segunda-feira, 10 de setembro de 2007


De São José da Bonita a São José do Seridó
no Rio Grande do Norte
são 90 anos de história
são 90 anos de emoções.
Jardinense e caicoense
caicoense e jardinense
por lembranças & afeições
sertanejo de 90 mil crepúsculos
aqui nasci
nasci aqui
nas lonjuras de 43
nas lonjuras da Caatinga Grande
quando São José ainda era um distrito de Jardim.
E no encontro dos três municípios
- Jardim, Caicó, São José
São José, Caicó, Jardim
-
eu me procuro e me acho
simbolicamente transfigurado
na Passagem das Traíras
na Geometria das Pedras
no Despertar das Águas.

(Moacy Cirne)


BALAIO PORRETA 1986
nº 2118
Rio, 10 de setembro de 2007


Memória
UMA SENTENÇA JUDICIAL DE 1833
na Villa de Porto da Folha, Sergipe
(de acordo com vocabulário, estilo e ortografia da época)

"O adjunto Promotor Público representou contra o cabra Manoel Duda, porque no dia 11 do mês de Nossa Senhora de Sant'Anna quando a mulher do Xico Bento ia para a fonte, já perto della, o supracitado cabra que estava de tocaia em moita de matto, sahiu della de supetão e fez proposta a dita mulher, por quem roía brocha, para coisa que não se pode traser a lume, e como ella se recusasse, o dito cabra atrofou-se a ella, deitou-se no chão, deixando as encomendas della de fora e ao Deus dará, não conseguio matrimônio porque ella gritou e veio em amparo della Nocreyo Correia e Clemente Barbosa, que prenderam o cujo flagrante e pediu a condenação delle como incurso nas penas de tentativa de matrimônio proibido e a pulso de sucesso porque dita mulher taja peijada e com o sucedido deu luz de menino macho que nasceu morto.

As testemunhas, duas são vista porque chegaram no flagrante e bisparam a perversidade do cabra Manoel Duda e as demais testemunhas de avaluemos. Dizem as leises que duas testemunhas que assistem a qualquer naufrágio do sucesso faz prova, e o juiz não precisa de testemunha de avaluemos e assim:

Considero - que o cabra Manoel Duda agrediu a mulher de Xico Bento, por quem roía brocha, para coxambrar com ella coisas que só o marido della competia coxambrar, porque eram casados pelo regime da Santa Igreja Cathólica Romana.

Considero - que o cabra Manoel Duda deitou a paciente no chão e quando ia começar as suas coxambranças viu todas as encomendas della que só o marido tinha o direito de ver.

Considero - que a morte do menino trouxe prejuízo a herança que podia ter quando o pae delle ou [a] mãe falecesse.

Considero - que o cabra Manoel Duda é um suplicante deboxado que nunca soube respeitar as famílias de suas vizinhas, tanto que quiz também fazer coxambranças com a Quitéria e Clarinha, que são moças donzellas e não conseguio porque ellas repugnaram e deram aviso a polícia.

Considero - que o cabra Manoel Duda está preso em pecado mortal porque nos Mandamentos da Igreja é proibido desejar do próximo [o] que elle desejou.

Considero - que sua Magestade Imperial e o mundo inteiro, precisa ficar livre do cabra Manoel Duda, para secula, seculorum amem, arreiem dos deboxes praticados e para as fêmeas e machos não sejam mais por elle incomodados.

Considero - que o cabra Manoel Duda é um sujeito sem vergonha que não nega suas coxambranças e ainda faz isnoga das encomendas de sua víctima e por isso deve ser botado em regime por esse juízo.

Posto que:

Condeno o cabra Manoel Duda pelo malefício que fez a mulher de Xico Bento e por tentativa de mais malefícios iguais, a ser capado, capadura que deverá ser feita a macete.


A execução da pena deverá ser feita na cadeia desta villa. Nomeio carrasco o carcereiro [e] solte o cujo cabra para que vá em paz. O nosso Prior aconselha: Homine debochado debochatus mulherorum inovadabus est sentetia qibus est macete macetorim carrascus sine facto nostre negare pote.

Cumpra-se e apregue-se editaes nos lugares públicos. Apello ex-officio desta sentença para juiz de Direito desta Comarca.

Porto da Folha, 15 de outubro de 1833
Assinado:
Manuel Fernandes Santos,
Juiz Municipal suplente em exercícios."

[ Fonte : Instituto Histórico de Alagoas ]

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11 comentários:

Sandra Leite disse...

Moacy

Saudade, saudade, saudade!

Já fiz o update com o crédito da imagem de Ana Hatherly. Interessante o trabalho dela

Obrigada pela lembrança,

beijos

Sandra Leite disse...

Bom dia Mestre

olha lá...

http://arcoenglish.artmediacompany.com/arco06/feria_virtual/es/4867.htm

beijos

AB disse...

Senti como uma "fotografia cantada", MOACY.. Adorável!

Vais disse...

Olá MOACY,
começou a semana...
Esse céu cheio de nuvens, que linda a foto! Fiquei emocionada com seu poema.
E que pérola essa da memória.
Ótima semana pra ti
Abração

Unknown disse...

Eu conhecia a sentença de Manuel Duda, até a publiquei há algum tempo. Gostei muito do evocativo poema, lustra a memória afetiva.

Muadiê Maria disse...

Moacy, como boa baiana, eu adoro as palavras nordestinas. Parabéns pelo blog, porreta.
beijo,
MArtha

Anônimo disse...

moacy

teu nome
é
parte do fogo
(solidário)

Jens disse...

Belo e sentimental o teu poema, Moacy. Bonita a foto do teu torrão natal.
***
Acabei de postar os meus agraciados com o certificado.
Um abraço e uma boa semana.

Sonia Sant'Anna disse...

Nas minhas férias interioranas, noites a fio fiz o footing em jardins como esse.
Adorei o documento, naqueles tempos os homens da lei sabiam escrever com hummor, não acha?

Anônimo disse...

Belos versos... cuja poeticidade transcende distâncias. De quem, além de "leite das pedras", tira belezas do Ser-tão.

Sílvia Câmara disse...

Acho fantástico o reconhecimento da nossa terra. Creio que não devemos esquecê-la nunca, aliás, é assim também que me sinto em relação ao Ceará: eu me procuro e me acho, nas passagens, nas geometrias e nos despertares.
Lindo, Poeta.
um abraço desde a Bahia