sexta-feira, 16 de março de 2007

Ontem, amanheci rouco e mouco. Total e completamente mouco e rouco. Também pudera: durante duas horas, a partir de 20:30h, em boa parte do tempo, gritei e cantei, cantei e gritei, vibrei e pulei, pulei e vibrei como se no Maraca estivesse. Só que eu não estava no Maraca. Estava no Frasqueirão, ao lado do meu irmão Milton e de seu filho Matheus, e mais quase 1.500 companheiros unidos em torno de uma só religião. Sim, é verdade, sou um ateu marcado pela religiosidade. Em nome dela, tenho meus santos e meus deuses. Quer nas vitórias, sempre doces; quer nas derrotas, sempre amargas. Mesmo quando escritas há 6.000 anos, como queria o nosso santo padroeiro.


BALAIO PORRETA 1986
nº 1972
Natal, 16 de março de 2007
Poema/Processo, 40 anos



A VOZ SILENCIADA DE JUSSARA QUEIROZ

Na noite anterior, o grito da emoção. Na noite de ontem, no auditório da FIERN, o silêncio emocionante. Mas um silêncio que se fazia expressar através de imagens, sons e falas (e da música de Carlos Zens): as imagens, sons e falas do documentário O vôo silenciado do Jucurutu, de Paulo Laguardia, sobre a vida e a obra da cineasta potiguar Jussara Queiroz, atingida, no esplendor de sua febre criativa, por grave doença de fundo neurológico. E o documentário a todos emocionou: por sua força, por seu ritmo, pela desconstrução do personagem-autor(a), pelos depoimentos; enfim, pela cinematografia de Jussara. E uma pergunta - dura e crua - ficou sem resposta: por que seus filmes, uma vez enviados ao FestNatal, depois de aplaudidos no Festival de Cinema de Brasília, nunca foram exibidos aqui? Já há muito tempo afirmamos: premiada internacionalmente, Jussara Queiroz, com seus curtas inquietos e inquietantes, marcados pela alma nordestina, é pedra preciosa, é pedra rara. Defensora ferrenha do cinema brasileiro, e ao mesmo tempo admiradora da obra de Jean-Luc Godard, por exemplo, uma vez confessou-me num dos bares de Niterói: "Se pudesse, se outra fosse a minha realidade, se o meu caminho fosse ficcional, talvez fizesse filmes como Luiz Rosemberg Filho: filmes duros, agressivos, visceralmente questionadores". E Jussara, que em 1993 assinou o nosso manifesto a favor da entrada de Chico Doido de Caicó na Academia Brasileira de Letras, sabia das coisas, com o seu cinema sem concessões, com seu cinema sem hollywoodismos. A ela, cineasta de Jucurutu, em pleno Seridó norte-rio-grandense, nossas homenagens. Homenagens, aliás, que não são só minhas. São de muitos, e que se expressam através do belo média-metragem de Paulo Laguardia, resultado do programa do governo federal de Fomento à Produção e Teledifusão do Documentário Brasileiro, instituído em 2003.

Em tempo: O vôo silenciado do Jucurutu será exibido pela Rede Pública de Televisão (tevês educativas e universitárias) no dia 29 de julho.

2 comentários:

Marco disse...

Caro mestre Moacy,
Embora eu seja de outra "religião" (sou rubro-negro, graças a Deus!), parabenizo a torcida tricolor pela revirada. Titio Joel deu jeito em mais um clube.
Quanto ao texto a respeito dos filmes, li com satisfação o nome do Luiz Rosemberg. Participei de um filme com ele em mil novecentos e não vem ao caso.
Um forte abraço. Bom final de semana. Carpe Diem. aproveite o dia e a vida.

Francisco Sobreira disse...

Moacy,
Primeiro, parabéns pela vitória do Flu. Lamentei muito não termos nos encontrado e mais ainda por não ter ido ao lançamento do seu livro. É que ainda estou com o joelho avariado (um pouco melhor) e, como uma desgraça nunca vez sozinha, apareceu uma tendinite no ombro. Passei um e-mail pra você falando da impossibilidade de ir ao lançamento. Lamento muito, volto a dizer a gente não ter se encontrado. Espero que, da sua próxima vinda a Natal, possamos nos encontrar. Um grande abraço.