quarta-feira, 30 de abril de 2008


O Itans e a Serra de São Bernardo (Samanau),
em Caicó - RN

Foto de
Rodrigo X. Soares
[publicada no livro Rio de Grande Sol,
de Marize Castro e Diva Cunha]


BALAIO PORRETA 1986
nº 2300
Rio, 30 de abril de 2008



Memória
E O MUNDO COMEÇOU EM CAICÓ...

in Balaio 1339, de 13/11/2000

Apesar do ceticismo de alguns, muitas são as evidências arqueológicas, antropológicas, metafísicas e futebolísticas de que o mundo (inteligente) no planeta Terra teria nascido na Cidade do Caicó, sertão seridoense do Rio Grande do Norte, nas proximidades da mitológica São Saruê.

Há, inclusive, fortes indícios de que em torno do Poço de Santana, ao nordeste da cidade potiguar, em pleno Rio Seridó, moradia sagrada de uma serpente milenar, tribos nômades por lá já viviam há 69 mil anos. Essas tribos seriam dotadas de inteligência superior para os padrões da época, sendo, segundo o historiador Clifford Dantas Simak, portadores de atributos mercadológicos os mais diversos e mesmo os mais avançados, considerando a vida em nosso planeta há 69 mil anos.

Mas quais são, afinal, os indícios que nos levam a acreditar que o mundo começou em Caicó? Ei-los, seguindo a linha epistemológica esboçada pelo arqueólogo Raimundo Bradbury:

1. O Poço de Santana é o centro geodésico e metafísico do mundo. Segundo todos os registros históricos, culinários e biológicos existentes, inclusive aqueles anotados pelo astrofísico Arthur Cordeiro Clarke, em secando o poço o mundo simplesmente acabará. Tanto é que, em 69 milhões de anos, nunca secou. Mesmo no grande desastre ecológico ocorrido há 65 milhões de anos, quando os dinossauros desapareceram, o Poço de Santana não sofreu maiores danos físicos e morais;

2. Seres extraterrestres que por lá passaram, em nosso século [séc. XX], em 1943, deixaram marcas da Historicidade/Singularidade no leito do açude Itans, marcas essas que antecipam as ruínas de Nova York no século XXI e prenunciam uma nova espiritualidade camongeana para a Cidade;

3. Em Caicó, a torcida de futebol mais fanática não é a do Flamengo - é a do Botafogo, cujo fundador, o lendário Marujo Asimov, mantinha contatos telepáticos com Mané Garrincha nos anos 50, confirmando a previsão dos índios tapuias que habitavam as cercanias do Poço de Santana;

4. Em 13 serrotes ao sul da cidade, nas proximidades do Rio Barra Nova, há inscrições rupestres sublinhadas por escrita sânscrito-aramaico-jupiteriana, que só podem indicar o seguinte (na opinião do egiptólogo Fausto Cunha de Medeiros): os primitivos caicoenses há 69 mil anos emigraram para a África e, do continente africano, se espalharam pela Europa e Ásia.

Assim sendo, não temos a menor dúvida: o mundo começou mesmo em Caicó...


POEMA/PROCESSO 1303
de Moacy Cirne (2004)

meu poema preferido
conterá
um van gogh renascentista
um miró barroco
um bosch cubanacan
uma aurora enlouquecida

um pixinguinha frevolento
um luiz gonzaga rocknauta
um tom zé bolerolero
uma tempestade expressionista
depois depois
minha poesia preferida
conterá
um poema de moysés sesyom
misturado com laranjas
e acácias
e mais nada
e tudo o mais

terça-feira, 29 de abril de 2008


Aconteceu recentemente
(cf. Kibeloco):
O Homem dos Mistérios de Deus
- uma ofensa à lógica
e à língua portuguesa


BALAIO PORRETA 1986
n° 2299
Rio, 29 de abril de 2008


Humor 2005
DAS LEIS

Extraído do blogue Cinzas de Batalha [desativado],
de MARCELO BATALHA

"Essa eu acabei de receber de uma amiga, e pode ser apenas um Hoax. Mas chegou como sendo uma história real e que ganhou o primeiro lugar no Criminal Lawyers Award Contest, e ao menos é 'divertida', da séria série Rir Para Não Chorar ou, se preferirem Só nos EUA Mesmo...

Um advogado de Charlotte, NC, comprou uma caixa de charutos muito raros e muito caros. Tão raros e caros que colocou-os no seguro, contra fogo, entre outras coisas.

Depois de um mês, tendo fumado todos eles e ainda sem ter terminado de pagar o seguro, o advogado entrou com um registro de sinistro contra a companhia de seguros.

Nesse registro, o advogado alegou que os charutos "haviam sido perdidos em uma série de pequenos incêndios". A companhia de seguros recusou-se a pagar, citando o motivo óbvio: que o homem havia consumido seus charutos da maneira usual.

O advogado processou a companhia... E GANHOU. Ao proferir a sentença, o juiz concordou com a companhia de seguros que a ação era frívola. Apesar disso, o juiz alegou que o advogado 'tinha posse de uma apólice da companhia na qual ela garantia que os charutos eram seguráveis e, também, que eles estavam segurados contra fogo, sem definir o que seria fogo aceitável ou inaceitável' e que, portanto, ela estava obrigada a pagar o seguro. Em vez de entrar no longo e custoso processo de apelação, a companhia aceitou a sentença e pagou US$ 15.000 ao advogado, pela perda de seus charutos raros nos incêndios.

Agora, a melhor parte...

Depois que o advogado embolsou o cheque, a companhia de seguros o denunciou, e fez com que ele fosse preso, por... 24 incêndios criminosos!

Usando seu próprio registro de sinistro e seu testemunho do caso anterior contra ele, o advogado foi condenado por incendiar intencionalmente propriedade segurada e foi sentenciado a 24 meses de prisão, além de uma multa de US$ 24.000.

Verdadeira ou não, e se fosse aqui no Brasil, como terminaria essa história?"


MÁXIMAS E MÍNIMAS DO BARÃO DE ITARARÉ
in Almanhaque para 1949

[] Os homens são de duas categorias: - os solteiros e os loucos.
[] A ervilha é uma esmeralda com vitaminas.
[] A lágrima é o suor do coração.
[] Há mudos tão inteligentes que nem querem aprender a falar.
[] O bacalhau é um peixe lavado e passado a ferro.
[] Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato.
[] Tempo é dinheiro. Paguemos, portanto, as nossas dívidas com o tempo.
[] A bicicleta é um cavalo, mas completamente diferente.
[] O fígado faz muito mal à bebida.
[] A estrela de Belém foi o primeiro anúncio luminoso.

UMA HISTORINHA DO BARÃO, NO ALMANHAQUE PARA 1949

No consultório de um psiquiatra houve o seguinte diálogo entre o médico e um novo cliente:
- O que faz o senhor, com respeito à sua vida social?
- Quase nada...
- Não costuma passear acompanhado de uma ou outra garota?
- Nunca.
- Não sente ao menos um desejo de passear com garotas?
- Bem... às vezes...
- E por que não o faz?
- Porque minha mulher não deixa!

[][][]

No blogue do POEMA/PROCESSO:
uma bela (e verdeneblinante) mulherpoema.

segunda-feira, 28 de abril de 2008



ABC
Campeão potiguar
pela 50ª vez

As fotos, no Frasqueirão,
são do ano passado


BALAIO PORRETA 1986
nº 2298
Rio, 28 de abril de 2008



DAS ELEGIAS: DIDÁTICA
João Filho
[ in Hiperghetto ]

O áspero poema? Não mais quero.
O inviável abismo? Já descri.
Foi com inabalável esmero
que duramente me persegui.

Se tudo é insuficiente, espero.
O instante vence o tédio, senti.
Se a valsa mudou-se em bolero
o ritmo pouco importa, vivi.

Pelo tropeço suavizei o passo.
Seu corpo é o sentido que devasso
devagar, como quem respira.

Gota que se equilibra suspensa –
a vida. Mínima que é imensa,
quando pensa que é real, delira.


DIVAGAÇÕES & PROVOCAÇÕES

Nada mais sagrado do que a paixão de um torcedor de futebol. O estádio, então, passa a ser o templo mágico de suas orações dionisíacas.

O meu interesse pelas vanguardas começou em 1966, talvez um pouco antes. E continua até hoje. Mas só me interessam as vanguardas que apostam no crescimento do Ser Humano, inserido na sociedade articulado com o real que o cerca. É preciso dizer com todas as vogais e consoantes: muita merda pseudoliterária e/ou pseudo-artística é produzida em nome da vanguarda.

Se a coca-cola, a veja, o álcool, o cigarro e o "padrão global de qualidade" são drogas com o aval da lei e da moral burguesa, por que não legalizar o uso da maconha? De minha parte, não dispenso uma boa cachaça mineira. Ou, pelo menos, não dispensava. Mas dispenso, sem maiores discussões, qualquer tipo de cigarro.

Pior do que um marxista ortodoxo - em geral, um sujeito chato e equivocado - é um ex-marxólogo - em geral, um sujeito que abandona a esquerda (a "sua" esquerda) para abraçar as causas da direita raivosa.

domingo, 27 de abril de 2008


Hoje é dia de clássico no Maracanã:
Flamengo e Botafogo
iniciam a decisão do Carioca 2008

Imagem:
Mané Garrincha - Alegria do povo,
de Rubens Gerchman


BALAIO PORRETA 1986
n° 2297
Rio, 27 de abril de 2008



SINAIS
de Bosco Sobreira (CE)
[ in A Pedra e a Fala ]

Esqueci a vírgula
em algum lugar do passado

Já não me serve mais:

Como pode o homem separar
o que a dialética uniu?

(Aprendi na convivência com
anjos e demônios
os meus e os dos demais)

Ultimamente
vivo de espalhar pontos
pela vida

(Reticências
quis dizer)

Interrogações e Interjeições
são meu sustento
e minha alegria

(Meu pão meu mel)

Ponto-e-vírgula
pouco se me dá:
coisa de homens de pouco fôlego
(e pouca fé)

Por fim
(afinal)
com a serenidade
de gatos espiando a lua
aguardo o Ponto
que de longe
se avizinha
célere:

Final


DONATÁRIA
Lívio de Oliveira
(RN)

Sobre tuas coxas
deixo o meu sonho,
enquanto arranhas minhas costas.

Entrego-te, também,
minhas armas,
minhas botas
e meu todo desejo.

Envolto em teus cabelos,
amacio-me nas luas abertas de teu umbigo,
entrego minha língua
às órbitas encrespadas de tuas auréolas.

Eis o momento em que não reflito.
Apenas, em mais um lapso de insanidade,
dôo-me ao teu encanto múltiplo
e salto para o abismo
de tua fêmea magia.


RECOMENDAMOS ESPECIALMENTE

Estômago (Brasil-Itália, 2007), de Marcos Jorge. No Arteplex/5.
Com João Miguel e Fabiula Nascimento, excelentes.
"Nessa relação curiosa entre sexo e comida, o filme de fato tem um certo tempero de um cinema italiano provocativo, em especial o célebre A Comilança, de Marco Ferreri. Mas o que poucas pessoas apontaram é que, mais que explorar o instinto como mola propulsora da natureza humana (o sexo e a gula), esse lado animalesco dos personagens, Estômago afinal se revela uma fábula amarga sobre o poder, e é exatamente esta constatação que nos chega a partir de um final ambíguo, que provoca uma certa indisgestão no espectador" (Marcelo Ikeda).

sábado, 26 de abril de 2008


Assim caminha a humanidade,
de George Stevens,
lançado em 1956,
o ano de
Rastros de Ódio (Ford)
Um condenado à morte escapou (Bresson)
O sétimo selo (Bergman)
Grande sertão: veredas (Guimarães Rosa)
Corpo de baile (Guimarães Rosa)
A cidade e as estrelas (Clarke)
A ave (Wlademir Dias Pino)


BALAIO PORRETA 1986
n° 2296
Rio, 26 de abril de 2008



CANHOTO DA PARAÍBA (1928-2008)

Encantou-se Canhoto da Paraíba (Chico Soares).
Um músico para ser ouvido com emoção.
Autor de pelo menos um disco
absolutamente indispensável:
Pisando em brasa
(Caju Music, 1993).


A LEITURA DA SEMANA
Carta a D. - História de um amor,
de André Gorz.
Trad. Celso Azzan Jr.
(São Paulo : Annablume ; CosacNaify, 2008)

"Tive muitas dificuldades com o amor (ao qual Sartre dedicou umas trinta páginas de O ser e o Nada), pois é impossível explicar filosoficamente por que amamos e queremos ser amados por determinada pessoa, excluindo todas as outras" (p.25).

"É isto: a paixão amorosa é um modo de entrar em ressonância com o outro, corpo e alma, e somente com ele ou ela. Estamos aquém e além da filosofia" (p.26).

"O principal objetivo do escritor não é o que ele escreve. Sua necessidade primeira é escrever. Escrever, isto é, ausentar-se do mundo e de si mesmo para, eventualmente, fazer disso a matéria de elaborações literárias" (p.28)

"Eu necessitava de teoria para estruturar meu pensamento, e argumentava com você que um pensamento não estruturado sempre ameaça naufragar no empirismo e na insignificância. Você respondia que a teoria sempre ameaça se tornar um constrangimento que nos impede de perceber a complexidade movediça da realidade" (p.41).

"Você acabou de fazer oitenta e dois anos. Continua bela, graciosa e desejável. Faz cinqüenta e oito anos que vivemos juntos, e eu amo você mais do que nunca. Recentemente, eu me apaixonei por você mais uma vez, e sinto em mim, de novo, um vazio devorador, que só o seu corpo estreitado contra o meu pode preencher" (p.70).


RECOMENDAMOS ESPECIALMENTE

Caros Amigos, ano XII, núm. 133, São Paulo : abril de 2008.
Matéria de capa: José Agripino - Quem é? A pose de santa de altar disfarça o neocoronel com todos os seus vícios. O artigo, assinado por Léo Arcoverde, tem o seguinte título: Os rabos-de-palha de um filhote da ditadura, p.28-32. Com a sugestiva chamada: "O senador José Agripino Maia (DEM-RN) é apresentado pela mídia grande como um ícone da moral. Sempre entrevistado para denunciar as mazelas do governo Lula e pontificar sobre ética política. Seu passado, porém não o abona".


BLOGUE MUITO BOM

Gentilmente, Jens, o gaúcho da Toca, concedeu-nos um selo de Blogue Muito Bom. Teríamos que indicar mais sete. Só que são mais de sete os blogues amigos realmente bons. E agora? Mas já que Jens, colorado vibrador, adora futebol, poderíamos indicar onze nomes. E os suplentes? Como ficaria a lista? E o time reserva? Na verdade, teríamos, basicamente, dois times, além de seus respectivos suplentes: o dos marmanjos e o das meninas. Poderíamos voltar a publicar, a cada sábado, um Blogue Porreta do nosso agrado. O próprio Jens, se não estamos enganados, foi agraciado uma vez com o título. Pois é... Vamos pensar com calma no assunto.

sexta-feira, 25 de abril de 2008



Natal à noite,
poucas horas antes do toró
da última quarta, dia 23

Fotos de
Mário Ivo
in
Cidade dos Reis


BALAIO PORRETA 1986
n° 2295
Rio, 25 de abril de 2008



DOIS POEMAS
de Carito (RN)
[ in Os Poetas Elétricos ]

poema curto sem título número 2

pesquei tulipas
plantei tilápias
acordei com o canto
do peixe galo.


poema curto sem título número 3

no açude um dia
obcecado
a água agora pinta
e (trans)borda.


RECOMENDAMOS ESPECIALMENTE

Carta a D.; história de um amor, de André Gorz. Trad. Celso Azzan Jr. Pref. Josué Pereira da Silva. São Paulo : Annablume ; CosacNaify, 2008, 78p. [] Um livro intenso e delicado: a escrita amorosa em sua plenitude literária. Nos anos 60, Gorz já nos chamara a atenção com O socialismo difícil (Rio : Zahar, 1968).

Serras da desordem, de André Tonacci (Brasil, 2006), no Estação/2. [] Entre a ficção e o documentário, a história e a antropologia, um filme como poucos: realista, poético, autêntico. A história do índio Carapiru, da etnia awá-guajá, recontada pelo próprio. Emocionante. Decerto, um grande lançamento.

Romance do vaqueiro voador, de Manfredo Caldas (Brasil, 2006), no Arteplex/3. [] Para os candangos, o que representou exatamente a construção de Brasília? "[MC] parte de um fantasma: o Vaqueiro Voador, metáfora para os pedreiros mortos nas obras da capital da Républica" (Rodrigo Fonseca).

Asterix e seus amigos; uma homenagem a Albert Uderzo, por Milo Manara e outros. Rio de Janeiro : Record, 2008, 64p. [] 30 pequenas HQs, algumas deliciosas, que exploram o personagem gaulês criado em 1959. Uma verdadeira curtição quadrinhográfica, que inclui momentos metalingüísticos.

[][][]

No blogue do POEMA/PROCESSO:
Uma homenagem aos 81 anos de Wlademir Dias Pino.

quinta-feira, 24 de abril de 2008



São João do Sabugi e a Serra do Mulungu (RN),
em 1932.
Foto do acervo de Anchieta França,
no blogue do
Prof. João Quintino


BALAIO PORRETA 1986
nº 2294
Rio, 24 de abril de 2008



POEMA DE MÁRCIA MAIA

TANGO

pele a pele
suor saliva
espasmo gozo

[ in Tábua de Marés ]


REVISITANDO POSTAGENS ANTIGAS

UMA PEQUENA HISTÓRIA CASCUDIANA

"Cascudo é convidado por um amigo, velho mestre de fandango, para assistir a um ensaio. Estão compostas as duas alas de marujos e, ao som de instrumentos de cordas, marinheiros e oficiais começam a cantar:
- Nas ôndias do mar...
- Pára, pára! - ordena o mestre. - Respeitem o professor Cascudo. Eu já disse mais de mil vezes que a palavra não é ôndias. A palavra certa é ôndegas!"

[in Câmara Cascudo, um brasileiro feliz, de Diógenes da Cunha Lima]


Memória 1933
A PROPOSTA POLÍTICA DE UM CANDIDATO A PREFEITO

O fato aconteceu em Mossoró, RN, em 1933, e se encontra narrado no livro Um estado de "graça", de Celso da Silveira. O candidato a prefeito Pedro Artur da Silveira Martins se apresentou com a seguinte
plataforma política:

1. Comprarei um carro fúnebre a fim de que os defuntos
tenham mais conforto;
2. Mandarei construir banheiros públicos dentro do rio
para acabar com o nu aquático;
3. Determinarei a construção de mictórios públicos,
separando os homens das mulheres;
4. Não permitirei mais as conhecidas exibições jumentícias
no meio da rua, pois mandarei recolher os animais ao curral da Prefeitura, ficando isolados dos outros bichos;
5. Por motivos óbvios, mandarei riscar o
24 do número do Jogo do Bicho.

Ao que consta, o Sr. Pedro Artur não se elegeu.


COMO SE FALAVA EM NATAL
NA SEGUNDA METADE DOS ANOS 40


Arriado : Apaixonado
Arrotando goga : Gabando-se
Baiuqueiro : Jogador de baralho
Bater a linda plumagem : Voar; tomar caminho
Boca da noite : Fim de tarde
Caningado : Repetitivo; insistente
Comer corda : Aceitar e acreditar em elogios fáceis
Dar esbregue : Repreender
Dar o cavaco : Afobar-se; irritar-se
Enfarpelado : De roupa nova
Estar com a goitana : Estar furioso
Faltar areia nos pés : Ficar desnorteado
Jerimunlândia : A terra norte-rio-grandense
Lambedeira : Faca; peixeira
Marretar : Roubar
Muxicão : Beliscão
Pinicar a burrinha : Esporear
Queimar as pestanas : Ler; estudar muito
Torres : A formação de nuvens carregadas prenunciando chuvas

[ Fonte: Esquina da Tavares de Lira com a Dr. Barata,
reportagens de Djalma Maranhão.
Natal: Sebo Vermelho (Glossário organizado por Cláudio Galvão)]


FEIRA DE CITAÇÕES ESPORRENTAS

[] Só conheço um afrodisíaco - a mulher. (Millôr Fernandes)
[] O Ministério da Saúde adverte: conservadorismo e puritanismo provocam câncer. (Balaio 985)
[] O homem é um deus quando sonha e não passa de um mendigo quando pensa. (Hölderlin)
[] A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana. (Barão de Itararé)
[] O sonho é o pensamento em férias. (Murilo Mendes)
[] Seja um viciado em amor. Não há nenhuma contra-indicação do Ministério da Saúde. (Dailor Varela)
[] Deus é Foda. (Boêmio da Lapa, no Rio)
[] Prefiro o paraíso pelo clima, e o inferno pela companhia. (Marx Twain)

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Imagem de
Joanna Kustra
(original em p&b na PhotoNet)
em leitura cromático-semiótica
por
Moacy Cirne


BALAIO PORRETA 1986
n° 2293
Rio, 23 de abril de 2008



DISCOGRAFIA BÁSICA DO CHORO
Uma seleção preliminar crítico-afetivo-libertinária
/sem ordem preferencial/

Choros imortais, de Altamiro Carrilho (Copacabana, 1964)
Brasil, sax e clarineta, de Abel Ferreira (Marcus Pereira, 1976)
Vivaldi e Pixinguinha, por Camerata Carioca (Funarte, 1980)
Tributo a Jacob, por Camerata Carioca (WEA, 1980)
Uma rosa para Pixinguinha, por Camerata Carioca (Funarte, 1983)
História de um Bandolim, de Luperce Miranda (Marcus Pereira, 1976)
Sempre Nazareth, de Pedro Amorim & Maria Teresa Madeira (Kuarup, 1995)
Noites Cariocas ao vivo no Municipal (Kuarup, 1988)
Memórias / Chorando, de Paulinho da Viola (Odeon, 1976)
Mistura e manda, de Paulo Moura (Kuarup, 1993)
Dois irmãos, de Paulo Moura & Raphael Rabello (Caju Music, 1992)
Desde que o choro é choro, de Henrique Cazes & Família Violão (Kuarup, 1995)
Relendo Waldir Azevedo, de Henrique Cazes (RGE, 1997)
Violão tenor, de Pedro Amorim (Acari, 2000)
São Pixinguinha, de Pixinguinha & outros (Odeon, 1970)
No tempo dos Oito Batutas, de Pixinguinha & outros (Revivendo, s/d)
Radamés Gnattali interpreta Ernesto Nazareth (Continental, 1954)
Raphael Rabello e Dino 7 Cordas (Kuarup, 1991)
Minhas mãos, meu cavaquinho, de Waldir Azevedo (Continental, 1976)
Saudades de um clarinete, de K-Ximbinho (Eldorado, 1980)
Rainha do choro, de Ademilde Fonseca (RGE, 1977)
Chorando pelos dedos, de Joel Nascimento (Odeon, 1976)
Segura ele, de Paulo Sérgio Santos (Kuarup, 1994)
Os Carioquinhas no choro (Som Livre, 1977)
Vibrações, de Jacob do Bandolim (RCA, 1967)
Assanhado, de Jacob do Bandolim (RCA, 1966)

Seria possível apontar os melhores entre os melhores? Não custa nada arriscar:
1. Vibrações
2. São Pixinguinha
3. Choros imortais
4. Memórias / Chorando
5. Chorando pelos dedos
6. Vivaldi e Pixinguinha

"O aparecimento do choro, ainda não como gênero musical, mas como forma de tocar, pode ser situado por volta de 1870, e tem sua origem no estilo de interpretação que os músicos populares do Rio de Janeiro imprimiam à execução das polcas, que desde 1844 figuravam como o tipo de música de dança mais apaixonante introduzido no Brasil.
Segundo o maestro Batista Siqueira, que estudou em profundidade a música erudita e popular de meados do século XIX, os músicos amadores da época costumavam formar conjuntos à base de violões e cavaquinhos.
...
Como a flauta era, ao lado de violões e cavaquinhos, o terceiro instrumento mais popular da segunda metade do século XIX, era quase certo que a ela se deveria a parte de solo, durante aquelas tocatas em que os violões 'se adestravam nas passagens modulatórias', espicaçadas pelo saltitante contracanto dos cavaquinhos".
(José Ramos Tinhorão. Pequena história da música popular. Petrópolis : Vozes, 1974, p.95-96)

segunda-feira, 21 de abril de 2008


Aurora chamejante
Foto de
LUÍS DIOGO



BALAIO PORRETA 1986
nº 2292
Rio, 21/22 de abril de 2008



Repeteco
BALAIO INCOMUN
Folha Porreta
VII / 493
Rio, 1 jun 93


O DIÁRIO SECRETO DE LAMPIÃO
(Fonte inicial: Papa-Figo, de Recífilis)

Baixa-da-Égua (24/6/24)
Querido diarim. Hoje tô tão arretado que capei cinco e arranquei as pregas de mais oito cabras que soltaram uma indecência para Maria Bunita. A culpa também foi dela, pra que eu fui deixar a danada passar o carnaval em Olinda? A criatura voltou cheia de idéias, capaz inté de ter fumado maconha por lá. Ainda por cima agora tá achando que tá prenha. Se o minino sair galego eu sangro Corisco. Ou será que ele pensa que num tô notando o jeito que ele vive cubando as entrecoxas de Maria Bunita quando ela tá de cócas. Também ela precisa acabar com essa mania besta de não usar calçolas, parece inté que a sua priquita num tem dono. Tem, sim senhor.

Oiti-da-Mãe-Joana (24/8/24)
Querido diarim. Esse negócio de eu só escrevinhá no dia 24 é coincidência, viu, que eu sou muito do macho. Hoje tô de novo arretado, com vontade de arengar com o primeiro fidaputa que aparecer na minha frente. Corisco tá com jeito de quem tá querendo enfeitar minha testa, mas antes disso eu como os ovos dele com queijo e cuscuz. Aquele galego da pustema num tira o olho da minha nega. Só porque a mulher dele é Dadá ele pensa que toda mulher é só olhar que ela dá dá. Derna que disseram que ele vai aparecer num filme de um tal de Glauber Rocha que Corisco só tá querendo ser o coisa e tal, também com aquele cabelão de frango que ele usa tinha que terminar dando pra artista, viado ou professor da UFF. Vai acabar metido em grevença.

Pau-dos-Ferros-da-Gota-Serena (23/2/25)
Querido diarim. Andando por esse mundão de Deus e do meu Padim Ciço, dá pra perceber, o Brazil tá fudido. Tanta riqueza, tanta miséria e tanto cabra safado sem macheza nenhuma. Será que foi tudo capado? Não sô profeta, mas um dia, lá pelas horizontanças de 89, 91, 93, sei lá quando, machos e fêmeas que ensinam o abecê da filosomia e que trabalham pru guverno federal ainda vão pegar nas armas do saber e abalar o paiz. Maria Bunita e o cabra Leontino concordam comigo. Então, o sertão vai virar mar, o mar vai virar sertão.

Arre-Égua-do-Norte (25/3/25)
Querido Diarim. Hoje dei um trompaço num cabra que se meteu a besta com Maria Bunita. Depois mandei Jararaca arrombar o fi-o-fó lá dele e cortar a macheza do dito cujo. Eu num danço conforme a musga, danço conforme o contravento. Não sô homem pra perder tempo com miolo de quartinha. Por isso mesmo Corisco nunca mais olhou pras pernas da minha bichinha. Quem pode carrega e sai, quem num pode carrega e cai. Quem tem Maria Bunita, tem cheiro e cafuné.

Canapi-da-Bosta-de-Jumento (13/7/25)
Querido diarim. Bem que ocê poderia ser um Diadorim, se bem que Maria Bunita já é a neblina dos meus encantalamentos. Mas um dia um escrevinhador retado de luas e marés ainda vai diadorinhá a vida do grande sertão pra que os outros e muitos outros possam ler e aprender. Num sei se estarei vivo pra ver tudo isso escrito e bem escrito. Mas, num é nada, num é nada, esteja onde estiver, aqui, acolá, além, darei meu sorriso de sartisfação. Afinal, bangalafumenga nenhum, mesmo no Inferno, vai me impedir de continuar macho. A macacada que se cuide. Sei que desgraça pouca é bobagem, mas nos futuros um tal de Fernandim das Alagoas vai querer desgraçar a vida do paiz. É uma pena, já estarei morto, senão cozinhava em azeite de dendê as partes roxas lá dele. Os cabras iam adorar.

[ Texto estabelecido pelo Prof. Jomard Martins Marconi da Costa ]


No blogue do POEMA/PROCESSO:
Angelina Jolie & Naomi Campbell
em fantasias fotográficas de David LaChapelle

domingo, 20 de abril de 2008



Hoje é dia de festa no
Maracanã:
Fluminense e Botafogo
decidem a
Taça Rio

Balaio Extra, às 20:26h
Parabéns
ao Botafogo
e à torcida alvinegra
pela conquista
da Taça Rio

BALAIO PORRETA 1986
nº 2291
Rio, 20 de abril de 2008


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

O profeta tricolor
, de Nelson Rodrigues. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, 236p. [] Coletânea das melhores crônicas do genial dramaturgo voltadas pra uma de suas grandes paixões: o Fluminense. Há crônicas verdadeiramente mágicas: A grande noite do ceguinho, Sejamos docemente barrigudos, A incomparável torcida tricolor, A mais doce vitória da terra, A vitória estava escrita há seis mil anos, Chega de humildade, Momento de eternidade, Duelo de paixões, A volta do profeta. Enfim, um livro maravilhoso. E não só para os tricolores.

Botafogo entre o céu e o inferno, de Sérgio Augusto. Rio de Janeiro, 2004, 256p. [] Obra indispensável para aqueles que amam o alvinegro carioca, mas também para todos aqueles que amam o futebol sem preconceitos clubísticos. Com a marca inconfundível do jornalista Sérgio Augusto, há capítulos brilhantes: Cabeça e coração, Petulâncias alvinegras, Estrela solitária, Gilda!, Um cão e um passarinho. Só não entendemos uma coisa: a bigamia do gaúcho Luís Fernando Veríssimo, ao mesmo tempo apaixonado pelo Internacional e pelo Botafogo.


Futebol & Humor
UMA HISTÓRIA LUSITANA
por Sandro Moreyra

O Benfica de Lisboa promoveu um concurso para escolher um ponta-direita para seu time. Vários candidatos se apresentaram numa acirrada disputa pela vaga e pelo contrato. Durante um mês foi um interminável desfile de pretendentes e no final ganhou um jovem de 19 anos e de bom futebol. Ganhou e sumiu. Procura daqui e dali, nada do ponta. Até que uma tarde ele reaparece, mas vestido de padre com coroinha e tudo.

- Ué, mas você é padre? - estranharam.

- Não, isto é, não era - respondeu o ponta. Acontece que eu tinha tanta vontade de ganhar que fiz uma promessa a Nossa Senhora: se fosse o vencedor entraria para um convento. E lá estou.


Nota do Editor:
A foto da torcida tricolor é de Z. Daniel;
a da torcida alvinegra foi extraída do BotafogoNet.

sábado, 19 de abril de 2008


Serras da Desordem:
da ficção ao documentário,
do documentário à ficção


BALAIO PORRETA 1986
n° 2290
Rio, 19 de abril de 2008



Primeira leitura
SERRAS DA DESORDEM

Os 15 minutos iniciais do filme reconstituem, entre a história e a antropologia, o modo de vida dos awa-guajá numa reserva indígena informal ao norte do país: os índios, velhos e crianças, homens e mulheres, brincam, observam, sorriem, "humanizam" a relação com a natureza. E falam. E falam. E falam. Não há tradução. Não há necessidade de legendas. Não há necessidade de maiores explicações "verbais". O que interessa para o diretor paulistano André Tonacci (que já nos dera os ótimos Blábláblá, curta de 1968, e Bangue-bangue, de 1971) é a interioridade de um sentimento cósmico que aponta para uma outra humanidade. Uma humanidade que compreende a Mãe-Terra mais do que todos nós.

Há também o silêncio, há também o saber do índio. Há também o nosso espanto diante de imagens tão belas. E tão viscerais. Recorramos a Ismail Xavier: "A primeira imagem de Serras da Desordem traz a figura de um indígena sozinho na mata, a preparar uma fogueira. A câmera segue de perto os detalhes de sua tarefa que evidencia um saber. A cena é longa: o silêncio e o capricho nas operações vão compondo o interesse especial pela situação ...". O teórico paulista, com propriedade, aproxima a obra de Tonacci com o clássico Nanook, o esquimó (1922), de Flaherty. Sobretudo porque os dois diretores transformam o real em ficção, mas uma ficção que se quer documento da realidade, uma ficção que se quer materialidade ontológica. Mas o que acontece depois das cenas iniciais?

Acontece o pior: a invasão do homem branco. E com a invasão, a supremacia da força bruta. E com a invasão, a delimitação de um espaço físico marcado pela cultura de elementos estranhos àquele lugar de vivencialidades demasiadamente humanas. E com a invasão, a morte: todos os índios são massacrados. Com exceção de um: Carapiru. Estávamos em 1977. Mas só em 1988 o fato tornou-se conhecido. Aqui, o filme se faz História, a História se faz Antropologia, a Antropologia aposta formalmente no Cinema. Reescrever a "história particular" de Carapiru, sua luta pela sobrevivência no meio de pessoas alheias ao seu modo de pensar, seu contato com a FUNAI, seu encontro com um sertanista de Brasília, sua volta para a sua gente, é reescrever o alcance do cinema-documentário enquanto estética, enquanto antropologia. Neste sentido, Serras da Desordem (2006) é um marco.

Um marco porque procura se colocar no lugar do Outro, sem ser o Outro. E é também um marco num sentido mais especificamente cinematográfico: por redimensionar o "tempo histório" da ação (que recorre à época da ditadura entre nós, através de cinejornais de 1968-74, mais ou menos) e pela transformação de caboclos e índios (a começar pelo próprio Carapiru) em verdadeiros "atores naturais". Da encenação inicial ao documento final, quando o diretor Tonacci aparece em cena, o filme se constrói de maneira quase mágica. Mesmo considerando que "Serras da Desordem termina com uma justaposição contundente, em nada ajustada à pureza do registro documental. Era preciso, ao lado do encanto e do mistério, encontrar a imagem que condensasse a imensidão do problema" (Ismail Xavier. As artimanhas do fogo, para além do encanto e do mistério, in Serras da Desordem, de Daniel Caetano [org.]. Rio de Janeiro : Azougue, 2008, p.11-23).

Nota:
no Rio, depois da pré-estréia no Odeon, Serras da Desordem entrou em cartaz no Estação/1.

sexta-feira, 18 de abril de 2008


Lixo espacial em volta da Terra

Foto de satélite publicada esta semana,
divulgada pela Agência Espacial Européia:
"Segundo a agência, entre o primeiro lançamento, em 1957 [o Sputnik], e janeiro de 2008, cerca de 6 mil satélites já foram enviados para a órbita terrestre. Destes, apenas 800 estariam ativos e 45% estariam localizados a uma distância de até 32 mil quilômetros da superfície terrestre".


BALAIO PORRETA 1986
nº 2289
Rio, 18 de abril de 2008


Tesourapress
ESPAÇO
Carlos de Souza
[ in Substantivo Plural, de Natal ]

Uma fotografia na internet mostra o lixo espacial em torno da terra e é espantoso como o ser humano é capaz de sujar tudo, até o espaço. Às vezes desejo que as profecias de Malthus (aquele que previa a morte da humanidade por causa da superpopulação) sejam concretizadas logo, ou que a catástrofe nuclear seja rápida e urgente, mas depois penso nas pessoas que eu amo e fico quieto.

Lixo
Não, eu não sou um ecochato. Mas fico deprimido cada vez que vejo uma montanha de lixo. Acho que é o cúmulo da barbárie a pessoa não saber cuidar do próprio lixo, ou seja, colocar no lugar certo. Eu sei que o poder público nem sempre faz a sua parte na coleta do lixo, mas é possível colocá-lo em sacos bem acondicionados e providenciar depósitos adequados de acordo com a condição financeira de cada um.

Plástico
Depois que vi a reportagem numa revista dizendo que existe um grande lixão de plásticos no Oceano Pacífico, entre o Hawaí e a costa americana, levei um choque de realidade. Os EUA, o modelo de crescimento econômico do mundo, tão imitados por todas as nações emergentes do mundo, são verdadeiros bárbaros porcalhões. Em São Paulo existe uma iniciativa da indústria de reciclagem de garrafas pets que são transformadas em fibras para vários tipos de utilização. Por que essa idéia não pode ser universalizada?

Pneus
Já foi comprovado que pneus servem para fabricar matéria-prima de asfalto, tubos de saneamento e uma série de outras utilidades. Jogados na natureza não servem para nada, mas quando utilizados na indústria, são de grande valia. Por que ainda servem de focos do mosquito da dengue?

Floresta
A principal causa da derrocada do Haiti como nação foi o seu desmatamento sistematizado para o plantio da monocultura. O Brasil caminha celeremente e feliz para o mesmo destino. Mais um século nesta velocidade e não teremos mais a Amazônia. Se essa desgraça chegasse logo e matasse os filhos da puta que estão fazendo isso, eu abriria uma garrafa de Johnny Walker para festejar. Mas não, ela só vai atingir os meus netos.

Políticos
Outro tipo de lixo. Fiquei a semana inteira sob o efeito do texto de Woden Madruga sobre a viagem dos parlamentares potiguares à área das enchentes no interior do Estado. Eles deviam seguir o exemplo de Manoel Lopes, do Armazém da Caridade que, ao invés de fazer uma mera e inútil visita, manda alimentos para o desabrigados. O dinheiro que estes ilustres Deputados gastaram nesta esdrúxula viagem daria para mandar um caminhão de alimentos, medicamentos, água potável e roupas? Votem neles, porra!

Rios
A imagem do Rio Mossoró atulhado de lixo, lama e plantas que se alimentam da poluição é de deixar qualquer um com vontade de vomitar. A cruel ironia de tudo isso é que a natureza quando resolve se vingar passa por cima das casas desses miseráveis que jogaram o lixo no pobre rio. Ah, meu Deus, e aquele esgoto de Macau jorrando direto no rio, hein? Será que no ano que vem o governante da cidade vai fazer outro megacarnaval, ao invés de fazer a obra de saneamento que a cidade merece?

Música
“Mães zelosas, pais corujas. Vejam como as águas de repente ficam sujas...”. Gilberto Gil.


RECOMENDAMOS ESPECIALMENTE
o filme Serras da Desordem, de André Tonacci, no Estação/1:
uma obra-prima emocionante.

quinta-feira, 17 de abril de 2008


Hoje é dia
de
FLUMINENSE
no
Maracanã

Foto de
Daniel Zappe
in
Canal Fluminense
a partir do blogue
Flu Sócio


BALAIO PORRETA 1986
n° 2288
Rio, 17 de abril de 2008



Repeteco
EDUCAÇÃO SEXUAL

Rafael Maia
[ in Poeta que Pariu, em 2003 ]

- Mamãe, o que é boceta?
- Que horror, meu filho! Quem te ensinou a falar isso?
- O papai que falou. Ontem, conversando com o tio Pedro, ele disse que a Maria Cláudia do 302 deu a boceta pra ele. Será que ele guardou aqui na sala?
- Claro que não, meu filho! Isso não se guarda na sala... E é verdade que seu pai falou isso?
- É sim! E como ele tava rindo, achei que fosse alguma coisa legal. Mamãe, posso ganhar uma boceta no dia das crianças?
- NÃO, NÃO pode! E o seu pai é um cachorro, um safado, um canalha... Ai dele quando chegar em casa...
- Não briga com ele, mamãe. Vai ver ele pegou a boceta da Maria Cláudia pra dar pra você...
- Ai, menino! Que idéia! Isso não se dá. Não assim. E eu não preciso de mais uma...
- Por que, mamãe? Você tem uma boceta?
- Tenho, claro. Toda mulher tem...
- Ah! É coisa de mulher então. Mas por que a Maria Cláudia deu a dela pro papai?
- Isso eu também quero saber, meu filho, e como quero!
- Você já deu a sua boceta pro papai, mamãe?
- Já, já dei. Muitas vezes. Você é a prova disso...
- Por quê?
- Ai, meu Deus! Porque você saiu dela!!!
- Da sua boceta?
- É!!!
- Então é uma coisa grande...
- Mais ou menos. Mas você passou por ela quando era bebê. Todos os bebês passam...
- Mas não são as mulheres que têm os bebês?
- São sim, filho! Por quê?
- Porque se a Maria Cláudia deu a boceta dela pro papai, ela não vai poder ter bebês...
- Engano seu, menino. Agora é que ela pode ter mesmo...
- Não entendi...
- Olha, eu vou tentar explicar! Vocês, meninos, homens, têm uma coisa que nós não temos. Ou temos, só que é diferente. E essa coisa... Ah! A campainha! Vou abrir...
- Papai!
- Oi, filhão! Oi, amor! Aline, por que essa cara? Aline? Aline, volta aqui!!!
- Ih, pai! Acho que ela não gostou de você não ter contado pra ela que ganhou a boceta da Maria Cláudia.
- Co...co...co... como assim, menino? Que história é essa?
- Ah, pai, você sabe. Eu ouvi você e o tio Pedro conversando ontem à noite e contei tudo pra ela...
- RICARDO ALVARENGA JR.! EU JÁ NÃO TE FALEI QUE FAZER FOFOCA É MUITO FEIO. Isso é coisa de mulher...
- Ah, papai... Boceta também é coisa de mulher. E você tem uma...
- Ai, ai, ai, menino! Não me responda... Bom, depois nós conversamos. Agora vou ter que falar com a sua mãe.
- Papai, só me diz uma coisa...
- O que, Ricardo?
- Algum dia uma menina vai me dar uma boceta?
- Vai, vai sim.
- E eu vou gostar?
- Bom, assim eu espero...
- E eu vou poder contar pra alguém como você contou pro tio Pedro?
- Vai, Ricardo! Só não vai poder contar pra sua mulher e pros seus filhos, senão vai dar confusão.
- Tá bom, papai. Vou me lembrar disso. Papai? Papai? PAPAI? Volta aqui, você ainda não me falou o que é uma... Ah, desisto! Que gente mais complicada. Vivem dando e recebendo um negócio que eles nem sabem explicar o que é... Também não quero mais saber. Vou assistir televisão. Quero ver o Gugu pra saber quem é a nova loira do Tchan. Vai ver assim eu esqueço essa história de boceta...

quarta-feira, 16 de abril de 2008


Cartão postal
de
Copacabana dos anos 10

in
CopacabAna de Toledo


BALAIO PORRETA 1986
n° 2287
Rio, 16 de abril de 2008


GRITAREI
Poema de SAMIH AL QASSIM (Zarqah, 1939-)

No Século Vinte

Aprendi a não odiar
durante séculos
mas me obrigaram
a brandir uma flecha permanente
diante do rosto de uma píton
a brandir uma espada de fogo
diante do rosto do Baal demente
a transformar-me no Elias do século vinte

aprendi
durante séculos
a não proferir heresias
hoje açoito os deuses
que estavam no meu coração
os deuses que venderam o meu povo
no século vinte

aprendi
durante séculos
a não fechar a porta diante dos hóspedes
mas um dia
abri os olhos
e vi minhas ovelhas roubadas
enforcada a companheira de minha vida
e nas costas de meu filho
sulcos de feridas
então reconheci a traição de meus hóspedes
semeei meu umbral com minas e punhais
e jurei em nome das cicatrizes
que nenhum hóspede ultrapassaria meu umbral
no século vinte

durante séculos
não fui mais do que poeta
assíduo freqüentador dos círculos místicos

mas me transformei
num vulcão em revolta
no século vinte!

[in Poesia palestina de combate. /Trad. não especificada/
Rio de Janeiro: Achiamé, 2ª ed., s/d, p.59-60 ]

terça-feira, 15 de abril de 2008


O açude Itans, em Caicó,
em foto recente de
Thaís Moreira


BALAIO PORRETA 1986
n° 2286
Rio, 15 de abril de 2008



POEMA de
Maria Maria
[ in Espartilho de Eme ]

Os açudes dançam a colheita futura e eu me festejo com flores mornas.

Eu me celebro como os ramos de jurema que se deitam sobre as águas.


SERRAS DA DESORDEM

Ontem à noite, em sessão especial no Odeon, finalmente vimos o mais recente trabalho de André Tonacci: Serras da Desordem (2006), baseado em fatos reais vividos por Carapiru, índio da etnia Awa-Guajá. Os atores são os próprios personagens da história narrada, entre a ficção e o documentário. Para dizer o mínimo: um filme impactante. Diremos mais: sob vários sentidos, um filme extraordinário. Como poucos, na história do cinema brasileiro. Como poucos, na história dos últimos 10 ou 12 anos do cinema mundial. No próximo sábado, ou no sábado seguinte, procuraremos analisá-lo, aqui, nem que seja superficialmente.


VASTO MUNDO DO HUMOR
Valério Mesquita

[ in Tribuna do Norte ]

O neovereador Antônio Borracheiro passou constrangimento ao tentar pagar suas compras com um cartão de crédito. Procurou, inicialmente, resolver a situação via telefone. Do outro lado da linha, uma voz feminina, carregada de sotaque sulista, interroga: “Qual o problema, senhor?”. Antônio: “Ói, aqui é de São Gonçalo, o causo é...”. “Por favor, senhor”, interrompe a moça. “É do estado do Rio?”. “Quê?”, rebate Antônio. “Nós temos dois rios. O Potengi que tá poluído e o Golandim que tá quase morto”. E continuando: “Mais eu quero é falar do meu cartão mastacar que não tá passando aqui pra pagar uma feirinha bem pixititinha”. “Desculpe, senhor. Eu sei de um São Gonçalo no estado do Rio de Janeiro, esse outro, onde fica?”. “Mas tá?”, surpreende-se Antônio. “Fica aqui, menina! Eu tô montado na minha motoca no centro da cidade”. Para desgosto do borracheiro-vereador, a linha caiu. Para ela tudo não passou de um cruzamento geográfico.

Nota do Balaio:
O vereador em questão referia-se a São Gonçalo do Amarante, cidade a poucos quilômetros de Natal. A crônica completa de Valério Mesquita apresenta quatro "causos"; só publicamos o primeiro.

segunda-feira, 14 de abril de 2008


O Balaio adverte:
o McDonald's
(e similares)
faz mal à saúde

Imagem
in
PhotoBucket
a partir de
Amor e Ócio


BALAIO PORRETA 1986
n° 2285
Rio, 14 de abril de 2008



O PENSAMENTO VIVO DO VIVO STANISLAW PONTE PRETA
[ Pif Paf nº 1, 21 de maio de 1964,
in Pif Paf - 40 anos depois. Rio: Ed. Argumento, 2005 ]

ACHADO
Todo homem que considera a mulher o sexo perdido é porque não é muito dado a procurá-lo.

CULINÁRIA
Nem sempre o dono dos temperos faz o melhor refogado.

MORTAIS
As três coisas mais perigosas que eu conheço são: limpar arma de fogo, mulher do vizinho e croquete de botequim.

OPORTUNIDADE
O sol nasce para todos e a sombra para quem é vivo.

PROPAGANDA
Tirante a mulher, a gente deve sempre recomendar aquilo que experimentou e gostou.


FEIRA DE CITAÇÕES ESPORRENTAS
[ im O melhor do mau humor, de Ruy Castro ]

De todas as taras sexuais, não existe nenhuma mais estranha do que a abstinência.
(Millôr Fernandes)
O americano 100% é 99% idiota.
(George Bernard Shaw)
A humanidade está sempre três uísques atrasada.
(Humphrey Bogart)
[A castidade é] A mais anormal das perversões sexuais.
(Aldous Huxley)
Cinema-verdade? Prefiro o cinema-mentira. A mentira é sempre mais interessante do que a verdade.
(Federico Fellini)
Deus fez o mundo em seis dias. No sétimo, Stanley Kubrick mandou tudo de volta, para modificações.
(Stanley Kubrick)
Estou em Hollywood há tantos anos que conheci Doris Day antes que ela se tornasse virgem.
(Groucho Marx)
Uma feijoada só é realmente completa quando tem uma ambulância de plantão.
(Stanislaw Ponte Preta)

domingo, 13 de abril de 2008


Um poema é um poema é um poema
Imagem:
Olhares


BALAIO PORRETA 1986
n° 2284
Rio, 13 de abril de 2008



POEMA
de
HILDEBERTO BARBOSA FILHO

[ in Pequena propedêutica litúrgica
ao sagrado corpo da mulher amada
.
João Pessoa, 2000 ]

é preciso cantar
o corpo da mulher amada
e seus cálidos cardumes
na lagoa do tempo
antes que seja tarde

é preciso louvar
o corpo da mulher amada
e seus finos equinócios
de rubra geografia
antes que seja tarde

é preciso moldar
o corpo da mulher amada
e suas vastas aquarelas
nos epitáfios da água
antes que seja tarde

é preciso regar
o corpo da mulher amada
e seus noturnos lerões
nas órbitas da carne
antes que seja tarde

é preciso podar
o corpo da mulher amada
e seus secretos novelos
na névoa do beijo
antes que seja tarde

é preciso amar
o corpo da mulher amada
e suas claras rêmoras
nas luas do orgasmo
antes que seja tarde

é preciso cantar
o corpo da mulher amada
e suas lácteas litanias
na hóstia do olhar
antes que seja tarde

sábado, 12 de abril de 2008


Cartaz do filme
Eclipse,
de Michelangelo Antonioni,
lançado em 1962,
o ano de
Viver a vida (Godard)
Jules et Jim (Truffaut)
O anjo exterminador (Buñuel)
O homem que matou o facínora (Ford)
O processo (Welles)
O processo de Joana d'Arc (Bresson)
O silêncio (Bergman)
Muriel (Resnais)
Porto das Caixas (Paulo César Saraceni)
A faca na água (Polanski)
Cronaca familiare (Zurlini)
La jetée (Marker), curta
Labirinto (Lenica), curta/animação
solida (Wlademir Dias Pino)
Billenium (Ballard)
Um estranho numa terra estranha (Heinlein)
Primeiras estórias (Guimarães Rosa)
Homem-Aranha (Lee & Ditko)
Mort Cinder (Oesterheld & Breccia)
Barbarella (Forest)


BALAIO INCOMUN 1986
n° 2283
Rio, 12 de abril de 2008



Repeteco 7 julho 2004
A METAMORFOSE EM TRÊS TEMPOS

A metamorfose, de Kafka, publicado em 1915, é um dos textos mais densos da literatura do século XX. Toda a "angústia kafkiana", que depois encontraria contornos ainda mais intrigantes em O processo, já aparece aqui de forma inusitada. No momento, estamos empenhados em três leituras da novela (ou conto, segundo alguns): duas traduções e uma adaptação, recém-lançada no mercado brasileiro, levando em conta, contudo, que não temos acesso ao original alemão.

Comecemos com a tradução de Modesto Carone, que já conhecíamos: "Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranqüilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso" (SP: Brasiliense, 1991, p.7). Vejamos a tradução de Jorge Luis Borges, de igual modo nossa conhecida: "Al despertar Gregorio Samsa una mañana, tras un sueño intranquilo, encontróse en sua cama convertido en un monstruoso insecto" (Buenos Aires: Losada, 1976, p.15). Nos dois casos, o mesmo impacto semântico-temático.

Não será diferente na quadrinização de Peter Kuper (São Paulo: Conrad, 2004). Uma primeira página, totalmente preta, com letras destacadas em branco no seu eixo central: "Ao acordar naquela manhã de sonhos perturbadores, Gregor Samsa viu-se transformado...". Ao se virar a página, os desenhos de Kuper: expressionistas, duros, agressivos. Desenhos que serão a marca registrada nas páginas seguintes. Com uma cruel advertência: "Não era um sonho".

Decerto, existe uma brutal diferença entre a transcriação semântica de um texto e a adaptação desse mesmo texto para outra linguagem, com níveis de significação estética diferenciados. Não podemos ler uma revista de quadrinhos como se lê um livro. Antes de se perguntar pela possível fidelidade ao "clima" kafkiano, deve-se perguntar: Kuper conseguiu fazer de A metamorfose um bom quadrinho?

Ou seja, não se pode fazer uma leitura comparativa mecanicista em se tratando de linguagens diferentes. Lembremo-nos de O processo, quando foi lançado no cinema, em 1962: alguns o criticaram porque seria pouco kafkiano. Ora, ora, deveriam se indagar se o filme era wellesiano, se tinha a marca de Welles... Qualquer comparação deveria ser feita, em primeiro lugar, com o cinema do próprio Welles e com a produção cinematográfica da época. Kafka era uma referência importante, claro, mas não era a principal.

Curiosamente, Kuper, com seu estilo gráfico opressivo, bastante pesado no claro-escuro das imagens, consegue ser kafkiano na medida de suas pretensões estético-narrativas. Há uma passagem particularmente interessante, ainda no início, quando o gerente da firma vai visitar Gregor Samsa, em função de seu atraso.

Em Carone: "Estou perplexo, estou perplexo. Acreditava conhecê-lo como um homem calmo e sensato e agora o senhor parece querer de repente começar a ostentar estranhos caprichos. ... Porém, vendo agora sua incompreensível obstinação, perco completamente a vontade de interceder o mínimo que seja pelo senhor" (p.19-20).

Em Borges: "Estoy asombrado; yo le tenía a usted por un hombre formal y juicioso, y no parece sino que ahora, de repente, quiere usted hacer gala de incompresibles extravagancias. ... Pero ahora, ante esta incompresible testarudez, no me quedan ya ganas de seguir interesándome por usted" (p.25).

Em Kuper: a página é dominada por uma só imagem, sombria como as demais. E o balão, dividido em três tempos gráficos, indica a fala do gerente, que completa: "Estou chocado, CHOCADO! Achava que você era uma pessoa razoável!" Se é possível comparar as duas traduções, mesmo sem levar em consideração a matriz original do texto, a quadrinização de Kuper tem que ser remetida a outros quadrinhos e a outras adaptações de obras literárias. E que são muitas, inclusive no Brasil.

Mas ler Kafka através de Carone e Borges é viajar por terras prazerosas no campo fértil da leitura. Conhecer Kafka através de Kuper tem outra dimensão estética, mas igualmente importante, desde que não deixemos em segundo plano a relevância do texto enquanto escrita literária (já as HQs seriam uma escrita gráfica). Ou seja: leiamos/vejamos Kuper (que já incursionara pelo universo kafkiano), mas, antes de mais nada, leiamos Kafka. Tomemos a cena da morte de Gregor Samsa, por exemplo, depois de longa odisséia pelos labirintos das incertezas humanas.

Em Carone: "Recordava-se da família com emoção e amor. Sua opinião de que precisava desaparecer era, se possível, ainda mais decidida que a da irmã. Permaneceu nesse estado de meditação vazia e pacífica até que o relógio da torre bateu a terceira hora da manhã. Ele ainda vivenciou o início do clarear geral do dia lá do lado de fora da janela. Depois, sem intervenção da sua vontade, a cabeça afundou completamente e das suas ventas fluiu fraco o último fôlego" (p.80-81).

Em Borges: "Pensava con emoción y cariño en los suyos. Hallábase, a ser posible, aún más firmemente convencido que su hermana de que tenía que desaparecer. Y en tal estado de apacible meditación e insensibilidad, permaneció hasta que el reloj de la iglesia dio las tres de la madrugada. Todavia pudo viver aquel comienzo del alba que despuntaba detrás de los cristales. Luego, a pesar suyo, su cabeza hundióse por completo, y su hocico despedió débilmente su postrer aliento" (p.72-73).

Em Kuper: três páginas narram o drama terminal de Gregor Samsa, sendo que as duas últimas, praticamente sem palavras, formam um só painel visual. Aqui, Kuper deixa de lado o seu traço definido, másculo, vigoroso, para mergulhar em sombras de baixa temperatura informativa, mas de alta configuração gráfica. Tudo se completa, nada se perde.

No final, apesar da tragédia familiar, a irmã de Gregor "havia florescido em uma jovem bonita e opulenta" (Carone, p.87), isto é, "habíase desarrollado y convertido en una linda muchacha llena de vida" (Borges, p.78). E o traço de Kuper, nos últimos enquadramentos, parece adquirir estranha e voluptuosa alegria.

Nota do Balaio: A 1ª edição da tradução de Jorge Luis Borges é de 1943; a de Modesto Carone, de 1985. O original de Peter Kuper é de 2003.


OS MELHORES FILMES
SEGUNDO
ROBERT BENAYOUN
[in Top 100 movies, 1988]

1. Vidas amargas (Kazan)
2. A regra do jogo (Renoir)
3. Luzes da cidade (Chaplin)
4. Cidadão Kane (Welles)
5. Ano passado em Marienbad (Resnais)
6. Amarcord (Fellini)
7. Viridiana (Buñuel)
8. A aventura (Antonioni)
9. Andrei Rublev (Tarkóvski)
10. Relíquia macabra (Huston)


RECOMENDAMOS
a leitura da crítica de Francisco Sobreira
sobre Pai e filha (Ozu, 1949),
in Luzes da Cidade.