sexta-feira, 9 de maio de 2008


No sertão da Paraíba
nuvens carregadas
prenunciam chuva

Foto de Lisbeth Lima
in
Flor de Craibeira


BALAIO PORRETA 1986
nº 2309
Rio, 9 de maio de 2008


CARTA ABERTA À CHUVA
Sheyla Azevedo (RN)
[ in Bicho Esquisito ]

Olho pela janela e vejo milhares de casinhas turvas, um pedaço do mar cor cinza claro, a ponte de nós todos envolta em névoa, tão sem rumo, feita de extremos. É a chuva tomando conta da paisagem. Sinto como se fosse um retrato meu. Uma imensidão de elementos, nem sempre conexos, nem sempre visíveis, detalhes que se perdem, outros que se intensificam. Nada muito definido. Só depois da chuva é que se pode ter a real dimensão dos fatos.

No dia da enxurrada, saí de casa minutos antes pela manhã e fazia sol. De repente, estava quase sendo tragada pela força daquele mundaréu de água, o vestido encharcado, os pertences desbotando, a alma umedecida pela impotência, o coração naufragando em espanto, medo e respeito pela natureza das coisas. Ainda tenho dúvidas se não morri naquele dia. Ainda tenho dúvidas se não sou agora uma alma errante, à espera da redenção ou do castigo.

Uma tristeza profunda tem insistido em mim desde então. Uma tristeza que não tem crime nem culpados e, portanto, sem explicação. E, quando não há culpados, o vazio é tanto que às vezes é preciso dar atenção para o pedaço que está faltando para se compreender o inteiro. Devo confessar que não é uma das melhores sensações. Foi a chuva naquele dia que me trouxe a dimensão da minha paisagem. Eu ali, tão pequena, tão insignificante diante do pranto da cidade. Quase envergonhada por aceitar o quinhão de buracos e crateras que se abriam nas minhas costelas.

Não dá para confessar o inconfessável. Há um lugar onde as palavras não chegam. E aí os gestos ficam mais lentos e mais pesados, os cílios carregados de sal. As páginas insistem em ficar em branco e a poesia dá lugar ao tempo fechado.

Às vezes é preciso desapegar, despertencer. Deixar simplesmente que a chuva arrebente as comportas. A chuva atravessa em mim e segue seu caminho.


BRISA
Cláudia Gonçalves (RS)
[ in Entrelinhas ]

O breu
do meu cais
abre-se
em luz
entre
rochas
escorre
esperança
onde
monstros
não
habitam
mais.


UMA LEITURA INTERESSANTE

Querem saber quem é o senador José Agripino Maia (DEMo-RN), o tal que desrespeitou a história da militância política da Ministra Dilma Rousseff, dois dias atrás? Leiam o artigo Os rabos-de-palha de um filhote da ditadura publicado número de abril da revista Caros Amigos (de São Paulo). Trata-se de um levantamento jornalístico-biográfico bastante esclarecedor.

7 comentários:

Maria Maria disse...

O texto: 'Carta aberta à chuva", diz tudo o que eu queria dizer. Maravilhoso! E Lisbeth Lima, fez da imagem um poema sertanejo. Adorei! Visita o poema das mães no espatilho, Moacy. Beijos dos Currais, Maria Maria

Anônimo disse...

sêo moacir, as imagens açudeiras , postadas por ti, enchem os olhos. cravejam na beira do coração um surto de alegria (inominável) sim. tenhoa revista caros amigos em que sai o safado de direita escrotística

Anônimo disse...

sêo moacir, as imagens açudeiras , postadas por ti, enchem os olhos. cravejam na beira do coração um surto de alegria (inominável) sim. tenhoa revista caros amigos em que sai o safado de direita escrotística

Anônimo disse...

Boas dicas aqui, e bom poema e conto de chuva.

Abração.

Anônimo disse...

Moacy,
só hoje vi a foto... agradeço por outra vez aparecer no Balaio.
Um abraço, Lisbeth
PS. Para quem viu a terra seca, ver tudo verdoso e a chuva chegando... é encantador!

Mme. S. disse...

Eita, que isso é bom demais, Moacy!! Quanta honra para mim fazer parte desse Balaio! só posso dizer uma coisa: isso é porreta!
Um grande beijo, valeu!

Cláudia Gonçalves disse...

Moacy, adorei tudo que encontrei por aqui!
Vou linkar no meu blog.
Obrigada pela atenção com minha poesia...
É uma honra estar aqui no meio de tantas feras!!!

Poetabraço.