quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

A enseada de Botafogo,
por volta de 1820,
segundo o artista
Eduardo Camões


BALAIO PORRETA 1986
n° 2906
Rio, 20 de janeiro de 2009

Só mesmo uma cidade assim, bonita e envolvente como uma mulher apaixonada, é que tem o direito de nos fazer sofrer [com o calor] como estamos sofrendo. ... Mas o Rio tem segredos para prender.
É a cidade namorada que nos tortura, mas de quem nunca
a gente se esquece...
(Benjamin COSTALLAT, 1936,
cf. Rio de Janeiro em prosa & verso, 1965)


ANIVERSÁRIO DA FOLHA SECA
& LANÇAMENTO DE LIVRO

Dia de São Sebastião, padroeiro da Cidade, é também dia de aniversário da Folha Seca (Rua do Ouvidor, 37, Centro), a mais carioca das livrarias do Rio de janeiro, fevereiro e março, e demais meses - especializada em samba, futebol e história do próprio Rio; já são seis anos só no atual endereço (ao todo, 12 anos). É dia de festa para o rubro-negro Rodrigo Ferrari, seu proprietário, e também para o tricolor Marcelo Moutinho, do blogue Pentimento, que estará lançando o livro, por ele organizado, Canções do Rio,
a partir de 14h com roda de samba.


PARA UMA BIBLIOTECA PORRETA
Os livros que me marcaram e ainda me marcam
(9 /43)
Moacy Cirne

Um passeio pela cidade do Rio de Janeiro
(Joaquim Manuel de Macedo, 1862-63)
Rio de Janeiro em prosa & verso
(Bandeira & Drummond, org., 1965)
Memórias da cidade do Rio de Janeiro
(Vivaldo Coaracy, 1965)
O Rio de Janeiro do meu tempo
(Luís Edmundo, 1938)
O Rio antigo do fotógrafo Marc Ferrez
(Gilberto Ferrez, 1984)
O Rio de J. Carlos
(Zuenir Ventura & Cássio Loredano, 1998)
É hoje! - As Escolas de Lan
(Haroldo Costa, 1978)
História das ruas do Rio de Janeiro
(Brasil Gerson, 1970)
Rio de Janeiro - Centro histórico 1808-1998
(Nireu Oliveira Cavalcanti, 1998)
Palácios e poeiras -
100 anos de cinemas no Rio de Janeiro
(Alice Gonzaga, 1996)


SINOS E VENTOS DA ALTURA
Zila Mamede
[ cf. Rio de Janeiro em prosa & verso, 1965 ]

O tom dos sinos
Escorrendo nas ladeiras.
Os ventos do Curvelo
E o cheiro morno do Silvestre.

Ponte dos Arcos,
Quantas brumas
Meus sapatos te tocaram,
Sós.

Santa Teresa.
As estrelas se mudaram para o chão.

[ Originalmente publicado in Salinas, 1958,
com o título de 'Santa Teresa' e, de igual modo,
com pequenas alterações tipográficas,
segundo a edição de
Navegos, 2003, como as que seguem:
"Santa Teresa:
as estrelas se mudaram para o chão." ]


MULHER REFORMADA
Stanislaw Ponte Preta
[ in Primo Altamirando e elas, 1962 ]

Há quem diga que Rosamundo deve pensar que quem descobriu o Brasil foi o Duque de Caxias, de tanto que ele confunde o patrono do nosso Exército com Pedro Álvares Cabral. Não tem conta as vezes que Rosamundo entregou a um vagabundo qualquer uma cédula de mil cruzeiros, com linda pose de Cabral, pensando que era uma japonesinha de duas pratas, com o semblante do Duque, à guiza de esmola.

A mulher de Rosamundo já o proibiu do vício do óbolo, na certeza de que distração e filantropia são duas coisas que não combinam. Aliás, a mulher de Rosamundo era bem feinha, prova de que, até pra casar, o infeliz se distraiu.

E foi justamente por ser feia, que a mulher de Rosamundo resolveu fazer uma recauchutagem para surpreender o marido.

Durante a habitual temporada em Petrópolis, ela fez que subiu a serra e foi mas é pra uma clínica de um desses médicos bárbaros para reformar mulher bagulho: um cirurgião plástico.

Botou nariz novo, afinou cintura, tirou barriga, esticou a pele, amendoou os olhos, fez misérias. E, não contente, saiu direto da clínica para um salão de beleza, onde tingiu os cabelos e castigou um penteado desses modernos, que a mulher parece que está com uma moringa na cabeça.

Assim, completamente remodelada e até que bem mais jeitosa, apareceu em casa. Foi entrando e nem disse palavra, foi encontrar Rosamundo na sala e tacar-lhe um beijo estilo desloca-maxilar. Rosamundo ficou verdadeiramente encantado e surpreendido com a mulher.

Mas puxa!... Rosamundo é um bocado distraído. Passou a noite toda naquele encantamento e só na manhã seguinte é que fez a primeira referência à vida do casal. Virou-se para a mulher e disse:

- Filhinha, eu acho bom você deixar o número do telefone e ir caindo fora, que minha esposa está em Petrópolis e pode chegar de repente. Se ela encontrar você aqui vai dar uma bronca desgraçada.

9 comentários:

líria porto disse...

perdi o sono, vim ler o balaio!

o rio de janeiro continua lindo! essa prateleira da biblioteca é uma grande homenagem à cidade mais bonita do mundo!

besossss

e viva o rio!!!

Lou Vilela disse...

É sempre um prazer começar o dia com boa leitura. Seu Balaio é um relicário!

Conheceu aquela belezura? Sim, tudo o que você citou me encanta... está em minha fome de horizontes - e coadjuva modelando poesia. ;)

Beijos

Francisco Sobreira disse...

Meu caro,
Não conhecia essa história de Stanislaw. Muito bom tê-la colocado, como também o poema de Zila, ambos grandes na sua praia. Um abraço.

Unknown disse...

Viva o Rio, minha cidade fluminense. Vou reler hoje A arte de andar nas ruas do Rio, conto do Rubem Fonseca. Viva São Sebastião, que ele acalme as flechas que me corróem o peito.

p.S. Hoje o 1001 poemas chega a postagem 100, quero registrar meu agradecimento pelas palavras felizes e tuas visitas. Obrigado mestre.

Unknown disse...

Bom dia, Moacy

Bela homenagem ao Rio em foto e versos de Benjamim Costallat!

De minha parte, homenageei o Rio dando à ele uma filha, carioca e linda. Hoje de qualquer forma comemoro.

Zila Mamede, sempre deve ser lida.

Stanislaw ...saudades dos textos e do samba do "crioulo doido"

Bom feriado

Beijos

Mirse

Dilberto L. Rosa disse...

Primeiro: que moçambicana sedutora... Sobre o Rio: todas as analogias com uma bela mulher (ou feia que se transforma bela, como no ótimo conto do Sérgio Porto) e todas as homenagens são merecidas! Abração!

nina rizzi disse...

pobre rosamundo, com um nome desses como não ganhou o mundo? decerto que drummond diria que rima não é solução...

que imagem, que imagem.... a fusão das cores do mar com a serra e as nuvens, pelos meus mil arrebóis, era assim que eu queria, era assim que eu gostava da minha namorada: inesquecível.

Pra dar Bandeira, prossigo com Bandeira e Drummond, mas que Zila, mame-dí...

bom feriadão, bom jogo (vai ao fluxbangú, né?) e um cheiro.

BAR DO BARDO disse...

BOM!

Iara Maria Carvalho disse...

não me canso de ler esse poema de Zila!

lindo/linda!

beijos...