quarta-feira, 3 de junho de 2009

O beijo furtivo
(1770)
Jean-Honoré Fragonard


BALAIO PORRETA 1986
n° 2681
Rio, 3 de junho de 2009

As metáforas do Cântico [dos Cânticos] são maravilhosamente desconcertantes, às vezes surrealistas em sua justaposição de incongruências extremas, seu desenvolvimento barroco,
seu cultivo da desproporção.

(Francis LANDY, in Guia literário da Bíblia, 1987)


O LIVRO DOS LIVROS
(32)

Texto estabelecido por Escribas anônimos

O Cântico dos Cânticos

E em todo o Seridó, jovens mancebos - tementes ao Senhor das Alturas -, ao som de sanfonas, triângulos e zabumbas, cantavam a mesma canção para as amadas, apenas com pequenas variações, de acordo com a posição do Sol no firmamento e do reflexo da Lua no Itans - e o faziam não em ritmo de baião, apesar dos instrumentos musicais citados pelos mais antigos, mas em ritmo de toada bíblica, com supervisão de João Pernambuco, Carlos Zens, José Avelino e Catulo da Paixão Seridoense.

E assim cantava Salomão Hebreu de Acari:

"És formosa, oh minha amiga, floramiga do Seridó,
és agradável e prazerosa como Jardim do Seridó,
e és formidável como os cangaceiros reais,
sertanejos, bons na luta e nos embates leais.
Desvia de mim os teus olhos dissimulados
porque eles me atraem loucamente
- e glorioso é o teu chumbregamento"(¹).

E Salatiel Cristiniano de São João assim cantava:

"És formosa, minha amiga, minha flor de umbu,
és formosa como a amada Serra de Mulungu,
encantadora como a doce São José do Seridó,
esplêndida como as constelações do Seridó.
Afasta de mim teus olhos e tua boca
porque eles me perturbam loucamente
- e glorioso é o teu chumbregamento"(²).

E Salabimael Bíblico de Cruzeta cantava e cantava:

"Formosa és, querida minha, minha querida,
és a mais bela e graciosa entre as mulheres,
iluminada e borogodosa como Caicó,
formidável como um carrossel colorido
com suas bandeiras, bananas e bandeirolas.
Desvia de mim os olhos e os peitos
porque eles me provocam loucamente
- e glorioso é o teu chumbregamento"(³).

E Neil Castro de Caicó, fugindo aos padrões globais das academias literárias, ao som de rabecas, assim cantava:

"Não, não quero apenas tua beleza,
essa chama, flama, fama tão acesa
que provoca ardor e arrepios.
Oh, minha doce caicoense!
Quantas vezes esse teu olhar
de suavíssima pantera
incendiou as cores da primavera?
E se glorioso é o teu chumbregamento,
maravilhoso é o meu alumbramento"(ª).

Próximo capítulo:
Sabedorias Eclesiásticas

Notas:

(¹) Versão traduzida diretamente do greco-aramaico pelos arqueólogos Jairo Gorodovits e Machado de Assis.
(²) Versão traduzida diretamente do greco-egípcio pelo biólogo Luis Kipper Stadelmann.
(³) Versão traduzida diretamente do greco-hebraico-palestino pelo antropólogo João Ferreira de Almeida Aguiar.
(ª) Versão traduzida diretamente do aramaico-tapuia-seridoense pelo teólogo Nei Leandro de Castro.

10 comentários:

nina rizzi disse...

rsrsrs.. "meu deus" ultimamente tudo parece me querer fazer religiosa. ave, fióte, ave de joelhos...

a imagem me lembra uma cantiga que se faz com voz e dedos
: minhoca, minhoca, me dá uma beijoca/
não dou, tsc tsc, não dou, tsc tsc/
então eu vou roubar/
smack, smack... rsrsrsrs...

beijo :)

Unknown disse...

Oi Moacy!

Bom dia!


Lindo "Beijo Furtivo" 1770!!!!!

Eu também adoro o Cântico dos Cânticos, embora algumas partes não entenda.

Moacy! Isso não vale...Chumbregamento?????
Umbu deve ser fruta?

Bem. tudo lindo como sempre.
O lirismo do canto deve ter sido apreciado pelo Senhor das Alturas, caso ele esteja acordado!

Beijos, amigo!

Mirse

Anônimo disse...

Fiquei aqui imaginando que batida levará essa toada? Ou não é toada? o que importa é que é música e toda música é boa. bj moacy

Dilberto L. Rosa disse...

Tua inventividade ainda surpreende, "aramaico-tapuia-seridoense" (risos)! Tudo em clima de beijo furtivo: clássico! E o ritmo continua nos Morcegos! Abração!

Mme. S. disse...

Que lindo quadro. Um beijo furtivo para você também, meu querido amigo. Eu, que ando meio sumida, voltarei aos poucos. S.

Cosmunicando disse...

a tela do fragonard é linda =)

e o Neil arrebentou!

beijos

Anônimo disse...

Moacy,
este teu blog é bom dimais da conta!
Bjs.

nina rizzi disse...

ah, esqueci.. a serra do mulungu (se nao for homônima) é aqui no ceará, pois sim? cheira bem e rola até uns xamanismos. frutas boas de se pegar do pé. iguar criança :) caminho pra guaramiranga terra de jazz e blues.

o salatiel deve ter andado a ler coisas assim
: Essas são aquelas Sousas,
Parentas daquelas Alvas
Que gostam daquelas cousas,
Que têm as cabeças calvas...

outro beijo.

Sebastião Vicente disse...

Olá, Moacy. Ler blogue em casa como estou fazendo agora é outra coisa. Dá até pra comentar sem correrias nem gente chamando. Enfim, lendo os versos secretos, os escritos apócrifos, a literatura da literatura, lembrei das "Ficções" de Jorge Luiz Borges, que não sei é autor que o senhor aprecie. Mas que este tipo de construção lembra ele, ah, lembra. Mudando: tinha um tio meu que morava em Caicó e tinha um vizinho chamado Salatiel. Por isso, até hoje, quando ouço Salatiel, imediatamente me remeto ao Caicó de antanho. Também tinha um outro chamado Odorico (sério!). Nomes mais diasgomenianos no país do Caicó. Até!

Lívio Oliveira disse...

Nada melhor do que chumbregamento! rsrsrs