sexta-feira, 23 de maio de 2008

Av. Deodoro (e a Rua Açu), em Natal,
com destaque para o prédio rosado
do Cinema Rio Grande, inaugurado
no final dos anos 40 e hoje,
infelizmente, desativado.
A Rua Mossoró (cf. texto de Carito)
é paralela à Rua Açu.
Ambas começam na Dedoro e
terminam na "Rua da Pista".

Foto:
Julião Thadeu


BALAIO PORRETA 1986
nº 2323
Rio, 23 de maio de 2008


A poesia é a teoria os homens e a prática dos deuses.
(Murilo Mendes)


MINHA RUA
Carito
[ in Os Poetas Elétricos ]

Quando sinto falta das manhãs vou até minha antiga rua. Na rua da minha infância as manhãs estão bem guardadas e são para sempre. Há algo mágico no ar que vai mais além das novas casas agora comerciais ou das velhas casas residenciais agora reformadas com muros altos e grades.

Minha rua é ainda para mim sem grades e com a mangueira da casa de Dona Zefinha, o jambeiro da casa de Dona Geralda, a palmeira na casa de Seu Manel, a goiabeira na casa de Dona Sílvia, o pé de cajá-manga na casa de Seu Zé Lima. Todas essas árvores continuam lá, mesmo que algumas dessas árvores tenham sido cortadas. Os personagens continuam vivos. Mesmo os que já se foram.

Há um vento na minha rua que continua soprando do mesmo jeito. Levantando as folhas das árvores no chão. Há sombra na minha rua. Há o sol das manhãs. Há a siesta da tarde na quietude da rua escondida, oásis perdido por entre avenidas ao redor. Há a chuva nas bicas e gostosos banhos cinematográficos. Para mim a Rua Mossoró ao lado continua de terra e quando alaga ainda espero com meus irmãos e nossos amiguinhos os carros passarem para que criem ondas para nossas pranchas.

Estou louco que chegue julho quando entrarei de férias e poderei sentir melhor as manhãs. Meus pais irão viajar e receberei cartões postais. Eunice vai cuidar da gente. Vamos fazer cooper bem cedo com nosso avô na praia do Forte. Estou louco também que eu chegue logo na adolescência porque poderei ir a pé até a praia dos Artistas para ver a galera pegar onda. Milton Nascimento pode estar lá. É só estalar. E eu estou de novo na minha rua, esquina de tantas lembranças, pensamentos cheios de tanta luz. "Vale mais a força do pensamento". Continuo lá. Continuo indo para a casa de Délio pegar discos emprestados todos os dias e ler suas poesias. Luís Emílio continua tomando caldo de cana em cima do muro com sua namorada. Seu Zé Lima continua com seu admirável Simca Esplanada entrando na rua buzinando com as suas calças lá em cima.

Amanhã é feriado e vou passar o dia na minha rua adormecendo o tempo. Vou logo cedo, bem cedinho, para aproveitar a manhã, "pois na força da manhã posso ser muito valente, pra vencer o espaço e me achar"...


Frasqueirão, em Natal
Foto de Ronaldo Vieira

ABC x CORÍNTHIANS

Ainda em estado de graça, depois da épica vitória tricolor no Maraca,
viajarei para Natal, hoje à noite (mas voltarei para ver Flu x Boca!).
E já amanhã, mais uma vez, ao lado da torcida abecedista,
marcarei presença no simpático e charmoso Frasqueirão.
Torcendo pelo ABC, na segundona, contra o Corínthians.


RECOMENDAMOS

a leitura da crônica Um senhor jogo, do rubro-negro Eduardo Goldenberg, no Buteco do Edu, um dos mais cariocas entre os nossos blogues tipicamente cariocas. Lá pra tantas, escreve Edu: "Vi um Fluminense rodrigueano, ontem, definitivamente. Um Fluminense trágico, um Fluminense mágico ... um Fluminense fadado à vitória mais doída, condenado à vitória que mata ...". Aliás, o Buteco do Edu merece ser lido sempre, por todos aqueles que amam um bom papo de butequim.

5 comentários:

Jens disse...

Dá-lhe Flu! Dá-lhe ABC!
Um abraço. Bom findi.

benechaves disse...

Moacy: saudades da av. Deodoro de antigamente! Morei quase uma vida na mesma e diagonalmente perto do cine Rio Grande. Era uma beleza tudo aquilo, desde o carnaval que passava em frente de minha casa com os carros em corsos a passear ao longo da dita e fazendo todo o percurso até dobrar em frente ao jornal 'Diário de Natal'. Vida simples, vida boa!
Hoje tudo não passa de um monstrengo e que nos mete também medo.
Vixe-maria, vc tá um autêntico torcedor, hein?! Parabéns pelo seu Fluminense, valeu a bela vitória!

Um abraço...

Eduardo Goldenberg disse...

Valeu pela indicação do texto, Moacy. Foi, de fato, um jogo inesquecível. Digno, portanto, de registro. Forte abraço.

Anônimo disse...

Obrigado Moacy! E parabéns pelo Flu! Sou Flá. O que não me impede de admirar uma vitória como essa! Na verdade, nunca fui muito de futebol, e nos últimos tempos confesso que me sinto mais atraído por outros esportes... Mas jogos assim dão gosto de ver. Abraços!

Marco disse...

Ah, estes posts memorialistas! O meu caro mestre já deve ter pecebido que tenho um fraco por eles, pois não! E esta história está maravilhosamente contada. Carpe Diem.