiros
[ Rio de Janeiro, 2009 ]

A mulher distante
sabe das coisas:
sabe das falésias
sabe das auroras
sabe das maresias
sabe das distâncias

A mulher distante
sabe esperar:
pela língua
pelo olhar
pela viagem
pelo arco-íris

A mulher distante
sabe de tudo:
dos signos
dos mares
dos ventos
das chuvas

A mulher distante
sabe

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Jovem prisioneira palestina
tem permissão para se reunir com a família
em data comemorativa.
Apesar do horror da guerra,
é visível o seu semblante de felicidade.

[ Foto de David Silverman / Getty Images ]


BALAIO PORRETA 1986
n° 2884
Rio, 29 de dezembro de 2009

O mundo podia ser feliz - enquanto amanhece.
(Fernando MONTEIRO, in Vi uma foto de Anna Akhmátova)


Brasil
FOLHA PORRETA 2009

Acontecência
Torcidas do Fluminense e do Vasco (RJ)
Artes

Arthur Omar (RJ)
Blogue
Histórias brasileiras (RJ), de Luiz Antonio Simas
Cinema
Cidadão Boilesen (SP), de Chaim Litewski
Disco
K-Ximbinho - Duetos (RN), de Paulo Moura & outros
Espaço Cultural
Centro Cultural Banco do Brasil (RJ)
Futebol
Corínthians (SP) e Flamengo (RJ), pelos títulos nacionais
Imprensa
Caros Amigos (SP)
Jornalismo eletrônico
Carta Maior (SP)
Literatura
Novas cartas dos sertões do Seridó (RN), de Paulo Bezerra
Poesia
Eu vi uma foto de Anna Akhmátova (PE), de Fernando Monteiro
Quadrinhos
O corvo em quadrinhos (SP/MG), de Luciano Irrthum
Sítio
Rascunho (PR), revista eletrônica literária
Televisão
[ xxx ]
Vídeo
Afetos (RJ), de Luiz Rosemberg Filho



Memória
FOLHA PORRETA 2008

Acontecência
Torcida tricolor (RJ), nos jogos da Libertadores
Artes

Regina Pouchain & Wlademir Dias pino (RJ)
Blogue
Improvisações (RS), de Milton Ribeiro
Cinema
Serras da desordem (SP), de André Tonacci
Disco
Banda Sinfônica (RN),
com Leo Gandelman, Dominguinhos & outros
Espaço Cultural
Sala Cecília Meireles (RJ)
Futebol
Internacional (RS), pelo título da Sul-Americana
Imprensa
Carta Capital (SP)
Jornalismo eletrônico
Via Política (RS)
Literatura
Além do nome (RN), de Marize Castro
Poesia
Thálassa (RN), de Francisco Ivan
Quadrinhos
Chibata! (CE), de Hemetério & Olinto Gadelha
Sítio
Substantivo Plural (RN)
Televisão
Pontapé inicial (SP), com José Trajano
Vídeo
Diário de uma prostituta (RJ), de Marcelo Ikeda

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Poemacolagem
de
LUIZ ROSEMBERG FILHO
(Rio)


BALAIO PORRETA 1986
n° 2883
Rio, 28 de dezembro de 2009

O artista, em 90% dos casos, é um mosca morta, dado à corrupção de virgens, assim chamadas. O patriota é um fanático e, muito frequentemente, um farsante e um covarde. O homem de grande bravura física, no máximo, empata intelectualmente com um pastor protestante.
(H.L. MENCKEN, in O homem perfeito, 1923,
cf. O livro dos insultos, trad. bras. 1988)


HORÓSCOPO DA SEMANA

Áries
Conheça Paraty (RJ). Conheça Papary (RN).
Doe 13 livros para uma biblioteca comunitária.
Banhe-se no luar de Tabatinga, no Rio Grande do Norte.
Descubra o poemacolagem de Luiz Rosemberg Filho.

Touro
Em Natal, frequente o Beco da Lama e o Sebo Vermelho.
No Rio, os butecos do Centro e da Tijuca. E de Vila Isabel.
Em Recife, a poesia de Carlos Pena Filho. E de Bandeira.
Em Caicó, o Bar de Ferreirinha e o Açude Itans.

Gêmeos
Delicie-se com mangas manhosas que se fazem pecado.
Consulte o horóscopo asteca: ventos e ventanias.
Releia O estrangeiro (Camus). E a poesia de Lorca.
Masturbe-se com o pensamento voltado para o ser amado.

Câncer
Cheire as palavras quiquiriquinha, graviola e califon.
Reveja Depois do vendaval (John Ford). E Meu tio (Tati)
Mergulhe nu(a) no Poço das Águas Cantantes.
Que tal passar a semana ouvindo Haydn, Brahms e Mozart?

Leão
Para beber: vinho tinto seco. E uma boa lapada de Samanaú.
Para ler: contos de Graciliano, Machado, Clarice, Rosa.
Para ouvir: Vésperas da Virgem (Monteverdi).
Para visitar: Fortaleza, Natal, João Pessoa, Olinda.

Virgem
Procure ler o folheto Viagem a São Saruê (Manoel Camilo).
Dê uma boa gaitada lendo a poesia de Zé Limeira.
Ouça uma boa ópera, a partir das dicas de Jairo Lima.
Perambule, ao quebrar da barra, pelas ruas de Natal.

Libra
Passe uma tarde molhando a palavra com Abimael Silva.
Visite o Substantivo Plural. E as Putas Resolutas.
Faça algo estranho: viaje para os anéis de Saturno.
Um sonho, um devaneio, um delírio: Little Nemo, hq de McCay.

Escorpião
Uma boa leitura? Os clássicos. Sempre e sempre.
Bons filmes? Os de Visconti. Ou os de Howard Hawks.
Consulte o horóscopo maia: não seja uma pessoa ciumenta.

Escreva cartas de amor. Ridículas, preferencialmente.


Sagitário
Em São Paulo, mergulhe nas águas de Ubatuba.
Em Porto Alegre, procure conhecer Jens. E Milton Ribeiro.
Se colorado, vibre com o seu Internacional.
Ouça Bach. Ouça Beethoven. Ouça Brahms. Ouça Bártok.


Capricórnio
Faça amor: olhos nos olhos da pessoa amada.
No Rio, procure caminhar no Aterro do Flamengo.
Viaje num pavão misterioso para a Grécia Clássica.

Leia Paulo Balá: Novas cartas dos sertões do Seridó.

Aquário
Experimente viver a vida com emoção. E paixão.
Sonhe com chocolates. E boas peças de teatro.
"Tudo vale a pena, se alma não é pequena" (Pessoa).
Um livro para ler: Cenas brasileiras (Marcos Silva & Bené Chaves).

Peixes
Consulte o horóscopo chinês: seja um cabra da peste.
Alimente-se de mangas manhosas e morangos silvestres.
Nade contra a correnteza, volte ao tempo dos templos.
Um livro, um sonho: O homem ilustrado (Ray Bradbury).


Serpente
Seja capaz de enfrentar chuvas e trovoadas.
Evite O Globo, a Veja, a Folha e José Agripino Maia.
Mergulhe no Poço da Bonita, em São José do Seridó.
Para ouvir e sonhar: A love supreme (John Coltrane)
.

domingo, 27 de dezembro de 2009

OBRAS-PRIMAS DO CINEMA
Clique na imagem
para verouvir os 11 minutos iniciais de
India song
(Marguerite Duras, 1975)
O que fazer com uma paixão hipnoticamente atormentada, sem arroubos formais, mas sedutores em sua frieza narrativa? Seu fio temático nos remete sentimentalmente para a Calcutá de 1937, com Delphine Seyrig vivendo o papel da esposa de um diplomata francês como se estivesse construindo e desconstruindo um mundo de sonhos e surpresas amorosas. A trilha musical de Carlos d'Alessio é docemente inesquecível. Para muitos, o melhor filme de Marguerite Duras. Uma informação complementar: toda a banda sonora (diálogos, música, ruídos etc.) de India Song foi aproveitada em Seu nome de Veneza em Calcutá deserta (1976).


BALAIO PORRETA 1986
n° 2882
Rio, 27 de dezembro de 2009

Quem sou você
que me responde
do outro lado de mim?
(Armando FREITAS Filho, in Mr. Interlúdio,
cf. À mão livre, 1979)


Cinema
O QUE DE MELHOR VIMOS EM 2009

Nos cinemas & centros culturais:

1. India song *** (Duras, 1975)
2. O anticristo ** (Von Trier, 2009)
3. Entre os muros da escola ** (Cantet, 2008)
4. Gran Torino ** (Eastwood, 2008)
5. Drácula: páginas do diário de uma virgem **
(Maddin, 2002)
6. Cidadão Boilesen ** (Chaim Litewski, 2009)
7. Two lovers / Amantes * (Gray, 2009)
8. Foi apenas um sonho * (Mendes, 2008)

Em casa:

1. O homem de Londres *** (Tarr, 2007)
2. A mãe e a puta *** (Eustache, 1973)
3. Antígona *** (Straub & Huillet, 1991)
4. Sócrates *** (Rossellini, 1970)
5. Blaise Pascal *** (Rossellini, 1971)
6. A rotina tem seu encanto *** (Ozu, 1962)
7. O diabo, provavelmente *** (Bresson, 1977)
8. O Messias *** (Rossellini, 1976)
9. Quando explode a violência *** (Leone, 1972)
10. As estranhas coisas de Paris ** (Renoir, 1956)
11. Anno Uno ** (Rossellini, 1974)
12. Requiem para um lutador ** (Nelson, 1962)

Nossas cotações:

*** Excelente
** Ótimo
* Especialmente bom


ATUALIZAÇÃO DO QUADRO DE DIRETORES
considerando, respectivamente, o número de
filmes excelentes, ótimos e especialmente bons
segundo a minha avaliação crítico-esporrenta

[10] [03] [02] ANTONIONI
[O9] [08] [11] GODARD
[09] [04] [01] WELLES
[08] [03] [05] RENOIR
[07] [03] [01] BRESSON
[07] [03] [01] ROSSELLINI
[07] [02] [02] FORD
[06] [04] [01] ROHMER
[06] [03] [03] VISCONTI
[06] [03] [01] KUBRICK
[06] [02] [04] BERGMAN

[05] [06] [02] BUÑUEL
[05] [03] [01] STRAUB & HUILLET
[05] [02] [01] CASSAVETES
[05] [02] [01] KEATON
[05] [01] [01] MIZOGUCHI

sábado, 26 de dezembro de 2009

Rio, crepusculando:
Ipanema, Leblon, Dois Irmãos
[ Foto: Marcus Moura ]

( Nota: em janeiro retomaremos
Um filme é um filme é um filme )


BALAIO PORRETA 1986
n° 2881
Rio, 26 de dezembro de 2009


Toda época deve reinventar
seu próprio projeto de "espiritualidade".
(Susan SONTAG. A vontade radical, 1966-69)


ESCAFANDRO
Dalila Teles Veras
[ in À janela dos dias. SP, 2002 ]

Que ligações cósmicas
são estas
a fundir-me assim
a fazer-me água?
: despreparada escafandrista

Que mar é este
a fazer-me peixe
a fazer-me alga?
: coral em bruto
à mercê do joalheiro


Fragmentos dos
CADERNOS
(1894-1945)
Paul Valéry
[ Trad. Augusto de Campos, 1984 ]

Meu fácil me enfada. Meu difícil me guia.

O que eu sei fazer me entedia;
o que eu não sei fazer me entristece.

O que é difícil é sempre novo.

A obra de arte me dá ideias,
ensinamentos, não prazer.

Quase todos os livros que eu estimo
e absolutamente todos os que me serviram
para qualquer coisa são difíceis de ler.

Nos livros, como nos pratos,
só gosto do que é magro.

... são as minhas imposibilidades
que me excitam.

Nada de repetições:
construir para se destruir.

Prefiro ser lido muitas vezes
por um só do que uma só vez
por muitos.

O que há de mais fecundo para
o pensamento que o imprevisto?


BECO DA LAMA
(em Natal)
Maria Maria
[ in Espartilho de Eme ]

O beco estreito
da velha cidade
guardou os deleites
dos grandes amantes.

O beco estreito
da velha cidade
guardou uma pedra
de diamantes.

O beco estreito
da velha cidade
guardou as memórias
dos navegantes.

O beco estreito
da velha cidade
beco da troca,
beco da trama.

O beco estreito
da velha cidade
foi beco da dama,
o Beco da Lama.


DOZE PERSPECTIVAS
Marcelo Novaes
[ in Prosas Poéticas ]

Possível não será mergulhar em mim. Ou traduzir-me. Se repudias o meu sonho, perdes aquela minha maior parte: a ponte entre a Vida e o corpo, agora inerte. Não tire ainda o tubo: cateter. Se possível, não ranja os dentes, para que ouças mais de mim sem teu próprio ruído. Se te assustas com a mistura de pronomes e verbos, ouça e ouças mais de mim, que nada custa. São necessárias doze perspectivas: intensa e cerebral, eis a primeira. Não as dissocie, pois que em mim o cérebro é que dança a dança primordial. Primordial dança? Procure-a no sol dos dias frios. Calma e não-tolhida, eis a segunda. Perspectiva da alma, que abandona o corpo sabendo bem feita a lida. Doce labuta, gentil proeza. As flores cabem todas nesse jarro; as penas, nesses olhos. E as horas se derramam sobre o solo. Não pense em mim através das simples cenas [balas de chumbo ou festim]: são heterônimos. Eis a terceira forma de encontrar-me: deixando as sombras de fora. A quarta é simplesmente aninhar-se, sonhando comigo em concha. Esqueça o barulho da serra tentando cortar a fina liga: nosso amor de est(r)anho(s). Sim: o silêncio é a quinta maneira de desvelar-me e alçar-me do branco. Pinte o semblante de meu contorno, sem idade. Junte tudo, desde trás até a morte. Assim, a sexta forma de conceber-me: nimbado em meigo amor-de-mármore. Sabendo de mim a metade, desista. E eis que enfim, a sétima forma de ver-me (sem-fôrma) se desvelará à vista. [Gentil donzela, prestes a cair da cadeira]. Do chão tudo se vê melhor: horizontal & oitava maneira. A nona se dá após fechar os olhos, em posição fetal. Para maior conforto, nunca por desilusão. [De forma lenta e branda voa melhor a branca nau]. E a vida das plantas e troncos, sem mim, não desanca. Esqueça, então, o lenço de despedida. Rasgue-o, despeça-o. Descanse-o ao chão. A décima forma de sondar-me se resume a deixar para trás o Adeus. Suportar o Claro Breu no Cósmico Vão, cada Eu-Todo em suas Partes [ou Nenhuma] é forma melhor de Encontrar-me: décima primeira. E que não ajas como dama ou mulher destronada. Lembra-te dos Apóstolos: eram Doze. Judas caiu. Matias em seu lugar foi posto. Tudo se move, do Sem-Fim ao Princípio : até a lágrima em teu rosto.


Lembranças afetivas
Em um bar em Natal, na noite de 23/12/09
Em pé: o primo Joamir Medeiros
Sentados, da esquerda para a direita:
Medeirinho (irmão de Joamir), este vosso blogueiro
e o irmão Milton Cirne

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Av. Atlântica, Copacabana, Rio, em 1923
[ Foto in Café História ]


BALAIO PORRETA 1986
n° 2880
Rio, 25 de dezembro de 2009


Aprender uma cidade é, na verdade, uma coisa lenta. É preciso, entretanto, saber algumas coisas, e precisamos andar distraídos, bem distraídos, para reparar essas coisas.
(Rubem BRAGA, in Falta um pinheiro na Avenida Atlântica, 1949)


O AMOR
Safo (de Lesbos)
[ in Poesia grega e latina,
trad. Péricles Eugênio da Silva e Ramos, 1964 ]

O amor agita meu espírito
como se fosse um vendaval
a desabar sobre os carvalhos.


A LUA JÁ SE PÔS
Safo (de Lesbos)
[ in Poesia grega e latina, obra citada ]

A lua já se pôs,
as Plêiades também:
meia-noite; foge o tempo,
e estou deitada sozinha.


AGORA COMO SEMPRE
Baquílides
[ in Poesia grega e latina, obra citada ]

Agora, como sempre,
com outro é que se obtém perícia:
pois não é fácil alcançar
a porta das palavras nunca ditas.


VIVAMOS, MINHA LÉSBIA
Catulo
[ in Poesia grega e latina, obra citada ]

Vamos viver e amar-nos, minha Lésbia,
sem atribuir o mínimo valor
aos murmúrios de anciães os mais severos.
Os sóis podem morrer e retornar;
mas quando morre a nossa breve luz
dormimos uma só e perpétua noite.
Dá-me pois beijos mil, mais cem depois,
logo mil outros, e um segundo cento,
em seguida outros mil, mais cem depois.
Quando o número andar por muitos mil,
melhor é não saber, perder a conta:
assim ninguém nos dará azar, de inveja,
sabendo quantos beijos nos trocamos.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Cristo negro
[ autoria não-identificada ]


BALAIO PORRETA 1986
n° 2879
Natal, 24 de dezembro de 2009

Mais algumas dicas de presentes:
Uma aurora renascentista
Uma viagem à Pasárgada
Um mergulho nos crepúsculos do Potengi
Um sonho grávido de chocolates
Um olhar marcado pela ternura e pela poesia
Uma máquina de filmar surpresas
Uma estrela do céu de São Saruê
Opções possíveis:
O estrangeiro (Camus)
Sonatas (Scarlatti)
Ficções (Borges)
K-Ximbinho - Duetos (Paulo Moura)
Diário íntimo da palavra (Nei Leandro de Castro)


LITERATURA POTIGUAR 2009

O ano que ora termina foi especialmente bom para a literatura do Rio Grande do Norte. Por ordem alfabética, destacamos os seguintes títulos:

Augusto dos Anjos dos anjos e dos deuses (Francisco Ivan)
Bele époque na esquina (Tarcísio Gurgel)
Cenas brasileiras (Marcos Silva & Bené Chaves, orgs.)
Fala proibida do povo, A (Geraldo Queiroz), reedição
Fortaleza dos vencidos, A (Nei Leandro de Castro)
Jorge Fernandes, o viajante do tempo modernista
(Maria Lúcia de Amorim Garcia)
Lábios-espelho (Marize Castro)
Novas cartas dos sertões do Seridó (Paulo Bezerra)
Remanso da Piracema (François Silvestre)
Resina (Diva Cunha)
Simples filosofia (Pablo Capistrano)
Talhe rupestre (Paulo de Tarso Corrêa de Melo)



POEMA DE NATAL
Carlos Pena Filho
[ in Livro geral, 1959 ]

- Sino, claro sino, tocas para quem?
- Para o Deus menino que de longe vem.

- Pois se o encontrares, traze-o ao meu amor.
- E o que lhe ofereces, velho pecador?

- Minha fé cansada, meu vinho, meu pão,
Meu silêncio limpo, minha solidão.


VOCABULÁRIO POTIGUAR DOS ANOS 30 (1)
[ in Geringonça do Nordeste,
cf. A fala proibida do povo ]

Abacular : Adular
Abancar-se : Sentar-se
Aboletar-se : Hospedar-se
Aboticado : Esbugalhado
Abusado : Impertinente
Acatitar os olhos : Arregalar os olhos
Acatruzar : Apoquentar
Afetado : Tuberculoso
Afobado : Precipitado
Alesado : Abobalhado
Amarrar o bode : Amuar-se
Amocambado : Escondido
Amunhecar : Esmorecer e cair
Apaideguado : Agigantado
Aparar os peidos : Bajular
Apragatar : Achatar
Arrasta-pé : Dança
Arrochar : Apertar muito
Arrumação : Coisa complicada
Arte : Travessura


DO QUE PASSOU
Lara de Lemos
[ in Dividendos do tempo.
Porto Alegre, 1995 ]

Não me tragam memórias
de velhos tempos idos.

Deixem-me a sós comigo.

Cada poema tem o seu motivo,
cada gota de vinho tem seu travo
que não se repete noutro copo.

É preciso degustá-lo
sem agravos
e esquecer o que não foi bebido.


ESTAÇÕES
Antonio Carlos de Brito / Cacaso
[ in Beijo na boca. Rio, 1975 ]

Do corpo de meu amor
exala um cheiro bem forte.

Será a primavera nascendo?



À LUTA, À LUTA
Moacy Cirne (RN/RJ, 1980)
[ Republicado in Balaio, n° 158, de 23/05/1989 ]

à luta, à luta,
companheiro,
que a hora é de lutar e sonhar,
de sonhar e lutar.

à luta, à luta,
doce amiga,
que a hora é de lutar e amar,
de amar e lutar.

à luta, à luta,
trabalhador,
que a hora é de lutar e avançar,
de avançar e lutar.

à luta, à luta,
caro poeta,
que a hora é de
que a hora é de
que a hora é de construir
e trans/formar.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009


Imagem:
Pascal Renoux


BALAIO PORRETA 1986
n° 2878
Natal, 23 de dezembro de 2009

Você pode levá-lo [o livro] para sua banheira sem ter medo de morrer eletrocutado; pode ler numa ilha deserta, enquanto o pobre Robinson Crusoé não saberia o que fazer com as baterias descarregadas de um e-book. Este livro em papel sobrevive mesmo que o deixemos cair do 5º andar de um prédio, mas tente fazer o mesmo com um livro eletrônico.
(Umberto ECO, via Bar Papo Furado)


POEMA de
CHICO DOIDO DE CAICÓ

Enfrento onça
Enfrento jacaré
Porque sou caralhudo pra caralho.
Encaro bunda
De qualquer mulher
Porque sou caralhudo pra caralho.
Sou de paz, sou de papo
Seja aqui, seja em Sapé
Porque sou caralhudo pra caralho.
E também já broxei
Comendo uma dona em pé
Porque sou caralhudo pra caralho.


DEZ MIL-SÓIS, ALHURES QUALQUER
Nina Rizzi
[ in Ellenismos ]

pela ânsia do velho me curvei
a ouvir as falésias amareladas:

choravam, açoitadas, sua finitude.

o arenito era um homem, hálito de
pedras que me existem.

caminhá-lo, nos fez eternos.


MÚLTIPLOS CAIS
Lou Vilela
[ in Nudez Poética ]

Soube-te,
desde o primeiro olhar, oceano:
alumbramento,
perdição.

Sim, soube-te!
boca, tato, narinas,
múltiplos cais.

Duo, ouvidos,
referência em signos.
Lunáticos sentidos,
mananciais.

Eu, bicho do asfalto,
quedei-me, esquisito,
entre flores e atos,

estrelas, afins.
Refiz o caminho,
anagramas per versos,
aceso estopim.


DECL/AR/AÇÃO
Moacy Cirne
[ in Balaio, em 1992 ]

Declaro,
para os devidos fins,
que
este
poema
contém apenas
algumas palavras cansadas
um crepúsculo doidão
e várias bucetas prateadas


Repeteco
UMA PEQUENA HISTÓRIA CASCUDIANA

Cascudo é convidado por um amigo, velho mestre de fandango, para assistir a um ensaio [em Natal]. Estão compostas as duas alas de marujos e, ao som de instrumentos de cordas, marinheiros e oficiais começam a cantar:

- Nas ôndias do mar...

- Pára, pára! - ordena o mestre. - Respeitem o professor Cascudo. Eu já disse mais de mil vezes que a palavra não é ôndias. A palavra certa é ôndegas!

[ cf. Câmara Cascudo, um brasileiro feliz,
de Diógenes da Cunha Lima ]


FEIRA DE CITAÇÕES ESPORRENTAS
[ in O livro dos insultos de H.L Mencken,
editado pela Companhia das Letras, de São Paulo ]


|| Digam o que quiserem sobre os Dez Mandamentos, devemos nos dar por felizes por eles não passarem de dez.

|| Mostre-me um puritano e eu lhe mostrarei um filho da puta.

|| O principal conhecimento que se adquire lendo livros é o de que poucos livros merecem ser lidos.

|| O adultério é a democracia aplicada ao amor.

|| Imoralidade é a moralidade daqueles
que se divertem mais do que nós.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Foto:
Dale Jordan


BALAIO PORRETA 1986
n° 2877
Natal, 22 de dezembro de 2005

As fotos de Canindé Soares não enganam: o desfile Estrela de Natal, promovido pela cafonice-mor chamada Micarla de Sousa, não passa de um aparato carnavalesco de quinta categoria. Aconteceu, portanto, o que se temia: carnavalizaram o Natal em Natal.
(Moacy Cirne, 2009)


OLHARES
Maria Maria
[ in Espartilho de Eme ]

Meus livros
veem o retrato do tempo:
as nuvens em crisálida,
as asas se multiplicando,
o vôo dos sentidos.

Meus livros
olham a janela
e se embriagam
de poeira e luz.


FEIRAS DE CITAÇÕES ESPORRENTAS

A arte é a mais bela das mentiras.
(Claude Debussy)

O importante na obra de arte é o espanto.
(Charles Baudelaire)

Eu não procuro. Eu encontro.
(Pablo Picasso)

A arte existe para perturbar. A ciência tranquiliza.
(Georges Braque)

A música é um ruído que pensa.
(Victor Hugo)

Um quadro que não choca não vale nada.
(Marcel Duchamp)

Uma rua de Paris é um rio que vem da Grécia.
(Gilberto Amado)

A pintura é uma poesia muda
e a poesia é uma pintura cega.
(Leonardo Da Vinci)


PRESSA
Líria Porto
[ in Tanto Mar ]

desce a ladeira
faz zigue-zague
tropeça nas pedras
mergulha no abismo
tem sede de mar
de sereia
de sal

ô rio moleque
sem breque
nem olha
pra trás


MAIS VOCABULÁRIO SERIDOENSE
[ Fonte: Palavreado cá de nós,
de Max Antonio Azevedo de Medeiros ]

Abestado : Desatinado; Bobo
Abudegado : Afobado; Nervoso
Acatruzar : Aborrecer; Importunar
Boi : Menstruação
Cubá : Observar; Avaliar

Cu-de burro : Encrenca; Confusão
Cu-de-cana : Bêbado; Cachaceiro
Embuaceiro : Briguento
Embuchar : Engravidar
Empiriquitado : Enfeitado; Elegante
Enrabichado : Apaixonado; Enamorado
Entupigaitar : Atrapalhar-se; Desorientar-se
Estrupício : Coisa esquisita; Coisa complicada
Farinheiro : Ânus
Foba : Ânus
Fresco : Homossexual
Frucudo : Folgado; Divertido
Fuanga : Prostituta
Furunfar : Manter relações sexuais
Impofento : Antipático
Lambisgóia : Indivíduo magro
Mangar : Caçoar; Zombar
Marafaia : Prostituta
Papudinho : Cachaceiro
Pei-bufo : De imediato; Nesse momento
Perseguida : Vagina
Porta-jóia : Vagina
Prativai : Pênis
Trozoba : Pênis
Truviscado : Embriagado
Vuco-vuco : Loja que vende quinquilharias
Xirimbaba : Adulador; Puxa-saco
Xiringar : Dar uma esguichada; Jogar um jato d'água
Zurupenga : Sonolento; Embriagado; Adoidado

Nota:
Algumas dessas expressões são
usadas em todo o Rio Grande do Norte,
ou mesmo em Estados vizinhos.



Repeteco
BALAIO INCOMUN
Folha Porreta
VII / n° 493
Rio, 1 jun 1993


O DIÁRIO SECRETO DE LAMPIÃO
(Fonte inicial: Papa-Figo, de Recífilis)

Baixa-da-Égua (24/6/24)
Querido diarim. Hoje tô tão arretado que capei cinco e arranquei as pregas de mais oito cabras que soltaram uma indecênça pra Maria Bunita. A culpa também foi dela, pra que eu fui deixar a danada passar o carnaval em Olinda? A criatura voltou cheia de ideias, capaz inté de ter fumado maconha por lá. Ainda por cima agora tá achando que tá prenha. Se o minino sair galego eu sangro Corisco. Ou será que ele pensa que num tô notando o jeito que ele vive cubando as entrecoxas de Maria Bunita quando ela tá de cócas. Também ela precisa acabar com essa mania besta de não usar calçolas, parece inté que a sua priquita num tem dono. Tem, sim senhor.

Oiti-da-Mãe-Joana (24/8/24)
Querido diarim. Esse negócio de eu só escrevinhá no dia 24 é coincidênça, viu, que eu sou muito do macho. Hoje tô de novo arretado, com vontade de arengar com o primeiro fidaputa que aparecer na minha frente. Corisco tá com jeito de quem tá querendo enfeitar minha testa, mas antes disso eu como os ovos dele com queijo e cuscuz. Aquele galego da pustema num tira o olho da minha nega. Só porque a mulher dele é Dadá ele pensa que toda mulher é só olhar que ela dá dá. Derna que disseram que ele vai aparecer num filme de um tal de Glauber Rocha que Corisco só tá querendo ser o coisa e tal, tombém com aquele cabelão de frango que ele usa tinha que terminar dando pra artista, viado ou professor da UFF. Vai acabar metido em grevença.

Pau-dos-Ferros-da-Gota-Serena (23/2/25)
Querido diarim. Andando por esse mundão de Deus e do meu Padim Ciço, dá pra perceber, o Brazil tá fudido. Tanta riqueza, tanta miséria e tanto cabra safado sem macheza nenhuma. Será que foi tudo capado? Não sô profeta, mas um dia, lá pelas horizontanças de 89, 91, 93, sei lá quando, machos e fêmeas que ensinam o abecê da filosomia e que trabalham pru guverno federal ainda vão pegá nas armas do saber e abalá o paiz. Maria Bunita e o cabra Leontino concordam comigo. Então, o sertão vai virá mar, o mar vai virá sertão.

Arre-Égua-do-Norte (25/3/25)
Querido Diarim. Hoje dei um trompaço num cabra que se meteu a besta com Maria Bunita. Depois mandei Jararaca arrombar o fi-o-fó lá dele e cortar a macheza do dito cujo. Eu num danço conforme a musga, danço conforme o contravento. Num sô homem pra perder tempo com miolo de quartinha. Por isso mesmo Corisco nunca mais olhou pras pernas da minha bixinha. Quem pode carrega e sai, quem num pode carrega e cai. Quem tem Maria Bunita, tem cheiro e cafuné.

Canapi-da-Bosta-de-Jumento (13/7/25)
Querido diarim. Bem que ocê poderia ser um Diadorim, se bem que Maria Bunita já é a neblina dos meus encantalamentos. Mas um dia um escrevinhador retado de luas e marés ainda vai diadorinhá a vida do grande sertão pra que os outros e muitos outros possam lê e aprendê. Num sei se estarei vivo pra ver tudo isso escrito e bem escrito. Mas, num é nada, num é nada, esteja onde estiver, aqui, acolá, além, darei meu sorriso de sartisfação. Afinal, bangalafumenga nenhum, mesmo no Inferno, vai me impedir de continuar macho. A macacada que se cuide. Sei que desgraça pouca é bobagem, mas nos futuros um tal de Fernandim das Alagoas vai querer desgraçar a vida do paiz. É uma pena, já estarei morto, senão cozinhava em azeite de dendê as partes roxas lá dele. Os cabras iam adorar.

[ Texto estabelecido pelo Prof. Jomard Martins Marconi da Costa ]