quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Na verdade só sabemos quão pouco sabemos – com o saber cresce a dúvida. (GOETHE. Máximas e reflexões [1840]. Lisboa: Guimarães Editores, 1987, p. 79)



BALAIO PORRETA 1986

n° 1949

Rio, 7 de fevereiro de 2007

Poema/Processo, 40 anos

Contato: balaio86@oi.com.br



POEMA DE LUMA CARVALHO (RN)
[ in Tamborete. Currais Novos, RN, dezembro de 2003 ]


O pior (ou melhor, sei lá...)
De te amar...
É essa eterna e imensa
Saudade
Que sinto de você
Mesmo quando estamos abraçados...


TRÊS AMORES

Conto de Wescley J. Gama (RN)

[ in A Taberna ]

Leolina preparou preá naquela tarde túmida e quente, depois de acordar presunçosa e descabidamente linda, concordando com Erasmo no pensamento de que deviam deixar as barrancas do rio boi tatá e ganhar a direção das colunas de vento que levavam à cidade de Desvelo, onde seriam felizes para os dias que viessem. Mas o que houve deveras é que Erasmo pensara mais e não consentira em atinar na displicência de abandonar o chão que prometera ao seu famigerado pai cuidar. Leolina então preparou café e ficou triste por toda a tarde, se sentindo tão só como não merecia. Queria ganhar o mundo através das saídas pedregulhosas do sítio galinhas d'água. E foi com Irineu, mercante vendedor de bugigangas sertanejas, até os confins da idade tardia das estradas empoeiradas e quentes, até o dia em que Erasmo finalmente a achou e voltaram para casa no intuito de reatar o casamento no antigo ninho de suas venturas adolescentes. Contrariando suas próprias expectativas, Leolina foi feliz assim por muitos anos. Esperou Erasmo sair da cadeia pública e simples do município de Rio do Fogo, a muitos metros de distância do calor do fogo da lenha que ardia em Leolina, que chorava em pena por Irineu, que sofreu duas noites irresolutas como não sofrera nos fornos negros das cerâmicas em que trabalhara antes de ir viver do ofício de mercador nos idos das paragens sertanejas mais distantes dos olhos de sua esposa, Lorena, que viveu só à sua espera até o dia em que chegaram estórias de amor e sangue, de um lugar muito distante, chamado pelos povos indígenas de terra da dedicação. Desvelo, cercada de caiçaras e outras cercanias.




Humor / Futebol
ACONTECEU EM PARIS, COM O BOTAFOGO


A história a seguir, recontada por este Balaio, está no ótimo livro Os subterrâneos do futebol (Rio: Tempo Brasileiro, 1963), de João Saldanha, botafoguense histórico. Em maio de 1959, os alvinegros excursionavam pela Europa. Entre um jogo e outro, foram parar na capital da França. Pintou, então, uma folga. E folga, para aqueles jogadores (Amoroso, Amarildo, Garrincha, Tomé e os demais), só podia significar uma coisa: mulheres. Por obra e graça do destino, quando alguns deles cervejavam num dos bares da Cidade Luz, apareceram umas francesinhas que deixaram os marmanjos loucos. E eram jovens finíssimas, cada uma mais bonita, mais elegante e mais cheirosa do que a outra. Todos terminaram numa casa bastante distinta nas proximidades do bar. Só que havia uma senhora cinquentona, cinquentona e bonitona, dona do pedaço, que resolveu marcar um encontro para uma festinha íntima de confraternização no dia seguinte. Tudo acertado com a Madame “responsável” pelas jovens, eis que oito ou nove jogadores do Botafogo, assanhadíssimos, bem antes da hora combinada, já se encontravam na bela casa da Madame, que, além do mais, era poliglota. Acompanhava-os, meio por acaso, um jornalista esportivo francês, interessado numa entrevista com Mané Garrincha.

Passemos a palavra a João Saldanha:

“A madame dirigiu-se ao Amarildo: ‘Buenos dias amiguito. Veo que volvieran. Pero es temprano todavía. Hay que tener paciencia’ - falou com uma voz rouca e Tomé exclamou com cara de fauno: ‘Sou louco por mulher de voz grossa. Vai ser o fino’. E seguiu com o olhar o rebolado da madame que foi telefonar.

Nisto, o jornalista francês, meio embaraçado, perguntou ao Tomé:

- Mas vocês estão bem certos que é aqui o programa com as garotas? Eu bem que estava conhecendo isto. Sabem quem é esta madame? É o famoso travesti, Madame Arthur. É a dona de um cabaré de espetáculos. Aqui não tem mulher. Aqui é... é... bem, aqui é tudo homem, quer dizer... são travestis. É isto que vocês querem?!?!

Quando Madame Arthur voltou, a sala já estava vazia” (p.193-194).

Todos saíram correndo. Garrincha era o mais veloz de todos.

Não é preciso dizer que a gozação, na viagem para Madri, etapa seguinte da excursão, foi geral.



UM DISCO PORRETA

Luiz Gonzaga (ao vivo) volta pra curtir,

de Luiz Gonzaga

[ BMG/RCA 43218 55432 (grav. 1972) ]


3 comentários:

Anônimo disse...

Caro Moacy,
Hoje, pra variar, sua postagem está excelente. A presença do velho companheiro Saldanha, me fez lembrar menos de futebol e mais de caráter, determinação, coragem, compromisso...
E esse contista, que coisa mais bonita! Esse rapaz, Wescley, desmente aquela afirmativa do Patriota (sobre a qual já conversamos) de que no RN sobram poetas e faltam contistas. Falta nada!
Bem, no mais te parabenizar pelo novo Balaio. E, mais uma vez, te agradecer a generosidade de tuas visitas lá no politicamente...
Forte abraço.

o refúgio disse...

Bela postagem, Moacy.

Beijos.

Iara Maria Carvalho disse...

Moacy, querido...
Mais uma vez você nos tira o fôlego com uma postagem riquíssima.
Hoje, em especial, sou suspeita demais para comentar esses currais-novenses que adoro de coração, pois que minha irmã linda e amiga (Luma Carvalho) sempre a nos enfeitiçar com sua doçura e querência pela vida...e meu lindo companheiro Wescley, com um mini-conto perfeito que tive o privilégio de ter sido a primeira a ler.
No mais, fica com meu abraço e com uma grande vontade de promover grande reunião aqui no Seridó com a tua ilustre presença. E então: quando nos dará o ar de tua graça?
Abraço grande com calor de carnaval chegando (embora prefira ficar em casa nesses tempos...rsrs)