quinta-feira, 8 de maio de 2008


João Pessoa: Tambaú, à noite
Foto de
Lorenna Brasilino
in
Google Earth


BALAIO PORRETA 1986
n° 2308
Rio, 8 de maio de 2008



MARCHA DO VAZIO
Linaldo Guedes
[ in Zumbi Escutando Blues ]

Marcha da Maconha, que depois virou Marcha da Democracia, terminou, infelizmente, em Marcha da Confusão. Manifestantes e policiais se confrontaram na orla da Tambaú [em João pessoa, PB] neste final de semana e a marcha acabou manchada (desculpem o trocadilho). Uma pena que essas coisas ainda aconteçam em pleno século XXI. Mas, independente de qualquer coisa, podemos afirmar, também, que um outro nome para a manifestação seria o de Marcha do Vazio.

Estamos em pleno Maio de 2008. Ou seja, 40 anos depois do ano que não terminou, segundo Zuenir Ventura, e que se tornou em emblemático pela quantidade de eventos e movimentos culturais, políticos e sociais que eclodiram em todo o mundo, com jovens indo às ruas e fazendo valer seus protestos sobre quaisquer assunto que gerasse a sua revolta.

Era época da contracultura, do movimento hippie, da liberação feminina, das manifestações culturais em todos os segmentos, do “quem sabe faz a hora não espera acontecer”, de ditaduras, de Glauber Rocha, Tropicalismo e outros ismos que agitaram o ano de 1968.

Parecia que naquela época os jovens tinham porque lutar. Maio de 68, por exemplo, se tornou emblemático por conta de uma greve geral que aconteceu na França. Alguns filósofos e historiadores afirmaram que essa rebelião foi o acontecimento revolucionário mais importante do século XX, por que não se deveu a uma camada restrita da população, como trabalhadores ou minorias, mas a uma insurreição popular que superou barreiras étnicas, culturais, de idade e de classe. Começou como uma série de greves estudantis que irromperam em algumas universidades e escolas de ensino secundário em Paris, após confrontos com a administração e a polícia. A maioria dos insurretos eram adeptos de idéias esquerdistas, comunistas ou anarquistas. Muitos viram os eventos como uma oportunidade para sacudir os valores da "velha sociedade", dentre os quais suas idéias sobre educação, sexualidade e prazer.

E hoje, em maio de 2008, contra quem lutamos? Pela discriminalização da maconha. Nada contra (claro, claro, claro), que o cidadão tenha o seu direito ao fuminho da cada dia. O livre-arbítrio ainda deve prevalecer acima de tudo. Mas é como se na falta de rebeliões ideológicas, sociais, culturais e políticas os jovens de hoje estejam se preocupando com coisas que não têm a força de alterar os destinos da humanidade.

Não temos mais ditadura, nem instabilidade econômica. Na música e na literatura, tudo tão homogêneo, sem laivos de rebeldia justificada. Aliás, a cultura brasileira de uma forma geral anda tão doce quanto jiló. Tudo tão passivo e comportado, assim como a ausência de ideais mais consistentes por parte da juventude. Por isso a Marcha do Vazio. Do vazio de idéias e ideais. Afinal, ser jovem é protestar. Independente de por qual motivo seja.

(artigo publicado na edição de 6 de maio do jornal A União)


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

O mergulhador, de Vinicius de Moraes (poemas) & Pedro de Moraes (fotos). Rio de Janeiro : Atelier de Arte, 1968, 108p. [Há uma nova edição no mercado] Os poemas de Vinicius, aqui selecionados, são por demais conhecidos: Soneto de fidelidade, Soneto do maior amor, A hora íntima, Soneto do amor total, Soneto de separação, O operário em construção & outros. Mas o que pretendo destacar, neste belo álbum, é o material fotográfico (em p&b) de Pedro de Moraes: sensível, criativo, apurado; perfeito em seus enquadramentos, em suas composições. Infelizmente, não foi possível reproduzi-lo. A foto da mulher nua da p.76, por exemplo, é de uma beleza quase sublime. À altura dos melhores sonetos amorosos de Vinicius.

3 comentários:

Mme. S. disse...

Moacy, não vivi os anos 1960, mas dos 70's para cá esse marasmo, essa falta de ideologia, essa "farra" que só termina em 100%ressaca e 0% de reflexão e transformação, me faz uma trintona cansada. Tenho preguiça desses movimentos vazios, sabia? ótimo texto.

Dilberto L. Rosa disse...

Rapaz, falou e disse tudo: preciso e perfeito texto! Recomendarei nos Morcegos - onde já tem novidade por ti esperando! E do Vinícius, tenho a obra completa, imprescindível! Abração!

Anônimo disse...

olá moacy, meu primo deletou o meu blog mas em breve estarei novamente na ativa com um novo endereço. abração

eliene dantas