domingo, 17 de junho de 2007


MARIA BUNITA & LAMPIÃO
LAMPIÃO & MARIA BUNITA
(de Fábio Eduardo, artista natalense)


BALAIO PORRETA 1986
nº 2039
Rio, 18 de junho de 2007



O DIARIM DE MARIA BUNITA - XI

Meu quirido diarim.
Faiz umas duas sumana qui não converso com ocê, mais é qui andei mitida por esse mundão de meu Deus e do Padim Ciço, cum meu amô de verdade, Virgulino, e cum meu desamô de mintira, o Diabo Lôro, cuma ocê já sabe. Sumana passada, um sabo chei de quintura, teve um bate-coxa na fazenda Pind'água e dancei a noite todinha cum o capitão, qui ele num é ômi de dexá qualquer um encostá a mão im neu não. Adepois, cuma era dia de Santotóim eu fiz umas adivinhação pru mode ver se tem mais arguém no meu distino, purque eu sô uma muié precavida, sô sim, ômi é oje, num é aminhã. Mais o que vi foi muito iscarcéu, muito fogo, uma craridade só, fiquei cum medo, mais num falei nada pro capitão, ele num credita nessa crendice não, era inté capaz de brigar cum eu. Tarde da noite, quando nóis vortemo, durmi agarradinha cum Virgulino na baladêra, adepois disso, meu medo passô, viu diarim, mais inda tô acafifada, inda tô sim. Vige meu Padim Ciço!


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS
666 livros indispensáveis (20a / 111)

A penúltima versão do Seridó, de Muirakytan Macêdo. Natal: Sebo Vermelho, 2005, 230p. [] Uma história arretada de boa - e bastante séria & competente - do regionalismo seridoense, em suas mais variadas vertentes. Um livro que já nasceu fundamental para a historiografia potiguar, a partir de sua pesquisa de mestrado. Em foco, o espaço seridoense entre os séculos XVII e XIX: sertão, sertões. Os possíveis cenários de leitura & a produção do homem sertanejo. Em Muirakytan, o historiador se faz escritor, e o escritor se faz historiador.

Cangaceiros e fanáticos, de Rui Facó. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963, 226p. [Livro adquirido em Natal, na primeira metade dos anos 60] Para uma brasiliana crítica: o despertar dos pobres do campo nordestino, o "fanatismo" como elemento de fúria e redenção. E mais: Canudos e Antônio Conselheiro, Juazeiro e o Padim Ciço: sombras & penumbras. O apogeu do cangaceiro e do jagunco: a luta, as lutas. 1930: um golpe no poder dos coronéis? Caldeirão: um saldo positivo? A leitura marxista de Rui Facó permanece instigante.

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O cangaceiro e o fanático eram os pobres do campo que saíam de uma apatia generalizada para as lutas que começavam a adquirir caráter social, lutas, portanto, que deveriam decidir, mais cedo ou mais tarde, seu próprio destino. Não era ainda uma luta diretamente pela terra, mas era uma luta em função da terra - uma luta contra o domínio do latifúndio semifeudal. (Rui FACÓ. Cangaceiros e fanáticos, p.45)

10 comentários:

Anônimo disse...

Não consegui desgrudar das páginas quando li pela primeira vez A Penúltima Versão do Seridó, ainda quando dissertação. Realmente, ali não tem apenas um trabalho de história, mas um exercício de escrita a partir de construção de imagens, situações e personagens - anônimos, é verdade, mas, de certo modo, que existem em cada um de nós que habitamos aqueles sertões. Não comprei o livro, o que farei tão logo apareça no Sebo Vermelho.

Anônimo disse...

Há quanto tempo estás publicando os 666? Maravilha. "Crônica da Casa..." é um livro inesquecível, muito bom. Teus posts mereceriam etiquetas para que encontrássemos todos os que se referem a isto ou aquilo... Grande abraço.

Casti disse...

Mestre Cirne, bom danado encontrar nossas raízes dentro do balaio.

Cheiro,
Casti

Anônimo disse...

Meu caro Moacy,
O "Diarim" voltou com tudo que tem direito. Uma beleza!
Forte abraço.

Anônimo disse...

Moacy, acho que a ilustração é do nosso talentoso Fábio Eduardo.
Tenho 90% de certeza!
Abração de Lívio

Moacy Cirne disse...

Lívio, preciso de 100% de certeza. Aparentemente, essa reprodução (extraída de um blogue de viagens de um casal francês) foi obtida em Parelhas. Fábio Eduardo é seridoense? Um abraço.

Anônimo disse...

Comparei a assinatura do lado esquerdo inferior (tentei ampliá-la ao máximo) com a de dois quadros que tenho em casa.
Achei-as extremamente parecidas, Moacy.
Além disso, o estilo é inconfundível!
Fábio Eduardo é um pintor jovem que todos os dias aparece lá no Sebo Vermelho. Muito amigo de Abimael. Tenho dúvidas quanto ao local de nascimento.
Abração de Lívio

Anônimo disse...

Agora, sim, Moacy. Encontrei um texto sobre Fábio Eduardo (do nosso Alex Gurgel) no NATALPRESS.COM.
(está lá nas colunas anteriores dele)
Tem todas as informações sobre o artista. Você pode entrar em contato com o próprio Alex.
Abração!

Anônimo disse...

Valeu, Lívio! Tentarei confirmar a sua valiosa informagem; fiz a mesma coisa para tentar ler a assinatura, sem resultado. Grato, mais uma vez.

Anônimo disse...

Noacy,
"Cangaceiros e Fanáticos" é, de fato, um clássico no seu gênero. Livro que li e reli, mas já faz muito tempo. Qualquer dia desses vou ler mais uma vez. Um abraço.