sexta-feira, 9 de novembro de 2007


Uma taça cheia de vinho
ou
uma taça cheia de cores?

Foto de
Pedro Moreira

[ in Olhares ]


BALAIO PORRETA 1986
n° 2161
Rio, 9 de novembro de 2007



POEMA de
Gilbert Daniel
[ in Narrarte ]

seus seios surgiram como dois poemas em minhas mãos


SAUDADE
de Gilka Machado (RJ)
[ in Velha poesia, 1965 ]

De quem é esta saudade
que meus silêncios invade,
que de tão longe me vem?

De quem é esta saudade,
de quem?

Aquelas mãos só carícias,
Aqueles olhos de apelo,
aqueles lábios-desejo...

E estes dedos engelhados,
e este olhar de vã procura,
e esta boca sem um beijo...

De quem é esta saudade
que sinto quando me vejo?

Nota:
Gilka Machado nasceu em 1893 e faleceu em 1980.
Publicou, entre outros, os seguintes livros de poesia:
Cristais partidos (1915),
Mulher nua (1922),
Sublimação (1938) e Velha poesia (1965).


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

O existencialismo é um humanismo [1946], de Jean-Paul Sartre. Trad., pref. e notas Vergílio Ferreira. Porto : Presença, 1965, 274p. [Livro adquirido em Natal em 1965, provavelmente na Universitária.] Parte considerável da minha geração natalense procurava se encontrar política, social e culturalmente, nos anos 60, através de duas vertentes intelectuais poderosas: de um lado, as obras de Marx e Engels; de outro, os textos de Sartre e Camus. Não era um encontro fácil. Ao contrário. Contudo este livro, com seu didatismo provocativo, foi muito útil para todos nós. E que me levou a escrever o pequeno ensaio O drama do existencialismo, no extinto Correio do Povo. Seria possível ser, ao mesmo tempo, marxista e existencialista? Esta era a pergunta que se fazia. O próprio Sartre, na prática, a responderia com seu maoísmo militante dos anos 60/70. Procurei fazer o mesmo; não através do maoísmo, mas de outros caminhos traçados com régua e compasso pelo velho Marx. De resto, o longo prefácio de Vergílio Ferreira (p.9-169) é de igual modo elucidatvo. Mas nunca mais o li. Nem voltei ao ensaio de Sartre.

|||||||||||||

O existencialismo ateu, que eu represento, é ... coerente. Declara ele que, se Deus não existe, há pelo menos um ser no qual a existência precede a essência, um ser que existe antes de poder ser definido por qualquer conceito, e que este ser é o homem ou, como diz Heidegger, a realidade humana. (Jean-Paul SARTRE. O existencialismo é um humanismo, p.182)

10 comentários:

Anônimo disse...

Belos poemas! Instigante existencialismo (quero lê-lo um dia, convicto da existência de Deus)!
Um abraço...

Fernanda Passos disse...

Vinho e flores. Não dá pra escolher entre um e outro.Os poemas são lindíssimos, mas o que me intrigou mesmo foi a relação estabelecida entre o existencialismo e o marxismo.
Bem, o existencialismo sartreano guarda o primado da existência sobre a essência o que,por si só, já é muito bom. Ao longo dos anos em venho estudando filosofia e vivendo a partir das reflexões possibilitadas com os conhecimentos adquiridos, percebi a presença do existencialismo enquanto algo que nos faz pensar sobre nossas circunstâncias. Em que pese o que foi dito, e considerando o engajamento do existencialismo de Sartre, ainda considero o marxismo mais coerente se escolhermos como contribuições para essa teoria o que foi escrito por Lenin, Trotski e outros. Ou seja, marxismo com régua e compasso.


Beijos Moacy.

Anônimo disse...

É, Moacy, bem me lembro que, ao chegar a Natal em 1965, os nossos amigos ou os companheiros do inesquecível Cineclube Tirol curtiam muito Sartre e Camus, sobretudo o segundo com o seu "O Estrangeiro". Um abraço e um ótimo fim de semana.

o refúgio disse...

Rapaz, como não posso beber embriago-me com as cores. Gostei desses rosas, azuis e roxos da imagem, inspirou-me a fazer algumas mudanças lá no refúgio.

Beijos.

benechaves disse...

Moacy: o livro de Sartre ainda tenho aqui guardado. Faz parte de uma geração, hein? Sartre e Camus, como bem disse o Sobreira, foram 'curtidos' nos anos 60 principalmente.
E, olha,gostei muito do poema da Gilka Machado. Belos versos!

Um abraço...

Anônimo disse...

Oi Moacy, achei ótimo vc resgatar um poema da Gilka Machado...fazia tempo que não lia nada dela e este poema, especialmente, tem uma sensualidade que aflora a feminilidade dela. E parabéns pela iniciativa de fazer a Biblioteca dos Sonhos....quem não sonha com livros tão especiais, não é??E se a Biblioteca for Pública, melhor ainda...rss Um grande beijo

Ane Brasil disse...

Bela imagem!
Belos poemas!
(sim, não é à toa que o nome do blog é balaio poreta, né?)

Bem, Sartre e Marx [sim, eu tentei resenhar o "das kapital sozinha, sim, eu sou insana e não, eu não consegui] foram grandes responsáveis por muitas de minhas noites de insônia.
O que mais gosto em Sartre é sa sua capacidade de transpor filosofia pro romance e pro teatro. Até hoje acho que a dramaturgia do cabra não é valorizada como deveria.
Unir existêncialismo e marxismo, cá entre nós, é uma árdua tarefa intelectual.
sorte e saúde pra todos!

Anônimo disse...

Oi Moacy! É uma honra estar no Balaio! Valeu pela publicação! Forte abraço!

Marco disse...

Excelentes os poemas! As imagens também são belíssimas! Mais um golaço do Balaio. Carpe Diem.

Anônimo disse...

A taça é de vinho e a moça sou eu...Abraço Moacy.