terça-feira, 8 de abril de 2008


A fúria das águas
na sangria da
Barragem Armando Ribeiro Gonçalves,
em Açu, região central do Rio Grande do Norte

Foto de
Canindé Soares


BALAIO PORRETA 1986
nº 2278
Rio, 8 de abril de 2008



POEMAS DE
SÉRGIO DE CASTRO PINTO
(PB)

escrever/não escrever

escrever é um suicídio branco.
um consumir-se
no fogo brando das palavras.

não escrever, um suicídio em branco.
um consumar-se sem metáforas.


recado a pound

pound, eu não sou
nenhuma antena.

eu sou a pane e a interferência
dos meus fantasmas

no tubo de imagens dos poemas.

[in O cerco da memória. João Pessoa, 1993 ]


POEMA DE
MAX MARTINS (PA)

O amor ardendo em mel

Morder! morder o
hímem adocicado
-- frêmito de lâmina
entre duas coxas
do polo ao pólem.
E o apolo laminar morder
Morder os bicos dos figos
antes que murchos
antes dos dentes
sempre morder
e jamais sugar
da lua a sua ferrugem.
Morder somente a sua semente
antes de agora
antes da aurora
morder
e arder em mel
o amor.

[ in Anti-retrato /1960/,
republicado em Não para consolar /1992/ ]


CONTOS DE
ROSA AMANDA STRAUSZ (RJ)

Quase erótico

Tinha dedos ásperos e mãos enormes, pacientes. Eram capazes de rastejar entre vestidos e lençóis infinitas vezes até se enroscarem em torno de um seio ou dentro de uma cavidade escorregadia. Não importava quais. Sempre encontrou o caminho. Jamais o sentido.

A pedra

É preciso remover montanhas. Digo mais: é preciso fazê-lo sem fé. Arrojar-se com o pavor maravilhado de um ocidental que morda peixes crus.
Ele fazia isto a cada dia. Só pela urgência, tão maior que uma montanha sem religiosidade alguma. Por isso eu o amava. Embora também eu não passasse de um pedaço de cordilheira, à espera da imobilidade no eterno abraço da remoção.

Conto colorido

Quando lhe perguntaram o que queria ser quando crescesse, não vacilou: televisão.

[ in Mínimo múltiplo comum. Rio: José Olympio, 1990 ]


Repeteco / Memória 2000

BALAIO 1323 [ Ano XV ]
Folha Porreta / Moacy Cirne
Rio, 4 de outubro de 2000


O XIBIU ELÉTRICO
por Ricardo Nunes (Aracaju, SE)

Orgasmo feminino é coisa da qual as mulheres entendem muito pouco e os homens menos ainda. Pelo fato de ser uma reação endócrina que se dá sem expelir nada, não apresenta nenhuma prova evidente de que aconteceu ou se foi simulado. Orgasmo masculino, não; é aquela coisa que todo mundo vê. Deixa o maior flagrante por onde passa. Diante desse mistério as investigações continuam e muitas pesquisas são feitas e centenas de livros escritos para esclarecer este gostoso e excitante assunto.

Acompanho de perto, aliás, juntinho, este latejante tema. Vi outro dia no programa do Jô Soares uma sexóloga sergipana dando uma entrevista sobre orgasmo feminino. A mulher, que mais parecia a gerente comercial da Walita, falava do corpo como quem apresenta o desempenho de uma nova cafeteira doméstica.

Apresentou uma pesquisa que foi feita nos Estados Unidos para medir a descarga elétrica emitida pela piriquita na hora do orgasmo, e chegou à conclusão de que, na hora H, a piriquita dispara uma descarga de 250.000 microvolts. Ou seja, cinco pererecas juntas ligadas na hora do "aimeudeus" seria suficiente para acender uma lâmpada. Uma dúzia, então, é capaz de dar partida num fusca com a bateria arriada. Uma amiga me contou que está treinando para carregar a bateria do telefone celular. Disse que gozou e, tcham, carregou.

É preciso ter cuidado porque isso não é mais xibiu, é torradeira elétrica. E se der um curto circuito na hora de "virá o zoinho", além de vesgo a gente sai com mal de Parkinson. Pensei: camisinha agora é pouco, tem de mandar encapar na Pirelli ou enrolar com fita isolante. E na hora H não tire o pênis nem pise no chão molhado... pode ser pior! É recomendável, meu amigo, na hora que você for molhar o biscoito lá na canequinha de sua namorada, perguntar: é 110 ou 220 volts? Senão, depois do que essa mulher falou lá no Jô, pode dar ovo frito no café da manhã... com calabresa.

7 comentários:

Muadiê Maria disse...

Moacy, adorei a visita! Volte sempre.
Martha

o refúgio disse...

Moacy, ótimos poemas, ótima postagem...
Gozo e umidade na atmosfera
chuva, pedra, corredeira
fúria líquida fervendo
ardendo no céu
trovoada...
Sim, sim, estou ouvindo os trovões de Caicó!
Ou será sonho meu?

Um beijo

Francisco Sobreira disse...

Moacy,
Bela foto, uma das melhores relativas à sangria (ou sangramento) de açudes já postadas por você. Gostei dos poemas de Sérgio Castro Pinto, a quem fui apresentado por Luís Carlos Guimarães num lançamento de um livro meu. E engraçadíssimo o texto sobre o xibiu. Um abraço.

Anônimo disse...

com/postagem alagada cheia pintando e bordando e transbordando metendo o pound ajoelhou tem que ezra pra lá de xibiu gates...

Anônimo disse...

Ah! Camarada Maocy: as poemúsicas já estão no ponto lá no site nominuto. Abraços!

Moacy Cirne disse...

AKINOGAL o escambau, não entrem nessa! O que diabo faço para excluir esse tipo de comentário? Tentei uma vez e quase excluía a postagem inteira... Aceito dicas. Abraços.

Anônimo disse...

Oi Moacy! Gostei da seleção de poemas... Mas preciso voltar com mais tempo... Até! (Anônimo Gilbert)