sábado, 7 de junho de 2008


Barry Lyndon,
de Stanley Kubrick,
lançado em 1975,
o ano de
O passageiro (Antonioni),
Jeanne Dielman ... (Akerman),
Salò (Pasolini),
A viagem dos comediantes (Angelopoulos),
Nashville (Altman),
Assuntina das Amérikas (Luiz Rosemberg Filho).


BALAIO PORRETA 1986
n° 2333
Rio, 7 de junho de 2008

Escrever é muito difícil. Dói-me. Exaure-me. É um beco escuro que me amedronta e apavora, ao mesmo tempo em que me fascina.
(Jeanne Araújo)


DIVAGAÇÕES & PROVOCAÇÕES

Será que existe, em toda a história do cinema, filme mais plástico - uma verdadeira pintura clássica em movimento, digna do Século das Luzes - do que Barry Lyndon? Baseado em Thackeray, estrelado por Marisa Berenson e Ryan O'Neal, com trilha musical a partir de Bach, Händel, Mozart & outros, magistralmente fotografado por John Alcott, Barry Lyndon, uma das obras-primas de Kubrick, é pura emoção cinematográfica, é pura emoção artística.

Chegou a hora de rever O dragão da maldade contra o santo guerreiro (Glauber Rocha, 1969), em cartaz em duas salas do Arteplex (duas sessões, uma em cada sala), aqui no Rio. Para mim, cinco minutos de qualquer filme de Glauber valem mais, por exemplo, do que toda a obra de um tal de Fernando Meirelles, assim como um só minuto, escolhido aleatoriamente, de Terra em transe, Deus e o diabo ou O dragão da maldade, é mais importante do que todo o humor abestalhado de Marcelo Madureira.

No campo específico do bangue-bangue, a cada nova revisão mais crescem e crescem Era uma vez no Oeste (Leone, 1968) e Rastros de ódio (Ford, 1956) - duas obras-primas inesquecíveis -, e mais diminui e diminui Shane/Os brutos também amam (Stevens, 1953) - apenas um filme bom, ou especialmente bom, como queiram. O melhor Stevens continua sendo Assim caminha a humanidade (1956). Há que se rever, contudo, Um lugar ao sol (1951).

Para que serve uma Academia de Letras? A rigor, para nada. A não ser, talvez, para acolher, na maioria dos casos, a vaidade ridícula e boçal de muitos de seus "imortais". E se há alguns bons escritores que nela se perdem, ou podem se perder, há, sobretudo, escritores que, superficiais, nela se apequenam mais e mais. É o caso, na ABL, de um Murilo Melo Filho. É o caso, na Academia Norte-rio-grandense de Letras, de uma Ana Maria Cascudo.

Será Ulisses (Joyce, 1922) um livro chato? Eis a discussão do momento no ótimo Substantivo Plural. Chato ou não, é um dos romances mais importantes do século XX, certamente um dos três maiores. Não é um livro fácil, é verdade. Não é um livro para as massas, é verdade. Mas O Capital (séc. XIX), de Marx, também não é um livro para as massas. E se trata de uma obra fundamental para a história da economia e dos movimentos operários, sem dúvida. Também é verdade: ninguém é obrigado a gostar de Ulisses, de Moby Dick, de O processo, de Crônicas marcianas, de Dom Casmurro, de Grande sertão: veredas, de Canto de muro, da Bíblia, entre muitos outros. Mas não se pode ignorá-los, simplesmente.

7 comentários:

Pedrita disse...

imperdoável mas eu não assisti ao filme barry london. tb não li ulisses. beijos, pedrita

Mme. S. disse...

concordo plenamente com o que a Jeanne disse sobre escrever. um beijo, Moacy.

Francisco Sobreira disse...

Caro Moacy,
Barry Lyndon tem uma beleza plástico-visual encantadora, maravilhosa. Mas é difícil dizer que , nesse particular, é o maior da História do Cinema. Visconti fez filmes tão bels, ou maiores, como Morte em Veneza, O Leopardo, La Terra Trema, um ou outro mais. Outros diretores fizeram também filmes assim. Mudando: percebo, com alegria, que você vai gostanda cada vez mais de Rastros de Ódio, o melhor Ford, para mim, em qualquer gênero. E concordo com você em relação a Academias. E esse vaidoso Murilo Melo Filho (não sei por que a razão dessa vaidade?), que tem um livro laudatório sobre a ditadura militar, é membro da ABL e da Academia do RN. Um abraço.

Marcelo F. Carvalho disse...

A minha ignorância jamais voltou os olhos para Barry Lyndon...
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ABL? Quando foi composta pelo nosso bruxo, Machado de Assis, pensou-se, um dia, ser composta por escritores que nada acrescentam?
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Os Livros! Grande Sertão: Veredas (esses mistérios!) tem mais do místico e do mistério do que muito livro ridículo de Potter...
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Abraço forte!

Anônimo disse...

Moacy:

Ninguém precisa gostar do Ulysses de Joyce, nem do de Homero. Todo mundo tem que ler, especialmente, a elite brasileira que concluiu o segundo grau - ou mais. Ler é difícil. Gozar a beleza é muito raro, mas não se compara a quase nada neste mundo (só às outras formas de beleza). E a beleza não se confunde com o senso comum - por do sol, sorriso de criança. Beleza é problema.

Marcos Silva

Anônimo disse...

PS - Faltou eu acrescentar uma coisa: ninguém precisa gostar de escritor nenhum, mas eu morro de pena de quem ignorou (para amar ou odiar) Joyce, Cruz e Souza, Fernando Pessoa, Rimbaud, Pascal...

Marcos Silva

Anônimo disse...

moacy, no mesmo sentido da frase, drummon, o meu amante itabirano, lembrava o quão é vã a luta com as palavras... o que evidentemente nunca o impediu de lutar logo ao romper da manhã...

marilia

aindapodiaserpior.blogspot.com