segunda-feira, 31 de agosto de 2009

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o trêiler de
Anticristo
(Lars Von Trier, 2009)
Um filme excessivamente doloroso? Sim, é verdade. Um filme terrivelmente cruel? Sim, é verdade. Um filme desesperadamente repulsivo? Sim, é verdade. Mas, em muitos momentos, um filme belo, ou mesmo belíssimo. Para ser amado ou odiado. Com toda a sua dor, com toda a sua crueldade, com todo o seu desespero, com todo o seu desalento, com todo o seu simbolismo negativista, com toda a sua violência física e psicológica. Um filme radical - para o bem ou para o mal. Uma experiência (quase) única. Assim como Lautréamont, na literatura; como Bosch, na pintura; como Salò (no próprio cinema). Gostemos ou não de seus efeitos estéticos e dramáticos. Gostemos ou não de suas particularidades punitivas e autopunitivas.


BALAIO PORRETA 1986
n° 2769
Rio, 31 de agosto de 2009


nada desprezo nesta dor:
o cheiro de pão quente
e o barulho de talheres
despencando da mesa
(Diva CUNHA. A palavra estampada, 1993)


VOZES FEMININAS EM NATAL

De Zila Mamede a Jeanne Araújo e Diva Cunha (a grande homenageada do XIII Seminário Nacional Mulher & Literatura, a ser realizado em Natal, nos próximos dias 2, 3 e 4, no Hotel Praia Mar, promovido pela Universidade Potiguar/UnP), de Myriam Coeli a Iracema Macedo e Ana de Santana, de Marize Castro a Ada Lima e Maria Maria, de Nivaldete Ferreira a Iara Carvalho e Civone Medeiros, entre outras, o Rio Grande do Norte sempre primou pela presença criadora de vozes femininas da melhor qualidade literária. O encontro ora anunciado, ao lado do IV Seminário Internacional, em parceria com a UFRN e outras instituições (e que homenageará a portuguesa Maria Tereza Horta), promete ser um acontecimento marcante, com as mais diversas temáticas relativas ao universo feminino: são dezenas e dezenas de palestras, conferências, debates, paineis, minicursos e comunicações. Haja fôlego (e tempo) para tanta coisa boa! Para tanta coisa interessante!


OITO DÍSTICOS PARA A MINHA TERRA
Maria Maria
[ in Espartilho de Eme ]

Queria agora uma tarde de chuva no Seridó
com seu aconchego de mãe verdadeira.

Queria agora construir castelos
na areia permeável do terreiro de casa.

Queria botar água no vaso de louça
para as horas sertanejas.

Queria o lençol de retalhos coloridos
cheirando a pedras do quaradouro.

Queria sentir o redemoinho na entrada da casa
para eu dizer: “cruz, cruz, cruz!”.

Queria um sonho com melaço de açúcar
para adoçar os meus confusos sentimentos.

Queria construir um tempo de memórias
com antíteses disfarçadas em ventanias.

Queria alimentar meus sonhos verdes
Para receber, tranqüila, a maturidade.


POEMA
Ada Lima
[ in Menina Gauche ]

Não é por ser vingativa
que guardo na bolsa
cacos de paixão:
quem
além de mim
eles podem ferir?

Ouço Amy cantar que
o amor é um jogo perdido
enquanto contemplo
pedaços do meu rosto
nos estilhaços
espalhados no chão
e me convenço:

não quero a loucura que me mantém viva.
A outra é mais sábia.


PÁTIO
Jeanne Araújo

Ai, debaixo do teu corpo
é que me reviro, resvelo
pontiagudas farpas
e palavras.
Meu coração brota
indevidas fantasias
que meus caninos refazem
caminhando sobre tua pele
mordendo tuas flores
mastigando o escuro
das tuas fendas obscenas.

E no fundo de mim mesmo
encontro-me clandestinamente
no largo da minha própria cama.

13 comentários:

Adriana Riess Karnal disse...

Moacy,
q bom a dás espaço pra poesia feminina...não é a toa q vc é sucesso de bilheteria...

Unknown disse...

Amigos:

"Saló" e "AntiCristo" são filmes de uma beleza difícil, diferente de por do sol. Desconfio que a beleza artística é sempre difícil, mesmo quando não parece: "Blow-up" e "Persona" são exemplos de uma dificuldade sedutora; "Os esquecidos" e "A marca da maldade" trazem uma beleza amarga; existem outras e outras belezas.
Abraços:

Marcos Silva

Pedrita disse...

eu gosto do lars von trier. beijos, pedrita

líria porto disse...

beleza de poema o da maria maria!!

moa - depois do teu comentário no meu blog, mudei o verbo, não quero ser rei e rainha quero ter rei e rainha no tabuleiro! obrigada!

besossssss

Jens disse...

Bah, Moacy, fiquei tri a fim de ver o Anticristo. Tudo indica que é um baita filme.

Um abraço.

José Carlos Brandão disse...

Gostei muito do poema da Diva Cunha. É do tipo de poema que eu tento fazer.
Agora, a Maria do Seridó, em sua simplicidade, ou por isso mesmo, só não me levou ao êxtase porque sou muito pesado.
Grande abraço.

Unknown disse...

Boa tarde, Moacy!
Que beleza a sétima arte sempre contém. Impressionante!

Parabéns aos poetas, hoje em especial à Diva cunha, E às vozes femininas de Natal.

Aplausos para Maria Maria, Ada Lima e Jeanne Araujo! Maravilha de poemas!

Beijos

Mirse

Mme. S. disse...

não consegui "verouvir" o filme. mas a "fotografia" é no mínimo desconcertante....
beibe, estou assessorando esse evento (Seminário Mulher & Literatura) que você divulgou. obrigada, obrigada, obrigada!
um cheiro da suamenina!

BAR DO BARDO disse...

Nota mil, principalmente pela mulherada potiguar! E a Jeanne, então...

Sergio Andrade disse...

Fui preparado para odiar e me surpreendi com um filme de uma densidade impressionante, com interpretações viscerais dos dois atores. Devo escrever alguma coisa sobre ele por esses dias.
Um abraço!

Maria Maria disse...

Olá, Moacy!

Obrigada pe;a postagem, viu?
Os demais poemas estão maravilhosos!!!

Beijos,

Maria Seridó Maria

nydia bonetti disse...

moacy, todas estas vozes hoje, muito especiais, mas maria maria... comovente. já copiei, já guardei pra reler e reler e reler... abraços.

Andréia M. G. disse...

Moacy, foi muito bom vc ter chegado ao meu blog, porque a partir daí cheguei até aqui e gostei muito do que vi. Anticristo já está na minha lista (imensa) de filmes que preciso assistir. Depois do seu comentário, aguçou ainda mais minha vontade de vê-lo, seja para amá-lo ou odiá-lo.

Tb gostei bastante da presença de vozes femininas aqui. O encontro certamente será um sucesso!