sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Macau, na região salineira do Rio Grande do Norte
Foto: Alexandro Gurgel (in Chão Potiguar)


BALAIO PORRETA 1986
n° 2820
Natal, 23 de outubro de 2009

O esvaziamento da Fundação Cultural Capitania das Artes promovido pela senhora dona prefeita da nossa Cidade dos Magos não passa de um filme de terror de quinta categoria. Será que vão carnatalizar/carnavalizar o Natal em Natal? Não por acaso, a senhora dona prefeita e o politicamente deplorável José Agripino Maia são do mesmo partido: o demopevê.
(Moacy Cirne, 2009)


NATARAJA
Mercedes Lorenzo
[ in Cosmunicando ]

danço,
porque não há
palavras.


CONVITE
Afonso Félix de Sousa
[ in Jornal de Poesia ]

Agora que o campo é de areia
pisemos de modo que os rastos
não nos mostrem como voltarmos.
E vamos ao mar, que derrama
sobre nós seu licor de pérola
e em mim todo um fervor de espumas.
Sei de ilhas contidas em conchas.
A elas pediremos repouso
quando a noite trouxer lembranças.
Segue-me ... e para trás deixemos
pais e irmãos, esposos e filhos,
e os cinzas gradis que nos guardam.
Depois de ao mar nos atirarmos,
qual seja o rumo a que nos leve
há de ter fim no que buscamos.



Repeteco
TRADUÇÃO/RECRIAÇÃO

É curioso constatar que o que há de mais intraduzível de uma língua para a outra são os fenômenos do som e da sonoridade. O espaço sonoro de uma língua tem suas próprias ressonâncias.
(Gaston BACHELARD. A chama de uma vela, 1961)

D'UN MOINE ET D'UNE VIEILLE
O MONGE E A VELHA
Clément Marot (1496-1544)
Trad. José Paulo Paes (1926-1998)

Un moine un jour jouant sur la rivière,
Passeando um monge pela beira-rio,
Trouva la vieille en lavant ses drapeaux,
Viu uma velha que lavava a roupa;
Qui lui monstra de sa cuisse heronière
Viu-lhe a perna de garça e o fogo viu
Un feu ardent où joignaient les deux peaux.
Onde uma coxa vem juntar-se à outra.
Le moine eut cueur, lève ses oripeaux,
O monge inflamado ergue a própria roupa,
Il prend son chose, et puis s'approchant d'elle:
Pega o instrumento e se achegando a ela:
Vieille, dit-il, allumez ma chandelle.
Velha, diz ele, acende a minha vela.
La vieille alors lui voulant donner bon,
E, para dar-lhe gosto, a velha então
Tourne son cul, et respond par cautelle,
Vira-lhe o cu e pede por cautela:
Approchez-vous et soufflez au charbon.
Chega mais perto e assopra o meu carvão.

[ in Poesia erótica em tradução. São Paulo, 1990 ]



PRA NÃO MATAR NANA DRIANA
Nina Rizzi
[ in Ellenismos ]

naufraguei meus navios. aqueles imaginários sem mastros ou velas-fantasia desejo ilusão ou poesia esquecidos por baixo dos trens.

permiti que me fizesse recipiente até de vida. que agora pulsa fora de mim. extensão de mim. furtei-me do gozo aceitei o sexo sem gosto e desgostoso. o estupro mental. passei noites em claro em febre cuidando as dores e o choro. usei soutien comprei calcinhas novas. lavei cuecas borradas. fiz almoço todos os dias. cozinheira lavadeira amante submissa.

enterrei meus amores e paixões deixei de lado a literatura militância estudos. deixei-me rebaixar taxar acossar torturar. desprovi-me de mim mesma. me anulei. chorei no claro traições ausência agressão. abandono.

sufoquei-me em porões joguei ao subsolo meus ideais crenças orientações. larguei mulheres tive um filho e casei com um homem que sustentei. bêbado viciado vil machista. contrário a tudo que fui. parei frente às novelas qu tinham tragédias menos tristes vidas mais emocionantes paixões mais verdadeiras. assisti a vida passar e nana driana a levar com os meus navios em sua bagagem.

pra não matar nana driana eu cometi o suicídio.


AH!, ESSA FALSA CULTURA
Millôr Fernandes
[ in O Cruzeiro. Rio, 1961 ]

Cristóvão Colombo era casado com a Rainha Isabel
e teve três filhas: Santa Maria, Pinta e Nina.

Para provar a teoria de Darwin
foi necessário achar um macaco muito inteligente.

A maré baixa é quando todos os peixes
resolvem beber de uma só vez.

O Texas foi descoberto pela Texaco.

Pileque foi um matemático que descobriu que a Terra gira.

A única coisa capaz de acabar com as secas do nordeste
é um sistema de irritação.

O QUE AS REVISTAS FEMININAS "ACONSELHAVAM"
ÀS MULHERES BRASILEIRAS

Em 1945:
A desordem de um banheiro desperta no marido
a vontade de ir tomar banho na rua.
(Jornal das Moças)

Em 1953:
O noivado longo é um perigo.
(Querida)

Em 1954:
Mesmo que um homem consiga divertir-se com sua namorada
ou noiva, na verdade ele não irá gostar de ver que ela cedeu.
(Querida)

Em 1955:
O lugar da mulher é no lar, o trabalho fora de casa masculiniza.
(Querida)

Em 1957:
Não se deve irritar o homem com ciúmes e dúvidas.
(Jornal das Moças)

Em 1959:
A mulher deve fazer o marido descansar nas horas vagas;
nada de incomodá-lo com serviços domésticos.
(Jornal das Moças)

Em 1962:
Se desconfiar da infidelidade do marido,
a esposa deve redobrar seu carinho e provas de afeto.
(Cláudia)

[ Fonte: História e consciência do Brasil, de Gilberto Cotrim ]

11 comentários:

Unknown disse...

ah já não existem revistas femininas como as de antigamente, que primor nos conselhos: carinhos e provas de afeto isso é que todos os homens precisam, nada de desconfianças tolas. Abraço.

nina rizzi disse...

moacy,

esta é mais uma prosa mal conseguida. muito mau. que infelizmente tudo isso vai muito além da literatura e a cada instante vamos perdendo nossas identidades e não há polícia federal que nos permita recuperar. e não é "privilégio" das mulheres, homens também vivem uma situação de assim submissão... até há no Recife uma ong de gênero que visa às masculinidades...

bem, é sempre um imenso estar aqui e sempre em boníssima companhia.

a, odeio essas revistas.. rsrs

beijo :)

Cosmunicando disse...

Moa, estar no Balaio é bom demais da conta... fico que nem criança ganhando presente :)

tudo está porretíssima, mas o texto da Nina é qualquer coisa de incrível!

obrigada meu querido,
beijo

Lisbeth Lima disse...

Moacy,
esses conselhos já foram sérios... hoje são "engraçados"... como o mundo mudou!!! Ainda bem!!!
Um abraço, Lisbeth

Mme. S. disse...

adorei os "conselhos" femininos. um beijo, s.

Unknown disse...

Boa tarde Moacy!

Como deve ser lindo Macau! Gostaria de pelo menos meia hora, agora aí.

Estrelas que sempre brilham Nina e Mercedes Lorenzo. Mesmo durante a mãnhã eslas cintilam. !

Millor era maravilhoso. Para que mau humor, não é?

Queima essas revistas, Moacy. Isso é crime ambiental!


Beijos

Mirse

Unknown disse...

Moacy, você teria mais informações sobre o esvaziamento da Capitania das Artes?

Abraços,

Alisson Almeida

Muadiê Maria disse...

Moacy, o balaio hoje está 10!
Millor e a tristeza dos conslhos femininos....E hoje?

líria porto disse...

de tudo tão bom, pesquei a imagem só para dizer que nasci em ventania - araguari - e lá, naquela época, o machismo era mais forte que o vento. por sorte, escapei viva e doníssima do meu nariz!
besos

Theo G. Alves disse...

então é verdade que as mulheres eram assim naqueles anos?

:)

abraço!

vais disse...

Saudações Moacy,
moço, olha que senti a maior firmeza no 'politicamente deplorável ', ahah, será usado, aqui nas Minas, tem de sobra uns tipos destes.
O Convite do Afonso é algo tentador
Êta monge, heim? E a velha, então?
É, e se conselho fosse bom, heim...? hehehe


e aproveitando
tá assinado o manifesto

Um Retrato... do Theo, lindo

do Poema da Li
'Na vida
é preciso tanto seriedade
quanto delírio.'
não há como discordar

E o Cenas Brasileiras:... ? como faz pra conseguir?

é sempre bom de passar aqui
beijo