sexta-feira, 2 de março de 2007

Cartas de Iwo Jima (Eastwood, 2006), que vimos ontem, tem tudo para se transformar num clássico do cinema de guerra, como clássico é, por exemplo, Glória feita de sangue (Kubrick, 1957), e tantos outros. O tempo nos dirá se, de fato, estamos diante de um clássico ou não. De qualquer maneira, trata-se de um filme ótimo, o melhor que vimos em 2007, até o momento. Mas deixamos de ver A conquista da honra, do mesmo diretor, que aborda a mesmíssima temática (a tomada da ilha de Iwo Jima, na 2ª Grande Guerra), segundo a perspectiva americana. Decerto, valerá a pena comparar os dois. De uma forma ou de outra, em maior ou menor grau, acreditamos, os dois devem se completar. (Moacy Cirne)


BALAIO PORRETA 1986
nº 1963
Natal, 2 de março de 2007
Poema/Processo, 40 anos


VERSOS DE CIRCUNSTÂNCIA
Márcia Maia (PE)
[ in
Tábua de Marés ]

às seis da tarde
sem lágrima
ou sino
a lua
guarda
em mim
a tua ausência


CARTAS DE IVO JIMA
por Ailton Monteiro (CE)
[ in Diário de um Cinéfilo ]

Em A CONQUISTA DA HONRA (2006), na cena que vemos uma frota imensa de navios de guerra se aproximando da ilha de Iwo Jima, a sensação que temos é de alívio, já que vemos a guerra pelo ponto de vista dos americanos. Já em CARTAS DE IWO JIMA (2006), a visão japonesa do conflito, ver todos aqueles navios de guerra se aproximando é como ver a própria morte montada num cavalo preto e com uma foice na mão. CARTAS DE IWO JIMA é ainda mais sombrio que o filme anterior de Clint Eastwood, já que não há trégua para os soldados, não há retorno para os seus lares; a grande maioria deles não terá a sorte de voltar para casa e ficar com complexo de culpa por ter matado gente e sobrevivido. A única saída para aqueles pobres homens é o passado. Por isso, os únicos momentos em que o filme sai do conflito é ao apresentar alguns dos personagens por meio de flashbacks, recurso bastante em voga em tempos de LOST, mas que é tão antigo quanto o próprio cinema.Clint Eastwood disse que não tentou fazer um filme japonês, já que ele não tem um conhecimento aprofundado da cultura nipônica. Ainda assim, sentimos que há uma tentativa de se fazer um produto o mais próximo possível de uma obra made in Japan. A começar pela música, no pianinho, que lembra muito as trilhas sonoras utilizadas nas obras essencialmente japonesas. O resto pôde ser conseguido através do estudo da cultura e do cinema japoneses. O ator mais conhecido do filme é Ken Watanabe, considerado o ator japonês mais famoso da atualidade. Ele esteve presente em duas conhecidas produções hollywoodianas: O ÚLTIMO SAMURAI, ao lado de Tom Cruise, BATMAN BEGINS e o horrível MEMÓRIAS DE UMA GUEIXA. Ele dá ao general Tadamishi Kuribayashi uma força sem igual. Kuribayashi foi o homem que comandou a resistência japonesa em Iwo Jima. Ele não era bem adepto do costume japonês de cometer suicídio frente ao fracasso. Ele recomendava aos seus homens que lutassem até o fim. O segundo ator mais famoso do filme não é muito conhecido fora do Japão. É o jovem Kazunari Ninomyia, que interpreta o soldado Saigo. Ele é um conhecido cantor pop no Japão e o filme de Clint deve ser no mínimo extremamente curioso para os seus fãs japoneses. Fica claro em CARTAS DE IWO JIMA - ainda mais que em A CONQUISTA DA HONRA - que a intenção de Clint Eastwood foi a de mostrar a guerra como algo absurdo, principalmente quando se conhece o inimigo. Quando se luta com um inimigo sem rosto até pode-se encará-lo como o mal encarnado e ver a sua morte como uma necessidade. Mas quando se percebe que aquele que está no outro lado da trincheira é uma pessoa que também precisa sobreviver e voltar para sua família, o sentimento de compaixão aparece e a guerra se torna algo sem sentido, uma estupidez sem tamanho. Isso até pode parecer algo piegas e alguns momentos do filme cruzam essa linha, mas esse sentimento é a própria razão de ser desse projeto duplo do diretor. CARTAS DE IWO JIMA recebeu quatro indicações para o Oscar, nas categorias de filme, diretor, roteiro original e edição de som. Ganhou o Globo de Ouro de melhor filme em língua estrangeira, o que, por melhor que o filme seja, não deixou de ser uma sacanagem com os concorrentes verdadeiramente estrangeiros.

Repeteco / Memória 1933

A PROPOSTA POLÍTICA DE UM CANDIDATO A PREFEITO

O fato aconteceu em Mossoró, RN, em 1933, e se encontra narrado no livro Um estado de "graça", de Celso da Silveira. O candidato a prefeito Pedro Artur da Silveira Martins se apresentou com a seguinte plataforma política: 1. Comprarei um carro fúnebre a fim de que os defuntos tenham mais conforto; 2. Mandarei construir banheiros públicos dentro do rio para acabar com o nu aquático; 3. Determinarei a construção de mictórios públicos, separando os homens das mulheres; 4. Não permitirei mais as conhecidas exibições jumentícias no meio da rua, pois mandarei recolher os animais ao curral da Prefeitura, ficando isolados dos outros bichos; 5. Por motivos óbvios, mandarei riscar o 24 do número do Jogo do Bicho.

Ao que consta, o Sr. Pedro Artur não se elegeu.

4 comentários:

Anônimo disse...

Meu caro Moacy,
A postagem de hoje tá porreta. Tem de tudo. A plataforma (que me lembrou a de um candidato* a prefeito de Canindé que prometeu dar os quartos, e...foi eleito. Esse fato foi ouvido por esses olhos que a terra há de), poesia da boa, crítica, idem, enfim, beleza pura!
Forte abraço.
* ...e foi eleito! No caso, os quartos (no Mercado Público)que ele prometeu nunca foram construidos. Não se tem, também, notícia de que tenham sido dados.

Marcelo V. disse...

Os filmes do Clint se completam, sim, mas são até que bem diferentes. À primeira vista, gostei mais do "Flags...", mas isto pode mudar com o tempo...

Anônimo disse...

Feliz de estar aqui. Merci. ;)
Quanto ao candidato: só rindo.
Beijo.

Iara Maria Carvalho disse...

Lindo o poema da Márcia, sempre tão flagrante da lua e da vida!
No mais, tudo a sua cara!
Um beijão!