segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008


Verão índio,
de Pratt & Manara,
hq lançada em 1983,
o ano de
Nostalgia (Tarkóvski),
Prénom Carmen (Godard),
Pauline na praia (Rohmer),
O selvagem da motocicleta (Coppola),
O dinheiro (Bresson),
Sonhar, talvez (Manara),
Nausicaa (Miyasaki) e
Caprichos & relaxos (Paulo Leminski).


BALAIO PORRETA 1986
n° 2236
Rio, 18 de fevereiro de 2008


SER, HAVER
Afonso Henriques Neto
[ in Eles devem ter visto o caos. Rio, 1998 ]

há um certo sono
que é vento.
há um vago acento
à busca de letra
onde pousar.
há um distúrbio cego
no ar.
há dados do encanto
lançados ao tempo.
há número
só de morrer.
há ossos e amores
para viver.
há sempre o que há
falando não.
há um agudo sim
no coração.


Memória 1970
A CENSURA NA ÉPOCA DA DITADURA MILITAR / 2
[ in Memória da Censura no Cinema Brasileiro ]

Reprodução literal do
Parecer sobre Manhã cinzenta, de Olney São Paulo

a) Gênero: Protesto - Subversão.
b) Argumento: Filme nacional de protesto, documentando os choques estudantis com policiais,na Guanabara, notadamente no ano de 1968, quando aqueles tumultos chegaram ao auge. O filme tem um objetivo: indispor o povo contra as autoridades constituídas, em especial contra os militares, pois mostra supostas atrocidades praticadas contra estudantes e operários, ao mesmo tempo em quer sugere serem os dirigentes revolucionários remanescentes do regime nazista capultado com o fim da Segunda Guerra Mundial. Documenta, ainda os choques de rua, numa visão deturpada daqueles acontecimentos.
É um filme altamente subversivo, seja do ponto de vista das cenas que apresenta, seja dos diálogos que encerra, formando, no conjunto, uma mensagem nociva ao regime.
Por esse motivo, [ilegível] o filme infringe o que dispõem a letra "d" do art. 41 do Decreto 20.493, de 24 de janeiro de 1946, vigente; o art. 3° da Lei n. 5.536, de 21 de novembro de 1968; e, ainda, o que dispõe o Decreto 898, de 1969 - Dep. de Segurança Nacional.
Assim, opino no sentido de que será o mesmo INTERDITADO e apreendidas todas as suas cópias, seja em 16 mm, seja em 35 mm.
É o meu parecer.
Brasília, 24 de novembro de 1970
Wilson de Queiroz Garcia
Técnico de Censura


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

Verão índio [1983], de Hugo Pratt (texto) & Milo Manara (desenhos). Lisboa: Meribérica/Liber, 1994, 160p. [] Explosão de cores, erotismo e formas históricas e sensuais: um dos grandes clássicos da arte seqüencial (cinema/quadrinhos) do século XX. Numa América sentida, em termos romanescos, por James Fenimore Cooper (redimensionado/relembrado por Hugo Pratt), no início do século XVII, temos uma vibrante história - exemplarmente narrada - que envolve paixão e coragem, crítica ao puritanismo religioso e crítica aos valores (pseudo)morais do "homem branco" em contato com a natureza. Simplesmente, uma obra-prima das HQs. Em tempo: Milo Manara, nascido na Itália em 1945, é um dos maiores autores eróticos dos aproximadamente 180 anos da linguagem quadrinhística.

2 comentários:

Francisco Sobreira disse...

Moacy,
Muita oportuna a divulgação desses Pareceres da censura vigente na ditadura militar, que interditavam certos filmes para exibição. É sempre oportuno relembrar aquele período negro pelo qual passou o nosso país, para quem não o viveu ter idéia da situação em que vivíamos. Um abraço.

Jens disse...

Moacy:
Manara é o cara. Clic.
***
Reforçando o que disse o Sobreira (e eu mesmo, anteriormente): salutar a exposição das vísceras da censura da ditadura militar - esquecer, jamais.
Um abraço.