sexta-feira, 6 de abril de 2007

CINEMA RIO

Recomendamos com entusiasmo:
Uma mulher sob influência (Cassavetes, 1974), no Estação 1

Recomendamos:
Cartas de Iwo Jima (Eastwood, 2006), no Paissandu

Recomendamos com reservas:
Scoop - O grande furo (Allen, 2006), no Artplex 4 & outros

Pretendemos ver:
Cartola - Música para os olhos (Lírio Ferrera & Hilton Lacerda, 2006), no Espaço 1 & outros
O violino (Vargas, 2006), no Artplex 3


BALAIO PORRETA 1986

nº 1989
Rio, 6 de abril de 2007


OSWALDO: PRESENTE
por Nei Leandro de Castro (RN)
[ in Tribuna do Norte, de Natal, em Artigos ]

Conheci Oswaldo Lamartine no Rio de Janeiro, no início dos anos 70. O seu apartamento no Flamengo era um pedaço do Seridó. Nos corredores e nas salas havia sela, arreios, chocalhos, ferros, marcas do sertão seridoense que o acompanharam por toda a sua vida. Outro detalhe que me chamou a atenção na primeira visita foi o seu sotaque. Mesmo já vivendo muitos anos fora de sua terra natal, Oswaldo mantinha um sotaque sertanejo arretado. E a sua conversa, em que ele empregava termos e expressões do Seridó, era totalmente sedutora. O escritor, alto funcionário do Banco do Nordeste, parecia um caboclo, daqueles que conversam de cócoras nos alpendres das casas de pau a pique, com uma particularidade: o caboclo Oswaldo era erudito, inteligente que só a gota, sabia narrar como poucos.
Numa das visitas, levei para Oswaldo meu livro Universo e Vocabulário do Grande Sertão (Editora José Olympio, 1970). Ele gostou muito das ilustrações de Poty Lazarotto e manifestou o desejo de conhecê-lo. Eu o apresentei a Poty e o famoso desenhista curitibano, radicado no Rio, foi mais um dos seduzidos pela simpatia e pela inteligência do nosso intelectual sertanejo. Poty ilustrou a capa de Uns Fesceninos e os dois se tornaram amigos fraternos.
Ao lado de Luís da Câmara Cascudo, Oswaldo Lamartine é um dos ícones da nossa literatura. A obra de Cascudo, os leitores sabem, é mais vasta, mais densa, percorreu temas mais abrangentes. Mas os dois têm grandes afinidades: foram rigorosos e excelentes pesquisadores, enriqueceram – pela inteligência e pela sensibilidade – os temas que pesquisaram e, o que é muito importante, escreveram numa linguagem deliciosa, o que torna a leitura de seus livros um prazer, muito prazer. Câmara Cascudo e Oswaldo Lamartine passam informações numa prosa leve, cheia de graça, com um certo toque poético, sem nenhum ranço de teses e tratados acadêmicos. No monumento da etnografia que tem o título de Civilização e Cultura, Cascudo exibe assim o resultado de suas pesquisas sobre a pesca: “Platão notava faltarem à pesca o sentido do heróico, a intenção valorosa, o exercício do destemor, a valentia em estado potencial. (...) Platão desconhecia a pesca no mar alto e, pela situação geográfica da Grécia rodeada de ilhas, a haliêutica teria processo nas proximidades do litoral”. Oswaldo Lamartine não foi à Grécia de Platão, mas quando fala dos açudes (Sertões do Seridó) ostenta a graça e a maestria do seu estilo: “O sol do estio tostava e curtia a pele viva sem o afago de uma nuvem. E era naquela hora de mormaço, quando golpeavam a terra sem sombras, que faziam de cada gesto um acordar de músculos vergonteados na pele lambuzada de suor e barro, que se viravam em estatuária viva, se bolindo, bela e ignorada pelos artistas.”
O homem Oswaldo Lamartine era tão cheio de virtudes quanto o escritor. Só agora, por uma terna inconfidência do padre João Medeiros, ficamos sabendo que ele, há muitos anos, custeava quase todas as despesas de uma igreja no Rio. Esse homem bom, corajoso, solidário, vivia ultimamente envolto em dor e tristeza. Aos 87 anos, muito doente, sentindo-se abandonado, colocou um ponto final nos seus sofrimentos.

4 comentários:

Marina disse...

Passando p/ ler tuas novidades. Belo texto do Nei Leandro.

Beijos e bom feriado! :)

Anônimo disse...

Vendo, Moacy, você recomendar, com reservas, o mais recente filme de Woody Allen, sinto que o diretor de tantos filmes excelentes, (com uma ou outra obra-prima) já deu o que tinha de dar. Nem de Match Point gostei, tanto quanto do Allen das décadas de 1970 e 80. Acho, inclusive, um filme superestimado pela crítica. Talvez porque Allen vinha fazendo filmes bem aquém do seu talento. Um abraço.

Anônimo disse...

Meu caro Moacy,
Eu nunca discuto a opinião alheia (no que se refere, claro, a questões de gosto estético, preferências musicais, paixão clubistas, coisas de amor e paixão, enfim), mas sempre me interesso pelas dicas, toques de pessoas como você. Me refiro às recomendações da postagem de hoje. Dos filmes sugeridos, infelizmente não vi os dois últimos. Vou tentar encontrar.
Bom final de feriado, meu amigo.
Forte abraço.

Anônimo disse...

Grande Moacy Cirne... Sou de Caicó. Sou jornalista, formando na Universidade Estadual de Campina Grande. Escrevo sobre cinema neste blog, na revista O Papangu (de Mossoró) e em sites por aí. Fico satisfeito de você ter visto meu blog. Será um prazer manter contato com vc.

Grande Abraço!

Raildon Lucena.