sábado, 30 de junho de 2007


Foto: Marcio Machado
[ in Engenhão ]

Vença o Fluminense, vença o Botafogo,
ao que tudo indica teremos hoje,
inaugurando o belo Engenhão,
uma festa inesquecível:
marcarei presença,
naturalmente.



BALAIO PORRETA 1986
nº 2049
Rio, 30 de junho de 2007



MEMÓRIA TRICOLOR
Moacy Cirne
[ in Cinema Pax. Rio/Natal, 1983 ]

nos idos de 54
um suicídio abalava o país
e a criança que eu era
só tinha olhos para
os filmes de carlitos
os gibis do fantasma
e o fluminense de
castilho
píndaro
e pinheiro.

nos idos de 54
um suicídio abalava o país.



A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS
666 livros inesquecíveis (22a / 111)

O profeta tricolor
, de Nelson Rodrigues. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, 236p. [] Coletânea das melhores crônicas do genial dramaturgo voltadas pra uma de suas grandes paixões: o Fluminense. Há crônicas verdadeiramente mágicas: A grande noite do ceguinho, Sejamos docemente barrigudos, A incomparável torcida tricolor, A mais doce vitória da terra, A vitória estava escrita há seis mil anos, Chega de humildade, Momento de eternidade, Duelo de paixões, A volta do profeta. Enfim, um livro maravilhoso. E não só para os tricolores.

Botafogo entre o céu e o inferno, de Sérgio Augusto. Rio de Janeiro, 2004, 256p. [] Obra indispensável para aqueles que amam o alvinegro carioca, mas também para todos aqueles que amam o futebol sem preconceitos clubísticos. Com a marca inconfundível do jornalista Sérgio Augusto, há capítulos brilhantes: Cabeça e coração, Petulâncias alvinegras, Estrela solitária, Gilda!, Um cão e um passarinho. Só não entendemos uma coisa: a bigamia do gaúcho Luís Fernando Veríssimo, ao mesmo tempo apaixonado pelo Internacional e pelo Botafogo.

||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||

Quando o Tricolor parecia uma piada, o bom Haroldo [Barbosa] piscou o olho para o Marcelo Soares de Moura : - 'Este é o ano [1969] do Fluminense!'. E do seu olhar vazava luz". (Nelson Rodrigues, in O profeta tricolor, p.162)

O Botafogo é o clube mais passional, mais siciliano, mais calabrês do futebol brasileiro. (Nelson Rodrigues, citado por Sérgio Augusto, in Botafogo entre o céu e o inferno, p.8)

quinta-feira, 28 de junho de 2007


Navegando pelos sonhos virtuais da imaginação poética:
a fotografia como desenho, luz e grafismo
através de Duarte Almeida [ in Olhares ]


BALAIO PORRETA 1986
nº 2048
Rio, 28 de junho de 2007


TÉDIO
de Linaldo Guedes (PB)
[in
Intervalo lírico,
reproduzido em Zumbido escutando blues ]

na lua
criou-se
uma teia
de aranha
a culpa foi sua
que não quis esperar pelo amanhecer


SEPULTEI A BORBOLETA
de Maria Maria (RN)
[ in Espartilho de Eme ]

Sepultei a borboleta!
Meu corpo jaz em silêncio
por sete dias.

As asas em morte,
na pedra opaca do teu
tórax,
fazem rfefrão
da melodia.

Sem crisálida,
sem metamorfose,
sou um facho de luz
em agonia.


POEMA
de Wescley J. Gama (RN)
[ in
A Taberna ]

a única casta
que me cativa

é
a
coroa
de
espinhos
da
poesia

por isso corto
lírico vão do espaço


Futebol
FLUMINENSE OU SELEÇÃO?

Fluminense, claro!


UMA RECOMENDAÇÃO BOROGODOSA

A relíquia de Eça de Queiroz, por Marcatti. São Paulo: Conrad, 2007, 224p. [] A pujança criativa do quadrim brasileiro, numa adaptação livre e graficamente agressivo-desbocada, bem ao estilo do desenhista paulista - desde os anos 80, um alternativo entre os alternativos.


|||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||

Na tradução, deve ir-se até ao intraduzível: só então nos daremos conta da nação estrangeira e da língua estranha. (GOETHE. Máximas e reflexões. Trad. Afonso Teixeira da Mota.
Lisboa: Guimarães Editores, 1987, p.238)

quarta-feira, 27 de junho de 2007


Contemplo a vida
Por curiosidade
Por sede
Pelos rasgos
Que marcam
Constroem
Demolem
Modificam
Concepções...

(CASTI, in Teia de Palavras)

Foto: Mário Bitt-Monteiro









BALAIO PORRETA 1986
nº 2047
Rio, 27 de junho de 2007



PERSONAGENS PREFERIDOS
Nei Leandro de Castro
[ in Tribuna do Norte, Natal, 22/6/07 ]

À noite, os meninos vinham se chegando e paravam na calçada da rua Professor Zuza, quase esquina com a rua da Estrela. Eram egressos de muitas molecagens: atirar de baladeira em rolinhas, caçar os pombos do seu Petit, brincar nas águas do Potengi, furtar mangas e cajus dos quintais alheios, jogar peladas. Mais duro do que tudo isso era o sacrifício de horas e horas sentados nos bancos escolares. Quando a platéia já era razoável, chegava Pedro Bala, não o jogador famoso, mas o contador de histórias. Velho, moreno, baixo, ela assumia o seu papel no palco da calçadas, rodeado das crianças. E aí começavam as aventuras que iam sendo narradas em voz baixa, com o narrador dando pausas, fazendo suspense, prendendo a platéia, enquanto os meninos prendiam a respiração. Geralmente eram histórias de espantar. Como aquela do diabo que entrava numa casa pelo teto e ia caindo aos pedaços. Depois as partes do Tribufu se juntavam e ele partia para destruir quem estivesse na casa visitada. Os meninos, até os mais valentes, se arrepiavam de medo com aquelas histórias tão bem contadas. A maioria iria ter pesadelos, mas no dia seguinte todos voltavam a ouvir as histórias de Pedro Bala. No meu medo, nas minhas fantasias, eu achava que Pedro Bala era o Cão em figura de gente. E o que ele contava eram lembranças do que havia feito pelo meio do mundo. O Cão tinha muitos disfarces e um deles podia ser daquele bruxo que se fazia de pobre, de manso, de amigo das crianças.

O galego Assis era outro contador de histórias, mas todos os casos eram centrados nele mesmo, no seu destemor, na sua fúria contra os inimigos, na invencível armada dos seus punhos. Era brigão, não admitia qualquer insinuação que ele estivesse, digamos, aumentando um pouco as suas proezas. Teimoso, birrento, certa vez foi carregar uma lata de soda cáustica no ombro. No meio do caminho, notou que a lata estava furada e a soda cáustica queimava as suas costas como um ferro em brasa, uma chama viva. Andou ainda uns dois quarteirões e quando chegou ao seu destino havia uma queimadura que ia de um dos seus ombros até a cintura. Tudo em carne viva. Ao ser perguntado por que não largara a lata, ele respondeu, furioso: “Eu queria saber quem era mais forte – eu ou a fela da puta da soda cáustica.”

Umas das boas histórias do galego Assis se passava na sua infância, quando ele tinha cerca de dois anos de idade. Num começo de noite, ele estava brincando no alpendre quando uma raposa o atacou pelas costas. O menino deu um grito, o pai acudiu e se atracou com o bicho. Assis disse que foi uma briga bonita. Lá pras tantas, o pai segurou a raposa pela garganta e a jogou no chão. O bicho reagiu, levantou-se, mordeu a mão do pai, que o derrubou outra vez. A raposa voltava a atacar, o pai fazia a mesma coisa, o menino vendo tudo de perto. Assis fazia uma pausa para dizer que tinha contado trinta e duas quedas da raposa, até ela estrebuchar e morrer. Alguém perguntava: “E você já contava com dois anos de idade, Assis?” O galego virava onça, dizia palavrões, chamava o perguntador para resolver a dúvida no braço, porque ainda não tinha nascido um macho com coragem de chamá-lo de mentiroso. Escondido em algum lugar, meu irmão Euclides gritava: "Mentiroso!" Assis tinha uma crise de fúria.

terça-feira, 26 de junho de 2007


Navegando pelos sonhos virtuais da imaginação poética:
La nostalgie, de Sergey Kharlamov
[ in Meu Porto ]


BALAIO PORRETA 1986
nº 2046
Rio, 26 de junho de 2007



CAUDAIS
de Lívio Oliveira (RN)

Um sonho dúplice
explode sob a blusa transparente
da moça incauta
e se conduz à minha língua
sedenta de líquidos sagrados,
vinhos e mostos,
óleos e leites.
Formas circulares,
arredondadas,
preenchidas e recobertas
por matéria mágica.
Tudo é santo
nessa dama eufórica.
Sorriso puro de aprendiz,
neófita de posições,
de atitudes,
e eu, louco vampiro.
alimentando-me
de sua pureza,
agora já descoberta,
como seu corpo
que emerge das águas
e dos sais
desse mar de gozos
abissais,
cachoeiras e fontes
que jorram de mim.


MINICONTO I
de Jeanne Araújo (RN)

Nascera menino. Compraram-lhe sapatos, bonés e uma corrente de homem. Mas a sensibilidade estava nele como uma espinha atravancada na garganta. Gostava de, às escondidas, vestir os vestidos das irmãs, pintar a boca com o batom da mãe. Brincava de casinha com as meninas da rua. Várias vezes foi agredido pelos colegas. Várias vezes apanhou do pai. Um dia, cansado de tudo, trancou-se no banheiro com gilette na mão
e menstruou pela primeira vez.



Cinema
MOOLAADÉ, UM FILME AFRICANO

Vimos ontem, no CineMaison (centro do Rio), pela primeira vez, um filme do senegalês Ousmane Sembene. Recentemente falecido aos 84 anos, Sembene é um diretor bastante conceituado na Europa, sendo mesmo tido por muitos como "o pai do cinema africano". O que vimos, na verdade, foi o seu último filme, por sinal: Moolaadé (2004). Aqui, aos poucos somos dominados pela estrutura narracional da obra, por suas imagens, e pela forte temática que a torna política sem ser panfletária: a temática da "castração vaginal" entre jovens meninas que vivem num vilarejo tribal no interior da África. O filme não é maniqueísta, ao contrário, e, em sua limpidez conteudístico-narrativa, coloca em pauta o que de fato interessa, sob a instância de uma dada leitura, a nossa leitura. E o que interessa, para nós, é a questão do humanismo, problematizado pelo olhar "branco-ocidental", diante do embate entre a tradição (secular) e a modernidade (globalizada). Neste sentido, os dois últimos breves planos do filme, separados por um corte preciso, são emblemáticos, levando-nos a perguntas sem respostas. O que fazer para conter a fúria das "castradoras religiosas", sem ferir os rituais sagrados da História de um povo? O que fazer quando um símbolo tradicional (um ovo de avestruz) é substituído por uma antena de televisão? Moolaadé é mais do que um filme: é uma aula de africanidade.

segunda-feira, 25 de junho de 2007


Depois de belos crepúsculos & auroras e de uma bela mulher,
abrimos exceção para a foto de uma placa inusitada,
numa rua de Cidade Satélite, em Natal:
seria cômico, se não fosse preconceituoso, poderíamos dizer.
O registro, em boa hora, foi feito por Augusto Ratis,
para a Agência Brasil de Fotojornalismo.


BALAIO PORRETA 1986
nº 2045
Rio, 25 de junho de 2007



ALUMIADA
de Lilia Diniz

Careço de ti
iluminando meus dias
com a lamparina
dos teus olhos


SOM
de Acantha
[ in La Vie Bohème ]

Gosto quando te calas
entre minhas coxas,
provocando silêncios
de se ouvir demais...


|||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||


"O Brasil não conhece Portugal. Tem dele uma idéia inteiramente arbitrária, onde a sua realidade aparece absurdamente desfigurada. Por culpa dos próprios portugueses, de alguns dos mais ilustres, de resto - poetas, escritores e políticos -, estratificou-se na consciência brasileira um perfil lusitano que em vez de ser um verídico retrato é uma execrável caricatura. Os países, como as pessoas, estão sujeitos a essas vicissitudes. Criam-se erradas famas colectivas como inexactas legendas pessoais." (Miguel TORGA. Ensaios e discursos. Lisboa: Dom Quixote, 2001, p.183)

sábado, 23 de junho de 2007


Aos sábados, faça chuva, faça sol,
faça Natal, faça Porto Alegre,
o blogue do gaúcho
MILTON RIBEIRO,
colorado desde os tempos homéricos da Grécia Clássica,
é uma festa para os nossos olhos:
há sempre uma bela atriz em cena.

Aqui, como exemplo (em postagem do dia 27 de janeiro),
aparece a deusa Eva Green, que trabalhou com Bertolucci
em Os sonhadores (2003).



BALAIO PORRETA 1986
nº 2044
Rio, 23 de junho de 2007


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS
666 livros indispensáveis (21/111)

Homens de outr'ora [1941], de Manoel Dantas. Natal: Sebo Vermelho, 2001, 168p. /Edição facsimilar/ [] Um dois clássicos indiscutíveis da literatura potiguar: anotações sociológicas, históricas e sociológicas que, até hoje, merecem ser lidas com atenção. Entre seus capítulos, Denominação dos municípios e O problema das secas. Obra póstuma; Manoel Dantas, um dos mais importantes jornalistas do Estado, o primeiro - no Brasil - a traduzir e divulgfar o Manifesto Futurista de Marinetti, ainda em 1909, faleceu em 1924.

A luta corporal [1954], de Ferreira Gullar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975, 126p. [] Livro-marco da nova poesia brasileira - a poesia brasileira que se produzia nos anos 50, cujo apogeu no campo experimental dar-se-ia em 1956 com o lançamento da poesia concreta. O próprio Ferreira Gullar seria um de seus criadores, ao lado de Wlademir Dias Pino e outros. A luta corporal, a par de seu valor histórico, ainda é capaz de mobilizar os leitores, através de poemas ousados como O anjo, Galo galo, A galinha e Roçzeiral.

Contos e novelas reunidos, de Sérgio Sant'Anna. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, 716p. [] Reunião dos livros O sobrevivente (1969), O concerto de João Gilberto no Rio de Janeiro (1982), A senhorita Simpson (1989), Breve história do espírito (1991) e outros. Sérgio Sant'Anna é, reconhecidamente, um dos melhores contistas brasileiros dos últimos 30 ou 40 anos. Como diz a nota editorial da CL, com inteira justiça, "Enxuto mas debochado, rigoroso mas pleno de paixão, ele sabe extrair o máximo proveito dos mínimos acontecimentos".

O Falcão Maltês [1930], de Dahiell Hammett. Porto Alegre: Globo, 1945, 250p. /Coleção Amarela/ [] Um dos mais festejados clássicos da literatura policial, cuja adaptação para o cinema (Relíquia macabra, 1941, de John Huston) serviu para impulsionar a carreira de Humphrey Bogart, no papel do detetive Sam Spade, com sua ironia e sua crítica cáustica. "O maxilar de samuel Spade era longo e ossudo, seu queixo um V proeminente sob o V mais flexível da boca. ... Dava a impressão um tanto divertida de um louro satanás" (p.15), assim começa o livro.


||||||||||||||||||||||||||||||||||||||

"O absurdo é o mistério dos incrédulos" (Mário da Silva BRITO: Diário intemporal, in Dicionário universal de citações [1985], p. 2)

sexta-feira, 22 de junho de 2007


Do Rio Grande do Norte para o Ceará,
eis a Praia de Lagoinha, em Paraipaba,
110 km ao norte de Fortaleza
(foto de autoria desconhecida,
obtida ao navegar pelos sítios eletrônicos do mundo virtual).


BALAIO PORRETA 1986
nº 2043
Rio, 22 de junho de 2007



POEMA(?)
de Bosco Sobreira (CE)
[ in Politicamente Incorreto ]

um
poema
a gente lambe
chupa come ou bebe?

um
poema
guarda chuva
guarda sol?

um
poema
a gente mora
em?

a gente vive
de?

a gente mata
com?

poema
pra que diabo serve
um?


Cinema
OS MELHORES FILMES VISTOS EM 2007
(até o momento)

Nos cinemas & centros culturais:

1. Conto de outuno *** (Rohmer, 1998)
2. Romance do vaqueiro voador *** (Manfredo Caldas, 2006)
3. Primeiro amor ** (Kieslowski, 1974), média
4. Curriculum vitae ** (Kieslowski, 1975), média
5. Cabeças falantes ** (Kieslowski, 1980), curta
6. Maria * (Ferrara, 2005)
7. Cartas de Iwo Jima * (Eastwood, 2006)
8. Os infiltrados * (Scorsese, 2006)
9. O segredo de Beethoven * (Holland, 2006)
10. Baixio das bestas * (Cláudio Assis, 2007)
11. Hércules 56 * (Sílvio Da-Rin, 2007)
12. Eu era um soldado * (Kieslowski & Titkow, 1970), curta

Em casa:

1. A mocidade de Lincoln *** (Ford, 1939)
2. Operários, camponeses *** (Straub & Huillet, 2001)
3. Contrastes humanos *** (Sturges, 1941)

Melhores revisões, nos cinemas:

1. Uma mulher sob influência *** (Cassavetes, 1974)
2. Faces *** (Cassavetes, 1968)
3. O padre e a moça ** (Joaquim Pedro de Andrade, 1966)

Nota:
Nossas principais cotações -
*** Excelente
** Ótimo
* Bom

quinta-feira, 21 de junho de 2007


Continuamos virtualmente no Rio Grande do Norte:
agora é a vez de Pirangi do Sul, nas proximidades de Natal,
em foto de Alex Uchoa
(muitas são as deslumbrâncias das praias nordestinas).


BALAIO PORRETA 1986
nº 2042
Rio, 21 de junho de 2007


RECOLHIMENTO
de Lisbeth Lima (RN)

Quando entro numa igreja,
uma igreja entra em mim.


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS
666 livros indispensáveis (20c / 111)

O ofício de viver [1952], de Cesare Pavese. Trad. Homero Freitas de Andrade. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 1988, 412p. [] Provavelmente, o mais denso e desesperado diário escrito no século XX, abarcando o período 1935-1950. São anotações terríveis, dilacerantes, grávidas de angustialidades. Vejamos, aleatoriamente: "O maior erro do suicida não é o de se matar, mas o de pensar nisso e não agir" (p.53); "Há uma coisa mais triste que envelhecer: é permanecer criança" (p.70); "A arte de viver é a arte de saber acreditar em mentiras" (p.77); "A solidão verdadeira, isto é, sofrida, traz em si o desejo de matar" (p.89); "Na pausa de um tumulto passional - hoje - o último? - renasce a vontade de poesia. Na lenta agonia de um silencioso colapso nasce a vontade de prosa" (p.92). Ou ainda: "Eu passava a noite sentado diante do espelho para fazer companhia a mim mesmo". Pavese suicidou-se no dia 27 de agosto de 1950. Suas últimas palavras no Diário datam do dia 18 de agosto: "Basta um pouco de coragem./ Quanto mais a dor é determinada e precisa, mais o instinto da vida se debate, e cede a idéia de suicídio./ ... Tudo isso dá nojo./ Não palavras. Um gesto. Não escreverei mais" (p.410).

História da linguagem [1969], de Julia Kristeva. Lisboa: Edições 70, 1974, 458p. [] Sob o signo da relação estruturalismo/psicanálise/marxismo, com todas as suas complexas mediações filosóficas, este livro, de clareza ímpar para os padrões ensaísticos de então, marcou época entre os jovens universitários dos anos 70. A própria Julia Kristeva era um ícone para aqueles, como nós, que se preocupavam em estabelecer as bases materialistas da semiologia tendo como referência crítica a teoria marxista. Como eram também ícones, por exemplo, Althusser, Macherey e Badiou, além, claro, de Marx, Engels e Lênin. Alguns dos temas, aqui trabalhados, são indicadores de sua importância no contexto cultural vivenciado por muitos: A materialidade da linguagem, A linguagem da história & a linguagem como história, A lingüística estrutural, A prática da linguagem (a partir dos oradores clássicos). Afinal, é preciso dizê-lo, "a linguagem é antes de tudo o mais uma prática" (p.387). Entenda-se: "O reinado da linguagem nas ciências e na ideologia moderna tem como efeito uma sistematização geral do domínio social" (p.454).

quarta-feira, 20 de junho de 2007


Nem Pipa, nem Genipabu.
Nem Ponta Negra, nem Muriú.
A praia do Rio Grande do Norte que realmente me fascina
chama-se Galinhos, numa pequena península
a 166 quilômetros de Natal, no litoral norte, perto de Areia Branca.
É verdade, é verdade: ainda não conheço Cristóvão e Ponta do Mel.
Só posso dizer o seguinte: Galinhos, com seus 2.000 moradores
e algumas poucas pousadas (que não atraem o turista tradicional, ainda bem!),
é a praia dos meus sonhos nordestinos.
[Aqui, em foto de Hugo Macedo]


BALAIO PORRETA 1986
nº 2041
Rio, 20 de junho de 2007



CONDOMÍNIO
de Adelaide Amorim
[ in Inscrições ]

o hálito
não te pertence
: perfume destinado
desde sempre
a quem te colhe
pétalas na pele


Cinema
ROMANCE DO VAQUEIRO VOADOR

Há algo de mágico, que extrapola a emoção, no mais recente filme do paraibano-carioca-brasiliense Manfredo Caldas:
Romance do vaqueiro voador não é uma obra qualquer.
Entre a poesia e o documentário, entre a ficção e a realidade, o filme nos atinge em vários níveis: ora pela poesia de suas imagens e por seu aboio cantante, ora pela narrativa metalingüística que o forma e o dimensiona enquanto discurso cinematográfico, ora pela construção de um personagem mitológico (magistralmente vivido por Luiz Carlos Vasconcelos), ora pela crueza dos depoimentos daqueles que sobreviveram à construção de Brasília. Sim, porque Brasília foi construída sobre os cadáveres de centenas e centenas de candangos/operários, em grande parte nordestinos. Desde os tempos de Juscelino, Brasília não é uma cidade inocente: a morte de muitos de seus construtores pesou sobre os seus idealizadores - e o peso foi terrível. Por trás de toda uma beleza - a beleza de seu planejamento, a beleza de sua arquitetura -, há muita dor, há muita tristeza. Manfredo soube captar, com energia, essa dor e essa tristeza. E ao mesmo tempo, apesar de tudo, soube captar a beleza de Brasília. Não a Brasília dos generais e dos políticos, mas a Brasília que palpita, que sofre, que ama, e que não esquece a dor da perda. A dor da tragédia. Em Romance do vaqueiro voador - o vaqueiro que voou do alto do edifício em construção para a morte no chão batido - o cinema, já no título, se encontra com a poesia de cordel. E, sob o olhar atento de Manfredo Caldas, Luiz Carlos Vasconcelos, Sérgio Moriconi (co-roteirista), Waldir de Pina (fotógrafo), Ricardo Miranda (montador) e Marcus Vinícius (músico), já nasceu clássico. Simplesmente, o melhor filme nacional em muitos e muitos anos.

terça-feira, 19 de junho de 2007


Mais uma vez o Seridó, mais uma vez o nosso Rio Grande:
eis Serra Negra do Norte,
espaço onírico do poeta José Lucas de Barros
[ foto extraída de Terra Potiguar, sítio desativado ]


BALAIO PORRETA 1986
nº 2040
Rio, 19 de junho de 2007


PLUVIAL
Márcia Maia
[ in Tábua de Marés ]

nas águas do rio
as sombras dos carros
o lixo e a lama e as sobras
impuras escuras escusas
que ocultam (no leito
do rio) o caos da cidade


Cinema
OS MELHORES COMEDIANTES

Somente agora vimos que a Folha Ilustrada publicou no dia 3 do corrente mês uma pesquisa sobre os melhores comediantes estrangeiros e nacionais da história do cinema. Foram consultados 30 especialistas, entre os quais Rodrigo Fonseca, Inácio Araújo, Ruy Castro, Sérgio Augusto e Sérgio Alpendre (editor da revista Paisà e do blogue Chip Hazard). Não nos consultaram, claro, mas eis o nosso pitaco:
Comediantes estrangeiros -
1. Buster Keaton
2. Charles Chaplin
3. Jacques Tati
Comediantes nacionais -
1. Oscarito
2. Grande Otelo
3. Mazzaropi


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS
666 livros indispensáveis (20b / 111)

Viagens de Gulliver [1726], de Jonathan Swift. Trad. Octavio Mendes Cajado. Porto Alegre: Globo, 1953, 256p. [Adquirido em Natal, nos anos 60, na Loja de Livros] Um dos maiores clássicos da literatura mundial, quer por sua escrita, sempre deliciosa, quer por sua fina ironia, sempre satírica. Contém um bom estudo introdutório de Eugênio Gomes sobre a vida e a obra de Swift, que nasceu em Dublin a 30 de novembro de 1667.

Novelas francesas, de vários autores. Seleção: Alcântara Silveira. Trad. Leyla Perrone-Moisés e outros. São Paulo: Cultrix, 1963, 256p. [Livro adquirido em Caicó em setembro de 1964] Ótima coletânea de algumas das mais conhecidas novelas produzidas na França: Bola de sebo (Maupassant), A Fanfarlô (Baudelaire), Um coração simples (Flaubert), A mosca (Musset), As almas do purgatório (Merimée). E mais duas, sendo Micrômegas (Voltaire) uma delas .


||||||||||||||||||||||||||||||||||||

A Terra está em perigo iminente e só um plano de resgate planetário a salvaria do cataclismo ambiental imposto pelas mudanças climáticas. As palavras não são de ecoterroristas fazendo proselitismo panfletário, mas sim de importantes cientistas escrevendo numa prestigiada revista acadêmica. Seis especialistas de algumas das principais instituições dos EUA, entre elas a Nasa, publicaram um alerta nada ambíguo: a civilização está sendo ameaçada pelo aquecimento global. (Steve CONNOR, Civilização ameaçada, in O Globo/Ciência, Rio, 19/6/2007, p.30)

domingo, 17 de junho de 2007


MARIA BUNITA & LAMPIÃO
LAMPIÃO & MARIA BUNITA
(de Fábio Eduardo, artista natalense)


BALAIO PORRETA 1986
nº 2039
Rio, 18 de junho de 2007



O DIARIM DE MARIA BUNITA - XI

Meu quirido diarim.
Faiz umas duas sumana qui não converso com ocê, mais é qui andei mitida por esse mundão de meu Deus e do Padim Ciço, cum meu amô de verdade, Virgulino, e cum meu desamô de mintira, o Diabo Lôro, cuma ocê já sabe. Sumana passada, um sabo chei de quintura, teve um bate-coxa na fazenda Pind'água e dancei a noite todinha cum o capitão, qui ele num é ômi de dexá qualquer um encostá a mão im neu não. Adepois, cuma era dia de Santotóim eu fiz umas adivinhação pru mode ver se tem mais arguém no meu distino, purque eu sô uma muié precavida, sô sim, ômi é oje, num é aminhã. Mais o que vi foi muito iscarcéu, muito fogo, uma craridade só, fiquei cum medo, mais num falei nada pro capitão, ele num credita nessa crendice não, era inté capaz de brigar cum eu. Tarde da noite, quando nóis vortemo, durmi agarradinha cum Virgulino na baladêra, adepois disso, meu medo passô, viu diarim, mais inda tô acafifada, inda tô sim. Vige meu Padim Ciço!


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS
666 livros indispensáveis (20a / 111)

A penúltima versão do Seridó, de Muirakytan Macêdo. Natal: Sebo Vermelho, 2005, 230p. [] Uma história arretada de boa - e bastante séria & competente - do regionalismo seridoense, em suas mais variadas vertentes. Um livro que já nasceu fundamental para a historiografia potiguar, a partir de sua pesquisa de mestrado. Em foco, o espaço seridoense entre os séculos XVII e XIX: sertão, sertões. Os possíveis cenários de leitura & a produção do homem sertanejo. Em Muirakytan, o historiador se faz escritor, e o escritor se faz historiador.

Cangaceiros e fanáticos, de Rui Facó. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963, 226p. [Livro adquirido em Natal, na primeira metade dos anos 60] Para uma brasiliana crítica: o despertar dos pobres do campo nordestino, o "fanatismo" como elemento de fúria e redenção. E mais: Canudos e Antônio Conselheiro, Juazeiro e o Padim Ciço: sombras & penumbras. O apogeu do cangaceiro e do jagunco: a luta, as lutas. 1930: um golpe no poder dos coronéis? Caldeirão: um saldo positivo? A leitura marxista de Rui Facó permanece instigante.

()()()()()()()()()()

O cangaceiro e o fanático eram os pobres do campo que saíam de uma apatia generalizada para as lutas que começavam a adquirir caráter social, lutas, portanto, que deveriam decidir, mais cedo ou mais tarde, seu próprio destino. Não era ainda uma luta diretamente pela terra, mas era uma luta em função da terra - uma luta contra o domínio do latifúndio semifeudal. (Rui FACÓ. Cangaceiros e fanáticos, p.45)

sábado, 16 de junho de 2007


Jardim do Seridó (RN), entre Caicó, Parelhas e Acari:
a cidade da minha infância, do meu primeiro alumbramento amoroso,
das minhas lembranças carnavalescas mais longínquas
no tempo e no espaço.

[Clique aqui para ver outras fotos de Jardim do Seridó.]


BALAIO PORRETA 1986
nº 2038
Rio, 16 de junho de 2007


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS
666 livros indispensáveis (19b/111)

Crônica da casa assassinada, de Lúcio Cardoso. Rio de Janeiro: José Olympio, 1959, 508p. [] Um dos livros mais densos da literatura brasileira. "O romancista Lúcio Cardoso iniciou a crônica de uma saga familiar - uma velha família mineira, com raízes no império, vivendo em função do passado faustoso e inadaptada aos tempos presentes da vida na província. A desagregação física do velho solar acompanha a desagregação moral de seus habitantes, em mútua dependência. Evidentemente o escritor o não pretende provar nada, nem tirar conclusões morais de suas criações romanescas, mas a verdade é que, lendo-se de ponta a ponta esta caudalosa Crônica da Casa Assassinada, tem-se a impressão de que o ficcionista é um 'inimigo da família' (...)" (Hélio Pólvora, junho de 1959).

200 crônicas escolhidas, de Rubem Braga. Rio de Janeiro: Record, 1978, 320p. [] A partir de uma pré-seleção de Fernando Sabino, o Autor capixaba - nosso cronista maior - escolheu 200 de suas crônicas mais representativas ou mais substanciosas em termos literários. Há vários e vários textos da melhor qualidade, textos extraídos de O conde e o passarinho, Morro do isolamento, Com a FEB na Itália, Um pé de milho, O homem rouco, A borboleta amarela, A cidade e a roça, Ai de ti, Copacabana, A traição dos elegantes, textos escritos entre 1935 e 1977. Chamamos a atenção para as seguintes crônicas: A companhia dos amigos (p.40), A visita do casal (p.118), O verão e as mulheres (p.183), A casa das mulheres (p.195-6), História de pescaria (p.254).

Ideologia da cultura brasileira, de Carlos Guilherme Mota. São Paulo: Ática, 304p.+caderno de fotos. [] Análise cultural do período1933-1974 de nossa história social e literária: "Pontos de partida para uma revisão histórica". De Gilberto Freyre a Antonio Candido, de Fernando Azevedo a Ferreira Gullar, de Mário de Andrade a Dante Moreira Leite: CGM volta-se para todos eles com bastante agudeza operacional. Um livro ambicioso, que cumpre o seu papel crítico. "Os discursos de quem não viu, são discursos; os discurso de quem viu, são profecias"- epígrafe do Padre Vieira, na apresentação de Alfredo Bosi - Um testemundo do presente. Com pequenos senões, trata-se de um ensaio para ser lido com a atenção necessária. E, à la Oswald, para ser visto com olhos livres.

sexta-feira, 15 de junho de 2007


Gargalheiras, em Acari, cidade-magia, cidade-poesia, em pleno sertão do Rio Grande do Norte, é mais do que um açude, é mais do que uma represa: é um canto de amor às águas seridoenses de todas as emoções potiguares. [Foto de Hugo Macedo]


BALAIO PORRETA 1986
nº 2037
Rio, 15 de junho de 2007



DESMANTELO
de Lília Diniz

Desgrenhando teus cabelos
me rasgueio em poesia
e me (re)encontro
nas aldeias do teu corpo


VIRTUDES
de Bosco Sobreira

só os bichos são virtuosos:
os cães lambem suas próprias feridas
e mijam na grama
que eu não
pisei


BEBENDO VOCÊ
de Sandra Camurça

quero você na minha boca
inteiro
na minha boca
até a última gota


APRENDIZ DE FEITICEIRO
de Simão Pessoa
[ in Matou Bashô e foi ao cinema ]

Poeta não é quem transa a terra e o mangue
Poeta não é quem traça a troça e o chiste
Poeta é quem põe a terra em transe


CARTA POÉTICA VII
(Fragmento final)
de Jeanne Araújo

Os meus desejos mais secretos assustam. Já tomei atalhos demais e isso dificulta minha vida. As palavras correm por dentro como inundação, mas não escapam. Há diques e represas por todos os lados. Quero escrever, preciso escrever, mas não consigo terminar a tarefa. Essa tarefa que me dói. Amor e dor e parto. Três palavras perfeitas. Dizer em poesia. Parir as palavras. Depois refugiar-me em amor. À minha volta não há porque morrer. Você me entende? Você me compreende. Você se reconhece nas entrelinhas?...

quinta-feira, 14 de junho de 2007

O nome dos municípios devia ser inalterável, imutável, perpétuo, como os nomes dos oceanos e das cordilheiras. (Luís da Câmara CASCUDO. Vila Imperial de Papari, in O livro das velhas figuras, IX. Natal: EDUFRN, 2005, p.19)


BALAIO PORRETA 1986
nº 2036
Rio, 14 de junho de 2007


QUATRO MOMENTOS MÁGICOS EM NATAL

1. A partir do primeiro dia, o reencontro, diário ou ocasional, com pessoas queridas e/ou amigas: Fátima (a mulher amada), Thaís, Thaíssa, Thiago, Pedrinho, Antônia e Ericsson (o americano por excelência); os irmãos Milton, Betinha, Lourdinha, e mais: Walfredo, Raimundo, Melissa e Madrinha Bela (com seus admiráveis 93 anos); Nei, Sandra, Tácito, Jeanne, Abimael, Lívio e Lula; Anchieta, Falves, Dácio, Candinha, Dailor e Teresa Maciel; Donária, Margarida, Marlon e Pablo (o abecedista de todas as horas e de todos os segundos). Quem mais?

2. Dia 6, à noite: a comemoração da torcida tricolor no Bar Sol e Lua, em Ponta Negra. Diante da tv, reagíamos como se estivéssemos em Floripa: entusiasmo, receio, sofrimento. E o mais profundo grito final: vibrávamos enlouquecidos pelas magia do nosso terceiro título nacional (Taça de Prata, 1970; Brasileirão, 1984; Copa do Brasil, 2007). Abraçávamos como se fôssemos conhecidos desde a época da publicação d'Os lusíadas, em 1572. Cantávamos o hino tricolor como se, enfeitiçados, presenciássemos uma cena bíblica do Velho Testamento.

3. Dia 7, à tarde: a homenagem aos 40 anos do poema/processo, na Bienal do Livro. A sua importância para a história das vanguardas & experimentações (anti)literárias do país. Como tudo surgiu, em dezembro de 1967. Como Natal participou de seu momento inaugural. Como se deu a "ponte produtiva" entre o Rio e Natal. Como pensar o poema/processo, hoje. Ou amanhã. Anchieta Fernandes, Falves Silva, Dácio Galvão e este vosso escriba das águas seridoenses colocávamos em discussão as matrizes gerais do movimento & suas conseqüências teóricas e práticas.

4. Dia 10, à noite: a encenação, no Alberto Maranhão, de Toda nudez será castigada, pelo excelente Armazém Companhia de Teatro. Uma montagem quase perfeita, seja pela direção de Paulo de Moraes, ou pela cenografia de Carla Burri e do próprio Moraes. Seja pela interpretação de Patrícia Selonk, ou pela presença em cena de Thales Coutinho, Sérgio Medeiros, Raquel Karro e das "três tias". Seja pela iluminaçaão de Maneco Qinderé, pelos figurinos de Rita Murtinho, ou pela música de Arrigo Barnabé. Enfim, um espetáculo digno de Nelson Rodrigues.

Nota1:
Para completar a magia natalense dos últimos dez dias, ainda em homenagem ao poema/processo, lançamos na barraca do Sebo Vermelho o livro Poemas inaugurais.

Nota2:
No Poema/Processo atualizado hoje: gravurapoema do paraibano Guy Joseph.

quarta-feira, 13 de junho de 2007


DE VOLTA AO RIO

Dentro de poucas horas
estarei, entre auroras e auroras,
de volta à General Glicério, ao Bar do Serafim, ao Choro da Feira.
De volta ao Cine Odeon, ao Estação Botafogo, ao Paissandu.
E mais. E mais. Ao som de Pixinguinha, Jacob e Paulinho da Viola:
de volta à Berinjela, à Folha Seca, à Livraria da Travessa.

De volta ao Paço Imperial, ao CCBB, à Biblioteca Nacional.
De volta ao Catete, à Glória, ao Largo do Machado.
De volta ao Maracanã. De volta ao Fluminense.

[ Foto de autoria não identificada ]

terça-feira, 12 de junho de 2007

[] Há padres que falam em Deus com tal convicção que
a gente se convence de que Deus não existe.
[] Com esse mundo desgraçado, e cada vez mais, em que fomos condenados a viver, uma coisa é certa: Deus não merece existir.
[ Millôr FERNANDES. A bíblia do caos. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2002, p.159 ]


BALAIO PORRETA 1986
nº 2035
Natal, 12 de junho de 2007


ALUCINAÇÃO MOLHADA
Poema de Lívio de Oliveira (RN)

Não ficarei atento,
nem me ocuparei com a chuva,
já que mantenho
em meu peito doído e morno
a eterna ilusão de te possuir.
Guardarei, sim, os movimentos
de teus pés inquietos,
artelhos, ancas e joelhos.
E serei indormido vigilante
do ziguezaguear de teu pescoço
desnudado.
A artéria delicada pulsa
todo o sangue
que te alimenta
e que escorre pelo lábio
no êxtase da longa noite
– caça, golpes certos,
intensos, profundos –
e os dentes se arremessam
na penetração anatômica
exata de outra tua irmã,
tão livre, tão vampira,
com quem estive há pouco.
De teu vôo surge
única e verdadeira revolução
de onde desponta,
insólito,
quase móvel,
atrevido invasor.
Um leve sinal negro
cresce em formas
as mais estranhas,
as mais bizarras,
formando um ser gigante,
uma fêmea superior,
pálida,
pálida,
linda,
linda,
com a boca derramando
líqüido rubor.
Os cabelos,
rédeas que prendo a uma só mão,
guiam-me para um espaço
abstrato, etéreo.
Ali, numa dimensão
que desconheço,
inebriado,
conforto-me da madrugada
fria, fria, fria,
acreditando que tua sedução
e teu pouco calor
serão, mais tarde, minha toda

(porém improvável)
salvação.

[ Veja outros poemas de Lívio de Oliveira
no Grande Ponto, de Alex Gurgel ]


À ESPERA DE EULÁLIA
(La masturbation)

Mariza Lourenço

Era um ritual quase sagrado, aquele, de lavar as partes baixas enquanto aguardava Eulália. Fizesse chuva ou sol, ainda que ela não aparecesse ou que nada mais acontecesse, além de uma boa beberagem de chá. E isso, talvez fosse tão importante quanto a visão de Eulália abrindo o pequeno portão de ferro. Dava-lhe prazer a espera, perfumada pelo sabonete de malva. Excitavam-no as mãos que lavavam o falo, repuxando-lhe a pele sobre a glande.

Sim... E depois, Eulália. Ou o chá.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Sim, a partir de Álbum de família, a minha vida teatral tem sido uma batalha entre um autor e seus admiradores. É uma fúria recíproca e total. Os admiradores querem me destruir, com a sua incompreensão apoteótica e homicida; e eu reagindo, como um possesso. (Nelson RODRIGUES. A menina sem estrela; memórias. São Paulo: Companhia das Letras, 1993, p.216)


BALAIO PORRETA 1986
nº 2034
Natal, 11 de junho de 2007


NELSON RODRIGUES EM NATAL

O Armazém Companhia de Teatro, do Rio, encenou em Natal, sábado e ontem, no Alberto Maranhão, um espetáculo (quase) irretocável: a montagem de Toda nudez será castigada.
Premiada em 2005, a confecção da peça de Nelson Rodrigues, uma "obsessão em três atos", por ousada e recriadora, mostrou ser, nas palavras & ações de seu diretor (Paulo de Moraes), com seu "material dramatúrgico extremamente belo e sólido", um painel cênico trabalhado com tintas fortes, de feitura expressionista, entre o pornográfico puritanismo e a mais deslavada sexualidade.

Neste sentido, louve-se o desempenho luminoso de Patrícia Selonk, como a puta Geni. E mais a presença e a garra nelsonrodriguesiana de Thales Coutinho, Ricardo Martins, Sérgio Medeiros, Simone Mazzer, Verônica Rocha, Isabel Pacheco, Simone Vianna, Raquel Karro, Marcelo Guerra. Louve-se também a iluminação de Maneco Quinderé, a cenografia de Paulo de Moraes e Carla Berri, os figurinos de Rita Murtinho, a música de Arrigo Barnabé. E, claro, a direção de Paulo de Moraes: uma direção com sustança e criatividade. Enfim, entre a tragédia e a comédia, um espetáculo inesquecível. Um espetáculo que nos diz: entender Nelson Rodrigues é o primeiro passo para que possamos mergulhar numa obsessão chamada Brasil.


SENSO COMUM
Poema de Sandra Camurça (PE)
[ in O Refúgio ]

amo em você
aquilo que é inacabado
em mim

sábado, 9 de junho de 2007

Vivo a dizer que considero o ridículo uma das minhas dimensões mais válidas. O medo do ridículo gera as piores doenças psicológicas. (Nelson RODRIGUES. A menina sem estrelas; memórias [1967]. São Paulo: Companhia das Letras, 1993, p.25-26)


BALAIO PORRETA 1986
nº 2033
Natal, 9 de junho de 2007


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS
666 livros indispensáveis (118a / 666)

Rio grande do sol, de Marize Castro e Diva Cunha (orgs.). Fotos de Hugo Macedo & outros. Natal: Una / IDEMA, 2007, 180p. [] Belíssima homenagem ao nosso Rio Grande do sol, ao nosso Rio Grande do sal. Seleção de versos que ilustram paisagens/sonhos/magias dos arredores de Lajes, Acari, Martins, Currais Novos, Caicó, Patu, Itajá, Parelhas, Taipu, Natal, Macau, Galinhos, São Rafael, Angicos, Areia Branca... Versos e mais versos de Augusto Severo Neto, Auta de Souza, Berilo Wanderley, Celso da Silveira, Gilberto Avelino, Henrique Castriciano, Homero Homem, Newton Navarro, Zila Mamede... Fotos e mais fotos de Giovanni Sérgio, Ricardo Seabra, Henrique José, Affonso Nunes, Lucas Tinoco, Fernando Chiriboga, Thaís Costa, Alex Souza, Kátia Oliveira, Hugo Macedo...

Cadernos de Literatura Brasileira: João Guimarães Rosa. São Paulo: Instituto Moreira Salles, dezembro de 2006, 348p. [] Indispensável olhar crítico e amoroso, fartamente ilustrado, sobre a obra e o homem João Guimarães Rosa, nosso escritor maior, sob a consultoria de Walnice Nogueira Galvão e Ana Luiza Martins Costa. São muitos os colaboradores, as confluências, as fotos, os manuscritos e os ensaios que fazem desses Cadernos um marco editorial. "A antropologia rosiana é religiosa. O homem é um ser inacabado, como se ainda fosse uma espécie inferior às outras. Mas pelo sexo já se liga à vida. Precisamos criar outras correntes de ligação e de elevação, como o apuro da sensibilidade contra a abstração das idéias, que pode levar à crueldade, ao inumano" (Benedito Nunes, p.242).

A menina sem estrelas; memórias [1967], de Nelson Rodrigues. São Paulo: Companhia das Letras, 1993, 280p. [] As escrevivências de NR são, provavelmente, o mais belo e pungente documento memorialístico já produzido em nosso país. Trata-se, aliás, de um documento importantíssimo para se compreender a obra do autor de Vestido de noiva (teatro), O casamento (romance), A vida como ela é... (contos), O profeta tricolor (crônicas), entre outros textos e/ou livros. No meio de seus fantasmas, há muito a ser dito: "O que eu quero dizer é que estas são memórias do passado, do presente, do futuro e de várias alucinações" (p.11); "O que dá ao homem um mínimo de unidade interior é a soma de suas obsessões" (p.25); "... a verdadeira vocação dramática não é o grande ator ou a grande atriz. É, ao contrário, o canastrão, e quanto mais límpido, líquido, ululante, melhor" (p.63); "Qualquer devoção é linda. Não importa que o santo não a mereça. E mesmo que seja um santo falso. (Quero crer que também existam os santos canalhas.) (p.71); "Mas antes o absurdo do que a imbecilidade" (p.73); "Nada mais pornográfico, no Brasil, do que o ódio ou a admiração" (p.149), Afirmamos, sem medo de errar: trata-se de uma verdadeira obra-prima da nossa literatura.


ALMANAQUE
Os filmes preferidos de FEDERICO FELLINI
[ reproduzido in O Anjo Exterminador ]
Maciste all'inferno (Brignone)
Luzes da cidade (Chaplin)
Fra' diavolo (Roach, Rogers)
Frankenstein (Whale)
No tempo das diligências (Ford)
Paisà (Rossellini)
2001: uma odisséia no espaço (Kubrick)
O discreto charme da burguesia (Buñuel)
Toto e Peppino divisi a Berlino (Bianchi)
Entrevista (Fellini)
MAIS UM NÚMERO DA ZINGU!
Nas bancas virtuais da blogosfera, mais um número da "maldita" Zingu!, revista eletrônica editada por Matheus Trunk, um cabra da peste da paulicéia desvairada [clique aqui para ver o seu blogue]. Na edição de junho, o dossiê enfoca Jairo Ferreira. E há os artigos, sempre bons, de Gabriel Carneiro, Marcelo Carrard, Daniel Salomão Roque, Sérgio Andrade. E outros. Enfim, gostemos ou não da Zingu!, não podemos ignorá-la.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

NEEEEEEEEEEEEEEEEEEENSSSSEE
NEEEEEEEEEENSSSSSSSSSSSEEE
NEEEEEEEEEEEEEEENSEEEEEEEE
NEEEEEEEEEEEEEEEEEEENSEEE
NEEEEEEEEEEEEEENSEEEEEEE
NEEEEENSSSSSSSSEEEEEEE
Natal, 7 de junho de 2007
NEEEEEEEEEEEEEEEENSE
NENNSEEEEEEEEEEEEEE
NEEENNSEEEEEEEEEEE
NEEEEEEEEENNSSSSE
NEEEENSSSEEEEEEE
NEEEEEEEEEENSSE
NENSSEEEEEEEEE
NEEEEEENSEEEE
FLUMINENSE!!
POEMANENSEPOEMA