sexta-feira, 30 de março de 2007

CONTOS DE
ROSA AMANDA STRAUSZ
(RJ)

Quase erótico

Tinha dedos ásperos e mãos enormes, pacientes. Eram capazes de rastejar entre vestidos e lençóis infinitas vezes até se enroscarem em torno de um seio ou dentro de uma cavidade escorregadia. Não importava quais. Sempre encontrou o caminho. Jamais o sentido.

A pedra

É preciso remover montanhas. Digo mais: é preciso fazê-lo sem fé. Arrojar-se com o pavor maravilhado de um ocidental que morda peixes crus.
Ele fazia isto a cada dia. Só pela urgência, tão maior que uma montanha sem religiosidade alguma. Por isso eu o amava. Embora também eu não passasse de um pedaço de cordilheira, à espera da imobilidade no eterno abraço da remoção.

Conto colorido

Quando lhe perguntaram o que queria ser quando crescesse, não vacilou: televisão.

[ in Mínimo múltiplo comum. Rio: José Olympio, 1990 ]


BALAIO PORRETA 1986

nº 1984
Rio, 30 de março de 2007


Cinema
UMA OBRA-PRIMA NA CIDADE

Fato raro no Rio: uma obra-prima do genial John Cassavetes em cartaz. Trata-se de Uma mulher sob influência, em exibição a partir de hoje no Estação Botafogo, sala 1. O ótimo crítico Ruy Gardnier acertou em cheio ao escrever hoje n'O Globo: "A ele [Cassavetes] pouco interessava o preciosismo do cinema bem-feito. O mais importante era que cada imagem vibrasse, tivesse uma energia transbordante que explodisse direto no espectador. O cinema só interessava como força viva./ 'A woman under the influence' (no original), feito em 1974, é um de seus melhores filmes, e de quebra é também uma das maiores atuações da história do cinema. Gena Rowlands vive uma mulher com problemas psicológicos, alternando momentos de euforia e depressão. No entanto, o importante para o filme não é estabelecer limites entre a loucura e a sanidade, e sim mostrar como o comportamento excessivo nasce de um excedente de vontade de viver, de carinho, de amor". Perfeito... Enquanto isso, já nos programamos para revê-lo uma, duas, três ou mais vezes...


Memória
COMO SE PEDIA UMA BEBIDA NO RIO POR VOLTA DE 1900


Cachaça : Água de Nossa Senhora; Branquinha; Agüinha; Parati
Cerveja : Virgem Loira
Uísque : Cavalinho
Absinto : Prêmio-do-Céu
Vinho : Vinho [e ponto final].

[ in O Rio de Janeiro do meu tempo, de Luís Edmundo ]


GLOSSÁRIO CARIOCA DOS ANOS 10 E 20 DO SÉCULO PASSADO

Adufe : Espécie de pandeiro quadrado
Capitoso : Que embriaga, entontece
Chelpa : Dinheiro
Chufa : Caçoada, troça
Conventilho : Prostíbulo, puteiro
Dédalo : Cruzamento, encruzilhada
Dichote : Gracejo, zombaria
Esbórnia : Orgia, farra
Fine : Aguardente natural
Fúfia : Mulher desprezível
Gravateiro : Ladrão que ataca a vítima pela garganta
Latagão : Homem robusto e de grande estatura
Marçano : Aprendiz de caixeiro; p. ext., aprendiz, principiante
Misógino : O que tem aversão às mulheres
Montra : Vitrine comercial
Pornéia : Libertinagem, devassidão
Pulcro : Gentil, belo
Quizília : Aborrecimento, impaciência
Redoute : Festa, baile
Retacado : Indivíduo baixo e atarracado
Sigisbéu : Aquele que corteja com assiduidade uma mulher
Tavolagem : O vício de jogar
Tricana : Moça do povo ou do campo
Triques : Vestido com apuro, elegante
Zabumbar : Atordoar, aturdir

[ Fonte: A mulher e os espelhos (1919), de João do Rio ]


GLOSSÁRIO CARIOCA DOS ANOS 30 E 40 DO SÉCULO PASSADO

Abafante : Pessoa que encanta pelos predicados físicos
Atrasado : Carente de relações sexuais
Babaca : Vagina
Baile : Discussão acalorada
Bate-fundo : Briga
Brasileira : Tuberculose
Cabaçuda : Mulher virgem
Circuncisfláutico : Posudo
Estácio : Tolo, palerma
Flozô : Fazer-se de difícil
Fruta : Pederasta passivo
Gado : Prostituta
Leros : Palavrório, lengalenga
Minete : Sexo oral em mulher
Neruscóide de pitibiróides : Nada de nada; o mesmo que néris de pitibiriba
Pau pequeno : Caixa de fósforos pequena
Peru : Vinte mil réis
Piçuda : Irritada, furiosa
Pirantes : Os pés
Quirica : Vagina
Solinjada : Navalhada (da navalha da marca Solingen)
Tiragem : Grupo de policiais
Veado : Pederasta passivo
Vê-oito : Calcinha de mulher

[ Fonte: Desabrigo e outros trecos (1943), de Antônio Fraga ]


SOBRE OSWALDO LAMARTINE DE FARIA:

"O último umbuzeiro do sertão potiguar secou. Não teve água que desse jeito" (Rafael Duarte e Tádzio França, na Tribuna do Norte de hoje).

2 comentários:

Anônimo disse...

Moacy,
Algumas dessas gírias ainda são usadas aqui, acolá. Tem delas que parecem ter virado pó e, de repente, ressuscitam. Assim é a língua. Mas, cara, precisava o Flu fazer aquele gol na bacia das almas. Precisava? Um abraço.

Iara Maria Carvalho disse...

ei menino....anda sumido hein?
lindos contos da carioca...
passa lá na Janela e confere um meu, se possível!

um beijo grande de aqui, dessa Acari!