terça-feira, 25 de março de 2008

BALAIO PORRETA 1986
n° 2264
Natal, 25 de março de 2008



Memória / Repeteco
BALAIO INCOMUN 593
Desde 8/9/1986
Rio, 4 de março de 1994

Diretamente do Além
MENSAGEM DE CHICO DOIDO DE CAICÓ
AOS FORMANDOS DE COMUNICAÇÃO DA UFF,
em Niterói

Em vida, sempre fui um presepeiro, sempre fui um gozador, sempre fui um mulherengo da melhor qualidade. Desmaterializado, e já que não posso mais ser um mulherengo da gota serena, um mulherengo da bixiga lixa, continuo sendo um gozador muito do sacana, muito do atrevido, para satisfação daqueles que passam pelo meu Plano Astral. São Francisco de Assis, Câmara Cascudo, Patrícia Galvão, Manuel Bandeira, Moysés Sesyom, Rosinha da Pá Virada (uma digníssima prostituta da Paraíba), Jorge Fernandes, José Bezerra Gomes, Zila Mamede e Carlos Zéfiro, por exemplo, adoram sentir as minhas cabeludas mentiraiadas.

Aliás, sempre fui um grande e etílico mentiroso, mas um mentiroso de respeito, um mentiroso arretado, um mentiroso digno, e não um mentiroso que faz da mentira um curral diabólico para enganar o povo, para promover a corrupção, para acionar a falta de moral, para atiçar a miséria. Não fui, não sou e não serei um mentiroso qualquer. Mentiroso, sim, mas um mentiroso que nunca enganou ninguém.

E agora, para minha agradável surpresa, eis que sou patrono de uma turma de estudantes que se preparam - e como! - para enfrentar as inúmeras dificuldades do mundo. Em Caicó, garanto, ninguém vai acreditar nesta história. Vão achar que é mais uma mentira do Chico véio de guerra; que é mais uma doidura desse pobre diabo de tantas e tantas loucuras, pelo menos na sua poesia. Paciência, queiram ou não, sinto-me um pai-d'égua escalafobético muito do orgulhoso para nenhum bangalafumenga botar defeito.

Pensando em vocês, moços e moças, com todo o carinho possível do meu Seridó (que é maior do que a distância entre a Terra e o Sol), mas sem desejar para ninguém uma carreira de vícios (a não ser aqueles doces e adoráveis vícios demasiadamente humanos), me lembrei de uma glosa do poeta Moysés Sesyom:

Vida longa não alcanço
Na orgia ou no prazer.
Mas, enquanto não morrer
- Bebo, fumo, jogo e danço!
Brinco, farreio, não canso,
Me censure quem quiser...
Enquanto eu vida tiver,
Cumprindo essa sina venho,
E, além dos vícios que tenho,
- Sou perdido por mulher!...

Pois é... Às belas moças da turma, quero dizer: São tão borogodosas e cheirosas quanto as morenas do meu sertão. Se vivo fosse, se aí estivesse, me apaixonaria por todas vocês (com o devido respeito que a situação poderia requerer). Sei que isso seria um problema dos 600 mil diabos. Mas vocês merecem todas as paixões do mundo. E toda a felicidade necessária para a nova vida que hoje se inicia.

Aos moços, direi: são todos legais. E que também sejam felizes. E mais não direi, que a um caba macho de Caicó, mesmo desmaterializado, não se permite dizer muitas coisas de marmanjos. Assim sendo, nesta noite de fortes e inesperadas emoções, saibam viver com alegria e esperança. À distância, da sexta margem do rio, passando ao largo do velho Rosa, queiram aceitar o meu abraço. Obrigado...

Nota:
Esta mensagem foi lida, em off, por um aluno, no Teatro da UFF (Icaraí, Niterói), completamente lotado, em noite de gala. Depois da sessão de formatura, o Balaio foi distribuído entre os presentes. A turma Chico Doido de Caicó teve como paraninfo este vosso Moacy Cirne, professor, poeta, cangaceiro e caba da peste.

Em tempo / 2004:
Chico Doido de Caicó (1922-1991) foi divulgado pelo Balaio a partir de março de 1991, logo conquistando a simpatia e a admiração dos iacsianos da UFF. Em 1993, foi lançado postumamente à Academia Brasileira de Letras. Entre seus admiradores, o ator Leon Góes (que o interpretaria no teatro em 2002), os poetas Arthur Gomes e Sebastião Nunes e os cineastas Nelson Pereira dos Santos e Luiz Rosemberg Filho. Segundo consta, a cantora Madonna viria ao Brasil exclusivamente para conhecê-lo, tendo ficado inconsolável ao saber de sua morte, em maio de 1991. Para alguns, a presente "mensagem", lida na noite da formatura, em 4/3/1994, não teria sido "psicografada" e sim "alcooligrafada" nos bares de São Domingos, em Niterói. Há controvérsias a respeito.

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BARRADO NO TRIBUNAL
Pois é: ontem, convidado - informalmente, acrescente-se - para integrar a mesa-redonda sobre poema/processo (também pretendia ver a discussão dedicada à nova literatura seridoense), no I Encontro Potiguar de Escritores, no auditório do Tribunal de Justiça do Estado, aconteceu o inesperado: fui barrado na entrada por um policial. Os que me conhecem sabem que, a não ser em casos excepcionais, só ando de bermuda. No Rio, em universidade federal, sempre dei as minhas aulas de bermuda, a partir do final da ditadura. Como diretor do Instituto de Arte e Comunicação, recebia alunos, funcionários, professores e o próprio reitor de bermuda. Sem maiores constrangimentos. Centros culturais, livrarias, eventos literários, casas de amigos só recebem a minha visita sem roupagem formal. O fato é que eu não esperava que um encontro de escritores, com a presença de poetas, fosse regido por normas burocráticas. Decerto, o Encontro, se realizado em outro espaço, atrairia mais gente. Por que não um local mais agradável? E menos "fechado"?

7 comentários:

Francisco Sobreira disse...

Caro Moacy,
Estou com você na situação pela qual passou. É inconcebível que num evento de escritores, alguém possa ser barrado mesmo num órgão do Judiciário. Mas em Natal tem dessas coisas: uma feita, num jornal daqui, fui impedido de ter acesso à redação, justamente por estar usando bermuda. Num jornal, amigo! Não sei se essa proibição ainda é mantida. Abrenúncio! Um abraço.

Jeanne Araujo disse...

Ah meu querido, também fui barrada na Secretaria Municipal de Educação ao tentar pegar o elevador porque estava de bermudas(e pelos joelhos!). Que pena, sentimos sua falta! bjos.
Em tempo: Tem poema novo no blog. E chuvas no nosso Seridó!

Maria Maria disse...

Meu caro, Moacy! Foi pena mesmo nao conhecê-lo de perto, mas outras oportunidades virão, estou certa disso! Um forte abraço, de bermudas, é claro! Beijos, Maria Maria

Cássio Amaral disse...

Moacy meu brother,

Na faculdade assisti muitas aulas no bar em frente. No buteco(boteco). Fui um anti-acadêmico no talo da palavra. Mas sempre com boas notas.
Amigo, te mandei meu livro de haikais (pdf) intitulado SEM NOME. Depois me diga o que achou?
Grande abraço. Tudo muito bom aqui. Queria tomar umas com esse Chico Doido aí!!!!
Cássio Amaral.

Anônimo disse...

Maocy é caba lambedor de buçeta. Podia ter lambido o cu do policial. Chico Doido de Caicó

Ane Brasil disse...

Rapá, esse Chico doido é retado mesmo!
quanto à bermuda, tenho a dizer o seguinte: aos homens dos trópicos eu conclamo uma revolução contra ternos, gravatas e paletós. sonho em ver um dia advogados, doutores, e o caralho de alça todos de bermuda e chinela!
Sorte e saúde pra todos!

Marco disse...

Eu sempre fui fã de Chico, e nem sabia que ele tinha cantado pra subir, veja voc~e. No tempo em que tive aula contigo, você não me apresentou ao cabra. Só fui conhecê-lo mais tarde, pelas suas teclas no Balaio.
Quanto à barração pela bermuda, num país tropical como o nosso, chega a ser bestagem das grandes uma leseira dessas. Onde já se viu barrar alguém porque está de bermudas? Tem a minha solidariedade. Carpe Diem.