sábado, 26 de janeiro de 2008

Soneto Visual
de
Avelino de Araújo
(RN)

Republicado igualmente
in Poema Processo


BALAIO PORRETA 1986
n° 2216
Rio, 26 de janeiro de 2008


OS ÚLTIMOS FILMES (RE)VISTOS
Cotações:
*** (excelente); ** (ótimo); * (especialmente bom)
Sem cotação: razoável e/ou interessante

O sol ** (Sokúrov, 2005), no CCBB
Sempre bela * (Oliveira, 2006), no CCBB
Ouro carmin (Panahi, 2003), no CCBB
Vício e beleza (Cheng-Sheng, 2001), no CCBB
Em casa:
Jeanne Dielman, 23 Quai de Commerce, 1080 Bruxelles *** (Akerman, 1975)
Dans le noir du temps *** (Godard, 2002), curta/episódio
O vento nos levará * (Kiarostami, 1999)
Diário de uma prostituta ** (Marcelo Ikeda, 2007), curta/vídeo
[R] A carruagem de ouro *** (Renoir, 1952)


PARA UMA FILMOGRAFIA BÁSICA

Jeanne Dielman, 23 Quai du Commerce, 1080 Bruxelles (Bélgica/França, 1975)
de Chantal Akerman
com Delphine Seyrig
[] Uma obra-prima não se constrói fácil, assim como, muitas vezes, não se faz fácil a sua leitura. Um filme como Jeanne Dielman ..., da diretora belga Chantal Akerman, com suas 3:20h em pouquíssimos ambientes cenográficos, é rigoroso exemplo da mais perfeita e ousada (anti)narratividade minimalista: formalmente contidos são os seus planos e enquadramentos, as suas cores interiores, os gestos de seus personagens, a sua trilha sonora (composta, basicamente, de pequenos ruídos e inevitáveis silêncios), a sua ação dramática aparentemente - mas só aparentemente - nula (a lembrar os "tempos mortos" de Antonioni, a tessitura formal de Straub & Huillet, o absurdo temático de corte camusiano). O tédio e o gesto gratuito da mulher (DS) no final são, ao mesmo tempo, perturbadores e sufocantes. O filme em nenhum momento se deixa seduzir; neste particular, aproxima-se de Straub e não de Antonioni. A diretora, com seu rigor exasperante, dilacerado, visceral, faz do cinema a própria especificidade cinematográfica. Por outro lado, seu olhar sobre o mundo pequeno-burguês de uma dona-de-casa viúva, que recorre à prostituição para sobreviver com um mínimo de dignidade possível, é cruel e desencantado. E o final, trágico, até mesmo por seu absurdo, não poderia ser outro. Neste sentido, o último plano do filme, por mais frio e racional que seja (de resto, como os demais planos da obra), carrega, em seu interior, as marcas de uma emoção inesperada, sobretudo porque a tragédia que o contém não estava anunciada nas 3:15h da trama conteudística até aquele momento, lenta e pausadamente construída como se fora a dolorosa engenharia de alguns raros sentimentos não-explicitados. Sem dúvida, um filme para poucos; um filme como poucos.


DICIONÁRIO DO DIABO
/Fragmentos/
de Ambrose Bierce (1842-1913)

Advogado : Pessoa hábil em burlar a lei.
Deplorável : O estado de um inimigo ou adversário após um choque imaginário conosco.
Diplomacia : A arte honrosa de mentir pela pátria.
Fidelidade : Virtude própria dos que estão prestes a ser traídos.
História : Crônica quase sempre falha, de acontecimentos quase sempre sem importância, causados por governantes quase sempre velhacos e por soldados quase sempre imbecis.
Liberdade : Um dos mais preciosos bens da imaginação.
Paciência : Forma menor de desespero, disfarçada como virtude.
Patriotismo : No famoso dicionário do Dr. Johnson, o patriotismo é definido como o último refúgio dos patifes. Com todo o respeito devido a um esclarecido mas inferior lexicógrafo, peço licença para sugerir que seja o primeiro.
Santo : Um pecador revisto e corrigido.
Virtudes : Certas abstenções.

4 comentários:

Pedrita disse...

gostei da tela. não vi os filmes que mencionou. anotado. beijos, pedrita

Anônimo disse...

PERFEITO o soneto! Grande sacada!

Abraço!

Ada

o refúgio disse...

Terrível a partitura da apartação.

Excelente, Moacy!

Beijos.

Bosco Sobreira disse...

Interessante, o soneto visual.
Um abraço.