quarta-feira, 18 de novembro de 2009


Meu caro desconhecido da Copacabana boliviana,
o que afinal fizestes com a doce María?
Aliás, quem é María?
Conheço virtualmente uma
Maria Maria curraisnovense,
mas, decerto, trata-se de outra.
Também será uma bela Maria poeta?
Ou será uma cangaceira como Maria Bonita?
Ou, então, simplesmente, será uma Maria Joana?
Mas, sejas homem, não te escondas!

[ Clique aqui para ver de onde "pesquei" a foto ]


BALAIO PORRETA 1986
n° 2846
Natal, 18 de novembro de 2009

Guardei as intempéries do teu corpo
Neste resto de fôlego que me sopras
(Assis FREITAS. Mosaico Repentino, in Mil e Um Poemas)


ZÊNITE
Marize Castro
[ in Lábios-espelhos, 2009 ]

Deuses sem rostos descem contra o sol.
Nesta cidade, lágrimas anunciam milagres.


TEXTOPOEMA
de Mario Cezar
[ in Coivara ]

adiante-se. nenhum orvalho atrapalha.


ANSEIO
Sônia Brandão
[ in Pássaro Impossível ]

Liberta-me! - grita
a flor atrás das grades.



CONFISSÃO
Volonté
[ in Proemas. Natal, 2004 ]

Há alguns anos atrás
achava-me um dândi
hoje sou o começo da
metáfora


ESTAÇÕES
Cacaso
[ in Beijo na boca, 1975 ]

Do corpo do meu amor
exala um cheiro bem forte.

Será a primavera nascendo?



LEITURAS INESQUECÍVEIS
Carta a D. - História de um amor,
de André Gorz.
Trad. Celso Azzan Jr.
(São Paulo : Annablume ; CosacNaify, 2008)

"Tive muitas dificuldades com o amor (ao qual Sartre dedicou umas trinta páginas de O ser e o Nada), pois é impossível explicar filosoficamente por que amamos e queremos ser amados por determinada pessoa, excluindo todas as outras" (p.25).

"É isto: a paixão amorosa é um modo de entrar em ressonância com o outro, corpo e alma, e somente com ele ou ela. Estamos aquém e além da filosofia" (p.26).

"O principal objetivo do escritor não é o que ele escreve. Sua necessidade primeira é escrever. Escrever, isto é, ausentar-se do mundo e de si mesmo para, eventualmente, fazer disso a matéria de elaborações literárias" (p.28)

"Eu necessitava de teoria para estruturar meu pensamento, e argumentava com você que um pensamento não estruturado sempre ameaça naufragar no empirismo e na insignificância. Você respondia que a teoria sempre ameaça se tornar um constrangimento que nos impede de perceber a complexidade movediça da realidade" (p.41).

"Você acabou de fazer oitenta e dois anos. Continua bela, graciosa e desejável. Faz cinqüenta e oito anos que vivemos juntos, e eu amo você mais do que nunca. Recentemente, eu me apaixonei por você mais uma vez, e sinto em mim, de novo, um vazio devorador, que só o seu corpo estreitado contra o meu pode preencher" (p.70).


Memória 2005
BALAIO INCOMUN n° 1615
Desde 8 / 9 / 1986
Natal, 26 de outubro de 2005


Comentários atravessados
O LIVRO DESCONHECIDO


Estou à procura de um livro para ler. É um livro todo especial. Eu o imagino como a um rosto sem traços. Não lhe sei o nome nem o autor. Quem sabe, às vezes penso que estou à procura de um livro que eu mesma escreveria. Não sei. Mas faço tantas fantasias a respeito desse livro desconhecido e já tão profundamente amado. Uma das fantasias é assim: eu o estaria lendo e de súbito, a uma frase lida, com lágrimas nos olhos diria em êxtase de dor e de enfim libertação: "Mas é que eu não sabia que se pode tudo, meu Deus!" [CLARICE LISPECTOR. A descoberta do mundo; crônicas. Rio de Janeiro: Rocco, 1999, p. 233]

Estou à procura de um livro para escrever. Ou melhor, de um tema que possa ser transformado em livro. Já tenho o título, a partir de inspirações construídas com sangue, suor e lamentos. Também tenho minhas fantasias a respeito desse livro ainda inédito e, portanto, desconhecido inclusive para mim. Não será um livro qualquer. Eu, que já escrevi Os lusíadas e A divina Comédia, estou pronto para novos metaplágios e novas metacriações. Como todos sabem, Camões e Dante nunca existiram; foram criados pela minha imaginação. Contudo entretanto porém todavia, pensando bem, e desde já revelando a essência do meu ser angustiante-angustiado-borgeano, são vários os livros que escreverei nos próximos 120 anos. Os primeiros já podem ser nomeados, considerando-se a minha particular visão epistemológico-aramaico-tricolor-caicoense-existencial do mundo. Darei as dicas necessárias, para que não me acusem de tarado sexual. Ou de extra-terrestre enlouquecido pelas vogais do alfabeto greco-natalense-potengíaco. Eis os títulos e as devidas inspirações, com os inclassificáveis cuidados acadêmicos daqueles que, como eu, freqüentaram, na capital potiguar, Maria Boa e o Cova da Onça, nos anos 40 do século passado:

Perto do coração clandestino :
baseado em Clarice Lispector, claro;
Os desesperados do Mar Vermelho :
releitura da Bíblia, a partir de uma sugestão de Umberto Eco;
Os mortos são passageiros :
inspirado em Newton Navarro;
As aventuras de James Joyce na Cidade do Caicó :
a partir de indicações do historiador Muirakytan Macedo;
O triste fim de Dom Casmurro:
Lima Barreto/Machado de Assis sob a ótica de um seridoense
pra lá de Jucurutu;
Memórias sentimentais de José Bezerra Gomes :
o encontro de Oswald de Andrade com o escritor currais-novense;
O canto de muro do jardim das delícias :
Câmara Cascudo/Bosch, para alegrar o coração dos descontentes;
As dunas vermelhas de Caiçara do Rio dos Ventos :
com a devida aprovação de Nei Leandro de Castro, mesmo que não existam dunas, sejam azuis, sejam amarelas ou vermelhas, em Caiçara de todos os rios e de todos os ventos;
Velhas comédias da vida privada :
entre Milton Ribeiro e Luís Fernando Veríssimo;
Livro de poemas de Zila Mamede :
de Jorge Fernandes à cristalina Zila,
só a poesia e a música podem nos salvar;
Peleja de Zé Limeira da Paraíba com Chico Doido de Caicó :
releitura das anotações de Orlando Tejo;
Para não esquecer a hora da estrela :
Clarice Lispector, mais uma vez, para não dizer que não falei de
águas vivas e maçãs no escuro.


18 comentários:

líria porto disse...

a foto! não te escondas, moa!

adoro esses flashs poéticos!

de tudo que li, hoje escolho o cacaso - e não por acaso, ele é mineiro!!

besosssssssss

Iara Maria Carvalho disse...

adoooro esses poemas curtinhos, lindos quisó!

amei os livros que irá escrever... quero ler perto do coração clandestino viu? rs...

xeros do seridó chuvoso!

Mme. S. disse...

todo dia é bom vir aqui! todo dia eu venho... Um cheiro, um beijo, um abraço.

Unknown disse...

Balaio bom e eu dentro. Beleza o Livro Desconhecido, impecável a Carta a D. Alvíssaras.

Unknown disse...

Caros amigos:

Conheço Moacy há muitas décadas e sei como ele é low-profile, escondendo suas grandes conquistas literárias. Lembro, então, outros de seus livros publicados:

Veredas da Grande Copacabana - Dois travestis batalham pela sobrevivência em pleno tráfico carioca. Uma regra básica do negócio é fazer sexo por dinheiro e sempre com heterossexuais. Little Gold Day desperta forte amor em Ubaldo River, bandido e escritor, correspondendo ao sentimento. Combatendo o cruel chefe de polícia Powerfull Hermes, Little Gold Day é assassinada e Ubaldo River descobre, no IML, que ela era um macho heterossexual com quem o travesti sobrevivente poderia ter vivido sua única experiência amorosa plena.

Recordações do escrivão Ayres – O rico e louro senador paraibano (de Campina Grande) Ayres se vê transformado em Isaías, um humilde mulato auxiliar de escritório numa repartição pública do Rio Grande do Sul e sofre as conseqüências de não ser euro-descendente. Lidera um movimento pela reintegração do sul ao resto do Brasil, sendo duramente castigado pela ousadia – condenado a ler a obra completa de José Sarney. Desenvolve, todavia, a capacidade de interpretar adequadamente o pensamento político dos noticiários do SBT.

(Continua)

Unknown disse...

Caros amigos:

(continuação)

A coragem de Ojuara – O talentoso poeta Ney Ojuara Lips (ou López) nasceu com um pênis tão grande que, desde seu primeiro coito, matava as parceiras de hemorragia antes que elas (e ele) gozassem. Enquanto isso ocorria com profissionais, não havia problemas – ossos do orifício (delas). Mas Ney se apaixonou pela franco-paraibana Clothilde des Vaux (ce qu’on pèse). Toma a decisão mais difícil de sua vida: uma cirurgia de redução do falo. Final feliz: ela goza, ele também e não mais depende de exibir o volume peniano para se sentir macho.

Coração-intestino – Clarice sofre de uma rara má-formação: seu organismo inverteu as posições e as funções de coração e intestino. Sente fome de amor e palpita digestivamente quando se emociona. Ela recusa ofertas circenses-universitárias de se exibir em público numa feira de ciências e prefere uma vida reclusa, programando poemas-processo em seu computador de última geração. Seus trabalhos poéticos são muito apreciados mas ela mantém uma angústia existencial básica: como não vomitar tanta emoção?

Marcos Silva

nina rizzi disse...

moaicy,

essa maria é a juana, de pango, de angola. é diamba :p

veja, "carta a d." é de uma beleza apolínea? eu estou trabalhando isso... de qualquer modo é uma das mais belas cartas de amor. não, elas não ridículas!

cada um dos curtos versos me atingem em cheio a alma dionisíaca.

quanto a mim, estou pronta pra fazer um filme. e não, não sou uma tarada, nem uma nuvem que o vento esparrama. vc não quer financiar, não? rsrsrsrs...

um beijo, primaveras.

Unknown disse...

(continuação)

Comédias da privada – Dramaturgia completa de Sandoval Wanderley, Meira Pires e Jesiel Figueiredo. Saga do teatro potiguar: companhias locais sem recursos preteridas a favor de comédias globais. Prefácio de Racine Santos: “Um drama: Ser dramaturgo no RN”. Cenas de autos e baixios.

Zila do além – Poemas psicografados de Zila Mamede, que mantêm o cristalino estilo dos anteriores. Expressa seu apreço pela Psiquiatria (“A força da camisa”) e pela Natação em Alto Mar (“Tudo água”). Parafraseia Mário de Andrade (“Ódio ao burguês”). Inclui anotações confessionais sobre a intimidade de João – tamanho das pílulas. Aborda a virilidade das poetisas e a feminilidade dos poetas. Descreve seu encontro com Cecília e o inevitável sentimento de superioridade em relação à escrita do sexo oposto.

Marcos Silva

Anônimo disse...

Menino porreta!!! Dá gosto passar por aqui sabe? Poema sempre tem gosto de alguma coisa...
esmaques!

Sônia Brandão disse...

Essa maria danada só pode ser a juana.
Nos meus próximos 150 anos acho que consigo arrumar um tempinho para ler os livros que você vai escrever.
Beijos e obrigada pelo aconchego do seu Balaio.

Jens disse...

Hehehe, estou doidim pra ler as aventuras de Joyce em Caicó e, claro, a peleja de Zé Limeira com CDC.
Ao trabalho, camarada! O leitorado assim o exige.

Um abraço.

Unknown disse...

Oi Moacy!

Primeiro procurei uma vírgula, como não tinha e o que está escrito é: Não te escondas DE maria, é porque ela deve ser importante . Né não?

Assis Freitas, Marize Castro, Mário Cézar, Sônia Brandão, Volonté e Cacaso! Parabéns!

A carta de amor de André Gorz é uma lição de amor e vida!

O livro desconhecido.... acredito que todo poeta tem um que jamais se concretizará. O bom do desconhecido é a idéia e os trajetos que se podem fazer. Não haverá críticas nem custos.

Belíssimo o Balaio de hoje!

Beijos

Mirse

Marcelo Novaes disse...

Moa,


O Anseio de Sônia Brandão só se equipara à Imensitude de sua Ansidão. Ou Imensidão de sua Ansiedade. Literária. Muito bem estabelecida, por sinal. Com firma reconhecida em Caicó. E, mais importante, no Astral Superior; onde, se diz, os livros já existem, com tiragens recordes.


Dizem as línguas superiores [de vez em quando, me Sopram em Línguas] que o Coelhinho Paulo deixou de ser Nostradamus por aquelas bandas, diante de comparação tão vexatória.Porque estabeleceste a categoria para eclipsá-lo [em Boreal Eclipse]: a do Clássico-Amálgama-Mediúnico-Pós-Divinatório.


Divino.


Os folclores-de-mau-almanaque, com vernizes esotérico-auto-ajudatórios do dito Coelhinho, tombaram de vez. ["Mas porque esse cedro se elevou em altura, lançou tão alto a ponta de seus verdes ramos, e porque o seu coração se elevou por causa de sua grandeza, eu e os demais deuses o abandonaremos à sua própria vaidade...; e será cortado pelo pé, e será lançado sobre os montes..., os seus ramos cairão por sobre os vales..."; assim ouvi-em-visão...]. E não figuram seus pálidos opúsculos do na lista dos dez mais. Nem dos cem. Passou-lhe à frente [me dizem, ao pé do ouvido], até mesmo outro Coelho.





O de Alice.



















Abração,










Marcelo.

Muadiê Maria disse...

Adorei os "pequenos" poemas.

Beti Timm disse...

Meu querido Mestre,

Achei um tempinho para visitar os amigos, mas ando tão ansiosa com aa exposição em dezembro que não consigo o tempo que desejo para vir aqui e matar a saudade.

Será que ele ainda está escondido da Maria? rs
O que será que ele fez para ela?

Beijinhos carinhosos e saudosos

mario cezar disse...

caríssimo moacy, quase todo dia, venho aqui espiar tuas indagações. teus motes de mar, tuas palavras aladas de mel, de frestas para pássaros e açudes e lascas de lenha e beijos apartados. venho aqui por motivos de sangria, por motivos que estalam dentro da carne. pois bem, por uns tempos taquei a tramela em meu caderno, em meus escritos , quase moucos, quase perdido , feito estilhaço em beira de quintal

www.pedradosertao.blogspot.com disse...

Olá, Moacir,

Adorei toda essa memória do balaio. Adorei o muro pichado, muito enfático: imagem e texto! Será que ele hesitou?

abraço

José Carlos Brandão disse...

Gostei dos poemas da Lou e da Iara, em especial, e da pichação, o máximo.

Abraços.